A inflação medida pelo IPCA, nosso principal indicador de preços ao consumidor, registrou queda de 0,02% em agosto de 2024. O resultado mensal levou a métrica acumulada em dozes meses para 4,24% em agosto, desacelerando em relação aos 4,50% registrados em julho.
Vale destacar que a inflação corrente (ou seja, o ritmo da alta de preços hoje) segue dentro do limite de tolerância da meta de inflação de 3,0% perseguida pelo Banco Central – porém, bastante próximo do “teto” de 4,50% (no caso, o limite superior da meta).
Meta de inflação: o que é?
O regime de metas de inflação é parte do que chamamos de política monetária – a política responsável pelo controle da quantidade de moeda em determinada economia, que fica sob a responsabilidade do Banco Central.
Esse regime determina uma meta de inflação explícita e numérica (% ao ano), a ser perseguida pelo Banco Central. No caso brasileiro, a meta de inflação atual é de 3,0%. Isso significa que o Banco Central tem a responsabilidade de controlar a alta de preços de maneira contínua, de modo que ela se mantenha no ritmo de 3,00%.
O modelo brasileiro também inclui uma banda de tolerância de 1,50 pontos percentuais para cima e para baixo. Essa “banda” serve para acomodar eventuais choques, como por exemplo uma seca que afete a produção de alimentos e eleve a inflação além do controle do Banco Central, ou uma pandemia que derrube os preços.
Alimentos e energia lideram queda de preços, mas tendência deve se reverter em setembro
O resultado de agosto veio um pouco abaixo das expectativas, com a principal surpresa (para baixo) vindo de bens industriais. O preço de produtos industrializados, como roupas e eletrodomésticos, vem apresentando tendência de alta nos últimos meses, refletindo especialmente a depreciação recente da nossa moeda e a robustez da economia (que alimenta a demanda por bens e serviços). A inflação menor do que o projetado para a categoria em agosto, entretanto, veio principalmente de produtos de higiene – cujos preços costumam apresentar volatilidade acima da média.
Vale destacar que uma série de produtos consumidos e utilizados em nossa produção doméstica (como insumos industriais) são negociados em dólares e/ou importados de outros países. Deste modo, a desvalorização do real tem impacto importante no comportamento dos preços domésticos – em economia, chamamos esse efeito de pass-through.
Olhando para a variação mensal, a queda de preços no período é explicada principalmente pela deflação de alimentos e energia elétrica – cujo movimento contribuiu para a desaceleração da métrica do IPCA acumulado em doze meses, de 4,50% para 4,24%.
Para ilustrar, a categoria “alimentação no domicílio” registrou queda de 0,73% em agosto, com destaque para deflação de mais de 15% no período registrada nos preços de “tubérculos, raízes e legumes”, como batata, cebola e cenoura. A dinâmica reflete certa normalização dos preços após forte alta observada no segundo trimestre do ano, mas deve se reverter em breve – com impacto das secas em queimadas em diferentes regiões do país na produção de alimentos.
Já olhando para os preços de energia, a queda observada no mês é explicada pelo acionamento da “bandeira verde” nas tarifas. A categoria “energia elétrica residencial” registrou deflação de 2,77% na variação mensal – movimento explicado pela mudança de bandeira tarifária de “amarela” para “verde” entre julho e agosto, sendo essa última a bandeira na qual não inferem custos adicionais ao consumidor. Ou seja, os preços de contas de luz caíram após subir no mês anterior.
Dito isso, a deflação nas contas de luz deve ser revertida em setembro, diante do acionamento da bandeira vermelha 1 (já vigente). A mudança na tarifa é explicada pelo baixo nível de chuvas no período, que inferem em custos mais altos na geração de energia no país, especialmente por meio do uso de termelétricas (afinal, mais de 60% da energia no Brasil é gerada em usinas hidrelétricas).
Finalmente, vale destacar a moderação no preço de combustíveis em agosto. Embora os preços de combustíveis tenham registrado variação positiva no mês (subindo 0,61%), a alta foi bem mais moderada do que a observada no mês anterior – quando vimos reajustes de preços por parte da Petrobras. O etanol, inclusive, teve queda de 0,2% no período, refletindo também o enfraquecimento de preços de açúcar no mercado internacional.
Vale lembrar: tanto os preços de energia elétrica quanto de combustíveis são chamados “preços administrados” – ou seja, seguem regulação/regra específica, ao invés de variarem “livremente” de acordo com a oferta e demanda no mercado.
Inflação de serviços segue em “luz amarela”, mas resultado mensal traz certo alívio
Após alguns meses em elevação, a inflação de serviços trouxe certo alívio no mês de agosto. Conforme o resultado, a métrica chamada “serviços subjacentes” (que exclui serviços com preços mais voláteis, como passagem aérea) desacelerou para 5,7% na média dos últimos três meses até agosto, de 6,1% no mês anterior.
Dito isso, a métrica segue acima da meta de 3,0% do Banco Central, assim como o indicador de serviços intensivos em mão de obra – que inclui preços como de cabelereiros, médicos e dentistas.
Vale destacar que o comportamento dos preços de serviços é essencial para análise do cenário de inflação no país. Isso porque a inflação do setor é menos impactada por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); sendo mais afetada pela dinâmica de salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.
