• Para os bancos, a PDD é uma forma de dormir com mais tranquilidade à noite.
  • Em 2020, as instituições investiram em colchões moles demais, aumentando consideravelmente as provisões; no fim das contas, a inadimplência veio abaixo dessa expectativa.
  • Com a situação de inadimplência controlada, você pode ter mais segurança para emprestar também.

Acabamos de entrar em um ciclo de alta da Selic, mas você lembra por que ela chegou a 2% no ano passado?

Dentre as medidas tomadas pelo Governo e pelo Banco Central para reduzir os impactos negativos da pandemia e das restrições que ela trouxe, uma foi reduzir a taxa básica de juros de 4,5% no começo de 2020 para menos da metade disso até o final do ano, a fim de estimular a atividade econômica.

A carteira de crédito dos bancos, de acordo com dados do Sistema Financeiro Nacional (SFN), cresceu em 2020. Com isso, e a dificuldade da situação da pandemia, os bancos investiram em ‘colchões’ bem parrudos para evitar problemas com eventuais calotes (mais para frente nesse texto você vai entender isso melhor). Mas, ao contrário do esperado em momentos de turbulência, a inadimplência não explodiu e a situação dos bancos que emprestam dinheiro continua controlada.

Como a redução na Selic facilita o acesso ao crédito?

A Selic baixa deixa a captação de recursos mais barata para os bancos, seja através de investimentos de terceiros em títulos da instituição (como CDBs) ou pela poupança. Se a taxa básica cai, o banco tem que remunerar menos o investidor para “convencê-lo” a investir ali, já que a taxa paga geralmente é atrelada à Selic.

Com isso, é possível dar crédito para as empresas e pessoas com preços mais baixos e, portanto, mais atrativos já que, geralmente, redução na taxa básica resulta em redução na taxa dos empréstimos feitos na ponta também.

Os resultados foram positivos, e hoje as carteiras dos grandes bancos têm baixa inadimplência mesmo com o crescimento recente. Contudo, é importante acompanhar até onde estes estímulos impactam a qualidade de crédito dos bancos, uma vez que eles vêm sendo retirados aos poucos ou deixando de surtir efeito.

PDD x inadimplência

Do outro lado, quando você pega dinheiro emprestado, a instituição pensa numa maneira de você pagar de volta — pode ser em parcelas, pode ser tudo de uma vez depois de algum tempo com juros. Se você não devolve, fica inadimplente ou, no jargão financeiro, entra em default.

Os bancos sabem que muitas pessoas podem não conseguir cumprir suas obrigações, então eles têm uma reserva de dinheiro para cobrir eventuais perdas por não-pagamento: a famosa PDD, ou provisão para créditos de liquidação duvidosa.

Essa reserva entra direto no balanço dos bancos, penalizando o lucro, e por isso deve ser construída de forma certeira: nem muito acima, nem abaixo do necessário. É tipo escolher um colchão: se for mole demais (aqui, PDD muito alta), pode fazer mal para as suas costas. Duro demais, não vai ser confortável.

Através de modelos estatísticos e regras que estabelecem o risco de cada contrato e cliente, a concessão de crédito é construída para que a PDD cubra as perdas, mas sem exageros que possam diminuir o lucro desnecessariamente.

Em 2020, o valor reservado para a PDD em relação à carteira de crédito dos bancos brasileiros atingiu o pico em junho, justo no pior momento da pandemia no país até então:

Ou seja, os bancos se prepararam para uma perda por inadimplência alta em em 2020 (a lógica: muita gente sem trabalhar = muita gente sem conseguir pagar empréstimos).

Mas a tempestade não veio (ou não foi tão forte):  o atraso e a inadimplência estão em patamares mínimos históricos, devido às medidas excepcionais adotadas pelas instituições, como carência maior e renegociação de dívidas, além do auxílio emergencial e programas governamentais para pequenas e médias empresas.

O colchão estava mole demais. Para 2021, com o guidance do ano e os dados já divulgados do 1º trimestre, a expectativa é de redução da PDD, retornando a patamares próximos a 2018 e 2019.

Em 2020 foi observado um incremento acima de 25% no saldo de crédito PJ, enquanto a inadimplência de grandes, médias e pequenas empresas está baixa quando comparada ao histórico.

Para pessoa física, o auxílio emergencial ajudou a manter a atividade econômica e a inadimplência mais controlada, mas existem dois pontos de atenção para os próximos meses: a renda familiar está muito comprometida, o nível de endividamento está alto e o próprio auxílio não vai durar para sempre.

Ou seja: o SFN está bem posicionado para enfrentar a crise, e parece que as provisões realizadas pelos grandes bancos ao longo de 2020 serão suficientes para segurar o impacto de um possível aumento de inadimplência nos próximos meses.

Com a Selic voltando ao ciclo de alta, os bancos voltam a remunerar melhor os investidores, e o crédito privado fica mais atrativo. Se for em uma instituição com um bom portfólio de crédito, com baixa inadimplência, melhor ainda!

Saiba mais sobre como investir em crédito privado aqui: renda fixa também dá dinheiro.

Você pode ler o relatório completo do time de renda fixa da XP aqui.

Elaborado por:

Betina Roxo, CNPI 1493
Paula Zogbi, CNPI 2545

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