A Páscoa é uma das datas comemorativas mais aguardadas pelos brasileiros. Além de seu significado religioso e cultural, a celebração também movimenta o comércio, principalmente no setor de chocolates e produtos alimentícios típicos da data. No entanto, para os consumidores, o impacto mais notável não é apenas a variedade de ovos de Páscoa nas prateleiras, mas sim os preços cada vez mais altos.
É surpreendente, de certo modo, ver os ovos de Páscoa já sendo vendidos nos supermercados com tanta antecedência, por mais de R$ 100,00 e com a opção de pagamento em até 6 vezes sem juros, não acha?
Nos últimos 5 anos, os principais itens consumidos na Páscoa – como chocolates, bombons, açúcar e azeite – vêm registrando aumentos bem acima da inflação média do país, embora esse avanço não tenha sido linear.
O que está por trás dessa alta? O que explica a pressão nos preços desses produtos essenciais da cesta pascal? Analisamos os dados de inflação de uma cesta com alimentos tipicamente consumidos durante a Páscoa, considerando o período entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2025. Os resultados estão a seguir.
O aumento dos preços: a cesta de Páscoa ficou mais cara que o IPCA?
De acordo com os dados de preços acumulados entre 2020 e fevereiro de 2025, o IPCA (principal índice de preços ao consumidor) registrou alta de 35,43% no período. Isso significa que, em média, os preços dos bens e serviços no Brasil subiram nesse percentual.
No entanto, alguns itens relacionados à Páscoa tiveram aumentos ainda mais expressivos. Veja a comparação da inflação acumulada dos itens da cesta de Páscoa no mesmo período:
Itens X IPCA | Acumulado no período |
Pescados | 19,15% |
Balas | 30,80% |
Biscoito | 46,23% |
Manteiga | 50,36% |
Leite condensado | 55,05% |
Chocolate em barra e bombom | 56,43% |
Chocolate e achocolatado em pó | 69,81% |
Morango | 81,24% |
Açúcar refinado | 81,98% |
Açúcar cristal | 85,69% |
Frutas | 96,04% |
Azeite de oliva | 119,36% |
IPCA | 35,43% |
Cesta de Páscoa | 69,87% |
Como podemos ver acima, enquanto o IPCA apresentou alta de cerca 35%, os produtos tradicionais da Páscoa registraram, no geral, aumentos bem acima desse patamar, com destaque para o açúcar refinado e o cristal – que quase dobraram de preço no período. O azeite de oliva também apresentou alta significativa, tendo seu preço mais do que dobrado nas prateleiras. Por outro lado, pescados e balas tiveram aumentos inferiores ao IPCA.
Os preços das frutas (itens frequentemente consumidos neste período, principalmente em receitas de sobremesas) também chamam atenção, apresentando aumento expressivo nos últimos cinco anos. O gráfico abaixo ilustra tal evolução não linear da inflação dos preços dos principais itens da cesta:

Açúcar: um vilão para o bolso dos consumidores
O açúcar foi um dos alimentos que mais subiu de preço nos últimos anos, impactando diretamente toda a cadeia produtiva de chocolates, balas e confeitos – exercendo efeito cascata sobre a indústria, uma vez que representa um de seus principais insumos. Isso significa que, mesmo que a demanda por chocolates se mantenha estável, o encarecimento do açúcar tende a levar ao repasse nos preços finais ao consumidor.
O aumento de mais de 80% no preço do açúcar refinado e cristal (no período de análise) tem algumas explicações – que incluem fatores climáticos, logísticos e estruturais. Entre os principais, vale destacar:
- Problemas climáticos e queda na produtividade da cana: O Brasil, maior produtor mundial de açúcar, enfrentou condições climáticas adversas para o cultivo da commodity nos últimos anos – incluindo secas severas e temperaturas elevadas que reduziram a produtividade dos canaviais. Além disso, fenômenos como a síndrome de murchamento da cana[1] reduziram ainda mais a oferta do produto no mercado.
- Exportações aquecidas: O Brasil exportou 38,2 milhões de toneladas de açúcar em 2024, consolidando-se como líder no mercado global. Ao mesmo tempo, a Índia e a Tailândia, outros grandes produtores, enfrentaram produções mais fracas – o que impactou a oferta global, pressionando a competitividade entre os compradores internacionais, e elevando os preços no mercado interno (diante de maiores incentivos para a exportação).
