Insight Rico: A oportunidade que você pode não ter visto no crédito privado

(por Eric Vieira, co-gestor da estratégia de Renda Fixa Crédito Privado High Grade da XP Asset Management) 

Parece que foi ontem que os fundos de crédito privado high grade (títulos de empresas com melhor risco de crédito avaliado pelas agências de rating) nos davam retornos sempre positivos entre 100% e 115% do CDI e com baixa volatilidade. Ficamos mal-acostumados!

Essas condições foram mantidas por muito tempo, sobretudo enquanto a taxa básica de juros no Brasil permanecia entre as mais altas do mundo. O CDI alto, portanto, permitia que os spreads de crédito, que são os retornos acima do CDI, fossem mais baixos, ao mesmo tempo em que servia como um colchão para absorver eventuais marcações a mercado negativas que algum ativo do fundo pudesse ter.

E falando em marcação a mercado, por que isso é tão importante em fundos de investimento? A marcação a mercado serve justamente para evitar que a entrada e saída de cotistas seja mal precificada, o que geraria transferência de riqueza entre eles.

Podemos concluir, então, que a cota de um fundo de crédito privado, e, consequentemente, sua rentabilidade, é impactada tanto pelo carrego de seus ativos, como pela oscilação dos preços dos ativos provenientes de uma mudança na taxa de marcação. E essa dinâmica traz oportunidades que a maioria dos investidores ignora dentro do universo da renda fixa e dos fundos que investem nesses ativos. 

Investimento em Crédito via Fundos

Antes de revelar essa oportunidade, vamos explicar melhor como funciona o investimento em crédito via fundos. A alteração do preço de um ativo de crédito pode ser calculada de forma simplificada multiplicando a duration (prazo médio ponderado do valor presente de todos os fluxos de juros e amortizações até o vencimento) pela alteração da taxa de marcação do ativo – sendo que o preço se valoriza quando a taxa se reduz (“fecha”, no jargão de mercado) e vice-versa.

Pode parecer complicado, mas é mais fácil do que você imagina. Acompanhe meu exemplo: se temos um fundo cuja carteira de ativos lhe conceda um carrego de CDI + 2% a.a., podemos esperar que, em um mês em que o CDI esteja em 1,90% a.a. e que não haja alterações nas taxas de marcação dos ativos, o fundo apresente um retorno de 0,322% comparado a um CDI de 0,157% no mês, ou seja, cerca de 205% do CDI.

Por outro lado, se a duration média dos ativos do fundo for de 2 anos e a taxa de marcação dos ativos abrir 0,10% (de CDI + 2,00% para CDI + 2,10%), teríamos um impacto negativo de marcação a mercado dos ativos que detrairia aproximadamente 0,20% (0,10% da abertura da taxa x 2 anos da duration) da rentabilidade do fundo no mês, entregando um retorno de aproximadamente 0,122% (0,322% – 0,20%).

Da mesma forma, se a taxa de marcação “fechar” 0,10% (de CDI + 2,00% para CDI + 1,90%), o fundo tende a ter um ganho de capital de 0,20% e entregar um retorno aproximado de 0,522% no mês.

Portanto, ao comprar um ativo de crédito privado cujo carrego encontra-se naquele momento a CDI + 2,00%, o retorno obtido até seu vencimento será de CDI + 2,00% a.a. independentemente das oscilações do preço do ativo ao longo do período causada pela marcação a mercado.

Se a taxa do ativo fecha, temos um ganho de marcação a mercado, mas uma redução do carrego até o vencimento, de forma que o retorno total será CDI + 2,00% a.a. e, inversamente, se a taxa de marcação abre, o ativo se desvaloriza no curto prazo mas passa a apresentar um carrego melhor, de forma a recuperar seu valor até o vencimento e entregar CDI + 2,00% a.a.

O que se aplica para a rentabilidade do ativo de crédito também se aplica para a rentabilidade do fundo de crédito, que nada mais é que uma composição de diversos ativos que possuem prazos de vencimento, durations e taxas de marcação diferentes.

Não há nada mais errado do que observar janelas de rentabilidade passadas para projetar o retorno de um fundo de crédito privado para frente. Deve-se sempre questionar sobre qual é o carrego dos ativos do fundo, qual a duration deles e risco de crédito associado ao portfólio. O investidor deve conhecer profundamente o trabalho de diligência e gestão da equipe de uma gestora e olhar sempre históricos de longo prazo para escolher um fundo para investir seu dinheiro.

A pandemia mudou o mundo e também o excesso de retorno sobre o CDI requerido nos ativos de crédito privado. Se, por um lado, isso trouxe uma marcação a mercado negativa entre março e abril para os fundos dessa classe, que apresentaram retornos negativos no período, por outro aumentou o carrego deles, abrindo uma grande janela de oportunidade – que você ainda pode aproveitar. 

Os mesmos fundos que carregavam ativos com taxas por volta de CDI + 1,00% até ano passado e tinham como objetivo entregar 100 a 115% do CDI, hoje carregam ativos entre CDI + 2,00% e 2,50%, com carrego muitas vezes acima de 200% do CDI. Não devemos olhar para o retrovisor para tentar enxergar o que vem à frente na pista.

Resumo do dia: Faz isso não, Pfizer

(por Lucas Collazo)

Mercados amanhecem nesta sexta-feira em ritmo de leve recuperação, após a decepção com notícias da Pfizer ontem. Nos EUA, os índices futuros sobem entre 0,3% e 0,4%, já na Europa, o Stoxx 600 tem alta de 0,2%.

A farmacêutica reduziu a expectativa de distribuição da vacina em 2020 pela metade, por questões de logística. A notícia fez com que o mercado americano praticamente zerasse a alta que anotava na quinta. Até 2021, 1,3 bilhão de doses devem ser entregues. 

Enquanto isso, as commodities continuam em trajetória de alta, e o minério de ferro atingiu sua máxima histórica a US$ 116 por tonelada. O preço do petróleo reage à maior coordenação de Arábia Saudita e Rússia após decisão da OPEP+ em aumentar a produção em 500 mil barris por dia em janeiro: o WTI sobe 1,45%, ultrapassando US$ 46 por barril pela primeira vez desde março.

Estímulos à economia também estão em foco. Nos EUA, o presidente eleito, Joe Biden, disse que a proposta bipartidária de estímulo do Congresso de US$ 900 bi é “um bom começo” e que acredita que será ela aprovada. No Japão, o primeiro-ministro deve anunciar medidas na semana que vem, incluindo 2 trilhões de ienes para suportar a economia digital e de inovações, e aproveitou para reafirmar o compromisso de neutralidade de carbono até 2050.

No Brasil, foi divulgado ontem o PIB do país no terceiro trimestre com crescimento de 7,7% trimestre contra trimestre e -3,9% ano contra ano. O resultado veio abaixo do consenso de mercado (8,7%). Na comparação anual, o resultado veio abaixo das projeções de mercado (-3,5%) e em linha com a expectativa da XP Inc. Vale ressaltar que o IBGE também revisou o crescimento do PIB de 2019 de 1,1% para 1,4%. Nosso time mantém projeção em -4,6% para 2020 e para +3,4% em 2021.

Na agenda do dia, a divulgação do relatório de empregos dos EUA (Payroll) às 10h30 é o evento mais importante e com maior relevância para os mercados. Expectativa é de criação de 478 mil postos de trabalho. 

Agenda da Semana
Sexta-feira, 04 
10h30: EUA – taxa de desemprego nov (exp: 6,8%; ant: 6,9%)