(De: Mayara Rodrigues, Analista de Renda Fixa)
IPCA+ é a “bola da vez” no mundo da renda fixa? Para nós, sim!
O cenário econômico apresentou mudanças relevantes nas últimas semanas, trazendo consigo oportunidades para investimentos em ativos IPCA+, uma vez que houve uma abertura relevante dos juros reais. Entenda abaixo mais detalhes de como o IPCA+ é a bola da vez em Renda Fixa.
Em 2024, presenciamos um movimento global de reprecificação dos ativos, impulsionada por uma conjunção de fatores: (i) um banco central americano mais conservador; (ii) uma demanda doméstica ainda aquecida; e (iii) incertezas em relação às contas públicas brasileiras.
Tal cenário acaba exigindo uma cautela adicional na política monetária por aqui, o que se traduziu em revisões das expectativas dos analistas em relação ao rumo de diversos indicadores, incluindo a Selic – a taxa básica de juros da economia – e a inflação.
Neste sentido, em meados de abril, o nosso time de economia elevou a taxa Selic esperada para 2024 para 11,75%. Já em relação à inflação, o indicador esperado para 2024 para 4,4%.
Quando isso acontece, os títulos atrelados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também chamados de “IPCA+”, valorizam. Vale destacar que estes ativos passam por variações para cima ou para baixo ao longo do tempo, chamadas de marcação a mercado, sendo a que rentabilidade contratada é garantida quando o título é mantido na carteira até a data de vencimento.
Como exemplo, os títulos públicos indexados à inflação, as NTN-Bs – Notas do Tesouro Nacional série B, conhecidas também como Tesouro IPCA+ na plataforma do Tesouro Direto, ultrapassaram o patamar de 6,0% nas últimas semanas. Em uma análise desde 2009 para o título NTN-B com vencimento em 2035, foi possível adquirir os títulos emitidos pelo governo neste patamar em 30,7% do tempo. Contudo, vale destacar que houve dois eventos extraordinários no período, sendo eles (i) a crise do subprime iniciada em 2008; e (ii) a crise política interna, que teve seu auge em 2016. Considerando os últimos 5 anos (desde 2019), este percentual cairia para menos de 10,0%.
Uma situação similar pode ser observada para a NTN-B 2028: desde 2018, quando foi criada, as taxas dos papéis permaneceram acima de 6,0% somente em 6,7% do período analisado.
Acreditamos que o cenário atual esteja atrativo para a renda fixa, incluindo títulos IPCA+, sendo possível a alocação por meio de títulos públicos ou privados, que normalmente utilizam as NTN-Bs como referência em sua remuneração.
Mas, além do momento oportuno propriamente dito, há outras 3 (três) razões para investir em IPCA+:
1. Previsões nem sempre acertam
A história recente mostra que estimativas para o IPCA de economistas (representadas pelo Boletim Focus, do Banco Central – BC) ou de mercado (via inflação implícita nos contratos futuros) mutas vezes se mostram erradas. E, na maioria das vezes, para baixo – a inflação acaba sendo maior do que a projetada.
O motivo por trás disso é que choques inflacionários tendem a ser positivos e em grandes magnitudes. Além disso, chamam-se “choques” justamente pela sua natureza imprevisível, e não estão contemplados nas projeções.
Apesar da inflação local ter apresentado desaceleração nos últimos meses, o índice de preços permanece acima da meta do Banco Central (BC) de 3,0%. Adicionalmente, há algumas semanas, o consenso de mercado vem apresentando tendência de alta para a inflação brasileira em decorrência, entre outros fatores, da (i) depreciação recente da taxa de câmbio; (ii) elevação dos preços das commodities; (iii) atividade mais forte; e (iv) preocupação com a política fiscal tanto em 2024 quanto em 2025.
Portanto, podemos imaginar que este período de IPCA abaixo das estimativas Focus pode ter fim, assim como aconteceu no histórico apresentado no gráfico abaixo.
