Ano novo, regra nova!

Tenha você feito ou não promessas de mudar a forma como você lida com os seus investimentos em 2023, certamente o dia a dia do investidor com aplicações em renda fixa mudará nesse ano com a nova regra da marcação a mercado.

A regra que será aplicada no dia 02/01/2023 altera a forma com que o investidor enxerga os seus investimentos, mas não necessariamente irá impactar em sua rentabilidade. Entenda mais a seguir.

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O que é marcação a mercado?

Quando você investe em renda fixa, você empresta um dinheiro para recebê-lo em uma data futura corrigida de juros. Para exibir esses ganhos ao longo do tempo, existem duas formas: a marcação na curva e a marcação a mercado.

Esse tipo de “marcação na curva” é o cálculo do valor da compra do título, atualizado diariamente pelo indexador (por exemplo, inflação ou CDI) e dos juros referentes à remuneração do papel (“taxa de compra”), aproximando o valor visto pelo investidor da rentabilidade do investimento, se for mantido até o vencimento.

Porém, este “preço de curva” não necessariamente reflete o valor de negociação do título no mercado em caso venda antes da data de vencimento, uma vez que as taxas podem mudar em diferentes dias, alterando a precificação deste investimento.

Já a “marcação a mercado” demonstra qual seria o valor daquele título se fosse vendido no mercado naquele momento de acordo com as taxas praticadas.

Fazendo uma analogia cotidiana, imagine que você está decidindo sair do aluguel e resolve comprar uma casa. Antes de fazer esse investimento você calculou que em 10 anos o investimento se pagará, dado que você não terá mais o custo do aluguel mensal.

Assim, a cada mês que passa, você sente seu investimento rendendo de forma quase linear. Desta forma, basta esperar o tempo passar para que o retorno seja alcançado naquela data futura — similar a “marcação na curva” de seus investimentos.

Porém, todos os dias um vizinho interessado em comprar sua casa resolve informar o quanto ele (bom entendedor do mercado imobiliário) pagaria no seu imóvel de acordo com o valor de mercado.

Como o preço varia dependendo do “humor” do mercado, você poderia ver sua casa valendo mais ou menos do que pagou— esse por sua vez, seria um comportamento similar a “marcação a mercado” de seus investimentos.

Embora a marcação na curva traga uma sensação de progresso linear, ela não reflete o valor real do ativo no dia a dia. Por outro lado, a “marcação a mercado” pode trazer um pouco de ansiedade em momentos de maior valorização ou desvalorização do ativo. Em ambos os casos, a rentabilidade do ativo não se altera, o que muda é a forma de enxergar a rentabilidade em sua carteira.

Qual é a nova regra?

A “nova regra” da marcação a mercado estabelece que mais títulos de renda fixa passarão a exibir a marcação a mercado ao invés da “marcação na curva”. O que antes a característica apenas dos títulos do Tesouro Direto, agora também serão o padrão para debêntures, CRIs, CRAs e títulos públicos (títulos do tesouro vendidos no mercado secundário).

Ativo Regra de Marcação
Debênture Mercado
CRA Mercado
CRI Mercado
Títulos Público Mercado
Bancários Curva
Letras Financeiras Curva
FIDC Curva

A nova regra é aplicável a pessoas físicas e jurídicas, com exceção às empresas de médio e grande portes. A intenção da nova regra da marcação a mercado é refletir melhor o valor atualizado da carteira dos investidores, baseado no valor em que esses títulos estão sendo negociados no mercado.

Vale reforçar que a nova regra não muda a rentabilidade do investimento, apenas altera a forma que é exibido o investimento em sua carteira. Com essa nova regra, o investidor terá mais transparência e informação caso decida se desfazer de seu investimento antes do vencimento do título.

Além disso, a “marcação a mercado” é a metodologia padrão em economias avançadas, como nos Estados Unidos e em toda Europa ocidental. Dessa forma, a nova regulação aproxima o Brasil a padrões internacionais.

Marcação a mercado na prática, para quem quer ir a fundo.

Para os mais interessados em como funciona o cálculo de um título marcado a mercado, faremos uma simulação de como os títulos podem sofrer com essas variações do dia a dia.