- Oscilação entre açúcar e etanol: A decisão de direcionar mais cana para a produção de etanol em alguns períodos afetou a oferta de açúcar no mercado.
- Custos logísticos e aumento nos preços de frete: A infraestrutura de transporte limitada no Brasil, especialmente em relação às exportações de açúcar, impactou a distribuição e elevou os custos em um período de demanda aquecida. O frete rodoviário registrou aumentos expressivos, após uma queda temporária em 2024, com expectativa de novas altas em 2025.
[1] O murchamento da cana, conhecido como Síndrome da Murcha da Cana, é uma doença que impacta negativamente a produção de açúcar e etanol ao reduzir os níveis de sacarose nas plantas e prejudicar seu crescimento. Cerca de 30% da área cultivada com cana no Brasil, equivalente a aproximadamente 3 milhões de hectares, já apresentava sinais da doença em janeiro deste ano. Fatores como eventos climáticos extremos e variações de temperatura têm contribuído para sua propagação. Essa síndrome pode resultar em uma redução de até 45% na produtividade das lavouras, afetando significativamente a produção.
O impacto disso tudo? O custo dos chocolates, balas e produtos açucarados disparou, já que o açúcar é um dos principais insumos da indústria alimentícia.
Chocolate: além do açúcar, outros fatores pesam
Além do açúcar, o cacau também tem seu papel no aumento dos preços dos chocolates. O mercado global da commodity foi impactado por diversos fatores que reduziram sua oferta e elevaram seus preços para os maiores patamares das últimas décadas.
Para ilustrar, a categoria “chocolates e achocolatados” acumulou alta de 69,81% nos últimos 5 anos, enquanto a de “chocolate em barra e bombons” registrou variação de 56,4%.
A má notícia? O cenário adiante não indica estabilização, a menos não no curto prazo. E isso está relacionado à produção global de cacau.
Os preços de cacau
O cacau, matéria-prima essencial para a produção de chocolate, registrou sucessivos aumentos de preço devido a problemas climáticos nas principais regiões produtoras do mundo, em especial Costa do Marfim e Gana.
Além disso, os estoques monitorados pelo ICE (Intercontinental Exchange) nos portos dos Estados Unidos continuam em queda e atingiram o nível mais baixo dos últimos 21 anos.
A menor oferta e demanda estável contribuíram para alta de 173% da commodity apenas em 2024.
Vale ressaltar que o preço do cacau sofreu uma queda expressiva de preço em 2025 (perto de 27%), diante de um relativo aumento de oferta. Porém, a mensagem não muda, uma vez que o estoque para a Páscoa de 2025 foi comprado anteriormente, e, portanto, a preço mais alto – ainda não refletindo a queda recente.

Demanda, logística e produção
Além do cacau, outros custos impactam direta e indiretamente os preços dos ovos de Páscoa nas prateleiras e sites – dentre os quais, vale destacar:
- Custos logísticos – A cadeia de suprimentos global ainda sofre com os impactos da pandemia e da crise dos fretes marítimos. O transporte internacional de commodities, como cacau, continua acima do histórico, elevando o custo final do chocolate.
- Demanda aquecida – Apesar dos preços em elevação, o consumo de chocolates premium e importados cresceu, especialmente em mercados mais segmentados. Isso elevou o ticket médio dos chocolates, puxando os preços dos demais produtos também para cima.
- Menor produção de ovos – De acordo com a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), foram produzidos cerca de 45 milhões de ovos para a Páscoa de 2025 – uma redução de 22,4% em relação a 2024.
Ou seja, o chocolate não ficou caro apenas pelo aumento do açúcar, mas também pela crise do cacau e a alta nos custos de transporte e importação.
Azeite: um item cada vez mais caro na mesa do brasileiro
Outro produto tradicionalmente consumido na Páscoa, o azeite de oliva, também sofreu aumentos expressivos nos últimos anos.
Dentre alguns fatores que explicam esse movimento, estão: (i) as quebras de safra de produção na Europa, reduzindo a oferta do produto; (ii) a alta do dólar e euro que encarece o produto que é, em grande parte, importado, e; (iii) o aumento da demanda global que tem crescido mundialmente, pressionando os estoques e elevando os preços médios da categoria.
