(Por Rachel de Sá, analista de macroeconomia da XP Inc.)
Só para manter a tradição, começo esse texto lembrando de (mais) um ditado muito proferido por minha mãe ao longo da vida. No caso, esse era lembrado constantemente em situações em que meus irmãos e eu insistíamos em uma ideia, cujo efeito negativo já era alegadamente conhecido por ela. Nesse momento, passávamos a ouvir essas quatro palavras: “Já vi esse filme”. Com frequência, após uma negativa para ideias brilhantes, como adotar mais um animalzinho de estimação, do qual prometíamos desta vez cuidar sozinhos.
O cenário econômico que se materializa nesse início de ano me lembra da frustração ao ouvir o sonoro ditado, ao trazer a primeira página de um roteiro tão conhecido por nós brasileiros que poderia figurar na Sessão da Tarde: inflação alta, atividade fraca e incertezas fiscais.
Vamos a ele!
No enredo do filme, que detalhamos em nosso relatório mensal, a re-aceleração da pandemia da Covid-19 figura como pano de fundo no Brasil e no mundo. O progresso das vacinações globalmente dá o tom positivo da trilha sonora, com números de hospitalizações e novas infecções caindo em diversos países, e a expectativa de termos vacinado ao menos 30 milhões de brasileiros até julho, cobrindo a população de maior risco, especialmente os idosos.
Já como ator principal temos a atividade econômica. Os sinais de desaceleração devem marcar o primeiro trimestre do ano com queda no PIB de 0,1% no período, em meio à mobilidade ainda não totalmente normalizada, a interrupção do auxílio emergencial (mesmo que este seja retomado esse ano), e a pressão inflacionária, que contribui para reduzir o poder de compra das famílias.
Ah, a inflação! Aquele personagem que aparece no meio do filme, impondo barreiras entre nossa heroína (no caso de nosso enredo, a economia) e o seu objetivo final – no caso, a recuperação pós pandemia. Diante de pressões de curto prazo, especialmente de um câmbio desvalorizado e alta no preço das commodities no mercado global, esperamos que a inflação alcance 3,9% no final deste ano, também impactada por uma provável nova rodada de auxílio emergencial.
É aí que chegamos ao grande vilão da trama, aquele que circunda a tudo e todos no enredo: o risco fiscal. Um cenário fiscal marginalmente melhor do que o esperado em 2020, aliado ao recrudescimento da pandemia no país, aumentou as pressões por uma nova rodada de auxílio emergencial. Com valor e número de beneficiários reduzido (em comparação ao implementado ao longo do ano passado), esperamos que o programa seja feito fora do teto de gastos, mas elevando o resultado primário ao final do ano para um déficit de 3,5% do PIB – levando a dívida a alcançar 90,3% do PIB.
Se implementado sem contrapartidas do lado do ajuste das contas públicas, mesmo que no longo prazo, ou abrindo espaço para outras elevações de despesas extra-teto ou mesmo novos gastos obrigatórios, a aprovação de mais uma rodada de auxílio pode acabar sendo um verdadeiro tiro no pé de nossa protagonista. O aumento das expectativas de uma deterioração fiscal afetaria os preços de ativos ao elevar os prêmios de risco, a confiança de consumidores e negócios, e as expectativas de inflação — prejudicando justamente aqueles a quem se objetiva amparar com o auxílio.
Mas calma, nem tudo está perdido!
Ainda estamos no meio do filme, e há muito o que pode contribuir para que a mocinha do filme se aproxime de seu objetivo final.
O progresso esperado na frente de vacinações, favorecido por uma rede de cobertura vacinal entre as maiores do mundo a despeito de reconhecidos desafios, além do restabelecimento do auxílio emergencial, trazem um viés positivo para o segundo semestre. Já a inflação deve arrefecer no médio prazo, diante da ainda elevada ociosidade da economia – especialmente no mercado de trabalho – da redução dos estímulos monetários e da apreciação esperada para a taxa de câmbio, favorecida por um cenário fortalecido nas contas externas. Enquanto isso, o crédito deverá seguir com papel positivo na retomada, com condições monetárias ainda favoráveis para pessoas físicas e empresas.
Finalmente, do lado fiscal, a implementação de contrapartidas que beneficiem um arcabouço de gestão fiscal de longo prazo pode acabar sendo uma troca positiva ao aumento de gastos limitado ao curto prazo. A criação de gatilhos para o corte de gastos em eventuais novas situações de calamidade, por exemplo, reforçaria a previsibilidade e transparência no longo prazo. Ora, um belo trade off de nossa protagonista frente a seus obstáculos.
Em suma, o enredo dos primeiros meses deste ano assemelha-se aos longas-metragens vivenciados pela família Sá, seus pets, e uma mãe certa de já conhecer o final de filmes repetidos. Porém, diferente daqueles, o fim deste ainda não conhecemos. Aguardamos ansiosamente pelas cenas dos próximos takes.
Elaborado por:
Betina Roxo, CNPI 1493
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