Inflação em queda permite a Selic menor

Depois de um longo período de taxa Selic bastante alta, o Banco Central iniciou em agosto de 2023 um processo de redução da nossa taxa básica de juros – implementando o início de um novo ciclo do que chamamos de afrouxamento monetário.

Como contamos aqui em detalhes, o objetivo principal da gestão da Selic por parte do Banco Central é manter a inflação sob controle. De maneira simplificada, o Banco Central eleva a taxa quando a inflação está acima do desejado, e reduz a taxa quando os preços estão subindo mais lentamente do que o desejado.

Assim, conforme a inflação foi gradualmente caindo ao longo dos últimos meses, com o enfraquecimento de fatores que pressionavam os preços como os desequilíbrios causados pela pandemia da Covid-19, a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia e a disparada nos preços de energia no mundo, o Banco Central pôde começar a reduzir a taxa básica de juros por aqui.

Vale destacar que a própria manutenção dos juros altos por um longo período foi essencial para que a inflação caísse para níveis “mais comportados” ao longo de 2023. Como podemos ver no gráfico abaixo, a inflação medida pelo nosso principal indicador de preços ao consumidor (o IPCA) caiu de 12,1% em abril de 2022 para 4,5% em fevereiro de 2024.

Ou seja, a queda da inflação permitiu que o Banco Central passasse a reduzir o freio que os juros altos exercem sobre a economia.

Nesse cenário, vimos a Selic cair de 13,75% ao ano em agosto de 2023 para 10,50% em em maio de 2024, patamar na qual ela deve permanecer por certo tempo.

Juros mais baixos são bons para a economia, para os investimentos e para você

Nesse cenário de Selic em queda, a seguinte pergunta se torna cada vez mais frequente: a queda da Selic é positiva?

A resposta curta para essa pergunta é: sim, a queda da Selic é uma boa notícia. Para a economia, para os investimentos e para a vida de pessoas como você e eu.

Já a resposta longa é mais bem compreendida se dividida em algumas partes, que abordaremos abaixo.

A queda da Selic e a economia

Como falamos acima, a elevação da taxa básica de juros tem o objetivo principal de controlar a alta de preços na economia. Ou seja, o Banco Central tende a elevar a taxa Selic quando a inflação está acima do desejado.

Os juros mais altos controlam a alta de preços por uma série de formas, que chamamos em economia de “canais de transmissão da política monetária”. De maneira simplificada, podemos agrupar em três alguns dos principais canais de transmissão pelos quais os juros atuam sobre os preços:

Crédito e juros

Quando a taxa Selic sobe, todas as outras taxas de juros da economia também sobem, proporcionalmente. Assim, o crédito fica mais caro, desincentivando o consumo (especialmente aqueles que exigem maior financiamento, como carros e eletrodomésticos) e o investimento em capital produtivo – por exemplo, a compra de máquinas para a produção de bens industriais.

Na mesma linha, com dinheiro mais caro e escasso, bancos tendem a emprestar menos para empresas, por exemplo, contribuindo para desaquecer a economia.

queda taxa selic

Taxa de câmbio

O valor da nossa moeda em relação a outras (ou seja, a taxa de câmbio) impacta bastante a inflação. Isso porque boa parte dos produtos que consumimos são ou importados ou incluem partes que foram importadas em seu processo de produção – ou negociadas em dólar, como alimentos e petróleo. Assim, quanto mais desvalorizado o real, maior a pressão sobre a inflação (mais reais necessários para comprar um produto importado).

E quanto maiores os juros, mais valorizada tende a ser a taxa de câmbio. Afinal (de maneira simplificada), investidores em busca de retornos são atraídos por uma taxa de juros alta, valorizando nossa moeda.

Expectativas

Pouca gente sabe, mas as expectativas de inflação também são muito importantes para o controle da inflação em si.

A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo? Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).

Por isso, quando o Banco Central eleva os juros, ele ajuda a controlar as expectativas de inflação no futuro – ajudando no controle dos preços em si. 

Com os juros mais altos atuando por meio desses canais de transmissão, a economia desaquece, reduzindo a demanda por bens e serviços – e, consequente, a pressão sobre os preços. O inverso também é verdadeiro: conforme os juros caem, o freio sobre a economia é reduzido, e ela tende a reaquecer – incentivando investimentos produtivos, produção e consumo, contribuindo para o crescimento. 

Assim, podemos ver como a queda dos juros tende a ser positiva para a economia, se implementada de maneira sustentável, ou seja, sem perder o controle da inflação.

A queda da Selic e os investimentos

No mundo dos investimentos, processos de queda da taxa básica de juros também tendem a ser vistos com bons olhos – especialmente para a bolsa e outras classes de ativos consideradas de maior risco.

Ou seja, juros em queda tendem a abrir espaço para maior risco nas carteiras de investimento (tudo o mais constante).