Com isso, um item que já era considerado premium ficou ainda mais distante para os consumidores brasileiros.
Em 12 meses, qual foi o aumento da cesta de Páscoa?
Analisando um horizonte mais curto, de 12 meses, considerando fevereiro de 2024 até fevereiro de 2025, a cesta de produtos típicos da Páscoa registrou uma inflação média de 5,28%, ligeiramente acima do IPCA do período.
Itens | Acumulado em 12 meses |
IPCA | 5,06% |
Açúcar refinado | -1,06% |
Açúcar cristal | -0,04% |
Balas | 8,01% |
Chocolate em barra e bombom | 16,53% |
Chocolate e achocolatado em pó | 12,49% |
Frutas | 3,31% |
Morango | -5,34% |
Leite condensado | 8,98% |
Manteiga | 4,97% |
Biscoito | 1,39% |
Pescados | -0,10% |
Azeite de oliva | 14,16% |
Cesta da Páscoa | 5,28% |
Esse resultado mostra que, embora alguns itens tenham apresentado queda nos preços — como o açúcar, o morango e os pescados —, outros produtos tradicionais da data, como chocolates, azeite de oliva e leite condensado, tiveram altas expressivas que puxaram a média para cima. O comportamento dos preços revela um cenário misto, mas que, no conjunto, manteve a Páscoa mais cara para o consumidor em relação ao ano anterior. Além disso, esse comportamento também revela uma dinâmica importante: embora produtos como açúcar refinado, açúcar cristal e morango tenham registrado queda nos preços nos últimos 12 meses, alguns deles foram os que mais acumularam alta nos últimos cinco anos. Ou seja, a deflação recente pode ser mais um ajuste pontual após picos de preço do que uma tendência de alívio duradouro.
Quando olhamos para um horizonte mais longo, fica claro que o consumidor continua pagando mais caro por esses itens em comparação ao passado, inclusive se compararmos com o aumento do IPCA no mesmo período. Isso reforça a importância de analisar a variação de preços de forma ampla e em diferentes períodos, já que variações pontuais podem deixar de indicar um cenário estrutural de encarecimento da cesta de Páscoa.
Os efeitos sazonais: Páscoa encarece ainda mais os produtos?
Além da inflação de longo prazo, há um outro fator que impacta os preços dos produtos da Páscoa: a sazonalidade.
Nos meses que antecedem a Páscoa, os preços de chocolates, balas e açúcar tendem a subir mais em função da alta demanda e da entressafra da cana-de-açúcar.
Esse efeito pode ser observado nos dados de janeiro e fevereiro de 2025, quando a categoria “chocolate em barra e bombons” registrou alta de +3,18% e +1,4%, respectivamente, enquanto o IPCA no mesmo período foi de menos de 0,16% em janeiro e 1,31% em março.

Isso ocorre porque o aumento da demanda sazonal tende a levar ao ajuste de preços por fabricantes e varejistas, que veem a data como oportunidade para otimizar os resultados. A boa e velha máxima econômica da “oferta e demanda”.
A Páscoa mais cara é uma tendência?
Os dados mostram que os produtos tradicionais da Páscoa estão ficando mais caros, geralmente acima da inflação geral do país. O açúcar, que é um insumo essencial para chocolates e doces, apresentou os maiores aumentos, impactando o custo de toda a cadeia produtiva.
Em complemento, a sazonalidade da Páscoa também pressiona os preços no curto prazo, tornando os produtos ainda mais caros nos meses que antecedem a data. Além disso, com o controle da inflação ainda como um desafio nas principais economias do mundo, um cenário de redução dos preços desses produtos parece pouco provável no curto prazo.
Para os consumidores, a melhor estratégia para evitar pagar mais caro é antecipar as compras que forem possíveis, aproveitando momentos de menor demanda para garantir preços melhores. Para aqueles que querem economizar ainda mais, buscar alternativas como chocolates artesanais ou marcas menos populares pode ser uma saída para reduzir o impacto da inflação no orçamento.
O fato é que, se a tendência dos últimos anos continuar, a Páscoa de 2026 poderá ser ainda mais cara – e a cesta de chocolates seguirá pesando cada vez mais no bolso dos brasileiros.
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Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 6928
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