A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 1,31% em fevereiro de 2025. O resultado elevou a métrica acumulada em doze meses para 5,06%, acelerando frente aos 4,56% registrados até o primeiro mês do ano.

Assim, a inflação segue acima da meta do Banco Central (de 3,00%), superando o limite superior de 4,50%. O resultado reforça preocupações sobre o ritmo de alta de preços e seus impactos na economia adiante, e a continuidade do processo de elevação da taxa Selic pelo Banco Central.

Meta de inflação: o que é?

O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.

Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.

O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.

Caso o IPCA se mantenha acima do limite de 4,5% por seis meses consecutivos, o presidente do Banco Central deve enviar carta ao Presidente da República indicando: i) os motivos do não atingimento da meta; ii) medidas planejadas para que a inflação retome à meta; e iii) o tempo projetado para que isso se concretize.

Contas de luz, impostos sobre combustíveis e mensalidades escolares pesam no bolso em fevereiro

O resultado de fevereiro veio em linha com o esperado por analistas. Deste modo, a reação observada nos mercados logo que seguiu a divulgação foi praticamente nula. Entretanto, o cenário dos preços adiante, a nosso ver, segue desafiador.

Assim como em janeiro, um dos principais destaques da inflação de fevereiro foram os preços de energia – porém, pelo motivo contrário. Após queda de 14,2% em janeiro, a inflação da “energia elétrica residencial” foi de 16,8% em fevereiro, com a alta sendo explicada justamente pela normalização dos preços após desconto pontual observado no mês anterior.

Vale destacar que esse movimento era amplamente esperado, com o desconto observado nas contas de luz em janeiro explicado pelo excedente de lucro registrado na usina de Itaipu no período – que, por definição normativa, deve ser refletido diretamente como desconto para consumidores.

Outro destaque do resultado de fevereiro foram os preços de combustíveis. Diante da elevação da alíquota de ICMS por parte de governos estaduais, a inflação de combustíveis no mês foi de 2,9%, com alta de 2,8% nos preços de gasolina e 3,6% no etanol. A mudança na cobrança do ICMS – que elevou a cobrança do imposto de R$ 1,37 para R$ 1,47 por litro – também já era esperada, datando de decisão do conselho de secretarias de fazendo estaduais do ano passado.

Já na seara de variações sazonais de preços, o grupo “educação” também se destaca no IPCA do mês. Conforme esperado, reajustes em mensalidades de instituições de ensino contribuíram para a alta da inflação de fevereiro, com destaque para variação de 7,3% na categoria “ensino médio”.

Por fim, vale destacar o impacto de fatores não relacionados à sazonalidade (ou seja, ao período do ano) ou eventos pontuais na dinâmica da inflação recente.

Dentre eles, a desvalorização cambial figura entre os principais. O patamar da taxa de câmbio influencia diretamente e indiretamente a variação de preços de diferentes bens e serviços domesticamente, em maior ou menor intensidade. Afinal, grande parte do que consumimos é negociado no mercado global (como cacau e proteínas), ou importado (como o trigo e produtos eletrônicos), ou mesmo tem partes importadas para fabricação interna – como carros e máquinas.

Assim, apesar da relativa apreciação do Real no início desse ano, podemos observar os efeitos da forte desvalorização que marcou o fim de 2024 nos preços de fevereiro – uma vez que tais repasses ocorrem de maneira gradual e variam entre diferentes categorias (sendo sentidos mais rapidamente em alimentos, por exemplo).

Uma ilustração que ajuda a visualizar essa dinâmica é o comportamento dos preços ao produtor. Afinal, a inflação sentida por produtores tende a se refletir nos preços ao consumidor com certa defasagem (ou seja, depois de um período), especialmente com a economia aquecida – como é o caso do cenário atual.

