- A Vale é uma das principais empresas da bolsa brasileira e também foi a queridinha do mercado por muitos meses. Mas algo tem feito a ação cair no número de recomendações dos analistas.
- Conversamos com gestores e analisas do mercado para saber: Ainda vale investir na VALE3?
- Entenda nesse texto: o que a vale faz, motivos para não comprar a Vale, e motivos para compra-la
Um dos nossos relatórios aqui na Rico é o “Estrelas da Bolsa”. Essa cesta de ações mostra quais são as empresas queridinhas do mercado, segundo quem entende bem do assunto: analistas e gestores.
Por algum tempo, a mineradora Vale esteve no topo desse seleto grupo de empresas. Mas, recentemente, vem caindo em um dos nossos indicadores, que é a quantidade de analistas que recomendam a compra da ação.
VALE3 ainda vale a pena?
Por esse motivo, nas últimas semanas conversei com analistas e gestores do mercado financeiro para ouvir diferentes opiniões sobre essa gigante do mercado brasileiro.
Afinal, segundo nossa Estrategista-chefe, Betina Roxo, que foi analista de ações (inclusive de Vale) por muitos anos: “uma boa análise é como uma balança de equilíbrio, que te ajuda a entender o que pesa mais: os pontos positivos ou negativos. E um bom investimento é aquele que você constrói a sua própria tese.”
Vamos lá então? Vamos explicar:
- O que é a Vale e o que ela faz?
- Motivos para não comprar a Vale
- Motivos para comprar a Vale
O que é a Vale e o que ela faz?
A Vale é uma das maiores mineradoras do mundo, sendo uma das maiores produtoras de minério de ferro, níquel e cobre.
O minério de ferro é a matéria-prima essencial para a produção de aço, usado principalmente na indústria automotiva e na construção civil. Parafraseando um dos gestores que conversei, “o minério de ferro só serve para fazer aço; mas o aço serve para fazer tudo”.
O níquel, além de também ser usado na siderurgia para a produção do aço inoxidável, é um importante componente no processo de produção de baterias para veículos elétricos e outros usos. O cobre também pega carona nessa onda de eletrificação, por ser um dos melhores condutores de eletricidade. A onda de energia verde, com a substituição do uso de combustíveis fósseis, deverá aumentar a demanda por ambos os metais nas próximas décadas.
Feita a apresentação dos metais, vamos a empresa. O modelo de negócio da Vale pode ser dividido em 4 operações:
- Encontrar depósitos minerais
- Retirar o minério do depósito
- Tratar o minério extraído
- Transportar o minério para o seu cliente
Para investir em Vale é importante também entender a fase do ciclo de crescimento que ela se encontra. Hoje, a empresa está muito mais focada em reduzir a dívida, pagar as reparações por conta de Brumadinho e remunerar melhor os acionistas, através de recompra de ações e dividendos. Nem sempre foi assim. No auge de preços das commodities em 2006 e 2007, a empresa embarcou em um ciclo de investimentos muito fortes, que só acabou entre 2016 e 2017.
É pouco provável então que o foco da empresa mude nos próximos anos. Ou seja, hoje a empresa gasta mais esforço em retirar o minério (2) e fazer o transporte para a China (3) do que investindo em encontrar novos depósitos minerais (1).
E como ela ganha dinheiro?
Compreendido o modelo de negócio e qual o estágio atual da empresa, você só precisa entender o que “mexe o ponteiro” dos números da Vale. Hoje, quase 90% da operação depende do minério de ferro.
E quem é o grande consumidor hoje é a China. O país asiático consome atualmente mais da metade de todo aço produzido no mundo e, por isso, o desempenho das ações da Vale tem uma relação direta com a economia chinesa.
Além da grande dependência da China, que é sua principal compradora, a Vale depende muito do preço do minério no mercado, que pode impactar seus resultados, mesmo o seu minério sendo o de mais alta qualidade (e por isso com um preço superior ao minério “médio”).
Assim, podemos resumir um cenário positivo para Vale como: uma economia chinesa que demande aço para construção e produção industrial; e o preço do minério de ferro elevado. Entre o ano passado e boa parte desse ano, essas duas premissas estavam muito bem apresentadas, e isso se refletiu na cotação da ação:
Então, quais os motivos para não comprar Vale?
Olhando as recomendações dos analistas do mercado, 64% recomendam compra e 36% recomendam venda. Mas o que norteia a tese desses 36%?
Meu amigo João Lorenzi, analista da Encore, não está construtivo com o papel, e acredita não fazer sentido o investimento nos próximos meses. João conta que desinvestiu da vale quando a ação chegou na casa dos R$ 110,00 por acreditar principalmente na queda do preço do minério de ferro (que caiu pela metade).
“O governo chinês estava seguindo em frente com as ordens de cortar produção de aço no país substancialmente e a produção de aço, ou seja, a demanda de minério, do resto do mundo não tinha muito mais espaço para crescer porque os níveis de produção já estavam normalizados, versus 2019.”
“Além do macro relacionado à China e ao preço do minério, o retorno que poderíamos ter em VALE viria do micro da empresa:
(1) melhora operacional (principalmente custos e realização de preços);
(2) crescimento de volume e;
(3) pagamento de bons dividendos – quem não gosta né?!”
“Sobre os pontos (1) e (2) acima, não estávamos convencidos de melhoras operacionais nem de volume. Na verdade, acreditamos numa piora versos as expectativas anteriores, que se materializaram já no resultado do 3T21”, ele me disse.
A Vale tem reduzido a expectativa do volume de produção de minério ano a ano no “Vale Day”, onde a empresa aponta suas diretrizes para os anos seguintes. Como mostram os analistas da XP neste relatório, tanto os custos operacionais aumentaram quanto o volume e sua expectativa reduziram.
