A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,26% em maio de 2025. O resultado levou a métrica acumulada em doze meses para 5,32%, desacelerando frente o mês anterior (quando estava em 5,53%).    

Assim, a inflação segue acima da meta do Banco Central (de 3,00%), superando o limite superior de 4,50%. Apesar da desaceleração, portanto, o resultado mantém preocupações sobre o ritmo de alta de preços e seus impactos na economia adiante, e a manutenção de uma taxa Selic elevada por parte do Banco Central – pelo menos por ora.

Meta de inflação: o que é? 

O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central. 

Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%. 

O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços. 

Caso o IPCA se mantenha acima do limite de 4,5% por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central deve enviar carta ao Presidente da República indicando: i) os motivos do não atingimento da meta; ii) medidas planejadas para que a inflação retome à meta; e iii) o tempo projetado para que isso se concretize.

Dólar mais fraco ajuda a conter o ritmo de preços

O resultado de maio veio abaixo do esperado por analistas. Deste modo, a reação imediata observada nos mercados foi majoritariamente benigna, com queda nas expectativas de juros no futuro, especialmente no curto prazo – ou seja, nos títulos de vencimento mais curto que compõe a “curva DI futuro” (composta por taxas de títulos soberanos de diferentes vencimentos). Não obstante, seguimos vendo um cenário desafiador para o controle de preços adiante.

Um dos principais destaques da inflação de maio foram os preços de bens industriais, que subiram apenas 0,06% – bem abaixo do projetado. Esse ritmo mais lento de alta foi impulsionado principalmente pela redução nos preços de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e automóveis. Os preços registrados em máquinas de lavar roupa, por exemplo, registraram queda de 1,35% no mês, enquanto televisores caíram 0,59%.

O menor ritmo dos preços de bens industrializados é reflexo principalmente do efeito da valorização do real, que tornou os produtos importados e seus componentes mais baratos.

Vale lembrar que o patamar da taxa de câmbio influencia diretamente e indiretamente a variação dos preços de alimentos consumidos domesticamente, em maior ou menor intensidade.

Afinal, grande parte do que consumimos é negociado internacionalmente (como cacau e proteínas) ou mesmo importado – como o trigo, e matérias primas para roupas e eletrônicos.

Detalhamos mais como a variação da taxa de câmbio impacta o poder de compra do brasileiro nesse texto.

Por que o dólar caiu esse ano?

Após um final de 2024 marcado por forte desvalorização, 2025 tem ilustrado um cenário diferente – e positivo – para nossa taxa de câmbio: entre 01 de janeiro e 10 de junho, o real acumula alta de aproximadamente 10%.

A explicação por trás da performance positiva recente é encontrada majoritariamente em fatores internacionais.

Em especial, a recente desvalorização do dólar no mundo, na esteira do crescimento das incertezas nos Estados Unidos, principalmente diante da política tarifária de Donald Trump. Assim, em meio a receios de uma recessão nos Estados Unidos e questionamentos sobre a posição do dólar e ativos norte-americanos como “porto seguro” no mundo, a moeda americana enfraqueceu.

Além disso, o Brasil passou a ser visto como um beneficiário relativo do “xadrez tarifário global”, atraindo parte do fluxo estrangeiro em busca de retornos além dos Estados Unidos – o que tem contribuído para manter nossa moeda em nível relativamente mais forte do que o esperado frente ao cenário macroeconômico doméstico.

Dito isso, não vemos essa tendência de valorização do real como duradoura, uma vez que riscos domésticos devem voltar a pesar sobre a nossa taxa de câmbio. Detalhamos nossa visão sobre o que esperar para a nossa moeda adiante aqui.

Clima favorável no campo ajuda no alívio ao bolso de consumidores

A inflação de alimentos também contribuiu para uma alta mais moderada da inflação em maio. A categoria registrou alta foi de apenas 0,02% em maio, refletindo uma desaceleração significativa em relação aos 0,83% registrados em abril. Essa queda foi puxada principalmente por hortifruti, ovos, óleo de soja e arroz.

