Insight Rico: Não invista como seu candidato à prefeitura

Está chegando o dia das eleições municipais. No próximo domingo, dia 15, poderemos ir às urnas votar em primeiro turno no/a representante mais alinhado às nossas ideias de gestão para cuidar da prefeitura da nossa cidade.

Não estou aqui para sugerir que você vote ou deixe de votar em alguém. O intuito desse texto é mostrar que, aparentemente, a grande maioria dos candidatos com chances expressivas de comandar as maiores cidades do país têm carteiras de investimento que não recomendaríamos para ninguém.

Muitos deles têm enormes quantias paradas em conta corrente ou poupança e quase nenhum pode dizer que sua carteira é diversificada ou tem riscos diluídos.

As maiores cidades do Brasil, por número de habitantes, excluindo Brasília (que não tem eleições municipais) são: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. Para esse Insight, vou considerar os 3 candidatos melhor posicionados em pesquisas recentes (consulta em 5 de novembro). Se sua cidade ou seu candidato acabarem de fora dessa análise, convido você a fazer sua própria avaliação aqui.

Antes de continuar, um aviso: esse texto é sobre investimentos, não sobre política. Escolha seu voto a partir de propostas e afinidade ideológica, e não da forma como o candidato ou candidata cuida do próprio dinheiro.

São Paulo

Começando por São Paulo, o candidato Bruno Covas, que vem aparecendo como favorito nas pesquisas de intenção de voto, declarou R$ 104.966,68 em bens e “investimentos”, sendo quase 80% desse valor correspondente a um carro: um Audi Q3 2014.

O que Covas declarou que se parece mais com um investimento são R$ 6.662,38 na caderneta de poupança. Se você é um dos 13 leitores desse Rico Matinal, sabe que isso está longe de ser uma boa escolha. O resto do patrimônio está ainda mais mal posicionado: cerca de R$ 5 mil em contas corrente e assombrosos R$ 10.000 em espécie! Basicamente, o segundo maior montante do candidato está sob o colchão, perdendo poder de compra a cada dia.

Com mais de R$ 1,7 milhão em bens declarados, Celso Russomanno, atual deputado, possui vários veículos e imóveis. Também declarou participações em empresas valendo mais de R$ 800 mil, um patrimônio relativamente pulverizado. O que chama atenção, porém, é a quantia obscena parada em conta corrente: mais de R$ 100 mil que poderiam estar rendendo em aplicações, mas estão “largados” em duas contas do BB.

Guilherme Boulos aparece colado em Russomanno na pesquisa XP/Ipespe mais recente. Seu patrimônio declarado é breve: um Celta e uma conta corrente com menos de R$ 600, totalizando pouco menos de R$ 16 mil. Parece mais uma questão de começar a poupar do que de montar uma carteira de fato.

Rio de Janeiro

No Rio, Eduardo Paes aparece na liderança nas pesquisas e tem uma carteira de investimentos mais aceitável que os paulistanos. Apesar de R$ 15 mil em uma conta corrente, o ex-prefeito tem quase R$ 180 mil em uma previdência privada e mais de R$ 210 mil em um CDB. Ainda assim, dava para ter um pouco mais de diversificação aí, né?

O atual prefeito, Marcelo Crivella, tem uma reserva de emergência de R$ 20 mil em fundo DI, mas é um fundo de “bancão” que cobra taxa de administração de 1% ao ano – ou seja, metade dos 2% ao ano que está rendendo no momento. No Trend DI Simples ele não teria esse problema, porque a taxa é zero. Fora isso, quase todo o patrimônio de R$ 665 mil está em um apartamento.

Empatada tecnicamente em terceiro lugar, segundo o Paraná Pesquisas, a delegada Martha Rocha ganha em diversificação de carteira na cidade. São cerca de R$ 70 mil em dois fundos de ações, quase R$ 700 mil em previdência privada e R$ 20 mil em renda fixa, além de um carro e um apartamento. Do R$ 1,3 milhão no total, a fatia que está mal alocada são mais de R$ 255 mil na poupança. Estava indo bem, candidata.

Salvador

Bora para Salvador. Com nada menos que 58% das intenções de voto, segundo o Real Time Big Data, é provável que Bruno Reis vença o pleito em primeiro turno.

Ele tem apenas 3 itens na sua lista de bens: uma conta corrente com menos de R$ 100, um investimento em previdência complementar no valor de R$ 614 mil e uma participação valendo R$ 316 mil em uma empresa cuja atividade principal é descrita como “compra e venda de imóveis” em seu registro. Ou seja, o candidato investe em imóveis e em sua aposentadoria – não deixa dinheiro parado, mas aparentemente também não possui uma reserva de emergência.

A segunda colocada na capital baiana é a Major Denice, com 12% das intenções e pouco mais da metade do patrimônio de seu oponente. Os itens mais relevante da candidata são dois apartamentos, totalizando R$ 400 mil. Fora isso, ela declara genericamente uma “aplicação em renda fixa” no valor de R$ 113 mil e pouco mais de R$ 11 mil em conta corrente + poupança. De novo: pouca diversificação aparente.

Os outros candidatos de Salvador estão tecnicamente empatados, então já passo diretamente para nossa próxima (e última) capital.

