Por: Bruna Sene e Antônio Sanches

No dia 9 de julho de 2025, fomos surpreendidos por uma notícia de grande relevância: os Estados Unidos anunciaram a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, com vigência prevista a partir de 1º de agosto.

Diante desse cenário, quais são os possíveis impactos para a economia brasileira e para as ações negociadas na B3? A seguir, detalhamos nossa análise.

Qual o impacto para nossa economia?

Sem dúvidas, a relação com os Estados Unidos tem grande relevância para o Brasil. O país é o segundo maior parceiro comercial brasileiro — tanto em exportações quanto em importações — com um fluxo total superior a 80 bilhões de dólares em 2024.

Por outro lado, o Brasil ainda possui uma economia relativamente fechada. Ao analisarmos a relevância das exportações para o produto interno bruto (PIB), observamos que apenas 18% do nosso PIB é composto por exportações. Dessa porção, 12% têm como destino os Estados Unidos (ou seja, o país representa cerca de 2% da nossa economia).

Na tabela a seguir, destacamos os 10 principais produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos em 2024, sendo que cerca de 60% são produtos básicos.

Produto Percentual do total
Petróleo, produtos petrolíferos e materiais relacionados 18,85%
Ferro e aço 14,73%
Outro material de transporte 6,85%
Café, chá, cacau, especiarias e respectivos produtos 5,48%
Máquinas e aparelhos especializados para determinadas indústrias 4,34%
Celulose e resíduos de papel 4,18%
Carne e preparações de carne 3,50%
Vegetais e frutas 3,47%
Máquinas e equipamentos de geração de energia 3,29%
Minerais não metálicos 2,48%
Fontes: Fonte: MDIC, XP Research, Rico

Dessa forma, mesmo com o aumento das tarifas, o impacto macroeconômico para o Brasil tende a ser limitado. Produtos básicos, como commodities, podem eventualmente ser redirecionados para outros mercados, o que ajudaria a mitigar os efeitos negativos.

Considerando um cenário extremo — em que as exportações mais vulneráveis sejam totalmente interrompidas — nossas estimativas preliminares indicam uma possível redução de 0,3 a 0,5 ponto percentual no PIB projetado para 2025.

2024 2025 (Projeção sem aumento de tarifas)
Crescimento do PIB (var. real %) 3,4 2,5
Taxa de desemprego (% dessazonalizado, fim de período 6,5 6,5
IPCA (var. 12m %) 7,8 5,0
Selic (%) 12,25 15,00
Fontes: IBGE, BCB, BBG, XP Research e Rico

É importante destacar que o cenário ainda é cercado de incertezas, especialmente diante da possibilidade de retaliação tarifária por parte do Brasil.

Do lado das importações, 90% do que compramos dos EUA são bens industriais (manufaturados ou semimanufaturados). Assim, a efetivação das tarifas retaliatórias pode afetar cadeias produtivas e pressionar a inflação, embora esse impacto seja mais difícil de quantificar.

Em resumo: com a tarifa de 50%, esperamos para este ano um leve recuo no PIB, uma pressão adicional sobre a inflação e um aumento nas incertezas do mercado.

Qual o impacto no mercado de ações?

Para o mercado acionário, o anúncio naturalmente adiciona volatilidade. No entanto, algumas empresas estão mais expostas, como Embraer, Suzano e Tupy. A tabela a seguir mostra a estimativa da parcela da receita proveniente de exportações para os Estados Unidos em algumas companhias listadas na B3:

Ticker Companhia Setor Projeção % da Receita Proveniente de Exportações para os EUA
EMBR3 Embraer Bens de Capital 23,80%
SUZB3 Suzano Papel & Celulose 16,60%
TUPY3 Tupy Bens de Capital 13,90%
JALL3 Jalles Machado Agro 11,00%
FRAS3 Frasle Mobility Bens de Capital 10,80%
WEGE3 Weg Bens de Capital 9,10%
BEEF3 Minerva Alimentos & Bebidas 8% – 15%
RAPT4 Randoncorp Bens de Capital 6,40%
CSAN3 Cosan Óleo, Gás & Petroquímicos 6,00%
MYPK3 Iochpe-Maxion Bens de Capital 5,40%
ALPA4 Alpargatas Varejo 4,00%
CSNA3 CSN Mineração & Siderurgia 4,00%
PETR4 Petrobras Óleo, Gás & Petroquímicos 4,00%
UNIP6 Unipar Óleo, Gás & Petroquímicos 4,00%
CBAV3 CBA Mineração & Siderurgia 3,20%
AZZA Azzas2154 Varejo 3,00%
VALE Vale Mineração & Siderurgia 2,80%
USIM5 Usiminas Mineração & Siderurgia 2,20%
KLBN11 Klabin Papel & Celulose 1,80%
BRKM5 Braskem Óleo, Gás e Petroquímicos <1%
Fonte: XP Research

Mesmo entre as empresas mais expostas, há estratégias de mitigação possíveis — como redirecionamento de vendas, ajustes de preços e até ganhos com a variação cambial, caso o real se deprecie.

Por outro lado, empresas como Braskem e JBS podem até se beneficiar, seja por ganhos de mercado, seja por melhora nos preços em determinadas cadeias produtivas. Ainda assim, os impactos mais expressivos são difíceis de quantificar neste momento.

De forma mais ampla, setores como o agronegócio e empresas com receita dolarizada — que exportam majoritariamente para outros países ou têm foco no mercado doméstico — podem ganhar protagonismo.

Além disso, vale lembrar que, em episódios recentes — como o “Liberation Day” de abril — anúncios semelhantes acabaram sendo revertidos ou renegociados. Ou seja, ainda há espaço para uma saída diplomática.

Como se posicionar?

O investidor deve acompanhar de perto os desdobramentos, especialmente uma eventual resposta do Brasil, que pode incluir retaliações ou acordos bilaterais. Mas, em meio ao ruído, também surgem oportunidades.

O ideal neste momento é manter a racionalidade, filtrar os exageros e buscar posicionamentos estratégicos. Para o pregão “pós-notícia”, a recomendação é de cautela, sem pânico. Volatilidade pode ser sinônimo de oportunidade para quem estiver preparado.

A melhor estratégia continua sendo manter um portfólio diversificado e equilibrado, preparado para atravessar diferentes cenários.

Quer saber quais as nossas recomendações sobre ‘Onde Investir?’ Acesse nosso relatório completo.

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 6928

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