por Zé Rico, analista técnico da Rico
- Depois de um estudo da FGV, muita gente se pergunta se day trade é uma furada
- Na verdade, temos que olhar esse tipo de operação como um esporte de alta performance: altos riscos, possibilidade de altos retornos e poucos de fato tem sucesso
- Fazendo a gestão do risco das operações e com preparo técnico e emocional, dá pra ter bons resultados
- Explicamos mais sobre o que esperar do day trade
Muito tem se falado dos riscos das operações de day trade, chegando a ser divulgado um estudo realizado pela FGV apontando que apenas 3% das pessoas que se aventuram nesse mercado ganham dinheiro.
Afinal, o que são as operações de day trade? Esse estudo realmente representa a realidade? Se sim, esse dado estatístico é o suficiente para desabonar a operações de day trade?
Nesse texto vamos buscar responder a esses questionamentos e apresentar uma nova análise sobre o tema, incentivando que o leitor observe esse universo com pensamento crítico.
Primeiramente, day trade são operações realizadas na Bolsa de Valores que são determinadas pelo tempo da operação, ou seja, são operações com início e encerramento dentro do período do pregão de determinado ativo, por isso, dentro um dia.
Assim, o day trade é caracterizado por operações rápidas, podendo ser de segundos ou até de horas, porém jamais passando de um dia de operação.
No começo de 2020 foi publicado um estudo da FGV sobre o mercado de day trade, mostrando que apenas 3% das pessoas que operaram nessa modalidade entre os anos 2012 e 2017 foram vitoriosos ou obtiveram algum lucro.
No entanto, o fato de saber que apenas 3% ganham dinheiro com o day trade é suficiente para desabonar esse tipo de investimento?
Alta performance
Conforme a pesquisa analisou, os anos foram entre 2012 e 2017, ou seja, a atividade era extremamente recente no Brasil, e por isso faltavam informações e conhecimentos sobre tais operações.
Ainda, como dizem por aí, o day trade é a “Fórmula 1” das modalidades de especulação na Bolsa, ou seja, é uma atividade de alta performance, devido à necessidade de se acertar em um curto espaço de tempo a direção do mercado, estando muito mais sujeito à aleatoriedade do mercado.
Por outro lado, em sua maioria, a modalidade de day trade é desenvolvida em mercados de grande alavancagem como mini índice e mini dólar que, além da capacidade de gerar ganhos rápidos, possuem alto potencial de lucro.
Sendo assim, fazendo uma análise comparativa, grande parte das profissões de alta performance que envolvem riscos altos de fracasso e, consequentemente, possibilidades de altos retornos, possuem algo em comum: a ínfima porcentagem de sucesso entre aqueles que enfrentam tais desafios.
Segundo informações do site Futdados, o número de jogadores de futebol nos Estados Unidos que chegam a jogar na National Collegiate Athletic Association (NCAA) e se tornam profissionais é de 1,4%.
Já na Europa, segundo dados da Business Insider UK, menos de 1% de jogadores que ingressam em escolas de futebol chegam a se tornar profissionais.
Por aqui, de acordo com a CBF, do total de jogadores profissionais (que já são uma minoria): 82,40% recebem salários de até R$ 1 mil reais; 13, 68% ganham entre R$ mil e R$ 5 mil; 1, 35% entre R$ 5mil e R$ 10 mil reais; e 1,77% entre R$ 10 mil e R$ 50 mil reais.
No mesmo passo podemos pensar em quantas pessoas conseguem se tornar pilotos de Fórmula 1, ou atletas olímpicos, entre outras profissões que exijam uma alto grau de comprometimento, disciplina e esforço.
Trazendo esses dados a você, minha intenção é deixar claro que qualquer atividade de alta performance envolverá uma quantidade mínima de pessoas que realmente obterão êxito, não podendo desabonar a atividade em si em razão do alto grau de fracasso.
Nessa mesma linha de raciocínio está o empreendedorismo no Brasil. Segundo levantamento realizado pelo SEBRAE (Serviço de Apoio Brasileiro às Micro e Pequenas Empresas), no ano de 2008, a taxa de mortalidade de empresas foi de 45,8%.
Apesar do número expressivo acima, não entendo que se deva considerar que empreender seria um erro, muito pelo contrário, apenas que somente os mais resilientes e com um alto grau de conhecimento sobre o assunto terão chance de sucesso.
Tanto é verdade que, após o ano de 2008, a taxa de sobrevivência das empresas no Brasil aumentou consideravelmente, devido a diversos fatores macroeconômicos, bem como ao maior acesso a informação e conhecimento.
Falando de day trade
Voltando para a modalidade do day trade, ressalto que, a meu ver, em nada se diferencia do contexto aqui traçado.
Realmente, se trata de uma modalidade de especulação extremamente arriscada, porém com possibilidade de grandes ganhos.
O fato de se tratar de uma modalidade relativamente nova no Brasil, aliado à falta de planejamento, conhecimento sobre a estrutura de cada ativo operado, gestão ou gerenciamento de risco, estatística e falta de controle emocional são aspectos que trazem a quase certeza do insucesso, assim como acontece na atividade empreendedora.
Mesmo com os riscos e chance mínima de sucesso, trata-se de uma modalidade extremamente atrativa, pois para o seu desenvolvimento o operador não dependerá de clientes, necessitará de uma estrutura simples, não precisará lidar com grandes passivos trabalhistas, terá sua liberdade geográfica e autonomia – características tão almejadas por muitos brasileiros.
Porém, foram justamente essas características que fizeram com que existissem hoje tantos traders mal sucedidos. Em busca desse “sonho”, muitos deixam de se preparar adequadamente e vão atrás de ganhos rápidos e milagrosos, querendo obter em um dia a rentabilidade de capital que não obtiveram em 10 anos em um investimento mais conservador.
Sendo assim, entende-se que o day trade é apenas mais uma ferramenta de rentabilização na Bolsa de Valores e, para se ter sucesso nessa modalidade, além de muito preparo técnico e emocional, deve-se tratá-la muito mais como um investimento do que como uma fonte de renda.
Deve-se evitar a tentativa de viver única e exclusivamente dessa modalidade, ou seja, ter o day trade como única fonte de renda, pois confiar a sua vida financeira em algo extremamente volátil representa um risco além do aceitável.
Quando se analisa a possibilidade de rentabilização do capital investido no day trade, logicamente impulsionado pela alavancagem, nota-se que não há qualquer outro tipo de investimento que se equipare a tal modalidade, que pode chegar a um percentual de mais de 100% de retorno do capital investido em um único dia.
O que muitas pessoas esquecem é que o inverso também é verdadeiro, ou seja, da mesma forma como pode-se buscar 100% de rentabilização em um único dia, também pode-se perder 100% do capital investido igualmente em um único dia.
Dessa forma, e respondendo diretamente ao questionamento levantado no título desse texto, a conclusão que trago a você, leitor, é de que o day trade não é uma furada.
Na verdade, é uma poderosa ferramenta de rentabilização do capital. Para isso, porém, deve ser usada com moderação, aliando-se conhecimento técnico e preparo psicológico e buscando-se uma rentabilização factível de investimento, sempre com foco no longo prazo.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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