As festas juninas, além de celebrações culturais marcadas por quadrilhas, fogueiras e comidas típicas, movimentam intensamente a economia brasileira. Junho se transforma em um mês de grande circulação comercial, impulsionado pela demanda por ingredientes tradicionais, trajes caipiras e artigos de decoração. Mas, em meio à alegria das festividades, uma preocupação persiste: o impacto da inflação no bolso do consumidor.
Neste relatório, analisamos a variação de preços dos principais itens juninos em dois períodos: os últimos 12 meses (abril/2024 a abril/2025) e os últimos cinco anos (janeiro/2020 a abril/2025). Os dados são comparados com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), e contextualizados por fatores econômicos como safras, clima, câmbio e logística.
A dança dos preços: Inflação geral versus cesta junina
Com a chegada das festas juninas, é hora de acender a fogueira e preparar as delícias típicas. A festa aquece o comércio, mas também revela distorções inflacionárias. Entre abril de 2024 e abril de 2025, o IPCA acumulou alta de 5,53%. Já no recorte de cinco anos, o índice subiu 36,77%.
A cesta junina — composta por 12 itens típicos escolhidos em nossa análise — teve comportamento distinto: subiu apenas 3,81% no último ano, mas acumulou expressivos 51,59% em cinco anos. Ou seja, no curto prazo, ficou abaixo da inflação geral, mas no longo prazo, superou-a com folga.
A tabela abaixo resume variações:
Itens | 5 anos | 12 meses |
Arroz | 55,13% | -8,85% |
Milho (em grão) | 62,21% | 2,24% |
Fubá de milho | 70,16% | -2,86% |
Mandioca (aipim) | 92,42% | 4,40% |
Salsicha | 53,85% | 3,23% |
Carne-seca e de sol | 19,90% | 13,07% |
Óleo de soja | 121,57% | 23,16% |
Cerveja | 5,77% | 4,51% |
Vinho | 81,32% | 5,13% |
Milho-verde em conserva | 48,15% | -4,61% |
Tecido | 36,30% | 1,90% |
Artigos de armarinho | 36,54% | 6,82% |
Cesta junina | 51,59% | 3,81% |
IPCA Geral | 36,77% | 5,53% |
No longo prazo, 8 dos 12 itens analisados superaram o IPCA. Já no curto prazo, apenas três itens — óleo de soja, carne-seca e artigos de armarinho — tiveram alta superior à inflação geral. Por outro lado, itens tradicionais como arroz e fubá registraram quedas recentes.
Causas e fatores econômicos
A inflação da cesta junina é resultado de uma combinação de fatores:
- Safras e clima: o clima adverso em anos anteriores (seca no Rio Grande do Sul, enchentes) limitou culturas como o arroz, fazendo os preços subirem. No entanto, as melhores condições em 2024 reverteram esse cenário: a Conab prevê safras recordes de arroz (+14,8%) e milho (+9,9%) em 2024/25. Essa abundância alivia as pressões sobre o preço, influenciando nas quedas de arroz e fubá. Ou seja, a oferta sazonal (entressafra) e o clima são decisivos: chuvas boas aumentam a oferta, secas encurtam as safras e elevam os preços.
- Demanda sazonal: junho eleva a procura por produtos típicos. Quando a oferta não acompanha, os preços sobem — um padrão recorrente nas festas juninas.
- Câmbio e insumos: a depreciação do real (cerca de +27% frente ao dólar em 2024) encarece insumos importados, pressionando os preços em geral. Itens com cadeia internacional – como rolhas de cortiça, vidro e componentes químicos – tiveram reajustes acima da inflação real em 2024, afetando vinhos e bebidas em geral.
- Logística e cadeia de suprimentos: problemas de infraestrutura (déficit de armazenagem e frete caro) oneram os alimentos. Com a safra recorde, faltam silos e armazéns, obrigando produtores a vender rapidamente, o que eleva os custos de transporte e armazenagem (impactando óleo, carnes etc.).
A seguir, detalhamos os principais destaques.
Óleo de Soja
Com alta de 23,16% em 12 meses e 121,57% em cinco anos, o óleo de soja lidera o ranking da inflação junina. A escassez de matéria-prima, aliada à demanda aquecida para produção de biodiesel, elevou os preços.

