Imagine que você está em uma tarde tranquila de sábado, revisando suas finanças, quando de repente percebe uma notificação: “Você foi chamado para prestar esclarecimentos à Receita Federal”. O susto bate, e a primeira pergunta que vem à cabeça é: “Onde está aquele recibo do Pix que fiz no mês passado?” Se você já sentiu essa preocupação ou quer evitar que isso aconteça, é hora de ajustar o controle sobre suas finanças pessoais.
Com as novas regras de fiscalização da Receita Federal, cuidar das suas movimentações financeiras deixou de ser apenas uma boa prática para virar uma necessidade.
No entanto, não há motivo para se preocupar excessivamente. Com algumas estratégias simples de organização, é possível manter tudo em ordem e evitar qualquer desconforto com o Fisco.
Entenda as novas regras
A partir de 2025, a Receita Federal vai monitorar movimentações financeiras acima de R$ 5 mil por mês para pessoas físicas. Isso inclui Pix, TEDs, saques e até pagamentos feitos pelo cartão de crédito. Então, aquele hábito de achar que “transferências menores não contam” ficou no passado. Agora, cada transação entra na soma mensal.
Além disso, os valores serão informados à Receita Federal de maneira semestral, por meio de uma declaração chamada e-Financeira. Por exemplo, as transações feitas entre janeiro e julho de um ano serão enviadas em agosto, enquanto as referentes ao segundo semestre serão repassadas até fevereiro do ano seguinte.
É importante destacar que o contribuinte não precisa fazer nada nesse processo. A responsabilidade pelo envio das informações é das instituições financeiras e de pagamento.
Outro ponto esclarecido pela Receita é que, ao realizar uma transferência de sua conta para um terceiro, seja via Pix, DOC ou TED, a e-Financeira não identifica para quem ou a que título o valor foi enviado. O que ocorre é a soma total de todas as saídas da conta no mês, incluindo saques. Se esse valor ultrapassar R$ 5 mil para uma pessoa física (ou R$ 15 mil para uma pessoa jurídica), a instituição financeira será obrigada a informar à Receita Federal.
Se essa mudança parece desafiadora, saiba que, com um pouco de organização, você pode administrar suas finanças sem grandes dificuldades. Veja como situações comuns podem gerar complicações se não forem bem administradas:
Exemplo 1: CLT com renda extra sem recibos
Ana trabalha com carteira assinada, ganhando R$ 2.800 por mês, e faz bolos sob encomenda como uma renda extra, faturando cerca de R$ 2.300 mensais. O dinheiro dos bolos é transferido por Pix para sua conta pessoal, e somado ao salário, ultrapassa os R$ 5 mil mensais. Como Ana não registra essas transações nem guarda comprovantes, ela corre o risco de ser questionada pela Receita Federal. Para evitar problemas, Ana pode usar uma planilha simples para anotar as vendas e guardar os comprovantes das transferências recebidas.
Exemplo 2: Aluguel dividido entre amigos
João mora em um apartamento alugado com dois amigos. Ele paga o aluguel de R$ 5.000 em sua conta bancária, e os colegas transferem a parte de cada um por Pix. Essas transações podem ser vistas como renda extra pela Receita Federal, já que não há uma explicação formal para os valores. Se João mantiver o contrato de aluguel e os comprovantes das transferências dos colegas, ele poderá justificar facilmente a movimentação.
Para evitar situações como as de Ana e João, seguem 5 dicas práticas que podem fazer toda a diferença:
1. Guarde seus comprovantes de transações
Sempre que fizer um Pix, TED ou qualquer outro pagamento, salve o comprovante. Crie uma pasta digital no celular ou no computador e organize tudo por mês. Isso ajuda caso precise justificar uma movimentação futuramente.
2. Tenha uma planilha financeira
Não precisa ser nada sofisticado. Uma planilha básica, com entradas e saídas, já resolve o problema. O importante é registrar tudo: salário, recebimentos extras, pagamentos e transferências. Assim, você sabe exatamente de onde veio e para onde foi o dinheiro.
Clique aqui e baixe a Planilha de Gastos Pessoais da Rico. É 100% digital e gratuita.
3. Controle os “extras”
Se você tem uma renda fixa, como salário CLT, mas faz “bicos” ou freelas, inclua esses valores no planejamento e, principalmente, na sua declaração do Imposto de Renda. Use o campo “Rendimentos de Outras Fontes” no programa do IR. Isso evita que essas entradas sejam vistas como sonegação fiscal.
4. Evite misturar contas pessoais e profissionais
Para quem é MEI ou empreendedor, é essencial separar as finanças da empresa dos pessoais. Isso não só facilita a organização, como também evita problemas com a Receita caso o faturamento ultrapasse o limite do MEI (atualmente R$ 81 mil anuais).
5. Atenção a empréstimos de cartão ou conta bancária
Emprestar o cartão ou a conta para amigos e familiares pode parecer inocente, mas se os valores ultrapassarem o limite mensal, você pode ser chamado para explicar a movimentação. Se for algo inevitável, guarde contratos e comprovantes que justifiquem os pagamentos ou transferências.
Cuidar das finanças pessoais nunca foi tão importante quanto agora. As novas regras da Receita Federal exigem um olhar mais atento sobre cada real que entra ou sai da conta. Mas, com um pouco de organização e algumas mudanças simples de hábito, dá para evitar qualquer dor de cabeça.
Lembre-se: guardar recibos, manter uma planilha atualizada e declarar todos os seus ganhos são passos básicos para proteger suas finanças e garantir tranquilidade. Afinal, nada melhor do que ter o controle do seu dinheiro e dormir tranquilo sabendo que está tudo em ordem.