Para ilustrar, a categoria que inclui “cereais, leguminosas e oleaginosas” registrou queda de 3,2% no mês, com destaque para queda de 4,5% dos preços de feijão preto. Na mesma linha, frutas como laranja, mamão e tangerina também tiveram queda nos preços em maio, assim como a categoria de “leites e derivados”.

Após período de altas relevantes, a queda nos preços de muitos alimentos reflete uma gama de fatores, incluindo: i) a retomada de safras de arroz (recuperando das quebras do ano passado); ii) um ambiente climático favorável para plantio e colheita; além da já mencionada iii) valorização do real – que também impacta diretamente o preço dos alimentos.

Por outro lado, tarifas de energia sobem com bandeira amarela

Por outro lado, a mudança da bandeira tarifária elevou os preços de energia no mês. A alta de 3,6% de eletricidade influenciou a inflação de preços monitorados, que incluem combustíveis e energia elétrica, na esteira da ativação da bandeira tarifária amarela.

Vale lembrar: as bandeiras tarifárias compõem o sistema de custo da geração de energia no país. Como mais de 60% da energia no Brasil é gerada por usinas hidroelétricas, períodos de seca prolongada reduzem a capacidade dessas usinas, exigindo maior uso de usinas termelétricas, que têm custo mais alto.

Para cobrir essa diferença, o sistema de bandeiras tarifárias ajusta o valor da conta de luz, variando da bandeira verde (situação normal) até a vermelha 2 (custo mais alto), impactando diretamente o valor pago por famílias e empresas.

Preços de serviços seguem discretamente perigosos

Embora preços de bens, como alimentos, roupas e eletrodomésticos tendam a ser sentidos de maneira mais aparente por consumidores, a inflação de serviços segue como um dos principais fatores de preocupação no contexto atual.

Como podemos ver no gráfico abaixo, embora o ritmo de alta dos preços de serviços menos voláteis (denominados “serviços subjacentes”) tenha cedido em maio, a inflação do setor segue muito acima da meta do Banco Central, acumulando alta de 7,1% conforme a média anualizada dos últimos três meses.

Vale lembrar que o comportamento dos preços de serviços é essencial para análise do cenário de inflação prospectiva no país. Em outras palavras, o que apontam preços como de cabelereiros, médicos e cinemas pode sinalizar mais sobre o que esperar da inflação do que se imagina.

Isso porque a inflação do setor de serviços é menos impactada por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); refletindo mais a dinâmica de salários e do nível de demanda na economia – em um processo que se retroalimenta.

Afinal, quanto mais aquecida a economia, maior tende a ser o nível de emprego e, consequentemente, a pressão sobre salários. E esse movimento se torna ainda mais relevante em economias nas quais serviços tem maior peso, como no Brasil, onde o setor responde por cerca de 70% do PIB e a maioria dos empregos do país.

Assim, como destacado adiante, a inflação de serviços deve seguir como um dos principais motivos de cautela adiante.

O que esperar? Câmbio ajuda, mas inflação deve seguir acima da meta em 2025

Como vimos, inflação brasileira desacelerou em maio, impulsionada principalmente pelos efeitos cambiais sobre a inflação de bens.

Assim, a tendência de dólar fraco no mundo deve seguir ajudando no controle da inflação por aqui.Como falamos, a mesma incerteza político-econômica nos Estados Unidos explica o movimento recente de depreciação do dólar, reduzindo a pressão tanto sobre preços de bens e serviços importados, quanto de insumos básicos negociados em dólar.

Na mesma linha, a expectativa de menor crescimento global deve ajudar a conter pressões inflacionárias vindas de fora. O ambiente de instabilidade gerado principalmente nos Estados Unidos tem contribuído para deteriorar as expectativas sobre o crescimento econômico no mundo, o que tende a impactar o preço de insumos básicos – especialmente para produção industrial, como petróleo e minério de ferro. Menores preços de commodities, por sua vez, contribuem para o controle da inflação por aqui, especialmente por meio dos preços de combustíveis, com destaque para gasolina.

