Insight Rico: Jabuticaba ou não, eis a questão
O mercado é um eterno debate de opiniões contrárias, muito mais intenso do que as minhas reuniões familiares (o que particularmente eu achava que fosse impossível). Sobre um mesmo cenário, ativo e estratégia, sempre existirá mais de um ponto de vista: comprador, vendedor e o “prefiro ficar de fora”.
O Salomão sempre me dizia isso: “no mercado, para todo comprador que acredita ter encontrado uma ‘pechincha’, existe um vendedor que acredita estar fazendo um bom negócio e fica feliz em se livrar do investimento”. Parece óbvio, mas é o tipo de frase que quando falada faz o autor parecer um gênio.
E quando o assunto é debate, nós, investidores brasileiros, somos verdadeiros “Phds”: além de todos os debates internacionais, ainda temos que discutir o que eu chamo de “jabuticabas” – os riscos e problemáticas que o Brasil enfrenta e são incomuns entre outras geografias.
A jabuticaba desse ano tem nome e sobrenome: situação fiscal. Para muitos gestores, esse é o tema principal para ser discutido e levado em consideração na hora de alocar os recursos. Porém, outros grandes nomes defendem que o nível dos gastos públicos até é importante, mas a deflação e a economia mais lenta vista no mundo, e que vemos no Brasil desde meados de 2016, é muito mais relevante no momento da decisão de investimento.
Vamos começar pela segunda tese, que não coloca o fiscal como centro do debate. A Persevera Asset, gestora que já apareceu aqui no Rico Matinal algumas vezes por dizer que os juros (Selic) iriam para baixo de 3% ao ano quando ninguém falava sobre um corte tão ostensivo (e de fato foi), acredita que a deflação e a economia do Brasil serão o grande tema do mercado.
Ao longo dos últimos 5 anos, o mercado vem se surpreendendo sucessivamente com uma atividade que decepciona, uma inflação baixíssima e juros que têm que cair continuamente para reativar e reflacionar a economia. Apesar disso, continua temendo a inflação e não o nosso verdadeiro inimigo: a estagnação econômica que produz uma contínua desinflação.
Aos olhos da gestora, essas preocupações serão dissipadas quando ficar claro que as taxas de inflação permanecerão baixas por muito tempo, permitindo a continuidade de uma política monetária muito acomodativa. Aliás, não é de hoje que essa deflação vem para dizer como a banda vai tocar:
Como podemos ver acima, a inflação tem surpreendido para baixo há 5 anos, e, para a Persevera, esse movimento vai continuar.
E eles não estão sozinhos segurando esse microfone: a gigante Adam Capital concorda. Márcio Appel e seu time estão comprados na mesma tese da Persevera, e acreditam tanto nesse cenário que, além de estarem aplicados em juros mais longo (ganha dinheiro na queda da expectativa de juros futuro de longo prazo), também veem a bolsa brasileira como uma boa alocação complementar, e apostam na desvalorização do dólar contra o real, posição bastante incomum se comparada com a visão de demais gestores.
E para uma gestora como a Adam, que historicamente sempre foi mais pessimista com o Brasil, ter posições e convicções como essas, no mínimo nós damos o benefício da dúvida. Mais importante que a mensagem é o mensageiro (mais uma das lições de Salomão).
Outras visões
Caros 13 leitores, imagino que ver grandes nomes do mercado com uma visão relativamente positiva da situação fiscal tenha dado um certo alívio no peito (como deu para mim enquanto redigia esse texto). Mas nem tudo são rosas: tem gente bem relevante que acredita no oposto, e tem argumentos muito bons para isso.
Na verdade, não sei se 11 páginas de relatório com a Verde Asset, uma das mais tradicionais gestoras de recursos brasileira, pode ser chamado de apenas um argumento. Não irei replicar todos os pontos levantados por esse verdadeiro mergulho no panorama fiscal brasileiro, aconselho que acesse a carta completa para isso, mas gostaria de chamar atenção para um gráfico que sintetiza bem a relevância desse assunto:
O Brasil tem a pior relação dívida x PIB entre todos os emergentes. Não é apenas endividamento, é endividamento sobre a capacidade de pagar, isso é justamente o que mais preocupa.
Além da Verde, outra gestora que corrobora com essa visão é a SPX, também dentro dos nomes mais tradicionais do país. Porém, além de compartilharem da preocupação com a situação fiscal e com a gestão da dívida pública, para a casa, os juros inclusive foram cortados de forma excessiva dado esse cenário de dívida desafiador.
Para a SPX, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central brasileiro) deve manter a Selic nesse patamar atual nas duas próximas reuniões, mas já antecipa um discurso “hawkish”, ou seja, de que o Banco Central deverá iniciar um processo de alta de juros. No médio prazo, veem uma possibilidade da inflação advinda dos alimentos sendo agravada, o que pode “contaminar” ainda mais esse cenário.
Bom, se no começo os argumentos tranquilizavam um pouco mais, agora tenho certeza que seu coração apertou. No entanto, além dos nossos queridos “brazucas”, aqui no time de análise da Rico nós também damos ouvidos aos nosso amigos gringos: Howard Marks, um dos investidores mais importantes no contexto global (autor do livro favorito da Betina, The Most Important Thing), quase como um “pokemon lendário” do mercado, publicou recentemente o memorando da Oaktree, gestora a qual é sócio fundador (e tem seu fundo de credito global disponível na Rico).