Assim, com um mercado de trabalho aquecido e elevados benefícios fiscais alimentando o crescimento da renda das famílias, o comportamento da inflação no setor segue sob os holofotes. Afinal, em bom português, famílias seguem com espaço para consumir, ajudando a manter a demanda aquecida na economia, e pressionando os preços.
Um mercado de trabalho aquecido pressiona salários, com destaque para o setor de serviços, que é o que mais emprega na economia do país – em um movimento que se retroalimenta.
Inflação deve encerrar o ano em 4,4%
Esperamos que a inflação volte, mesmo que moderadamente, nos próximos meses, encerrando o ano acima da meta do Banco Central (embora dentro do limite superior de tolerância).
Por um lado, questões climáticas devem pressionar os preços de alimentos e energia neste final de ano. Na mesma linha, uma moeda depreciada e demanda aquecida devem contribuir para preços de bens industriais ganharem força nos próximos meses.
Por outro lado, a recente queda nos preços de commodities no mercado global deve ajudar a reduzir a pressão e contrabalancear alguns preços futuramente, como de alguns bens industriais.
Além disso, de maneira relevante, vale destacar os efeitos da taxa de juros mais restritiva. Como detalhamos abaixo, entendemos que o cenário de inflação pressionada e de riscos adiante deve levar o Banco Central a implementar um novo ciclo de altas da taxa Selic ao longo dos próximos meses. Assim, os juros em patamar contracionista devem manter o freio na economia – ajudando a conter a alta de preços.
Nesse cenário, projetamos que o IPCA encerre 2024 em 4,4%. Para 2025, os efeitos dos juros em elevação e outros fatores devem manter a inflação em patamar relativamente mais baixo, mas ainda acima da meta do Banco Central (de 3,00%) – encerrando o ano em 4,0%.
Com inflação sob “luz amarela” e riscos adiante, Selic deve voltar a subir
Para o dia a dia dos brasileiros, a deflação observada em agosto não deve ser sentida em grande magnitude. Ou seja, apesar da queda de preços importantes na cesta de consumo dos brasileiros, como alimentos e energia, a sensação de inflação relativamente pressionada – acima de 4,0% – deve seguir presente.
Por outro lado, tampouco vemos um cenário de inflação “desenfreada” no país adiante. Embora projetemos que a inflação encerre o ano acima da meta do Banco Central, não vemos – ao menos por ora – um cenário de preços subindo muito acima do limite superior de 4,50% da meta da autoridade monetária.
Dito isso, devemos ver uma atuação vigilante e cautelosa por parte do Banco Central. Diante de um cenário de preços subindo em ritmo acima da meta, de economia forte e mercado de trabalho aquecidos, além de expectativas de inflação desancoradas (ou seja, acima da meta), moeda pressionada e risco fiscal ainda presente (embora relativamente mais ameno no curto prazo), o Banco Central deve implementar um ciclo de altas da taxa Selic.
Expectativas de inflação: o que são?
As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si.
A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo?
Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).
Em resumo: acreditamos que Banco Central agirá “hoje”, implementando o “remédio amargo dos juros” no curto prazo, de modo a evitar uma doença mais grave adiante – ou seja, que a inflação reacelere no futuro.
Como se proteger da alta de preços?
Como falamos, embora não vejamos um cenário de forte reaceleração dos preços, a inflação segue motivo de cautela e atenção. Assim, proteger os investimentos contra a alta de preços segue essencial.
Títulos indexados à inflação (como o título público NTN-B 2028), emissões bancárias de instituições sólidas e com boa classificação de risco e debêntures incentivadas (sem cobrança de Imposto de Renda ao investidor) são ótimas alternativas. Falamos mais das melhores oportunidades de renda fixa aqui.
Outra classe de ativos que pode ajudar o investidor a se proteger da inflação são os fundos imobiliários. Por serem muitas vezes atrelados a índices de inflação, os FIIs podem ser excelentes aliados do investidor em um cenário ainda cauteloso com a alta de preços. Aqui te indicamos nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.
Mas não só de proteção contra a inflação devem viver os investimentos nesse momento. Por isso, confira o detalhe das nossas recomendações de investimento atualizadas de acordo com o seu perfil de investidor no “Onde Investir”.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
1) Este relatório de análise foi elaborado pela Rico Investimentos, que é uma marca da XP Investimentos CCTVM S.A. (“Rico”) de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM nº 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A Rico não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório.
2) Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor.
3) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à Rico e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado, e que sua(s) remuneração(es) é(são) indiretamente influenciada por receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela Rico.
4) O analista responsável pelo conteúdo deste relatório e pelo cumprimento da Resolução CVM nº 20/2021 está indicado acima, sendo que, caso constem a indicação de mais um analista no relatório, o responsável será o primeiro analista credenciado a ser mencionado no relatório.
5) Os analistas da Rico estão obrigados ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para o Analista de Valores Mobiliários e na Política de Conduta dos Analistas de Valores Mobiliários do Grupo XP.
6) Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor.
7) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes.
8) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da Rico. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da Rico.
9) SAC. 0800 774 0402. A Ouvidoria da Rico tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800-722-3730.
10) O custo da operação e a política de cobrança estão definidos nas tabelas de custos operacionais disponibilizadas no site da Rico: https://www.rico.com.vc/custos. 11) A Rico se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo.
12) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação os resultados divulgados pelas companhias emissoras e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas.
13) Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor.