Em meados de março, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei que propõe banir o TikTok do país, e a Casa Branca sancionou o projeto no final de abril. Antes visto como um fenômeno restrito à Geração Z, o TikTok já provou que vai muito além: segundo uma pesquisa da Pew Research, cerca de 40% dos americanos adultos usam a plataforma frequentemente. Dados de 2023 indicam que a plataforma de vídeos curtos tem mais de 150 milhões de usuários mensais nos EUA.
Com tanta popularidade, um detalhe ganha importância: o TikTok é da empresa chinesa ByteDance e, em meio a disputas econômicas entre EUA e China, a alta adesão ao aplicativo estrangeiro chamou a atenção das autoridades.
O que diz o projeto de lei?
O Protecting Americans From Foreign Adversary Controlled Applications Act (Ato para proteção dos americanos de aplicativos controlados por estrangeiros, em tradução livre) foi apoiado tanto por congressistas republicanos quanto por democratas, e a justificativa que uniu os dois partidos — rivais históricos, e em ano de eleição presidencial — foi a segurança nacional.
A proposta, que foi sancionada pelo presidente Joe Biden no dia 24 de abril, determina que a ByteDance venda o TikTok para outra empresa, aprovada pelo governo dos EUA, em até 270 dias (prazo que pode ser prorrogados por mais 3 meses). Caso a venda não aconteça, a rede social do reloginho seria banida do território americano ao fim desse período.
Não é a primeira vez que o TikTok é banido
Vários países já proibiram que o TikTok seja usado em dispositivos que pertençam ao governo. As Forças Armadas dos EUA proibiram o uso do app pelos seus membros, e a União Europeia, Canadá e Austrália baniram o aplicativo do reloginho dos celulares oficiais.
A Índia é o exemplo mais extremo: em 2021, o país de 1,4 bilhão de pessoas baniu o TikTok e outro 58 aplicativos chineses em uma medida oficial que não mencionou o país, e sim preocupações com segurança de dados e com a privacidade dos cidadãos indianos. Desde então, o governo da Índia vem monitorando a atividade inclusive de empresas de tecnologia americanas com os mesmos argumentos, e os tiktokers migraram para outras plataformas, como YouTube e Instagram.
O problema de 100 bilhões de dólares (e 1 algoritmo)
Mesmo sem presença no país mais populoso do mundo, TikTok é um fenômeno: com apenas 7 anos desde seu lançamento, já é a 5ª maior rede social do mundo — as outras quatro à sua frente (Facebook, YouTube, WhatsApp e Instagram) são americanas e tem pelo menos 6 anos a mais de vida.
A ByteDance é avaliada em US$ 270 bilhões de dólares e, segundo a CNN, só o TikTok valeria cerca de US$ 100 bilhões. Portanto, surge outro problema: que americano compraria a rede social?
Em meio a processos antitruste capitaneados tanto pelo governo americano quanto por legisladores europeus contra grande parte das gigantes de tecnologia, adicionar mais um mega app ao portfólio não parece ser a melhor estratégia para uma Alphabet ou Meta.
Do lado chinês da história, o grande trunfo do TikTok é seu algoritmo, desenvolvido 100% na China — sendo improvável que o país permita a exportação dessa tecnologia inovadora (e que é um diferencial de mercado) em meio a um cenário desafiador de crescimento econômico enfrentado pelo gigante asiático atualmente.
Além disso, a ByteDance já sinalizou que deve fazer o possível para que não seja forçada a vender seu maior produto. Após a sanção presidencial, o presidente executivo do TikTok publicou um vídeo na rede social dizendo que espera reverter a decisão, contestando a decisão judicialmente.
Quais são os próximos passos?
O Senado aprovou a proposta no dia 23 de abril, e Biden sancionou o texto no dia seguinte. Agora, a ByteDance deve continuar a se movimentar, tentando ganhar mais tempo para reverter a decisão e contestando o texto judicialmente.
Além disso, vale ficar atento aos próximos passos dos governos chinês e americano, principalmente este último: enquanto Joe Biden (Partido Democrata) apoia a medida expressamente, Donald Trump (Partido Republicano) já disse anteriormente que que banir a rede social aumentaria a influência da Meta, dona do Facebook.
Em ano de eleições presidenciais nos EUA, e com a China sob os holofotes enquanto busca retomar seu crescimento econômico, vale ficar de olho no que vai acontecer com o TikTok.