“Numa empresa em que o micro não está indo bem, só nos resta o macro (preço de minério) para nos ajudar a ficarmos construtivos. Porém, não estamos otimistas com o preço do minério pelos próximos meses do jeito que as coisas vão.”
Segundo João, a redução no consumo de aço com o planejamento do governo chinês para as Olimpíadas no país, a redução do consumo interno de aço da China e a própria sazonalidade de fim de ano são motivos que o fazem acreditar que o preço do minério de ferro não deverá subir nos próximos meses.
“Agora, é bem importante destacar: claro que nosso ponto de vista está sendo mais sequencial e a Vale já está chegando num ponto de preço da ação em dólar que pode ser interessante revisitar o case”. Lembrando que a ação VALE3 deve ser observada em dólares, por conta do perfil exportador da empresa.
Fora isso, a Vale pode fazer sentido para você se você gosta de dividendos mais no longo prazo; ou consegue esperar um prazo mais longo porque acha que o minério está barato (não vemos isso claramente). Por enquanto, estamos negativos e cautelosos.”
E quais seriam os motivos para investir em Vale?
Conversando com outros analistas, incluindo o time especialista da XP, que têm compra para o papel, percebemos que podemos resumir em 3 motivos. Primeiro, a operação da Vale ainda é sustentável com o atual preço do minério. Apesar do resultado ruim desse trimestre (3T2021), alguns analistas apontam que, com o atual preço do minério, a empresa consegue ser uma grande geradora de caixa. Ou seja. a Vale é capaz de gerar dividendos aos investidores e ainda pode ter uma performance positiva no preço ao longo dos anos.
O segundo motivo seria o desconto atual dos múltiplos da Vale em relação aos seus concorrentes (Australianos principalmente.)
Multiplos?
Os múltiplos, como os mais famosos EV/EBITDA e Preço/Lucro, funcionam como o preço/m² de um imóvel. Se alguém fala para você “esse apartamento custa 1 milhão de reais”, como você sabe se está barato ou caro? Você olha o preço/m². E compara com o que? Com apartamentos comparáveis, que estão na mesma região, têm a mesma idade, ou até mesmo com o próprio valor do m² histórico daquele imóvel (apesar de ter que tomar cuidado com a conclusão já que, com o passar dos anos, mudanças na região que levem a valorização do imóvel podem alterar o patamar desse múltiplo).
Essa é a mesma lógica com o Preço/Lucro (que mostra quanto do lucro que a empresa deve gerar no ano em questão está refletido no preço da ação), EV/Ebitda (quanto do resultado operacional que a empresa deve gerar no ano em questão está refletido no valor da empresa) ou Preço/Patrimônio Líquido (quanto do valor contábil da empresa — calculado como valor de ativos menos valor de passivos no balanço — esperado para a empresa no ano está refletido no preço da ação).
Ou seja, quanto menor, melhor: se o múltiplo da empresa está abaixo do múltiplo do setor ou abaixo do seu valor histórico para aquela companhia, a ação está em um valor atrativo. Pela diferença na natureza de negócios de cada setor, indicamos olhar o EV/EBITDA para empresas de commodities ou exportadoras, já que essa métrica incorpora alguns números importantes para esse tipo de atividade, como endividamento e caixa da companhia.
Vemos as ações da Vale sendo negociadas a 2,9x EV / EBITDA 2022 (valor da empresa sobre Ebitda estimado para 2022), em comparação com seus pares globais a 3,5x, em média. O EV/EBITDA histórico dos últimos 5 anos é de 4,0x. Alguns fatores pesam no preço da ação fazendo com que investidores associem mais risco ao investimento na Vale do que em outras empresas.
Entre eles está o tema ESG (uma avaliação da consciência coletiva de uma empresa em relação aos fatores sociais e ambientais). Desde o acidente em Brumadinho a empresa tem assumido uma postura mais focada no tema.
A Vale tem o minério mais “verde” do mercado (menos poluente em relação aos seus pares e com menor custo de extração) e ainda tem potencial de melhora no tema ESG para se aproximar dos múltiplos de seus concorrentes hoje. Na divulgação de resultados do último trimestre a empresa inclusive apresentou mais detalhes sobre como irá se desfazer dos ativos de carvão, reafirmando essa postura mais focada no ESG.
Por que isso é importante?
Além da importância social e ambiental óbvia de uma empresa desse tamanho se preocupar com o tema, grandes investidores utilizam o ESG como um check list para seus investimentos. Ou seja, ter uma boa nota no ESG pode atrair grandes fluxos de dinheiro, aumentando a demanda por sua ação pela diminuição do risco percebido na companhia com melhores avaliações ESG.
O terceiro motivo é um possível cenário de melhora no cenário macroeconômico. Com uma possível demanda mais forte da China pelo minério, o impacto na Vale seria muito positivo por sua relação comercial com o país. Talvez essa demanda não cresça nos próximos meses, mas no atual “Risco vs Retorno” da empresa, ainda faz sentido, para parte dos gestores que eu conversei, manter a Vale na carteira.
Por fim, as empresas ligadas a commodities (matérias primas) são também uma forma de se proteger da inflação, tema que preocupa investidores em todo o mundo com os efeitos da Covid-19 na economia. Vale pode ser também uma posição mais defensiva a esse cenário de alta de preços.
Como mencionei no começo do texto, Vale está hoje na nossa carteira remendada Rico3 (novembro) com 10% da posição recomendada, levemente abaixo dos 12% que Vale representa na carteira teórica do IBOV.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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