Segundo o IBGE, a categoria “óleos e gorduras” foi uma das que mais subiram em 2024 dentro do IPCA, com avanço de 18,72%, ante 4,8% do índice geral. Apenas em dezembro, o valor do óleo de soja — principal subitem da categoria — subiu 5,12%.
Carne seca e de sol
Ingrediente essencial em pratos como escondidinho e feijoada, a carne-seca subiu 13,07% no último ano. A reversão no ciclo de abate e o aumento das exportações pressionaram a oferta e os preços. Adicionalmente, problemas climáticos em países produtores afetaram o mercado global, enquanto o Brasil manteve alta produção, intensificando as exportações.
Apesar da alta recente, a carne-seca e de sol teve inflação de apenas 19,90% em cinco anos, abaixo do IPCA. Isso se deve, em parte, à durabilidade maior dos produtos — resultado dos processos de salga e secagem — e ao perfil de consumo mais estável e regionalizado, o que torna seus preços menos suscetíveis a variações sazonais e logísticas, diferentemente de cortes mais populares que enfrentam flutuações maiores de consumo.
Artigos de Armarinho e Tecidos
Itens usados na confecção de trajes e decorações juninas também pesaram no bolso. Os artigos de armarinho subiram 6,82%, enquanto os tecidos tiveram alta de 1,90%. A inflação dos serviços e o custo das matérias-primas têxteis explicam parte desses reajustes.
Bebidas Alcoólicas
O vinho subiu 5,13% no último ano e acumula 81,32% em cinco anos, pressionado por insumos como vidro, cortiça e embalagens, além da pressão cambial e custo logistico . A cerveja teve alta mais modesta: 4,51% em 12 meses e 5,77% em cinco anos.
Arroz
Com queda de 8,85% no último ano, o arroz foi um alívio para o consumidor. A deflação está ligada à safra recorde: segundo a Companhia Nacional do Abastecimento, a produção 2024/25 será de 12,1 milhões de toneladas — alta de 15% em relação ao ano anterior—, o que reduziu significativamente o preço da saca.

Milho e Derivados
O milho em grão teve leve alta de 2,24%, enquanto o fubá de milho e o milho-verde em conserva recuaram 2,86% e 4,61%, respectivamente. A boa safra e os estoques elevados explicam esse alívio nos preços, beneficiando pratos como pamonha, curau e pipoca.

Mandioca (aipim)
Ingrediente básico de receitas juninas e pilar da alimentação brasileira, a mandioca apresentou uma valorização acumulada de 92,42% nos últimos cinco anos e uma alta de 4,40% nos últimos 12 meses até abril de 2025. No entanto, observa-se uma queda expressiva nos preços a partir de 2023, devido à forte recuperação da oferta no ano: a tonelada, que era cotada a R$ 770 em julho de 2023, caiu para cerca de R$ 474 em julho de 2024, conforme dados do CEPEA.
No Brasil, os preços da mandioca são fortemente influenciados pela relação entre oferta e demanda. Segundo o CEPEA, o pico de preços em 2022 refletiu a escassez de oferta devido à redução de área plantada em anos anteriores, motivada por condições climáticas adversas.

Em 2024, no entanto, foi marcado pelo esmagamento recorde de mandioca para produção de fécula e farinha no Centro-Sul brasileiro, contribuindo para a queda dos preços das cotações. O comportamento dos preços mostra que, embora a mandioca seja um alimento básico, está sujeita a fortes oscilações ligadas à conjuntura agrícola e os efeitos climáticos que afetam as ofertas do produto agrícola — movimentos que podem levar um tempo para serem sentidos pelo consumidor.
São João no compasso da inflação
Nos últimos cinco anos, a maioria dos itens juninos teve inflação superior ao IPCA, com destaque para o óleo de soja e a mandioca. No curto prazo, porém, a inflação foi mais contida, com alguns produtos — como arroz e milho — apresentando queda de preços.
A cesta junina reflete a complexidade da economia brasileira: é influenciada por safras, clima, logística, câmbio e demanda sazonal. Para 2025, a expectativa é de alívio nos preços de alimentos, graças às safras robustas e à política monetária contracionista.
Em resumo, o São João de 2025 pode sair mais barato em alguns aspectos em relação ao último ano, mas ainda exige atenção do consumidor. Afinal, até mesmo a festa mais animada do ano não escapa do calor da inflação.
Ainda assim, é possível aproveitar as festas juninas sem pesar no bolso. Trocar itens mais caros por alternativas regionais, reaproveitar fantasias de anos anteriores ou organizar compras coletivas para dividir os custos são estratégias simples que ajudam a manter a tradição com criatividade e responsabilidade financeira. Afinal, o verdadeiro espírito do São João está na celebração coletiva — e não no valor gasto.
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