Para isso, vamos utilizar a fórmula de marcação a mercado do título LTN — Letra do Tesouro Nacional, também conhecida como Tesouro Prefixado. Confira a formula a seguir:

Em que:

  • PU : Valor do título na data de cálculo;
  • VN: Valor nominal do título (Valor de resgate)
  • tx: Taxa de mercado de títulos para o mesmo vencimento;
  • du: Número de dias úteis para o vencimento do papel

Fonte: Manual da marcação a mercado – B3

Como padrão, os títulos do Tesouro Prefixado têm o valor de resgate de R$1.000,00 (VN ou valor nominal do título). Assim, para saber qual o valor atual do seu título que estará marcado a mercado, teremos 2 variáveis: O número de dias úteis até o vencimento(du); e a taxa de rendimento do mesmo título sendo negociada naquele dia(tx).

Marcação a mercado e a variação de taxas

Assim, simularemos abaixo o quanto a variação de taxa de um título em um mesmo dia poderia afetar o valor de seu investimento em um Tesouro Prefixado 2025 com rentabilidade de 12,97% e vencimento em 01/01/2025 no dia de hoje (27/12/2022).

Taxa Valor no vencimento Valor atual Variação percentual Variação nominal
10,97% R$ 1.000 R$ 811,39 3,7% R$ 28,59
11,97% R$ 1.000 R$ 796,91 1,8% R$ 14,10
12,97% R$ 1.000 R$ 782,80 0,0% R$ 0,00
13,97% R$ 1.000 R$ 769,07 -1,8% -R$ 13,73
14,97% R$ 1.000 R$ 755,70 -3,5% -R$ 27,10

Nesse exemplo, podemos notar que quanto maior for a taxa do mercado, menor será o valor atual deste título. Isso significa que, caso você tenha comprado o tesouro pela taxa de 12,97% ao ano (a taxa atual do mercado) e no mesmo dia ocorra a variação de taxa para 14,97%, você teria visto seu título desvalorizar 3,5% naquele dia. Por outro lado, no caso de uma queda nas taxas também em 2 pontos percentuais, seu título teria valorizado 3,7%.

Embora uma mudança tão brusca nas taxas em um mesmo dia seja pouco provável, esse exemplo demonstra como a alteração de taxas impacta diretamente nos preços dos títulos de renda fixa. Dinâmica que será sentida pelo investidor com a aplicação da nova regra em seus investimentos como CRIs, CRAs, debentures e títulos públicos.

Marcação a mercado em vencimentos mais longos

Além das taxas outro fator importante nessa equação é o prazo para o vencimento. Nessa mesma fórmula, a única variável exponencial é o número de dias úteis para o vencimento (du) que será dividido pela constante 252.

Isso significa que, quanto maior o número de dias úteis até o vencimento, maior será o impacto na equação. Em outras palavras, maior a volatilidade no preço desse título. Realizando a mesma simulação com o Tesouro Prefixado 2029 na taxa atual de 13,05% ao ano, temos o seguinte resultado.

Taxa Valor no vencimento Valor atual Variação percentual Variação nominal
11,05% R$ 1.000 R$ 533,86 11,3% R$ 54,12
12,05% R$ 1.000 R$ 505,96 5,5% R$ 26,22
13,05% R$ 1.000 R$ 479,75 0,0% R$ 0,00
14,05% R$ 1.000 R$ 455,10 -5,1% -R$ 24,64
15,05% R$ 1.000 R$ 431,92 -10,0% -R$ 47,82

Ou seja, a mesma variação de 2 pontos percentuais em um título de vencimento um pouco mais longo pode provocar uma variação superior a 10% do valor do investimento marcado a mercado.

Não se preocupe com a marcação a mercado

Como explicamos nessa análise, a marcação a mercado mudará o dia a dia como você enxerga seus investimentos de renda fixa, mas não deveria se tornar fonte de preocupação para os investidores.

Para aqueles que irão investir até o vencimento do título, que deveria ser o comportamento esperado para a maioria dos investidores, essa nova exibição pode provocar um pouco de ansiedade pelas constantes variações de preço, mas não altera o rendimento final que é pago no vencimento exatamente na taxa contratada.

Por outro lado, para aqueles que procuram os melhores momentos para realizar a negociação de seus ativos, a nova regra da marcação a mercado poderá trazer um pouco mais de informação e praticidade ao investidor brasileiro.

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 6928

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