A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,24% em outubro de 2023. O resultado mensal levou o índice para 4,82% no acumulado em doze meses, desacelerando em relação a setembro – quando o IPCA-15 acumulava 5,19%.

Alimentos param de cair, mas serviços consolidam “segunda pernada” de queda da inflação

O resultado de outubro veio um pouco abaixo do esperado pela maior parte dos analistas de mercado. Um dos principais fatores para a surpresa veio dos preços da gasolina, que registraram queda maior do que o esperado (caindo 1,5% no mês), refletindo um repasse mais rápido do reajuste implementado pela Petrobras no meio do mês.

De maneira geral, o número pode ser lido como positivo, consolidando mais um passo no caminho da desinflação observado nos últimos meses. Em bom português: boas notícias no campo da inflação.

Vale destacar que um processo de desinflação é diferente de um período deflacionário – em que os preços efetivamente caem. Dito isso, os resultados recentes foram marcados pela queda de alguns preços, em especial de alimentos. Apesar de registrar alta em outubro após quatro meses de queda, a categoria “alimentação no domicílio” ainda ilustrou itens em deflação no mês, como em algumas carnes (fígado, lagarto e costela) e em leite e derivados – que caiu 2,8% no mês.

Por trás da queda recente no preço de alimentos estão fatores climáticos e a forte produção agrícola, além de questões específicas de algumas produções – como de bovinos. Estima-se que a safra de grãos no país tenha crescido mais de 20% nesse ano (comparado a 2022), atingindo outro recorde histórico – com destaque para milho e soja, que servem de insumo para criação de proteína animal, reduzindo também o custo de produção desses alimentos.

Assim, embora o IPCA tenha registrado alta na variação mensal, a tendência enfraquecimento da inflação segue em curso.

Mas o destaque do mês ficou para o comportamento benigno dos preços no setor de serviços. Apesar de acelerações mais pontuais em preços mais voláteis, como passagens aéreas (que subiram 23% no mês), a inflação de serviços seguiu sua trajetória de queda, trazendo boas notícias para o controle de preços no país.

Para ilustrar, a medida chamada de “serviços subjacentes” – que exclui preços mais voláteis como hotéis, passagens aéreas e tarifas de internet – caiu de 4,1% em agosto para 3,4% em outubro na variação anual (considerando a média móvel de três meses), se aproximando da meta do Banco Central.   

Vale destacar que a inflação no setor de serviços é um dos fatores mais observados pelo Banco Central. Isso porque os preços no setor tendem a ser mais difíceis de controlar uma vez disseminados pela economia, por não serem impactados por movimentos que chamamos de “oferta”, como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity.

Finalmente, preços de bens industriais também vem surpreendendo “para o bem”, ou seja, mostrando inflação menos pressionada nos últimos meses. Eu outubro, essa categoria registrou alta bem tímida, de apenas 0,02%, abaixo do esperado por analistas e acumulando alta de apenas 2,7% em doze meses. O alto endividamento das famílias, o crédito ainda apertado (lembrando que o efeito da queda da Selic demora a ser sentido na economia), além do elevado nível de estoques em alguns setores explicam os preços mais comportados no setor industrial.

Para ilustrar, eletrodomésticos acumulam queda de 4,6% no acumulado em doze meses até outubro – com destaque para queda de 12% em televisores e 2% em máquinas de lavar roupa.

Inflação comportada poderia permitir queda maior da Selic, não fossem cenário externo e risco fiscal

Para o dia a dia dos brasileiros, o processo queda da inflação observado nesse ano contribuiu para a melhora da sensação de perda do poder de compra. De fato, a queda da inflação no ano tem contribuído para a elevação do rendimento médio real efetivo dos trabalhadores – que registrou crescimento de 5% no último ano (entre setembro de 2022 e setembro de 2023).

Diante da inflação em queda, o Banco Central poderia ter espaço para acelerar o ritmo de reduções da taxa Selic – nossa taxa básica de juros. Afinal, o objetivo principal da manutenção de juros elevados é o controle do ritmo de preços.