Fortaleza

Em Fortaleza, a pesquisa Ibope mais recente tem o candidato Sarto na primeira colocação, Capitão Wagner em seguida, dentro da margem de erro, e Luizianne Lins também colada nos dois primeiros.

Sarto é mais um dos milionários do pleito, com patrimônio de R$ 1,5 milhão. Mais de 2/3 de todo esse dinheiro estão em dois apartamentos que parecem ser para uso próprio e quase R$ 300 mil são dois carros. No mais, sua carteira é “prima” da de Russomanno, com diversos imóveis e participações em empresa, além de duas aplicações em renda fixa. Ponto para ele por uma diversificação razoável.

Já o Capitão não tem uma, mas duas contas-poupança somando R$ 43 mil. Boa parte do seu R$ 1,2 milhão são divididos em quatro imóveis e um carro, mas também vemos itens um tanto misteriosos: três aparentes fundos de renda fixa (os nomes estão incompletos, então não dá para ter certeza), sendo um deles, pelas minhas pesquisas, um fundo DI de taxa de administração abusiva: 2,5%, mais que o próprio CDI. Sim, se nada mudou na administração desse fundo, o candidato está literalmente pagando para investir – se consola, são só R$ 218, uma parcela pouco expressiva do patrimônio total.

Para fechar, Luizianne Lins tem um fusca, um apartamento e duas contas-corrente, uma delas abrigando 10% do seu patrimônio de R$ 259 mil. Mais uma que parece nem pensar em investir.

Claro, não temos todos os detalhes da vida financeira desses candidatos. Essa análise foi feita com base nos dados públicos enviados por eles próprios ao TSE, que podem estar desatualizados, por exemplo.

Mas podemos observar certa má gestão ou desinteresse por uma quantia bem expressiva de dinheiro que poderia estar rendendo bem, protegida via diversificação e trabalhando pela independência financeira dessas pessoas.

Resumindo: considerando a maioria dos nossos candidatos, tomara que os eleitos cuidem melhor da respectiva cidade do que de seus patrimônios.

Resumo do dia: Deu Biden

(por Lucas Collazo)

Mercados amanhecem em alta com a decisão das eleições americanas: nos EUA, os índices futuros de bolsa sobem entre 1,3% e 1,8%. Na Europa, o Stoxx 600 sobe 1,4%.

A vitória de Joe Biden foi sacramentada no sábado, após o candidato democrata vencer a corrida no estado da Pensilvânia. Ainda assim, ele é favorito para as decisões na Geórgia, Nevada, e Arizona, que terminam suas contagens de votos no próximos dias. Com essa definição, o S&P 500 (principal índice de ações dos EUA) se aproxima da máxima histórica:

Biden pretende reverter algumas medidas de Trump logo após sua posse, como o retorno dos EUA ao acordo de Paris e a reversão da saída do país da OMS. Além disso, a nova chapa prevê um força tarefa para mudar a resposta à pandemia da Covid-19 – no dia 4, o país foi o primeiro a superar 100 mil casos por dia pela primeira vez. No dia 6, foram 132 mil. 

Nos próximos dias, os mercados devem monitorar: i) se as ameaças de judicialização das eleições feitas por Donald Trump vão se concretizar ou serão apenas um “barulho” (não há grandes sinais de apoio do partido republicano); ii) a possibilidade de um controle democrata no senado, embora seja muito baixa, mas que seria possível com uma vitória de duas eleições que foram para segundo turno na Geórgia – dependendo do resultado a casa poderia ficar com 50 cadeiras para cada lado; iii) a tentativa de negociação de um novo pacote de estímulos fiscais, que vai depender de muita diplomacia.

Aqui no Brasil, as atenções em Brasília estão concentradas no primeiro turno das eleições municipais, que acontecem no domingo – sem previsão de sessões na Câmara e no Senado nos próximos dias. Nesse tempo, o governo prepara as conversas para a retomada das atividades a partir do dia 16, quando as atenções vão recair nas discussões sobre o custeio do programa de transferência de renda planejado pelo Planalto. Também seguem as expectativas sobre um posicionamento do governo em relação à vitória de Biden.

Agenda da Semana
Segunda-feira, 09
22h30: China – IPC mensal (exp: 0,2%; ant: 0,2%)
Terça-feira, 10
09h00: EUA – Perspectiva energética de curto prazo da EIA
12h00: EUA – Ofertas de empregos JOLTs mensal (exp: 5,5 milhões; ant: 6,4 milhões)
22h00: Nova Zelândia – Decisão da taxa de juros (exp: 0,25% a.a; ant: 0,25% a.a)
Quarta-feira, 11
08h00: EUA – Relatório mensal da OPEP09h00: Brasil – venda ampla varejo set (exp: 1,1%; ant: 4,6%)
Quinta-feira, 12
06h00: Europa – Relatório mensal do BCE
09h00: Brasil – volume do setor de serviços IBGE (exp: -6,7%; ant: -10%)
10h30: EUA – IPC-núcleo mensal (exp: 0,2%; ant: 0,2%)
10h30: EUA – Pedidos iniciais por seguro-desemprego (exp: 738 mil; ant: 751 mil)
Sexta-feira, 13
07h00: Europa – PIB trimestral (exp: 12,7; ant: -11,8%)
09h00: Brasil – Atividade Econômica mensal set (exp: 1%; ant: 1,1%)
10h30: EUA – IPP mensal (exp: 0,2%; ant: 0,4%)