Você já parou para pensar que, na produção de todo bem de consumo, há a utilização de matéria-prima, a geração de energia e o descarte de resíduos não utilizados? E mais, sabia que tudo isso é extraído do meio ambiente ou dispensado nele? Dessa forma, podemos dizer que todo o sistema industrial depende da natureza e, caso as empresas não busquem continuamente medidas para tornar suas produções mais sustentáveis e conscientes, presenciaremos cada vez mais eventos climáticos extremos.
Felizmente, observamos movimentações por parte de grandes companhias para aumentar suas propostas e práticas com foco em tornar suas produções mais renováveis e evoluir em eficiência de processos, visando à redução de desperdício. Neste texto, abordaremos em detalhes o porquê esse tema é tão prioritário e quais empresas divulgaram recentemente como estão investindo nele. Mas antes, vamos fazer um breve resumo sobre o que é a sigla ESG. Você sabe o que ela significa?
Afinal, o que são essas 3 letras juntas?
ESG é a sigla para “Environmental, Social, and Governance”, ou, em bom português, Ambiental, Social e Governança. Esses três pilares são utilizados para avaliar as empresas, observando quais impactos suas indústrias, produções, bens e serviços trazem para a sociedade e como elas lidam com o tema da sustentabilidade. Incorporar esses fatores nas análises das empresas é ir além dos números financeiros.
De modo simplificado, é uma forma de medir como uma organização atua com o meio ambiente, com a sociedade e como é administrada. No Brasil, a adesão ao tema ESG está em ascensão, impulsionada pela conscientização sobre questões socioambientais, especialmente quando ocorrem incidentes climáticos extremos, como os que presenciamos neste ano.
E por que precisamos nos preocupar com isso tudo?
Como contamos neste texto em detalhes, as emissões de dióxido de carbono crescem continuamente e os efeitos estão sendo sentidos em nossa rotina. O ano de 2023 registrou níveis recordes de temperaturas globais, inclusive no Brasil. Dessa forma, começamos a sentir as consequências não apenas no clima, mas também com eventos naturais drásticos, que estão se intensificando em decorrência do aquecimento global.
Em maio de 2024, presenciamos a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul, causadas pelo excesso de chuvas prolongadas e transbordamento de rios. O estado ficou alagado e muitas famílias perderam seu patrimônio. Esse desastre também trouxe prejuízos para empresas prestadoras de serviços na região, como as companhias do setor de energia CPFL, Equatorial e Eletrobras.
A CPFL enfrentou problemas em seus segmentos de distribuição, transmissão e geração, com 250 mil clientes sem energia, danos à barragem e subestações inundadas. A Equatorial, através da CEEE (distribuidora de energia), teve 188 mil clientes afetados, com um impacto estimado de R$ 10 milhões na receita. E a Eletrobras teve sua subestação Nova Santa Rita paralisada devido ao alagamento, afetando suas operações na região.
Além disso, entre agosto e setembro de 2024, vivenciamos altos níveis de incêndios em São Paulo, e as condições climáticas provavelmente aceleraram a dispersão do fogo. O céu repleto de cinzas pôde ser visto em todo o estado! As recentes queimadas afetaram grandes campos de cana-de-açúcar. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, estima que os danos totais às plantações, propriedades e atividades canavieiras podem alcançar R$ 1 bilhão. Empresas como São Martinho e Raízen tiveram uma grande parte de suas plantações comprometidas.
Podemos notar, claramente, que o assunto merece muita atenção, tanto nossa quanto das empresas, pois somos todos afetados, de alguma maneira, pelas ocorrências climáticas. Da mesma forma, porém, todos nós também somos responsáveis por buscarmos melhores práticas ambientais e sustentáveis para nosso dia a dia; é dever de todos agirmos em medidas de prevenção.
Mas e as empresas, somente sofrem consequências?
