A arrecadação federal voltou a surpreender positivamente, ao registrar R$ 170,3 bilhões em julho, bastante acima do consenso de mercado (cerca de R$ 10 bilhões), e representando o melhor resultado mensal da série histórica (a partir de 1995).

A inflação pressionada continua a responder por boa parte da performance positiva, especialmente considerando a contínua alta de preços ao produtor. Uma proxy do índice de inflação utilizado pela Receita Federal (índice de inflação ponderada) indica inflação em 21,53% no acumulado de doze meses até julho (enquanto o IPCA acumula 8,99% no período). Ou seja, a arrecadação segue impulsionada pelos altos preços.

Mas a volta da atividade econômica não deve ser negligenciada como motor de bons números de arrecadação no ano. De fato, tanto os impostos relacionados a atividade empresarial (como CSLL e PIS/Cofins) quanto receitas previdenciárias registraram forte crescimento real em relação ao ano passado, impulsionados pela recuperação do emprego formal (em linha com o resultado do Caged) e pela produção industrial ainda sólida. Em outras palavras, também estamos arrecadando mais por estarmos produzindo mais (bens e serviços).

O desempenho positivo no curto prazo, porém, pode trazer mais riscos do que benefícios. Isso porque ele pode acabar sendo usado como argumento na atual discussão sobre aumento de gastos no ano que vem – e de maneira permanente após isso.

Afinal, já sabemos o que acontece quando contamos com os ovos quando ainda dentro da galinha: gastos sobem mais do que a arrecadação pode segurar, piorando a situação (e a percepção de risco) fiscal. E com ela, os ativos brasileiros.  

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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