Historicamente, quando houve divergência entre o que projetavam e quanto de fato foi a inflação, os erros mais significativos se deram em momentos de IPCA realizado muito superior às estimativas. Desde o ano de 2011, a média de erro do Boletim Focus foi de cerca de +1,0% em relação ao esperado e a média de erro da inflação implícita foi cerca de +0,6% acima do que era indicado nas estimativas.
Portanto, notamos ser complexo acertar ou prever choques inflacionários, mesmo por parte de especialistas no tema. Por este motivo, é importante alocar parte dos recursos em títulos que protejam destes possíveis choques, caso venham a acontecer.
2. Proteção do patrimônio no longo prazo
Atualmente, todos os títulos públicos indexados à inflação (NTN-Bs) estão pagando juro real acima de 6,0%. Ao investir em títulos IPCA+, e os levando até o vencimento, há previsibilidade deste retorno real (em geral mais elevado do que no caso do CDI) contratado no momento da aplicação.
No entanto, vale ressaltar que antes do vencimento os ativos em IPCA+ apresentarão volatilidade, sendo maior quanto mais longo for o título. É possível observar que quando o IPCA sobe, existe tendência de elevação no juro real (pois o BC pode buscar combater a inflação com aumento de juros ou manutenção do patamar elevado por mais tempo). Isto tende a gerar oscilações nos preços dos ativos atrelados ao índice.
Dada a volatilidade, é possível que investidores prefiram os títulos pós-fixados. Afinal, a Selic hoje está em 10,75%, e deve permanecer em patamar de dois dígitos pelo menos até o final do ano que vem, segundo o nosso time de Economia.
No entanto, é possível observar que, nos últimos 15 anos, o retorno real médio de um investidor que aplicou apenas em CDI foi de cerca de 3% ao ano. Ou seja, a NTN-Bs pagam hoje aos investidores um juro real que é quase o dobro do rendimento real médio em CDI dos últimos 15 anos.
Por fim, apesar de títulos pós-fixados serem ótimas opções para determinados objetivos, nem sempre o CDI acompanhará a alta do IPCA, não sendo um instrumento eficaz para manutenção do poder de compra e acúmulo de juro real.
3. Há “triggers” (catalisadores) para uma inflação mais contundente adiante
Atualmente, há alguns fatores a serem acompanhados que podem desencadear uma inflação maior.
No cenário global, vimos o banco central americano (Fed) passando a ser mais conservador. O presidente da entidade, Jerome Powell, tem sido mais vocal sobre levar mais tempo para os membros do comitê de política monetária ganharem confiança de que a inflação está convergindo de forma sustentável para a meta, sendo provável que as taxas permaneçam altas por mais tempo por lá. Em meio a esse cenário, os preços das commodities começaram a reverter a queda vista no final de 2023.
No campo doméstico, o risco fiscal ganhou tração, principalmente, após a aprovação do novo Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que postergou as metas de resultado primário de 1,0% de 2026 para 2028, com aumento da dívida pública em relação ao PIB para quase 80%, dos atuais 75% aproximadamente.
Os acontecimentos acima têm trazido importantes oscilações nas expectativas futuras de juros (nominal e real), com a menor previsibilidade da economia e pressões no câmbio e na inflação.
Apesar de entendermos que muitos desses riscos já estejam mapeados e embutidos nas taxas negociadas dos títulos de renda fixa, não se pode descartar a possibilidade de deteriorações adicionais, a depender de medidas que venham a ser anunciadas nos próximos meses, além da possível influência do cenário externo.
Como investir em IPCA+?
