“Nossa, mas já temos Ovos de Páscoa nos supermercados? Mal passou o carnaval”.
“Mas você viu o preço daquele com o presentinho dentro? E o tamanho? Certeza de que estão cada vez menores”.
“Esse ano não quero saber! Não vou dar Ovo de Páscoa para ninguém!”.
Passa ano, volta ano, frases como as ilustradas acima parecem surgir inexoravelmente, tomando conta dos diálogos entre amigos, família e conversas de elevador no período que se inicia no pós-carnaval e finda com a chegada do feriado da Páscoa.
A verdade é que a tradição de entregar chocolates decorados em formato de zigoto de animais (célula formada a partir da junção do núcleo do óvulo feminino com o espermatozoide masculino) é mais antiga do que muitos podem imaginar – datando de mesmo antes do feriado cristão que marca a ressurreição de Jesus.
As origens do Ovo de Páscoa
Para algumas civilizações antigas, ovos eram símbolo de força e fertilidade, tornando-se uma forma comum de se presentar.
Adicionando-se então, a decoração de motivos festivos aos ovos de galinha e – posteriormente – aos mais modernos (e mais gostosos, porém, menos nutritivos) pedaços de chocolate, passamos a conviver com o famoso “Ovo de Páscoa”.
Desse modo, a tradição de comentar os preços da delícia pascoalina segue tão firme quanto suas embalagens presas aos tetos de corredores de mercados ao redor do país.
O Ovo está mais caro, mas não culpe o chocolate
De fato, assim como é possível notar quase todo ano, os preços de ovos de Páscoa subiram substancialmente desde a Páscoa passada – no caso, bem acima dos 4,50% de inflação registrada nos últimos doze meses até fevereiro.
De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa Área Central, os Ovos de Páscoa sofreram um reajuste médio de 18% no preço de negociação com fornecedores esse ano (em relação ao ano passado), considerando lojistas nos estados de São Paulo, Rio Grande do Norte e Bahia.
Nesse cenário, chama atenção (como também quase todo ano) a diferença de variação de preços entre os ovos de Páscoa e um de seus principais insumos – ou até “concorrente”: o chocolate. De acordo com dados do IPCA (nosso principal índice de inflação ao consumidor), a categoria “chocolate em barra e bombom” acumula alta de 1,9% nos últimos doze meses até fevereiro, tendo inclusive registrado queda de preços entre os meses de setembro e novembro do ano passado.
Na mesma linha, a manteiga – ingrediente que “dá liga” (e bastante gordura) aos deliciosos ovinhos em forma de coelho – vem registrando elevações bastante tímidas em seus preços nos últimos meses, em linha com outros derivados do leite. Para se ter uma ideia, o acumulado em doze meses até fevereiro indica alta de menos de 2% para o ingrediente do nosso também querido “pão na chapa”.
Por outro lado, um outro ingrediente comumente presente os Ovos de Páscoa, o açúcar, conta uma história um pouco diferente nos últimos meses. Influenciado especialmente pelo efeito do fenômeno climático El Niño na Índia, o açúcar refinado acumula alta de quase 13,4% no mesmo período, tendo registrado altas expressivas entre outubro e dezembro de 2023.
Ou seja, podemos observar que o comportamento dos principais insumos alimentícios tipicamente encontrados em Ovos de Páscoa tiveram comportamentos relativamente distintos ao longo do último anos.
Além disso, vale destacar que não somente de açúcar, manteiga e chocolate se fazem Ovos de Páscoa, muito menos os industrializados. Assim, devemos considerar uma série de outros fatores envolvidos em sua produção, incluindo o custo da mão de obra, além do preço da eletricidade utilizada em fornos e fábricas, dos combustíveis para transporte da mercadoria ao redor do país, e até mesmo as embalagens e brindes por vezes contidos em nossas delícias pascoalinas.
Cada um desses fatores e insumos de produção, por sua vez, tende a apresentar diferentes comportamentos em relação à variação de preços. O custo da mão de obra, por exemplo, tem sido destaque de elevação nos últimos meses, com salários subindo acima da inflação em diferentes setores da economia diante do mercado de trabalho aquecido, especialmente em serviços.
Por fim, mas não menos importante, vale destacar um conceito econômico que, apesar de muito básico, não perde sua relevância: a relação entre oferta e demanda.
A dinâmica é simples: conforme o feriado da Páscoa se aproxima, maior é a demanda por Ovos de Páscoa. Afinal, quem irá escolher presentear seus filhos (pais, parceiros) com um Ovo de chocolate uma semana depois do feriado prolongado? Ou mesmo, três meses antes? Quem sabe no Natal?…
Pois é! Com a demanda aquecida e a oferta limitada, em um ambiente de livre mercado, o preço tende a subir. Ano após ano, Páscoa após Páscoa.
Trocando ovos por…feijão?
Diante dessa realidade, e do cenário de inflação bastante comportada para outros alimentos – como alguns legumes e proteínas – poderíamos sugerir uma troca de presentes baseadas em pratos nutritivos.
Afinal, o feijão carioca acumula queda de 7,1% nos últimos doze meses até janeiro, enquanto o milho caiu 5,3% no período. Ou quem sabe uma picanha ou mesmo um prato de kibe de forno, feito com patinho moído – ambos com queda acumulada de mais de 10% no período?
Brincadeiras à parte, caso você opte por seguir com o tradicional Ovo de Páscoa, algumas dicas podem ser valiosas nesse período festivo, especialmente a atenção não somente a marcas e modelos, mas também ao preço praticado por diferentes estabelecimentos.
Isso porque o preço do mesmo produto pode variar substancialmente entre lojas. Como ilustrado por uma pesquisa realizada pelo Procon-SP no ano passado, um mesmo Ovo de Páscoa chegou a ter variação de preço de 144,65% entre dois estabelecimentos distintos. Ou seja, o mesmo produto sendo vendido por mais do que o dobro (ou metade) do preço.
Além disso, vale destacar aquela velha opção: optar por caixas de bombom ou tabletes de chocolate. Esses, embora não tenham a mesma “graça decorativa”, podem ser boas alternativas para quem busca opções mais em conta.
Dito isso, sabemos que essa é uma opção individual, e nem sempre temos que guiar cada passo pela mais pragmática lógica financeira. O importante é lembrar: criar dívidas para comer chocolates? Só se for com a balança!