Nesse contexto, vale destacar o ritmo dos preços industriais, que seguem acima da meta de 3,0% do Banco Central. Apesar de desaceleração em fevereiro, a média dos últimos três meses registrou alta de 4,9% em fevereiro (considerando ajustes sazonais).

Preços de alimentos tem fôlego, apesar de ovos e café

Ao contrário do observado nos últimos meses, os preços de alimentos registraram elevação abaixo do esperado no mês, representando certo fôlego em uma categoria central para o IPCA.

A variação de 0,8% nos preços de “alimentação no domicílio” é explicada principalmente por altas mais suaves em carnes (0,08%) e alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras – que subiram 1,7% no período – bem abaixo da sazonalidade do mês.

Não obstante, consumidores seguem “sentindo no bolso” a forte alta recente dos preços de dois alimentos consumidos no dia a dia de muitos brasileiros: o café e o ovo.

Para se ter uma ideia, o preço do “café moído” já acumula alta de 66% nos últimos doze meses, tendo subido 10,8% apenas em fevereiro. Já o “ovo de galinha” acumula alta relativamente mais tímida nos últimos doze meses, em 10,5%; mas passou por forte variação em fevereiro, registrando alta de mais de 15%.

A explicação por trás da elevação ilustrada no gráfico acima é encontrada principalmente em fatores climáticos e particulares à produção, com quebras de safra afetando a oferta de café e clima adverso no Sul do país prejudicando a produção avícola. Mas a demanda robusta em uma economia aquecida também contribui para a dinâmica de alta de preços.

Os consumidores do “bom e velho ovinho”, entretanto, devem ter melhores notícias no curto prazo. Acreditamos que o equilíbrio entre oferta e demanda da proteína deva se normalizar ao longo dos próximos meses. Como ilustrado no gráfico abaixo, já é possível observar queda nos preços do ovo no atacado – tendência que deve ser sentida nos preços ao consumidor em breve.

Dito isso, continuamos prevendo um cenário de inflação alimentar pressionada em 2025, com alta projetada próxima de 9% – impulsionada principalmente pelos preços das proteínas.

Vale destacar que, além de fatores que vem impactando a oferta de alimentos no país (em particular, eventos climáticos), a demanda que segue aquecida na economia também contribui para a elevação dos preços.

Preços de serviços: discretamente perigosos

Embora preços de bens como alimentos, roupas e eletrodomésticos tendam a ser sentidos de maneira mais aparente por consumidores, a inflação de serviços segue como um dos principais fatores de preocupação no contexto atual.

Como podemos ver no gráfico abaixo, embora o ritmo de alta dos preços de serviços menos voláteis tenha cedido em janeiro, a inflação do setor segue muito acima da meta do Banco Central, acumulando alta de 7,5% conforme a média dos últimos três meses.

Nesse sentido, vale destacar a categoria de serviços intensivos em mão de obra (que inclui serviços como manicures, dentistas e psicólogos), cujos preços desaceleraram em relação ao mês anterior, mas seguem também em patamar preocupante de 7,1% – também seguindo a mesma métrica trimestral até fevereiro.

Vale lembrar que o comportamento dos preços de serviços é essencial para análise do cenário de inflação prospectiva no país. Em outras palavras, o que apontam preços como de cabelereiros, médicos e cinemas pode sinalizar mais sobre o que esperar da inflação do que se imagina.

Isso porque a inflação do setor de serviços é menos impactada por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); refletindo mais a dinâmica de salários e do nível de demanda na economia – em um processo que se retroalimenta.

Afinal, quanto mais aquecida a economia, maior tende a ser o nível de emprego e, consequentemente, a pressão sobre salários. E esse movimento se torna ainda mais relevante em economias nas quais serviços tem maior peso, como no Brasil, onde o setor responde por cerca de 70% do PIB e a maioria dos empregos do país.

O que esperar? Inflação deve seguir em trajetória de alta em 2025

Apesar de resultado dentro do esperado e fatores pontuais, as tendências ilustradas no resultado de fevereiro reforçam preocupações sobre o cenário da inflação nesse ano.