Essa categoria de investimento pode ser acessada tanto via títulos públicos quanto a partir de crédito privado. Mensalmente, publicamos as nossas recomendações para ambas as categorias. Caso queira saber mais, acesse nossa carteira aqui.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
1) Este relatório de análise foi elaborado pela Rico Investimentos, que é uma marca da XP Investimentos CCTVM S.A. (“Rico”) de acordo com todas as exigências previstas na Resolução CVM nº 20/2021, tem como objetivo fornecer informações que possam auxiliar o investidor a tomar sua própria decisão de investimento, não constituindo qualquer tipo de oferta ou solicitação de compra e/ou venda de qualquer produto. As informações contidas neste relatório são consideradas válidas na data de sua divulgação e foram obtidas de fontes públicas. A Rico não se responsabiliza por qualquer decisão tomada pelo cliente com base no presente relatório.
2) Este relatório foi elaborado considerando a classificação de risco dos produtos de modo a gerar resultados de alocação para cada perfil de investidor.
3) O(s) signatário(s) deste relatório declara(m) que as recomendações refletem única e exclusivamente suas análises e opiniões pessoais, que foram produzidas de forma independente, inclusive em relação à Rico e que estão sujeitas a modificações sem aviso prévio em decorrência de alterações nas condições de mercado, e que sua(s) remuneração(es) é(são) indiretamente influenciada por receitas provenientes dos negócios e operações financeiras realizadas pela Rico.
4) O analista responsável pelo conteúdo deste relatório e pelo cumprimento da Resolução CVM nº 20/2021 está indicado acima, sendo que, caso constem a indicação de mais um analista no relatório, o responsável será o primeiro analista credenciado a ser mencionado no relatório.
5) Os analistas da Rico estão obrigados ao cumprimento de todas as regras previstas no Código de Conduta da APIMEC para o Analista de Valores Mobiliários e na Política de Conduta dos Analistas de Valores Mobiliários do Grupo XP.
6) Os produtos apresentados neste relatório podem não ser adequados para todos os tipos de cliente. Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor. Este material não sugere qualquer alteração de carteira, mas somente orientação sobre produtos adequados a determinado perfil de investidor.
7) A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço ou valor pode aumentar ou diminuir num curto espaço de tempo. Os desempenhos anteriores não são necessariamente indicativos de resultados futuros. A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos. As informações presentes neste material são baseadas em simulações e os resultados reais poderão ser significativamente diferentes.
8) Este relatório é destinado à circulação exclusiva para a rede de relacionamento da Rico. Fica proibida sua reprodução ou redistribuição para qualquer pessoa, no todo ou em parte, qualquer que seja o propósito, sem o prévio consentimento expresso da Rico.
9) SAC. 0800 774 0402. A Ouvidoria da Rico tem a missão de servir de canal de contato sempre que os clientes que não se sentirem satisfeitos com as soluções dadas pela empresa aos seus problemas. O contato pode ser realizado por meio do telefone: 0800-722-3730.
10) O custo da operação e a política de cobrança estão definidos nas tabelas de custos operacionais disponibilizadas no site da Rico: https://www.rico.com.vc/custos. 11) A Rico se exime de qualquer responsabilidade por quaisquer prejuízos, diretos ou indiretos, que venham a decorrer da utilização deste relatório ou seu conteúdo.
12) A Avaliação Técnica e a Avaliação de Fundamentos seguem diferentes metodologias de análise. A Análise Técnica é executada seguindo conceitos como tendência, suporte, resistência, candles, volumes, médias móveis entre outros. Já a Análise Fundamentalista utiliza como informação os resultados divulgados pelas companhias emissoras e suas projeções. Desta forma, as opiniões dos Analistas Fundamentalistas, que buscam os melhores retornos dadas as condições de mercado, o cenário macroeconômico e os eventos específicos da empresa e do setor, podem divergir das opiniões dos Analistas Técnicos, que visam identificar os movimentos mais prováveis dos preços dos ativos, com utilização de “stops” para limitar as possíveis perdas.
13) Antes de qualquer decisão, os clientes deverão realizar o processo de suitability e confirmar se os produtos apresentados são indicados para o seu perfil de investidor.