Essa visão positiva tem algumas explicações, das quais podemos destacar:

Crescimento econômico

Como falamos, a queda da taxa básica de juros (quando feita de maneira sustentada) tende a aquecer a economia gradual e proporcionalmente — ou seja, dependerá da magnitude da queda dos juros. Com a economia crescendo mais, as empresas tendem a ter melhores resultados, com melhores expectativas de lucros, favorecendo o potencial preços das suas ações negociadas em bolsa.


Custo de oportunidade entre renda fixa e renda variável

Maiores juros tendem a atrair capital para investimentos em renda fixa, por esses serem atrelados ao movimento dos juros — tanto de curto prazo (taxa Selic), quanto de prazo mais longo (também altamente influenciados pela taxa Selic).

Por isso, quanto mais alta a taxa de juros, menor tende a ser o prêmio de risco de ações e outros investimentos mais arriscados — ou seja, fica menos interessante correr mais risco em troca de retornos mais altos investindo em renda variável se a renda fixa está pagando rendimentos tão altos quanto, e geralmente de forma menos arriscada ou menos imprevisível.

Assim, quando a taxa Selic começa a ser reduzida, investir em renda variável vai se tornando mais atrativo ou até necessário (para quem tem o perfil de investidor adequado, claro) — agora, com o retorno da renda fixa ficando menos atrativo, pode valer a pena se arriscar mais para manter o nível de retorno ou até mesmo em busca de ganhos maiores. Assim, o custo de oportunidade (a diferença entre o quanto você ganha de rendimentos no investimento que escolheu e o quanto ganharia nos que dispensou) por ficar de fora da renda variável aumenta já que, em troca de risco reduzido, o investidor opta por aceitar retornos menores caso fique concentrado nas taxas em queda da renda fixa.

Preço justo das ações

Como contamos nesse texto em detalhes, um outro fator importante que relaciona a queda dos juros com investimentos em bolsa é o impacto no preço justo das ações. De maneira simplificada, juros menores tendem a reduzir o custo de dívida das empresas, dando a elas mais espaço para custear seu crescimento gastando menos. Com isso, o preço projetado por analistas para as ações no futuro — o valor justo dos papéis baseado na expectativa de crescimento do negócio — sobe, melhorando as perspectivas e valorizando as ações.

O gráfico abaixo ilustra essa dinâmica de queda da taxa Selic e desempenho positivo das ações no Brasil. Como podemos ver, historicamente, períodos de juros em baixa tendem a ser acompanhados de altas no Ibovespa.

É claro que não podemos esquecer que há diversos outros fatores em questão quando falamos de performance da bolsa – e todos eles devem ser considerados pelo investidor. Contamos tudo sobre o que esperar para a bolsa brasileira em 2024 aqui.

Queda da selic e alta no ibovespa

A Selic caiu, a renda fixa morreu?

Como falamos acima, a redução da taxa Selic tende a reduzir a atratividade da renda fixa, especialmente quando falamos de títulos pós fixados – ou seja, que seguem os movimentos da taxa Selic.

Porém, da mesma maneira que investimentos em ações e outros ativos de renda variável ainda possuíam papel importante em uma carteira de investimentos no período em que vimos a Selic elevada, a renda fixa segue exercendo importante papel nos investimentos no período atual, de queda da Selic.

Primeiro, vale destacar o papel da renda fixa para sua reserva de emergência. Te contamos nesse texto como, independentemente do patamar da taxa Selic, o montante que compõe a sua reserva de emergência deve seguir investido em títulos pós fixados. Afinal, esse investimento precisa ser: líquido, seguro e o menos volátil possível.

Segundo, não somente de pós fixados é composta a classe de renda fixa e a inflação segue no radar como risco – no Brasil e no mundo. Além dos títulos que seguem os movimentos da taxa Selic, a classe de renda fixa também é composta por investimentos que te protegem da inflação: são os famosos “IPCA+”. Eles seguirão a variação da inflação no país até o vencimento, adicionados a uma taxa prefixada. Assim, como a inflação segue no radar como um risco para os próximos anos, segue essencial proteger seu dinheiro contra a alta de preços.

Terceiro, não vemos a taxa Selic caindo além do patamar neutro – ou seja, aquele que não aquece nem desaquece a economia. Como falamos, projetamos que a taxa Selic permaneça em 10,5% ao ano até ao menos 2025. Assim, não vemos o Banco Central reduzindo-a além desse patamar tão cedo, por conta de riscos tanto domésticos quanto externos que façam a inflação retomar força. Por isso, investimentos em renda fixa devem seguir entregando uma rentabilidade relativamente atrativa, mesmo após o fim desse ciclo de quedas da Selic.

Conclusão

Como vimos, a Selic está caindo, e esse movimento tende a ser positivo para a economia, para os investimentos e para a sua vida, de maneira geral.

Vale destacar, no entanto, que essa queda deve ser sustentável para que traga os efeitos gradualmente positivos que detalhamos. Ou seja, caso a taxa Selic seja reduzida além do suficiente para manter os preços sob controle, a inflação pode voltar a assombrar a nossa vida e nossos investimentos.

Assim, a temática de juros deve seguir no centro das atenções dos investidores e do dia a dia dos brasileiros.

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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