Insight Rico: Peça batatinha frita para entender o Come-Cotas

A próxima segunda-feira, 30 de novembro, é o dia do segundo “Come-Cotas” do ano.

Se você não tem familiaridade com o termo, é o apelido carinhoso que o mercado aplicou à antecipação de imposto de renda em fundos de investimento em renda fixa e multimercados – fundos de ações só são tributados uma vez, no resgate (para saber mais sobre a cobrança de impostos em fundos, assista a esse vídeo).

Todo último dia útil de maio e de novembro, os fundos resgatam compulsoriamente uma parte das cotas de quem teve rendimento positivo no período e repassam à Receita Federal. Essa antecipação tem valor equivalente à menor alíquota em vigor dependendo do fundo (15% para fundo de longo prazo e 20% para fundo de curto prazo). No resgate pelo cotista, a cobrança de imposto é só a de uma eventual diferença entre o que já foi cobrado e o que ainda falta.

Quando você sai para comer com os amigos e é a única pessoa da mesa a pedir batatinha frita, provavelmente acontece algo parecido com a sua porção, ainda mais se a batata chega antes dos sanduíches. Antes mesmo de você usufruir inteiramente da sua comida (ou dos resultados do fundo de investimento), alguém vai lá e “confisca” uma parte.

A parte boa do Come-Cotas é o que eu adoto para a vida quando se trata de impostos: sinal que você está ganhando dinheiro! Tenha esse pensamento positivo consigo todas as vezes que for declarar IR ou emitir DARF e garanto que tudo vai ficar mais leve (só para todos estarmos na mesma página, lembre-se que, como qualquer imposto, só existe cobrança se houver aumento na renda). Além disso, o fato desse imposto ser recolhido automaticamente é uma mão na roda – zero trabalho da sua parte.

Mas sim, essa cobrança tem impacto negativo no rendimento dos seus investimentos, no fim das contas. A rentabilidade de cada cotista é proporcional ao número de cotas que ele detém. Se você passa a ter menos cotas de um fundo de um mês para o outro, o seu dinheiro passa a render sobre o novo valor – menor. Logo, rende menos. Junto com as taxas de administração e performance, esse é o preço que você paga para que um gestor ou gestora profissional cuide do seu patrimônio (no caso dos multimercados e fundos de renda fixa). Para mim, se o fundo for de qualidade, mais que compensa.

Por conta disso, o Come-Cotas é visto por alguns como fator de desempate na hora de escolher certos investimentos – mas será que isso faz sentido mesmo?

Por exemplo: desde que a taxa de custódia no Tesouro Direto deixou de ser cobrada para aplicações de até R$ 10 mil no Tesouro Selic, em agosto, passou a ser marginalmente mais vantajoso aplicar reservas de emergência até esse valor diretamente via Tesouro do que em fundos taxa zero, como o Trend DI Simples. Se você tiver mais de R$ 10 mil, dá para dividir entre as aplicações (lembrando que os CDBs com liquidez diária rendendo 100% do CDI são uma terceira via, se você confiar no emissor).  

Mas eu não escrevi “marginalmente” à toa. Para prazos curtos, de até três anos, (o que normalmente é o caso para investimentos ultraconservadores como o Tesouro Selic), a diferença não chega a 0,1%.

Em outro cenário, dessa vez fictício, uma pessoa em dúvida entre investir em um fundo multimercado de alto risco e um fundo de ações, ambos com expectativa de retorno semelhantes, também pode preferir o fundo de ações, sobre o qual a cobrança de IR (15%) acontece uma vez só, no resgateMas a real é que é muito difícil fazer uma análise como essa, já que a relação risco-retorno dificilmente será a mesma nesses dois produtos.

A título de exemplo, ao final de 10 anos, a diferença para um investimento de R$ 100 mil com rentabilidade constante de 10% ao ano seria de R$ 10 mil a mais para o investimento em um FIA (fundo de investimentos em ações) em comparação com um FIM (fundo de investimentos multimercado). Só que, mesmo que esses dois fundos tivessem a mesmíssima rentabilidade ao longo desses 10 anos, muito provavelmente a volatilidade do fundo de ações seria bem maior no meio do caminho. 

Por fim, se os fundos de previdência pudessem tomar o mesmo nível de risco que os multimercados comuns (as regras de alocação de recurso são mais rigorosas: só pode 70% em renda variável, por exemplo) e dependendo do prazo e do tipo de tributação escolhido, também poderia fazer sentido optar por uma versão previdenciária de determinados fundos para fugir dessas duas cobranças anuais.

Para o cenário do nosso exemplo (R$ 100 mil investidos durante 10 anos com rendimento de 10% a.a.), a diferença seria de cerca de R$ 18 mil entre um VGBL e um multimercado, ganhando o VGBL. 

Repetindo para não deixar dúvidas: de todos os exemplos, o único realmente razoável é o da renda fixa, já que estratégias de investimento muito dificilmente poderão ser replicadas com perfeição em fundos de ações, multimercados e de previdência.

Em outras palavras, não dá para considerar o come-cotas como critério de investimento sem antes observar a risco, retorno, equipe de gestão e todos os outros critérios que couberem na sua carteira.

Resumo do dia: Ajuda aí, dólar

(por Lucas Collazo)

Mercados em leve alta nesta manhã: nos EUA, os futuros sobem entre 0,11% e 0,35%, já na Europa, o Stoxx 600 fica no zero a zero. O ritmo pós-feriado do dia de ação de graças norte-americano deixa as cotações meio “de lado” por ora.

O debate sobre maiores auxílios fiscais continua na Europa: Polônia e Hungria seguem ameaçando vetar o novo plano de resgate europeu, com críticas ao sistema judiciário e à liberdade de imprensa dos demais países presentes no bloco.

Enquanto isso, os lucros industriais chineses sobem 28% no ano contra ano com os dados de outubro. Esse movimento tem puxado a performance das commodities: o cobre e o minério de ferro têm entregue um resultado melhor do que o ouro, inclusive.

A esperança para os emergentes: com vitória de Joe Biden na corrida eleitoral, os países emergentes ganham visibilidade para os investidores estrangeiros e têm sido uma discussão intensa nos bancos de investimento gringos. O dólar DXY – USD contra uma cesta de moedas de países desenvolvidos – segue enfraquecendo e fazendo com que os mercados emergentes fiquem mais atrativos.

Agenda da Semana
Sexta-feira, 27 
Até as 13h00: EUA – Feriado do dia de ação de graças
8h00: Brasil – IGP-M mensal (exp: 3,19%; ant: 3,23%) 

Semana de Educação Financeira XPeed
18h15-19h: A revolução da educação à distância (EAD) (Daniel Pereira, Luciano Meira, Newton M. Campos, Larissa Santana)
18h15-19h: O Universo do Stock Pickers (Thiago Salomão e Renato Santiago)
19h45-20h30: Mulher e independência financeira (Annamaria Lusardi)
20h30: A XP pela educação financeira