Riscos nos cenários internacional e doméstico, entretanto, limitam uma maior queda nos juros.    No âmbito internacional, a forte alta das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos impõe um desafio relevante para a redução dos juros no Brasil. Isso porque, de maneira simplificada, com retornos mais altos no investimento considerado de menor risco do mundo, investidores tendem a “exigir” maiores retornos em países considerados de maior risco – ou seja, maiores juros.

Além disso, riscos de um repique no preço do petróleo no cenário global também suscitam cautela – na esteira darecente eclosão do conflito militar entre Israel e Hamas. Caso um cenário de petróleo mais caro se concretize nos próximos meses, a inflação global pode voltar a subir.

Já aqui no Brasil, o principal risco segue a deterioração das contas públicas. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante – influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro

A deterioração do risco fiscal também tende a impactar a nossa moeda, uma vez que essa é percebida como mais arriscada. Um real mais desvalorizado adiciona pressão sobre a inflação, uma vez que boa parte do que consumimos e produzimos inclui insumos negociados em dólares ou mesmo produtos importados.

Em resumo, vemos um cenário em que a inflação perdeu força, mas ainda não saiu do radar – nem dos gringos, nem dos brasileiros e nem do Banco Central. Esse último optou por continuar o ritmo de reduções da taxa Selic em outubro, mas sinalizou que os juros devem seguir em patamares contracionistas ainda por um período considerável – justamente diante do cenário ainda incerto adiante.

Assim, projetamos que o IPCA encerre 2023 em 4,5%. Para os próximos anos, projetamos uma inflação em patamar levemente mais baixo do que o visto esse ano, mas ainda acima da meta do Banco Central (de 3,00%) – encerrando 2024 em 3,9% e 2025 em 4,0%.

Como se proteger da alta de preços?

Como falamos, embora a inflação esteja perdendo força no Brasil e no mundo, o cenário segue de cautela. Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial. 

Títulos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA + 2032, debêntures de empresas sólidas e com boa classificação de risco, e fundos de inflação (fundos de investimento que investem em ativos indexados à inflação) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui. 

Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços.

Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, selecionamos abaixo algumas sugestões de diferentes ativos recomendados – sempre lembrando da importância da diversificação.

Classe Opção de investimento Opção de investimento2 Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixada Tesouro Selic 2029 XP TOP FI Renda Fixa Crédito Privado LP R$ 100,00
Inflação Tesouro IPCA+ 2032 com juros semestrais CRA Marfrig 08/29 IPCA+6,25% R$ 50,00
Renda Fixa Prefixada Tesouro Prefixado 2026 LTN 01/26, 10,75% R$ 100,00
Renda Fixa Global Trend High Yield Americano FIM Trend Crédito Global FIM R$ 100,00
Multimercado Selection Multimercado FIC FIM XP Macro FIM R$ 100,00
Renda variável Brasil Carteira Rico11 Selection Ações FIC Ações R$ 100,00
Renda variável internacional Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I R$ 500,00
Renda variável internacional hedgeada Trend Bolsas Globais Trend Bolsas Emergentes R$ 100,00
Alternativos Trend Ouro Dólar FIM PVBI11 R$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

1) Este relatório de análise foi elaborado pela Rico Investimentos, que é uma marca da XP Investimentos CCTVM S.A. (“Rico”) de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM nº 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A Rico não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório.

2) Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor.

3) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à Rico e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado, e que sua(s) remuneração(es) é(são) indiretamente influenciada por receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela Rico.

4) O analista responsável pelo conteúdo deste relatório e pelo cumprimento da Resolução CVM nº 20/2021 está indicado acima, sendo que, caso constem a indicação de mais um analista no relatório, o responsável será o primeiro analista credenciado a ser mencionado no relatório.

5) Os analistas da Rico estão obrigados ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para o Analista de Valores Mobiliários e na Política de Conduta dos Analistas de Valores Mobiliários do Grupo XP.

6) Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor.

7) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes.

8) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da Rico. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da Rico.

9) SAC. 0800 774 0402. A Ouvidoria da Rico tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800-722-3730.

10) O custo da operação e a política de cobrança estão definidos nas tabelas de custos operacionais disponibilizadas no site da Rico: https://www.rico.com.vc/custos. 11) A Rico se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo. 

12) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação os resultados divulgados pelas companhias emissoras e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas. 

13) Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor.