“Pra onde vai o dólar”? Essa é certamente uma das perguntas que economistas e analistas de mercado ouvem com maior frequência. Afinal, sabemos que a variação da nossa moeda (o bom e velho real) em relação à moeda americana impacta a economia e a vida dos brasileiros de diversas formas.
Como o dólar impacta o Brasil?
Antes de qualquer coisa, vale destacar que a essa variação de valor relativo entre moedas, damos o nome de taxa de câmbio.
A taxa de câmbio é a relação entre o valor da nossa moeda (o real) e outras moedas. Quando a taxa de câmbio está valorizada, o real está “comprando mais” moeda estrangeira. Já quando ela está desvalorizada, o real “compra menos” moeda estrangeira.
O dólar impacta a inflação
Apesar do que muitos podem pensar, a taxa de câmbio não impacta somente aquelas pessoas que planejam viajar para fora do país, e terão que converter seus reais para pagaram por bens e serviços consumidos em países como Estados Unidos ou Alemanha.
A taxa de câmbio também tem um grande impacto na economia brasileira, especialmente na inflação. Isso ocorre porque muito do que consumimos por aqui vem de outros países – ou seja, importamos diversos bens e serviços (como financeiros e tecnologia), e essa comercialização é feita, em sua maioria, em dólares.
Por exemplo, quando importamos a farinha para produzir o pãozinho francês de todo dia, isso é feito em dólares. Assim, quanto mais desvalorizada a nossa moeda, maior será o preço da farinha importada, e maior será o preço final do pãozinho (e do macarrão, dos biscoitos). Quanto mais valorizado o real, menor o impacto dessa compra da farinha no preço.
A mesma dinâmica é vista em diversos outros produtos, como peças de carros, máquinas para fabricação de eletrodomésticos, e bens finais importados, como roupas.
Além disso, produtos básicos como carne, milho e petróleo – as famosas commodities – são negociados no mercado internacional, tendo seu preço determinado pela oferta e demanda global (já que são virtualmente “a mesma coisa” em todo o mundo). Assim, independentemente de serem produzidos no Brasil, esses produtos são negociados em dólar. Afinal, que produtor irá querer vender por menos (em reais) se pode vender no mercado internacional e ganhar (mais) em dólares?
Por isso, a taxa de câmbio também impacta a inflação de bens como alimentos e gasolina. A esse efeito do impacto da taxa de câmbio na inflação, damos o nome de pass-through (repasse), em economia.
O que move o dólar?
Dizem que Deus criou a taxa de câmbio para tornar os economistas mais humildes. O motivo dessa piada ser repetida em quase toda discussão sobre o tema é que, de fato, determinar o valor de moedas em relação a outras é realmente uma tarefa para lá de complexa. Isso porque essa dinâmica é influenciada por uma série de fatores.
Abaixo, listamos alguns dos principais fatores que influenciam a cotação do dólar no Brasil:
- Saldo das contas externas
De maneira simplificada, o valor de uma moeda em relação a outra é uma questão de oferta e demanda: quanto mais dólares aqui dentro, menos reais precisaremos para comprar um dólar. Assim, o resultado das nossas transações comerciais e financeiras com o mundo é um dos principais fatores que explicam para qual direção se move o câmbio.
Isso ocorre pois, quando vendemos mais ao mundo ou quando o preço do que vendemos sobe, o fluxo de moeda estrangeira que entra no país aumenta a oferta de dólares aqui. Esse fluxo ajuda a valorizar nossa moeda.
Por isso, a variação dos preços de commodities no mercado internacional tem grande influência sobre o valor da nossa taxa de câmbio – uma vez que produtos básicos como soja, minério de ferro e petróleo bruto respondem por perto de 70% do total das nossas exportações ao mundo.
- 2. Diferencial de juros
Outro fator relevante para determinar o câmbio é a diferença entre o patamar de juros praticados no Brasil, em comparação com o nível observado nos Estados Unidos –uma vez que estamos falando do dólar americano.
O chamado “diferencial de juros” é importante, pois é uma comparação de quanto um investidor ganharia investindo aqui no Brasil – considerando a nossa taxa básica de juros como base para retornos – e quanto ganharia dado a taxa básica de juros dos EUA, onde o risco-país é considerado o menor do mundo.
Assim, quanto maior a nossa taxa de juros relativa ao nível da taxa de juros americana, mais investimentos atraímos, ajudando a valorizar a nossa moeda. Vale destacar que investidores também avaliarão o nível da inflação por aqui nessa conta; afinal, ela poderá corroer parte dos ganhos, a depender do investimento.
Por isso, períodos de elevação ou redução da taxa básica de juros nos Estados Unidos impactam a cotação do dólar. Quando o Banco Central americano (o FED) eleva os juros, esse movimento tende a atrair capital para o país, uma vez que se aumenta a atratividade relativa de ativos americanos, especialmente de renda fixa (maiores juros elevam os retornos de títulos de renda fixa). Assim, o dólar se fortalece em relação a outras moedas, especialmente onde os juros seguem mais baixos que os americanos.
- 3. Cenário político e risco fiscal
Como vimos, a taxa de câmbio é uma variável macroeconômica. Ou seja, ela é consequência de uma série de movimentos na economia, como o fluxo comercial entre o Brasil e o resto do mundo, e a entrada de capital em busca de retornos, considerando o patamar dos juros.
Porém, ao mesmo tempo, moedas também são ativos financeiros. Portanto, elas também carregam a precificação de risco percebida por investidores, assim como outros ativos, como ações, títulos de renda fixa e fundos imobiliários.
E é aqui que entra a percepção de risco do país, que refletirá muito o cenário político doméstico. Isso acontece, pois é no palco político que são tomadas decisões de política econômica que impactam qualquer negócio ou investimento no país, como a estrutura tributária e o grau de abertura econômica. Quanto maior a previsibilidade desse cenário político econômico, menor a percepção de risco.
Nesse cenário, vale destacar a importância da percepção de risco fiscal – ou seja, sobre a sustentabilidade da política de gastos públicos – na dinâmica da taxa de câmbio. Isso porque, como contamos aqui em mais detalhes, o risco fiscal engloba todo o risco que investidores precificam para emprestar dinheiro ao Brasil – seja com títulos públicos ou privados.
Deste modo, quanto maior a incerteza em relação à gestão das contas públicas do país, maior será o risco precificado na moeda. Afinal, se o governo gastar além da conta, e isso virar inflação no futuro, a moeda perderá valor, e o investimento inicial perderá grande parte do seu valor. Assim, quanto mais barato for o ativo inicialmente, maior sua atratividade relativa.
Por isso, questões como o nível da dívida pública e regras fiscais, assim como incertezas eleitorais, tendem a impactar bastante a cotação do dólar por aqui.
- 4. Cenário externo – aversão ao risco
Finalmente, a conjuntura global também afeta o movimento da nossa taxa de câmbio, especialmente por meio do sentimento de aversão ou apetite ao risco de investidores.
Quanto maior o sentimento de incerteza no cenário global, mais investidores serão atraídos para investimentos tidos como “portos seguros”, como o próprio dólar e títulos da dívida americana, na direção contrária de investimentos mais arriscados – como em países emergentes.
Por esse motivo, momentos de incerteza generalizada como os causados por crises geopolíticas, pandemias ou tragédias naturais, tendem a prejudicar moedas mais fracas e favorecer moedas fortes, afetando a cotação do dólar por aqui. Exemplos recentes de momentos como esse incluem a eclosão da pandemia da Covid-19 e da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Para onde vai o dólar?
Após praticamente um ano de performance positiva, o real passou por um forte movimento de enfraquecimento em 2024. Fatores externos e locais explicam a depreciação da taxa de câmbio, que atingiu recentemente o maior patamar desde o início de 2021.
A tendência de alta do dólar frente ao real é atribuída a um ambiente menos favorável tanto no Brasil quanto no exterior, em meio a crescentes preocupações fiscais por aqui e ao processo eleitoral nos Estados Unidos.
A recente depreciação da moeda reflete a intensificação de preocupações fiscais e políticas, após o pacote de contenção de despesas ser lido como insuficiente.
Além disso, a recente valorização do dólar foi impulsionada pelas eleições nos EUA, onde a reeleição de Donald Trump gera expectativas de inflação mais alta devido a tarifas e um cenário de juros elevados por um período prolongado, o que tende a fortalecer a moeda americana. Desde que a possibilidade de vitória do republicano começou a se concretizar, o dólar tem se valorizado significativamente em relação às principais moedas globais.
O time de economia do Research da XP entende que os vetores que levaram à depreciação recente do Real não se dissiparão no curto prazo, mantendo os prêmios de risco elevados. Assim, o time está projetando a taxa de câmbio em R$5,85 reais por dólar no final de 2025. Incertezas no ambiente macroeconômico doméstico – especialmente sobre a condução das políticas fiscal e parafiscal – podem novamente trazer alta volatilidade à taxa de câmbio, especialmente à medida que se aproxima o período eleitoral. Assim, o time projeta o dólar a 6,00 no final de 2026.
Contudo, essa projeção não quer dizer que não haverá volatilidade – ou seja, que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano de 2025. Pelo contrário, esperamos que a volatilidade siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico.
Comprar ou vender dólares?
Se você chegou até aqui, deve ter notado que a cotação da moeda americana depende de uma série de fatores, todos além do nosso controle (infelizmente).
Por isso, se você pretende viajar para o exterior, fazer um intercâmbio ou precisa mandar dinheiro para um familiar que mora fora, o melhor é ir comprando a moeda americana aos poucos, de modo que você faça um preço médio do dólar até chegar a data do seu objetivo.
Porém, se você não possui nenhum objetivo em dólar, a resposta para a pergunta do título é: nenhum dos dois.
Não compre dólar, invista em dólar
Quando olhamos para investimentos, se torna essencial diferenciar entre comprar dólar e investir em dólar.
Quando falamos do primeiro, a volatilidade e falta de previsibilidade não tendem a combinar com uma carteira de investimentos equilibrada e de longo prazo. Já quando falamos de investir emdólar, estamos nos referindo ao investimento internacional, em ativos dolarizados – como ações de empresas estrangeiras e fundos internacionais.
Vale destacar que, para ter essa exposição à variação do câmbio – ou seja, ao sobe e desce do dólar – é preciso optar por ativos que não tenham proteção cambial (o que chamamos de hedgeados). Muitas vezes, esses ativos, como fundos de investimento, possuem no nome a palavra “dólar ou USD”.
O investimento internacional terá um papel importantíssimo na composição da carteira de quase todos os tipos de investidor(com exceção dos mais conservadores ou com horizonte de investimento bastante curto). Ter parte de seu patrimônio em ativos dolarizados (ou outra moeda estrangeira forte) te ajuda a:
- Proteger sua carteira em momentos de incerteza elevada, como crises geopolíticas. Como em momentos de maior estresse investidores tendem a fugir para ativos mais seguros, e os mais seguros do mundo são o próprio dólar e títulos da dívida americana, estes tendem a se valorizar;
- Investir em setores que muitas vezes não existem ou ainda são muito incipientes em nossa economia e em nossa bolsa, como é o caso das empresas de tecnologia;
- Acessar um mercado muito maior do que o doméstico, que representa apenas menos de 5% do setor financeiro global.
- Proteger sua carteira de eventos e incertezas puramente domésticas, como eleições e crises políticas.
Assim, ter parte do seu patrimônio em investimentos internacionais é essencial em qualquer momento, ajudando a equilibrar a relação entre o risco e o retorno do total dos seus investimentos.
Como investir em dólares?
Como falamos, a melhor maneira de se expor ao dólar nos investimentos é por meio de ativos internacionais. Por isso, selecionamos abaixo algumas opções de investimento que te dão essa exposição. E o melhor? Sem nenhuma necessidade de abrir uma conta no exterior, diretamente do seu app da Rico:
- ¹Opportunity Global Equity Dolar Institucional FIC FIA: fundo que investe majoritariamente em ações de empresas norte americanas.
- Wellington Ventura Dólar Advisory CIC Ações IE – Resp Limitada: Fundo composto por ativos financeiros negociados no exterior.
- BDRs: certificados de ações internacionais negociadas na bolsa brasileira (como Apple e Disney)
- ETFs: fundo de investimento negociado na bolsa (os chamados ETFs), que investe em empresas americanas, como o IVVB11, SPXI11, NASD11, USAL11.
Confira aqui a lista com os principais ETFs negociados na B3.
Finalmente, vale lembrar que os investimentos internacionais devem compor um portfólio diversificado de investimentos – que deve sempre seguir seu perfil de investidor, objetivos e horizonte de investimento. Confira nossas recomendações completas aqui.
¹Fundo destinado a investidores qualificados.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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