Não obstante, o cenário de alta de preços adiante segue desafiador, principalmente por fatores domésticos – com destaque para:

  1. economia aquecida –impulsos adicionais do governo seguirão fazendo efeito na economia ao longo dos próximos meses, incluindo: liberação de saldo do FGTS; aumento do programa habitacional “Minha Casa, Minha Vida; criação de nova modalidade de crédito consignado para trabalhadores do setor privado; e ampliação de isenção do imposto de renda até R$ 5.000 (ainda a ser aprovada pelo Congresso);
  2. renda em elevação diante de mercado de trabalho apertado – o impacto do mercado de trabalho aquecido é visto especialmente na inflação de serviços, mas também em bens industriais, alimentos e bens de consumo de uma maneira geral. Afinal, com maior renda disponível, famílias tendem a elevar o consumo para além de bens essenciais;
  3. mercado de crédito (ainda) aquecido – o Banco Central deve manter a taxa Selic elevada por certo tempo, após o ciclo de altas implementado desde o ano passado. Porém, os efeitos de apertos na política monetária são sentidos apenas gradualmente na economia – especialmente diante de estímulos adicionais ao próprio crédito, como os observados hoje; e finalmente,
  • iiii.o elevado (e latente) risco fiscal – conforme detalhado abaixo.

O fiscal como risco inflacionário

A percepção de risco fiscal segue sendo um dos principais riscos ao controle dos preços olhando para frente.

Isso porque o aumento dos gastos públicos não somente contribui para elevar a demanda por bens e serviços na economia, como também impacta as expectativas de inflação e a precificação dos ativos por aqui – incluindo a nossa moeda.

Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam).

Na mesma linha, com receios de que a inflação possa corroer os ganhos a frente, investidores “colocam no preço” dos ativos brasileiros esse risco maior – e nossa moeda perde valor.

Nesse contexto, definições relacionadas a sustentabilidade e manutenção das regras fiscais vigentes (em especial o arcabouço fiscal), incluindo o impacto de potenciais elevações de despesas para o orçamento desse e do próximo ano, seguirão centrais – e um fator de risco – para o rumo dos preços adiante.

Selic deve seguir alta por um longo período

Diante do cenário descrito acima, projetamos que a inflação encerre o ano em 5,5% – acima da meta de 3,0% do Banco Central, excedendo também o limite superior da banda de tolerância da meta (de 4,5%).

Observando seu objetivo de manter a inflação na meta, o Banco Central deve seguir atuando para reverter o cenário de alta de preços. Isso significa manter nossa taxa básica de juros, a Selic, alta por um período prolongado.

Vale lembrar: gestão da taxa Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a variação de preços na economia – aquecendo ou desaquecendo a atividade econômica, e impactando fatores como a taxa de câmbio (com capital sendo atraído por maiores retornos, valorizando nossa moeda) e as expectativas de inflação para o futuro.

Projetamos que a Selic siga em 14,75% até o início de 2026 – quando pode haver espaço para o início de um novo ciclo de quedas. Porém, como destacamos, riscos seguem no radar tanto no Brasil quanto no mundo.

Para 2026, nossa projeção segue acima do intervalo da meta – em 4,7% – diante de uma economia que deve seguir crescendo acima do nível potencial (ou seja, acima do patamar que, teoricamente, não pressiona os preços) e de impulsos fiscais e parafiscais adicionais. 

Como se proteger da alta de preços? 

Como vimos, a inflação segue como um dos principais motivos de cautela e atenção para a economia brasileira. Assim, proteger seu patrimônio contra a alta de preços se torna ainda mais essencial.  

Títulos indexados à inflação (como o título público NTN-B 2030), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco, debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) e fundos de investimento com gestão ativa em renda fixa são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.

Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários.  Apesar de estarem sofrendo diante de expectativas de juros mais altos adiante, os FIIs podem ser aliados do investidor em um cenário cauteloso de alta de preços, por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação. Aqui te indicamos nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários. 

Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.