Nesse artigo, HM trouxe um lembrete sobre, no ponto de vista dele, o tema mais importante de todos: juros mais baixos. Howard afirma que não tem a menor ideia se teremos inflação, desinflação, deflação, reflação (e eu confesso que amo quando gênios dizem “não sei”), mas que o tema de juros mais baixos veio para ficar e ele irá ditar a relação de risco x retorno dos mercados.
Os níveis de juros mais baixos no mundo todo têm “emagrecido” os retornos dos ativos. Ao mesmo tempo, o sentimento de incerteza é absoluto nos mercados. E como a Oaktree tem se posicionado em relação a isso? Entendendo que, se quer remunerar melhor seu capital, vai precisar assumir riscos para isso. Aliado a isso, tendo muita cautela. O gráfico abaixo, presente no memo, ilustra isso muito bem:
Assim como a Oaktree, nós acompanhamos os grandes temas macroeconômicos, mas, no momento de tomar decisões de investimento, o mais importante de tudo é o preço. Cada mercado propõe uma relação de risco x retorno, e é justamente isso que vai nos dizer o que teremos em nossas carteiras e o quanto.
Acreditando no fato de que não devemos ser heróis, buscamos diversificar as nossas recomendações entre mercados que terão relações de retorno sobre o risco diferentes, e assim teremos uma carteira final mais eficiente e que passará de forma mais equilibrada pelos diversos cenários. Afinal de contas, não investimos o nosso patrimônio para perder a qualidade do nosso sono, mas sim o contrário.
Nós publicamos nossas recomendações de diversificação de carteira no Blog da Rico. Nossa intenção é auxiliar os investidores que gostam de trilhar o próprio caminho nos investimentos – separamos as sugestões por perfil de investidor, sendo eles: cauteloso (conservador), defensivo (conservador/moderado), estrategista (moderado), visionário (moderado/agressivo), energético (agressivo) e destemido (mais agressivo, focado em renda variável no geral). Acesse nossas recomendações aqui.
Para aqueles que não gostam/ querem/ tem interesse em acompanhar o mercado para tomar decisões de investimentos, a família de fundos DNA replica nossas recomendações dentro da carteira de um fundo por perfil, com o benefício da gestão ativa do nosso time de alocação XP Inc. Sempre que o comitê tomar uma decisão conforme leituras e análises do mercado, isso será replicado automaticamente nos fundos, sem que você precise apertar nenhum botão. Ao mesmo tempo, até o 8° dia útil de todo mês, você receberá um acompanhamento do seu fundo em seu e-mail, entenda qual é seu DNA de investidor aqui.
Resumo do dia: E a vacina, vem?
(por Paula Zogbi)
Bolsas mundiais amanhecem em clima de cautela e movimentos praticamente neutros. Nos EUA, futuros se movem entre +0,01% e -0,2%, e o Stoxx 600 na Europa desvaloriza 0,15%.
O sentimento continua refletindo notícias recentes sobre o combate ao coronavírus. Após a Johnson & Johnson pausar testes de vacina pelo adoecimento de um participante, a Eli Lilly também interrompeu estudos para um tratamento baseado em anticorpos por preocupações quanto à segurança. A empresa não deu detalhes sobre o que motivou a pausa.
O pacote de novos estímulos nos EUA também está “on hold”. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, exigiu que a Casa Branca reformulasse sua última oferta do pacote de US$ 1,8 trilhão e disse que as negociações não estão “nem perto” de um desfecho positivo.
No Brasil, o Ibovespa fechou em alta na terça-feira, descolado do exterior, e voltou ao patamar dos 98 mil pontos. O principal driver foi o ajuste em relação ao movimento dos ADRs (certificados de ações brasileiras negociados nos EUA) durante o feriado.
Em entrevista, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o BC usa as variáveis fiscais para tomada de decisão e que recentemente essas variáveis ganharam peso por causa da fragilidade fiscal. O ministro Paulo Guedes também se manifestou ontem, em carta ao FMI, reforçando a continuidade da agenda de reformas e “forte compromisso com a disciplina e transparência fiscal”.
Agenda da Semana |
Quarta-feira, 140 1h30: Japão – Produção Industrial agosto (ant: 1,7%) 06:00: Zona do Euro – Produção industrial sazonal agosto a.m (exp: 0,2%; ant: 4,1%) 09h00: Brasil – volume do setor de serviços IBGE agosto a.a. (exp XP: -7,4%; ant: -11,9%) 09h30: EUA – PPI mensal setembro (exp: 0,1%; ant 0,3%) 22h30: China – IPP setembro, a.m e a.a. (exp: 1,9 YoY; 1,9% MoM; ant: -2% YoY; 2,4% MoM) |
Quinta-feira, 15 09h00: Brasil – Atividade Econômica agosto a.m. (exp XP: 3,8%; ant: 2,2%) 09h00: Brasil – Atividade Econômica agosto a.a. (exp XP: -2,7%; ant: -4,9%) 09:30: EUA – novos pedidos de seguro-desemprego 09h30: EUA – Índice Empire Estate manufatura em NY (exp: 12; ant: 17) 09h30: EUA – seguro-desemprego |
Sexta-feira, 16 06h00: Zona do Euro: Balança Comercial SA agosto 06h00: Zona do Euro – IPC setembro a.m. (exp: 0,1%; ant: 0,1%) 08h00: Brasil: IPC-S FGV (ant: 1,2%) 08h00: Brasil: IGP-10 FGV outubro (ant: 4,3%) 11h00: EUA – Confiança do consumidor outubro (exp: 80; ant: 80,4) |