Não é bem assim! Pensando por outro lado, as empresas também têm sua parcela de “culpa”, não apenas por suas produções e serviços, mas também por seu relacionamento com o meio ambiente, com os funcionários e com a sociedade em geral. Por isso, a agenda ESG é tão importante e deve ser prioritária nas organizações, que devem prezar por decisões responsáveis para os indivíduos e para o meio ambiente. As empresas precisam estar engajadas em buscar soluções que alcancem os objetivos abaixo:
– Tornar as produções mais sustentáveis: As empresas devem revisar seus processos para incorporar a adoção de tecnologias limpas, a utilização de materiais recicláveis e a implementação de sistemas de gestão ambiental que promovam a eficiência;
– Impactar cada vez menos o ambiente: É fundamental que as empresas desenvolvam estratégias para mitigar os efeitos negativos de suas operações. Isso pode incluir a redução das emissões de gases de efeito estufa e a conservação de recursos naturais, como água e solo;
– Otimizar o uso de matéria-prima: Isso pode ser alcançado através da reciclagem de materiais, escolha de insumos sustentáveis e estímulo de práticas como a economia circular (que visam prolongar a vida útil dos produtos e reduzir a extração de novos recursos);
– Aumentar a utilização de fontes renováveis: Investir em fontes de energia renováveis, como solar, eólica e biomassa, é uma maneira eficaz de reduzir a dependência de combustíveis fósseis. As empresas podem instalar painéis solares, participar de projetos de energia limpa ou adquirir certificados de energia renovável para compensar suas emissões;
– Reduzir o desperdício: Inclui a adoção de sistemas de gestão de resíduos, a reutilização de materiais e a promoção de uma cultura de conscientização entre funcionários e consumidores sobre a importância de evitar o desperdício.
Por essa razão, quando pensarmos em investir, considerar qual o impacto da empresa no meio ambiente é preponderante para uma escolha consciente.
Quais são as formas de investir em uma empresa?
Uma companhia aberta pode capitalizar dinheiro para se financiar e expandir, principalmente de duas formas: com a venda de ações e a emissão de dívidas.
– Venda de ações: A empresa abre parte de seu capital para investidores na bolsa de valores, permitindo que eles se tornem sócios e, em troca, tragam recursos para a empresa. Os investidores esperam receber parte de seus lucros gerados em forma de dividendos ou que a cota da ação se valorize aumentando seu patrimônio.
– Emissão de dívida: A companhia emite títulos, como as debêntures, para financiar projetos dessa empresa, remunerando o investidor com o pagamento de juros pelo empréstimo.
Seja na compra de um título de dívida ou de uma ação da companhia, entender como ela redireciona o valor investido e quais são suas abordagens em relação à sustentabilidade e soluções renováveis é primordial. Além de tudo, investir em empresas com boas práticas ESG ainda contribui para impulsioná-las a continuarem promovendo propostas com responsabilidade socioambiental.
Por que as empresas devem se preocupar com ESG?
Como comentamos acima, as empresas são tão suscetíveis quanto nós a serem afetadas negativamente por eventos climáticos extremos. Muitas dessas tragédias são influenciadas pelas disfunções que ocorrem em nossas condições climáticas. Quem não tem percebido uma inconstância maior na temperatura nos últimos tempos?
Preocupar-se com a diminuição da poluição, o desperdício, o aumento da reciclagem e o desenvolvimento de projetos para utilização de fontes de energia renováveis deve ser um tema constantemente visitado pelos dirigentes das empresas. Promover a sustentabilidade é um assunto a ter cada vez mais espaço nos planos estratégicos das organizações. É preciso compensar o uso da matéria-prima e o descarte de poluentes por meio de ações que ajudem na preservação ambiental.
Práticas sustentáveis podem levar a uma maior eficiência operacional e redução de custos, como menor consumo de energia e menos desperdício. Além disso, riscos ligados ao tema ESG, como os riscos ambientais, podem pesar negativamente nas taxas e acessos aos financiamentos das empresas.
Quais empresas estão investindo em práticas ESG?
Muitas empresas ao redor do mundo estão cada vez mais comprometidas com agendas ambientais. Como o tema ESG se tornou um critério importante na avaliação da qualidade de um investimento, as organizações começaram a divulgar mais projetos voltados para produções mais limpas, redução de desperdício e uso de energias renováveis. Essas práticas são fundamentais para a sustentabilidade do planeta. Abaixo, destacamos alguns projetos focados em ESG divulgados por companhias brasileiras.
Suzano (SUZB3)
A Suzano, empresa do setor de celulose, uniu-se a outras duas companhias com o objetivo de viabilizar o uso de combustível renovável em escala na aviação, conhecido pela sigla SAF (Sustainable Aviation Fuel, em inglês). Apesar dos desafios devido ao alto custo do biocombustível, a parceria tem expectativas de transformar o Brasil em referência na exportação e uso desse tipo de combustível.
Além disso, em julho deste ano, a Suzano firmou uma parceria com a IFC (International Finance Corporation) — instituição financeira do Grupo Banco Mundial que apoia o desenvolvimento de países — para implementar corredores ecológicos no Cerrado. O objetivo é restaurar 35 mil hectares de fragmentos de vegetação do Cerrado, um bioma que enfrenta ameaças à biodiversidade. A degradação do Cerrado provoca isolamento de espécies, altera ecossistemas e torna o território menos resistente às mudanças climáticas.
Fonte: Exame, 09/07/2024
Raízen (RAIZ4)
A Raízen, empresa do setor de energia, se destaca entre suas concorrentes por sua forte agenda ESG, de acordo com nossos analistas. A empresa foca principalmente na transição energética, com ênfase na geração de energia renovável e na redução das emissões de carbono. A Raízen estabeleceu 10 metas ESG para serem alcançadas até 2030, dentre elas:
– Reduzir em 10% a pegada de carbono do etanol e do açúcar;
– Diminuir em 10% a retirada de água de fontes externas;
– Aumentar em 15% o indicador GJ/há (que mede a geração de energia por área colhida);
– Garantir a rastreabilidade de 100% do volume de cana moída;
– Assegurar que todas as unidades operacionais sejam certificadas por padrões internacionais reconhecidos;
– Promover avanços em direitos humanos nas operações e na cadeia de suprimentos;
– Influenciar parceiros estratégicos a aderirem aos padrões de ética e compliance da companhia;
– Apoiar 100% das comunidades vizinhas por meio da Fundação Raízen;
– Alcançar 30% de mulheres em cargos de liderança até 2025.
Em setembro de 2024, a Raízen captou US$ 1 bilhão em sua segunda emissão de títulos de dívida verdes no exterior, com prazo de 10 anos. A empresa se comprometeu a investir o montante em projetos sustentáveis, incluindo combustíveis renováveis e iniciativas para reduzir as emissões diretas de carbono.
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2024
Natura (NTCO3)
A Natura, empresa de cosméticos, foi a primeira companhia brasileira a emitir um título de dívida atrelado à preservação da biodiversidade da Amazônia, em julho de 2024. Caso não cumpra os objetivos acordados, a empresa enfrentará penalidades nos custos de crédito. O foco da operação são os bioativos da Amazônia.
Fonte: Capital Reset, 09/07/2024
Além disso, a Natura divulgou recentemente um plano de transição climática, com a meta de zerar suas emissões de carbono na América Latina até 2030. A empresa investirá R$ 35 milhões em melhorias nas fábricas e operações em todo o continente para reduzir os impactos ambientais, com foco no uso de combustíveis limpos, como biometano e hidrogênio verde. A meta é reduzir em 90% as emissões relacionadas ao uso de energia elétrica em suas operações.
Fonte: Exame, 12/09/2024
Opções para Investir em ESG
Percebeu a importância de considerar o tema ESG na hora de investir e, também, no dia a dia? Além de investir diretamente em empresas com práticas sustentáveis, você pode adotar hábitos que contribuam com a causa. Todos consumimos produtos de diferentes empresas diariamente, e priorizar companhias comprometidas com a sustentabilidade é fundamental!
Mas como investir em empresas que aplicam práticas ESG? Existem ETFs, como o ESGU11, que replica a rentabilidade do MSCI USA Extended ESG Focus Index (ESG-U), um índice dos EUA composto por empresas de grande e média capitalização com boa exposição aos fatores ESG. Investir em ESG é uma maneira de fazer seu dinheiro trabalhar não só para você, mas também para um mundo melhor. Que tal começar a incluir ESG na sua carteira de investimentos?
Abra sua conta e comece a investir em ESG pela Rico.