Ao longo de 2025, devemos seguir convivendo com preços pressionados tanto por conta de fatores domésticos quanto globais – com maior protagonismo para o primeiro.

No cenário global, o início do governo Trump nos Estados Unidos adicionou riscos ao ambiente de inflação global, na esteira de anúncios e expectativas de políticas mais restritivas contra imigração, maiores tarifas e corte de impostos – todas que podem pressionar os preços na maior economia do mundo.

Já por aqui, a economia aquecida, com destaque para o mercado de trabalho ainda apertado, adiciona pressão sobre os preços – mesmo que em menor magnitude do que em 2024. Como mencionado, o efeito é visto especialmente no setor de serviços, mas também em bens industriais, alimentos e bens de consumo de uma maneira geral. Afinal, com maior renda disponível, famílias tendem a elevar o conumo para além de bens essenciais.

O mercado de crédito ainda aquecido reforça a pressão sobre a demanda – e consequentemente, os preços.

Embora o Banco Central deva seguir elevando a taxa Selic nos próximos meses, o que tende a desaquecer o cenário de crédito no país, alterações na taxa básica de juros demoram a ser sentidas na economia – dinâmica que chamamos de “defasagem da política monetária”.  Assim, devemos observar o enfraquecimento do crédito gradualmente ao longo do ano.

Além disso, medidas como a liberação de parcela do FGTS e novo modelo de crédito consignado podem manter a robustez do mercado de crédito, apesar de elevação da Selic.

Em resumo: o ambiente de economia aquecida, com desemprego ainda baixo, salários (ainda) em alta e crédito robusto impulsionou a demanda das famílias por bens e serviços, pressionando os preços de maneira generalizada em 2024.

Essa dinâmica deve seguir presente em 2025, especialmente na primeira metade do ano, mas perder força gradualmente conforme os efeitos da alta de juros são sentidos na economia – com riscos de eficácia reduzida a depender de medidas do governo.

O fiscal como risco inflacionário

Por fim, mas não menos importante, vale destacar a piora da percepção de risco fiscal como um dos principais riscos ao controle dos preços olhando para frente.

Isso porque o aumento dos gastos públicos não somente contribui para elevar a demanda por bens e serviços na economia, como também impacta as expectativas de inflação e a precificação dos ativos por aqui – incluindo a nossa moeda.

Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam).

Na mesma linha, com receios de que a inflação possa corroer os ganhos a frente, investidores “colocam no preço” dos ativos brasileiros esse risco maior – e nossa moeda perde valor.

Nesse contexto, definições relacionadas a sustentabilidade e manutenção das regras fiscais vigentes (em especial o arcabouço fiscal), incluindo o impacto de potenciais elevações de despesas para o orçamento desse e do próximo ano, seguirão centrais – e um fator de risco – para o rumo dos preços adiante.

Selic deve atingir 15,50% e seguir elevada por certo tempo

Diante do cenário descrito acima, projetamos que o IPCA encerre 2025 novamente acima do limite superior de tolerância da meta do Banco Central: em 6,0%.

Tendo em vista seu objetivo de manter a inflação na meta, o Banco Central deve seguir atuando para reverter o cenário de alta de preços. Isso significa elevar ainda mais a nossa taxa básica de juros, a Selic.

Vale lembrar: gestão da taxa Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a variação de preços na economia – aquecendo ou desaquecendo a atividade econômica, e impactando fatores como a taxa de câmbio (com capital sendo atraído por maiores retornos, valorizando nossa moeda) e as expectativas de inflação para o futuro.

Projetamos que a Selic atinja 15,50% até junho de 2025 – apenas no começo de 2026 vemos um potencial espaço para o início de um novo ciclo de quedas. Porém, como destacamos, riscos seguem no radar tanto no Brasil quanto no mundo.

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