Ibovespa na contramão
Nesse último #sextou de agosto, mercados amanhecem mistos, com o EuroStoxx caindo 0,3% e futuro do S&P subindo 0,1%. A preocupação fiscal no Brasil levou o Ibovespa a ficar na contramão dos mercados internacionais nessa semana, acumulando queda de 0,86% até ontem, enquanto S&P 500 e Euro Stoxx subiram mais de 2%.
Inclusive, ontem o S&P 500 atingiu a máxima histórica pelo 5º pregão consecutivo, depois de Jerome Powell, presidente do Banco Central americano (Fed), confirmar política mais acomodativa de juros baixos por mais tempo, mesmo havendo retomada da inflação.
Essa mudança deu aos investidores luz verde para vender títulos longos, que são mais sensíveis à inflação, com a maior inclinação da curva de rendimento dos EUA em dois meses.
No Japão (-1,4%), Shinzo Abe anunciou que renunciará ao cargo de primeiro ministro por questões de saúde tão logo seu partido escolha um substituto.
No Brasil, as expectativas seguem fortes em relação à decisão do governo sobre a prorrogação do auxílio emergencial e aos sinais sobre o desenho para o Renda Brasil.
Mesmo fora do Ministério da Economia fala-se em um valor menor que os R$ 300 cogitado pelo presidente para o novo programa, que atingiria um número menor de famílias. Jair Bolsonaro, no entanto, deu sinais contrários à ideia do Renda Brasil mais enxuto.
Paulo Guedes se concentra em encontrar espaço na desvinculação, desindexação e desobrigação do Orçamento para o programa. Uma ideia ventilada no noticiário é a extensão do auxílio emergencial para 2021 – proposta que não encontra respaldo nas regras fiscais atuais.
Sem definição, a conversa prevista para hoje entre Guedes e Bolsonaro pode bater o martelo apenas sobre a prorrogação do auxílio.
Insight Rico: “Acabou” para o crédito privado?
(por Paula Zogbi)
Com defasagem em relação à bolsa, o ambiente de investimentos em dívida em empresas privadas apresentou, a partir de abril desse ano, distorções significativas na média dos preços e taxas dos ativos, mostrando oportunidades muito claras de investimentos.
Mas em agosto, 5 longos meses depois dos primeiros impactos da covid-19 nos mercados, os preços voltaram a patamares pré-crise, o que também indica que boa parte das empresas voltaram a pagar os prêmios considerados compatíveis com seus níveis de risco – e não mais aqueles juros esticados que vínhamos observando até então.
Em outras palavras, você provavelmente escutou muitas vezes ao longo dessa crise que emissores de qualidade excepcional estavam pagando prêmios parecidos com as empresas mais arriscadas no mercado de crédito. Em linguagem clara: era pechincha para todo lado. Mas a coisa mudou.
A coisa mudou
O gráfico abaixo, do Idex, índice criado pela gestora JGP que acompanha as debêntures mais negociadas do mercado, ilustra o que eu quero dizer. Em abril, os preços dos títulos caem vertiginosamente, que é o que acontece quando os spreads sobem muito. Mas voltam à normalidade e superam o CDI em agosto.
Na próxima imagem, podemos ver que as empresas voltaram a emitir debêntures com prazos mais longos, o que sinaliza maior disposição do investidor a correr o risco de emprestar seu dinheiro por mais tempo (e diminui o risco para a própria empresa).
Com tudo isso, talvez você se pergunte: será que acabaram as oportunidades para os investidores no crédito privado?
Acabaram as oportunidades no crédito privado?
A resposta é não, mas volta a ser necessário avaliar melhor os setores e emissores, porque as oportunidades já não são tão óbvias. Basicamente, estamos voltando ao normal nessa frente com algum atraso em relação à bolsa, cujos preços já retomaram há algum tempo para boa parte dos setores.
O mesmo Idex, da JGP, mostra que os spreads (prêmios pagos pelas emissoras sobre o CDI para oferecer seus títulos de dívida) já caíram consideravelmente em relação ao pico de 5%, mas ainda estão relativamente altos, perto de 2,5%. Ou seja, dá para ganhar dinheiro sim.
A diferença, agora, é que, para encontrar prêmios melhores, considerando que o cenário é menos incerto, volta a ser indicado tomar mais risco – encontrado em ativos com prazos mais longos -, mas sempre com muita atenção ao risco do emissor e ao seu perfil.
Risco baixo
Na nossa visão, neste momento transmissoras de energia elétrica, empresas de saneamento e ferrovias são emissoras de risco baixo. Se você tiver um perfil um pouco mais conservador, mas que já aceita partir para o crédito privado, pode encontrar boas oportunidades em títulos emitidos por essas companhias.
Risco moderado
Para os moderados, vemos risco médio entre geradoras e distribuidoras de energia, empresas de concessão de rodovias, operadores portuários, frigoríficos, propriedades comerciais e incorporadoras imobiliárias.
Riscos maiores
Já os maiores riscos de crédito se encontram nas empresas de açúcar e etanol – o que também pode significar prêmios mais interessantes, claro.
Em tempo: na hora de escolher, lembre-se sempre do fator Imposto de Renda: debêntures incentivadas (como as de infraestrutura), além de CRIs e CRAs, são investimentos isentos da cobrança de IR, e essa rentabilidade “limpa” pode ser um fator de desempate na dúvida entre dois papéis.
A regra de bolso para comparar papéis com e sem cobrança de IR é:
(% CDI) x (1 – alíquota em decimais) = equivalente para títulos sem cobrança
Um exemplo de como o IR interfere na rentabilidade ao longo do tempo:
CDB 105% CDI LCI 85% CDI
Até 180 dias (IR = 22,5%) | 81,4% | 85% |
De 181 a 360 dias (IR = 20%) | 84% | 85% |
De 361 a 720 dias (IR = 17,5%) | 86,6% | 85% |
Acima de 720 dias (IR = 15%) | 89,3% | 85% |
Agenda da Semana |
Sexta-feira, 28 06h00: Europa – Confiança na economia, industrial, serviços e consumidor 08h00: Brasil – IGPM 09h00: Brasil – Pnad (desemprego nacional) 09h30: Brasil -Nota de crédito do BC 09h30: EUA – estoque de varejo (a.m.) 11h00: EUA – confiança do consumidorBrasil – resultado primário do governo central |