A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,23% em agosto de 2023. O resultado mensal levou o índice para 4,61% no acumulado em doze meses, acelerando em relação ao observado em julho – quando o índice registrou 3,99%.
Energia e gasolina sobem, mas serviços indicam inflação em queda
O resultado de agosto veio um pouco abaixo do esperado pela maior parte dos analistas de mercado. Em relação a nossa projeção, a surpresa pode ser explicada, em sua maioria, por maiores elevações observadas nos preços de gasolina e transporte (impactado pela alta de combustíveis), além da categoria de roupas.
Vale destacar, entretanto, que a alta nos preços de gasolina e itens relacionados (como transporte) já era esperada, dado o reajuste nos preços de combustíveis implementado pela Petrobrás em agosto – com alta de 16,3% na gasolina e 25,8% no diesel nas refinarias. O aumento é explicado pela forte elevação dos preços de petróleo no mercado internacional nos últimos meses, como podemos ver no gráfico abaixo.
Te explicamos tudo sobre como é determinado o preço dos combustíveis no Brasil nesse texto.
Além dos preços de combustíveis, a aceleração observada na inflação entre agosto e julho é explicada pelo fim do bônus de Itaipu na energia elétrica (que reverteu o desconto dado nas contas de julho, registrando alta de 4,6% no mês), além de reajustes de mensalidades escolares e artigos de higiene pessoal, impulsionados pelo dia dos pais – entre outros itens.
Vale também o destaque para a alta nos preços de veículos novos, que subiram 1,7% no mês, praticamente voltando para o nível observado antes do programa de incentivo fiscal do governo para a indústria de automóveis implementado em junho.
Apesar das altas, o resultado de agosto indica que a tendência de perda de fôlego da inflação segue em curso.
Uma questão importante nesse movimento é o comportamento da inflação de serviços, que trouxe notícias construtivas em agosto. Para ilustrar, a medida chamada de “serviços subjacentes” – que exclui preços mais voláteis como hotéis, passagens aéreas e tarifas de internet – caiu de 5,4% para 4,1% na variação anual, considerando a média móvel de três meses.
Os preços no setor de serviços tendem a ser mais difíceis de controlar uma vez disseminados pela economia, por não serem impactados por movimentos como o clima e a redução ou aumento de oferta de uma commodity – sendo monitorados de perto pelo Banco Central justamente por essa característica mais “teimosa”.
Em bom português: os preços de serviços parecem estar finalmente “engatando a terceira marcha”, subindo de maneira mais devagar e reduzindo a inflação em categorias como restaurantes, aluguel e cabelereiros.
Mundo normalizado, juros altos e supersafra ajudam no controle de preços
Como falamos, a alta no mês agosto não significa que o processo de desinflação foi revertido. Primeiro, porque a reaceleração reflete muito mais quedas pontuais vistas nos meses anteriores, já esperadas que seriam revertidas. Segundo, porque o processo de enfraquecimento da inflação por aqui reflete movimentos mais amplos, tanto globais e domésticos.
No mundo, a normalização e o reequilíbrio entre oferta e demanda relacionados aos choques da pandemia e da guerra tem sido chave para a queda da inflação global. Outro fator essencial para reduzir a pressão sobre os preços tem sido a alta dos juros ao redor do mundo, cujos efeitos graduais ainda ganham força, especialmente em países desenvolvidos, onde o processo de elevação dos juros começou depois do que o observado em emergentes.
A queda dos preços de alimentos também tem contribuído para alta mais moderada dos preços, na esteira de questões climáticas e forte produção, especialmente doméstica. Para se ter uma ideia, estima-se que a safra de grãos no país cresça mais de 17% nesse ano (comparado a 2022), atingindo recorde histórico – com destaque para milho e soja, que servem de insumo para criação de proteína animal, reduzindo também o custo de produção desses alimentos.
Além disso, e de maneira bastante relevante, o enfraquecimento da inflação no Brasil também é reflexo da nossa própria elevação da taxa de juros. Afinal, como contamos aqui em detalhes, a taxa Selic está em patamar contracionista há mais de um ano – ou seja, que tem como objetivo desaquecer a economia e reduzir a pressão sobre os preços – e deve seguir “freando” a economia mesmo diante do processo gradual de queda dos juros esperado para os próximos meses.
Inflação mais controlada é realidade, mas riscos seguem no radar
Para o dia a dia dos brasileiros, o processo de moderação da inflação observado nesse ano ajudou a reduzir a sensação de perda do poder de compra. Os resultados vistos nos últimos meses reforçam esse cenário, em que o “primeiro estágio” da desinflação no Brasil, puxado por alimentos e bens industriais, como roupas e eletrodomésticos, foi bem-sucedido.
Porém, preços subindo acima da meta da inflação especialmente no setor de serviços ainda remetem cautela – embora o resultado de agosto traga boas notícias nessa frente. Ou seja, o “segundo estágio” de desinflação ainda não foi concluído.
E é justamente esse estágio que tem maior relação com as expectativas sobre os preços no futuro – que, por sua vez, são fortemente impactados por decisões no âmbito político fiscal. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante – influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro.
Nesse cenário, a piora recente da percepção de risco fiscal no Brasil volta a ganhar força como risco para a inflação.
Além disso, riscos de um repique no preço de commodities no cenário global também seguem no radar. Para ilustrar, o preço do barril de petróleo (tipo Brent) subiu de próximo de US$ 70,00 no fim de junho para US$ 91,00 em 12 de setembro. Caso os preços de commodities voltem a se estabilizar em patamar elevado, a inflação global pode voltar a subir rapidamente.
Em resumo, vemos um cenário em que a inflação perdeu força, mas ainda não saiu do radar – nem dos gringos, nem dos brasileiros e nem do Banco Central. Esse último optou por começar a redução gradual da taxa Selic em agosto, mas sinalizou que os juros devem seguir em patamares contracionistas ainda por um período considerável – justamente diante do cenário ainda incerto adiante.
Assim, após atingir o que entendemos ter sido o menor valor do ano em junho, projetamos que o IPCA siga reacelerando gradualmente até dezembro, encerrando 2023 em 4,8%.
Para o ano que vem, projetamos uma inflação em patamar levemente mais baixo do que o visto esse ano, mas ainda acima da meta do Banco Central (de 3,00% em 2024) – encerrando 2024 em 3,9%.
Como se proteger da alta de preços?
Como falamos, embora a inflação esteja perdendo força gradualmente no Brasil e no mundo, o cenário segue de cautela. Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial.
Títulos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA + 2032, debêntures de empresas sólidas e com boa classificação de risco, e fundos de inflação (fundos de investimento que investem em ativos indexados à inflação) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os Fundos Imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços.
Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, selecionamos abaixo algumas sugestões de diferentes ativos recomendados – sempre lembrando da importância da diversificação.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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