A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou alta de 0,12% em julho de 2023. O resultado mensal levou o índice para 3,99% no acumulado em doze meses, voltando a acelerar em relação ao observado em junho – quando alcançou 3,16% após um mês de deflação.

Resultado pior que o esperado, mas com bons sinais

O resultado de julho veio um pouco acima do esperado pela maior parte dos analistas de mercado. A surpresa pode ser explicada, em sua maioria, pela elevação dos preços de automóveis no mês, perante expectativa de queda – ainda refletindo o programa de incentivos do governo federal. Automóveis novos, por exemplo, registraram alta de 1,65% em julho, após queda de 2,76% no mês de junho.

Por outro lado, o setor de serviços acabou surpreendendo analistas “para baixo”, ou seja, registrando ritmo de preços abaixo do esperado no mês. Para ilustrar, a medida chamada de “serviços subjacentes” – que exclui preços mais voláteis como hotéis, passagens aéreas e tarifas de internet – desacelerou para 0,19% no mês, levando a média móvel de três meses para 5,5% (de 6,6% em junho).  

Em bom português: os preços de serviços parecem estar finalmente “engatando a terceira marcha”, subindo de maneira mais devagar e reduzindo a inflação em categorias como restaurantes e serviços de aluguel.

Vale lembrar que a inflação de serviços vinha apresentando um comportamento mais resiliente do que a inflação de bens (como roupas, alimentos e eletrodomésticos), puxada especialmente pela demanda ainda aquecida no setor, e segue no radar do Banco Central.

Movimentos globais, valorização do real e supersafra ajudam no controle de preços

Apesar da alta no mês de julho, isso não significa que o processo de desinflação foi revertido. Primeiro, porque a deflação registrada em junho já era vista como pontual, explicada por questões como o programa de incentivos a produção de veículos e a queda nos preços de gasolina. Segundo, porque o processo de enfraquecimento da inflação por aqui reflete movimentos mais amplos, tanto globais e domésticos.

No mundo, a normalização e o reequilíbrio entre oferta e demanda relacionados aos choques da pandemia e da guerra tem sido chave para a queda da inflação global. Outro fator essencial para reduzir a pressão sobre os preços tem sido a alta dos juros ao redor do mundo, cujos efeitos graduais ainda ganham força, especialmente em países desenvolvidos, onde o processo de elevação dos juros começou depois do que o observado em emergentes.

A queda dos preços de alimentos também tem contribuído para alta mais moderada dos preços, na esteira de questões climáticas e forte produção, especialmente doméstica. Para se ter uma ideia, estima-se que a safra de grãos no país cresça mais de 17% nesse ano (comparado a 2022), atingindo recorde histórico – com destaque para milho e soja, que servem de insumo para criação de proteína animal, reduzindo também o custo de produção desses alimentos.

Outro fator importante para a moderação da inflação tem sido a valorização recente do real – sobre a qual contamos tudo aqui. Afinal, grande parte do que consumimos é importado ou possui partes importadas (como nosso pãozinho, que usa farinha importada), fazendo com que o valor da nossa taxa de câmbio seja um componente bastante importante para a inflação.

Finalmente, o enfraquecimento da inflação no Brasil também é reflexo da nossa própria elevação da taxa de juros. Afinal, como contamos aqui em detalhes, a taxa Selic está em patamar contracionista há mais de um ano – ou seja, que tem como objetivo desaquecer a economia e reduzir a pressão sobre os preços – e deve seguir “freando” a economia mesmo diante do processo gradual de queda dos juros esperado para os próximos meses.

Inflação mais controlada é realidade, mas riscos seguem no radar

Para o dia a dia dos brasileiros, o processo de desinflação observado nos últimos meses ajudou a reduzir a sensação de perda do poder de compra. Os resultados vistos nos últimos meses reforçam esse cenário, em que o “primeiro estágio” da desinflação no Brasil, puxado por alimentos e bens industriais, tem sido bem-sucedido e parece caminhar para o fim.

Porém, a persistência da alta de preços ainda forte em alguns itens, especialmente no setor de serviços atenua essa percepção. Ou seja, o “segundo estágio” de desinflação ainda não foi concluído.

Além disso, riscos de um repique no preço de commodities no cenário global também seguem no radar. Para ilustrar, o preço do barril de petróleo (tipo Brent) subiu de próximo de US$ 70,00 no fim de junho para US$ 86,00 em 10 de agosto. Caso os preços de commodities, em especial energéticas, voltem a subir exponencialmente, a inflação global pode voltar a subir rapidamente.

Ou seja, observamos um cenário em que a inflação perdeu força, mas ainda não saiu do radar – nem dos gringos, nem dos brasileiros e nem do Banco Central. Esse último optou por começar a redução gradual da taxa Selic em agosto, mas sinalizou que os juros devem seguir em patamares contracionistas ainda por um período considerável – justamente diante do cenário ainda incerto adiante.

Assim, após atingir o que entendemos ter sido o menor valor do ano em junho, projetamos que o IPCA siga reacelerando gradualmente até dezembro, encerrando 2023 em 4,8%.

Para o ano que vem, projetamos uma inflação em patamar levemente mais baixo do que o visto esse ano, mas ainda acima da meta do Banco Central (de 3,00% em 2024) – encerrando 2024 em 4,1%.

Como se proteger da alta de preços?

Embora a inflação esteja perdendo força gradualmente no Brasil e no mundo, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial. 

Títulos indexados à inflação, como o Tesouro IPCA + 2032, debêntures de empresas sólidas e com boa classificação de risco, e fundos de inflação (fundos de investimento que investem em ativos indexados à inflação) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui. 

Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços.

Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, selecionamos abaixo algumas sugestões de diferentes ativos recomendados – sempre lembrando da importância da diversificação.

Vale lembrar que as recomendações sinalizadas na tabela abaixo não são as únicas possíveis, mas sim alternativas viáveis selecionadas pelos nossos especialistas para você.

Confira o detalhe dessas recomendações de investimento de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.

Classe Opção de investimento Opção de investimento2 Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixada Tesouro Selic 2029 CDB Banco C6; ago/25; 118,6% do CDI R$ 140,00
Inflação Tesouro IPCA+ 2032 IPCA+5,33% CRA FS Bio; Dez/29; IPCA + 5,75% R$ 31,27
Renda Fixa Prefixada Tesouro Prefixado 2026 10,39% CBD Banco C6; 2 anos; 12,16% R$ 31,56
Renda Fixa Global Trend High Yield Americano FIM Trend Crédito Global FIM R$ 100,00
Multimercado Selection Multimercado FIC FIM XP Macro FIM R$ 100,00
Renda variável Brasil Carteira Rico11 Selection Ações FIC Ações R$ 100,00
Renda variável internacional Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I R$ 500,00
Renda variável internacional hedgeada Trend Bolsas Globais Trend Bolsas Emergentes R$ 100,00
Alternativos Trend Commodities Agrícolas FIM PVBI11 R$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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