A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,44% em setembro de 2024. O resultado mensal levou a métrica acumulada em dozes meses para 4,42% em setembro, acelerando em relação aos 4,24% registrados em agosto.
Vale destacar que a inflação corrente (ou seja, o ritmo da alta de preços hoje) segue dentro do limite de tolerância da meta de inflação de 3,0% perseguida pelo Banco Central – porém, bastante próximo do “teto” de 4,50% (no caso, o limite superior da meta).
Meta de inflação: o que é?
O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.
O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.
Preços de carnes e energia lideram alta de preços em setembro
O resultado de setembro veio aproximadamente em linha com as expectativas, com a principal contribuição (para cima) vindo dos preços de energia elétrica. A categoria “energia elétrica residencial” registrou forte alta de 5,36% na variação mensal – movimento explicado pela mudança de bandeira tarifária de “verde” para “vermelha 1” entre agosto e setembro.
A mudança na tarifa é explicada pelo baixo nível de chuvas no período, que refletem em custos mais altos na geração de energia no país, especialmente por meio do uso de termelétricas (afinal, mais de 60% da energia no Brasil é gerada em usinas hidrelétricas).
Olhando para a variação mensal, outro componente que contribuiu para a inflação em setembro foi a alta de 0,56% no mês dos preços da alimentação em domicílio – cujo movimento contribuiu para a aceleração da métrica do IPCA acumulado em doze meses.
O destaque dessa categoria veio para a inflação de mais de 2,97% no período registrada nos preços das carnes, o que gera preocupações com o preço adiante. A dinâmica reflete as exportações recordes de proteínas (carnes e frango) no período recente, a renda familiar sólida e a forte aceleração nos preços do boi gordo — que certamente será traduzido em uma aceleração significativa nos preços das proteínas ao longo do último trimestre de 2024.
Do lado baixista, destacamos a deflação de 9% no período registrada nos preços de “tubérculos, raízes e legumes”, como batata, cebola e cenoura. A dinâmica reflete certa normalização dos preços após forte alta observada no segundo trimestre do ano, mas deve se reverter em breve – com impacto das secas, queimadas e efeitos sazonais.
Finalmente, vale destacar a surpresa baixista em relação à nossa expectativa que vieram dos preços do cinema. A categoria de “Cinema, teatro e concertos” recuaram 8,75% no mês devido aos descontos da “semana do cinema”, explicando substancialmente a baixa variação da métrica no mês passado, trazendo alívio para a inflação de serviços. No entanto, é esperada alta da mesma magnitude em outubro, não alterando a visão para o ano.
Com inflação sob “luz amarela” e riscos adiante, Selic volta a subir
Após alguns meses em elevação, a inflação de serviços trouxe certo alívio no mês de setembro. Conforme o resultado, a métrica chamada “serviços subjacentes” (que exclui serviços com preços mais voláteis, como passagem aérea) desacelerou para 5,5% em setembro ante 4,6% em agosto.
Dito isso, a métrica segue acima da meta de 3,0% do Banco Central, assim como o indicador de serviços intensivos em mão de obra – que inclui preços como de cabelereiros, médicos e dentistas.
Vale destacar que o comportamento dos preços de serviços é essencial para análise do cenário de inflação no país. Isso porque a inflação do setor é menos impactada por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); sendo mais afetada pela dinâmica de salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.
Assim, com um mercado de trabalho aquecido e elevados benefícios fiscais alimentando o crescimento da renda das famílias, o comportamento da inflação no setor segue sob os holofotes. Afinal, em bom português, famílias seguem com espaço para consumir, ajudando a manter a demanda aquecida na economia, e pressionando os preços.
Um mercado de trabalho aquecido pressiona salários, com destaque para o setor de serviços, que é o que mais emprega na economia do país – em um movimento que se retroalimenta.
Inflação deve encerrar o ano em 4,6%
Nesse cenário, esperamos que a inflação siga pressionada nos próximos meses, encerrando o ano acima da meta do Banco Central (levemente acima do limite superior de tolerância).
Por um lado, questões climáticas devem pressionar os preços de alimentos e energia neste final de ano e a dinâmica de preços de proteínas têm surpreendido. Na mesma linha, uma moeda ainda depreciada e demanda aquecida devem contribuir para preços de bens industriais ganharem força nos próximos meses – já vemos tal dinâmica nos preços os produtores.
Por outro lado, de maneira relevante, vale destacar os efeitos da taxa de juros mais restritiva adiante. Como detalhamos abaixo, entendemos que o cenário de inflação pressionada e de riscos adiante deve levar o Banco Central a continuar com o ciclo de altas da taxa Selic ao longo dos próximos meses. Assim, os juros em patamar contracionista devem colocar algum freio na economia – ajudando a conter a alta de preços.
Nesse cenário, projetamos que o IPCA encerre 2024 em 4,6%. Para 2025, os efeitos dos juros em elevação e outros fatores devem manter a inflação em patamar relativamente mais baixo, mas ainda acima da meta do Banco Central (de 3,00%) – encerrando o ano em 4,1%.
Com inflação sob “luz amarela” e riscos adiante, Selic deve voltar a subir
Para o dia a dia dos brasileiros, a inflação segue abaixo dos patamares históricos. Apesar da alta de preços importantes na cesta de consumo dos brasileiros, como alimentos e energia, não vemos um cenário de inflação “desenfreada” no país adiante.
Embora projetemos que a inflação encerre o ano acima da meta do Banco Central, não vemos – ao menos por ora – um cenário de preços subindo muito acima do limite superior de 4,50% da meta da autoridade monetária no médio prazo.
Tudo considerado, devemos ver uma atuação vigilante e cautelosa por parte do Banco Central. Diante de um cenário de preços subindo em ritmo acima da meta, de economia forte e mercado de trabalho aquecidos, além de expectativas de inflação desancoradas (ou seja, acima da meta), moeda pressionada e risco fiscal ainda presente, o Banco Central deve implementar um ciclo de altas da taxa Selic.
Expectativas de inflação: o que são?
As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si.
A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo?
Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).
Em resumo: acreditamos que Banco Central agirá “hoje”, implementando o “remédio amargo dos juros” no curto prazo, de modo a evitar uma doença mais grave adiante – ou seja, que a inflação acelere no futuro.
Como se proteger da alta de preços?
Como falamos, embora não vejamos um cenário de forte reaceleração dos preços, a inflação segue motivo de cautela e atenção. Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial.
Títulos indexados à inflação (como o título público NTN-B 2028), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco e debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços. Aqui te indicamos nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.
Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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