Banco Central reduz Selic para 10,75%: a decisão, os impactos nos investimentos e o que esperar

O Copom reduziu a taxa Selic para 10,75% ao ano. A decisão dá continuidade ao processo de redução dos juros no país, que deve prolongar-se em 2024. O cenário abre espaço para investimentos relativamente mais arriscados, mas não elimina a importância da renda fixa. Confira o que esperar e nossas recomendações.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) reduziu a nossa taxa básica de juros – a taxa Selic – em 0,50pp. para 10,75% ao ano.

A decisão dá continuidade ao processo de queda de juros iniciado em agosto de 2023, após um ano de taxa Selic no patamar de 13,75%. Acreditamos que o Banco Central deve continuar reduzindo a taxa básica de juros até setembro desse ano, quando a Selic deve atingir 9,00% ao ano.

Quer entender mais sobre como os juros impactam a inflação? Te contamos aqui!

O que disse o Copom?

Após cada reunião, o Copom divulga um comunicado detalhando sua decisão e sinalizando a direção que deve tomar dali em diante em relação à política monetária – ou seja, à taxa de juros.

No documento de hoje, o Comitê destacou que o ambiente externo segue volátil, demandando cautela de países emergentes. Isso porque, embora mais baixa, a inflação segue acima das metas estabelecidas em países desenvolvidos, especialmente por conta de pressões no mercado de trabalho. Assim, segue a incerteza de quando os juros começarão a cair no mundo desenvolvido, principalmente nos Estados Unidos.   

Já no palco doméstico, o Copom avaliou que a inflação ao consumidor segue desacelerando nos últimos meses – o que é, claro, positivo. Por outro lado, chamou atenção para o comportamento recente dos preços no setor de serviços, que seguem mais “teimosos” do que os preços de bens (como automóveis, roupas e alimentos).

Vale destacar que os preços de serviços são essenciais para entender comportamento da inflação como um todo, sinalizando tendências adiante. Isso porque os preços no setor não são impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como o clima e a redução ou aumento da oferta de determinada commodity); e sim, pelo comportamento dos salários, além de, claro, o nível de demanda na economia.

Além disso, o Copom seguiu destacando a importância da percepção de risco fiscal. Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam).

Assim, o Comitê seguiu lembrando que, tão importante quanto ter regras estabelecidas sobre a gestão dos gastos públicos, é cumpri-las de maneira efetiva. 

Nesse contexto, o Copom optou por reduzir a Selic para 10,75% ao ano. Desde modo, reduzindo os juros, mas mantendo a taxa básica no patamar que chamamos de “contracionista” – em que os juros altos encarecem o crédito, desincentivam o consumo e desaquecem a economia como um todo, reduzindo a inflação.

Selic seguirá caindo, mas riscos no radar podem limitar queda

Diante do cenário descrito acima, acreditamos que o Banco Central seguirá reduzindo a taxa Selic,até que ela atinja 9,0% ao ano em setembro.   

A continuidade da redução da Selic também não significa que os juros atingirão patamar “expansionista”; ou seja, aquele que estimula a economia diante do ritmo de preços mais baixos do que o esperado.

Isso porque, apesar da inflação mais bem comportada nos últimos meses – como contamos aqui em detalhes – ainda há riscos no radar, tanto no Brasil quando no mundo.  

Do lado internacional, vale destacar os potenciais impactos do conflito no Oriente Médio e das tensões no Leste Europeu na inflação global.Conflitos envolvendo países como Israel, Iraque, Rússia e Ucrânia tem impulsionado os preços de petróleo nas últimas semanas, contribuindo para colocar em risco a queda nos preços de commodities observada no fim de 2023.

Já no cenário doméstico, o mercado de trabalho bastante aquecido traz riscos do lado da pressão de salários, especialmente no setor de serviços.Nesse sentido, vale destacar que a taxa de desemprego segue no patamar mais baixo desde 2015, com renda real do trabalho 2,5% acima do nível observado no período pré pandemia, e crescimento de mais de 4% acima da inflação esperado para a renda disponível das famílias para esse ano.

Em bom português: a renda disponível das famílias está crescendo, impulsionando a demanda por bens e serviços, e pressionando salários e preços – em um movimento que se retroalimenta.

Assim, entendemos que o cenário atual permite que o Banco Central reduza a magnitude do “freio” na economia, mas sem eliminá-lo por completo por ora.  

Olhando para frente, projetamos que a Selic encerre 2024 em 9,00% ao ano.

Quando vou sentir a queda de juros?

Para o mercado, a decisão deve impactar principalmente títulos de renda fixa. Isso porque, apesar deter sido uma decisão já esperada por analistas, o tom mais duro do Banco Central deve levar investidores a precificarem juros mais altos no curto prazo. Ou seja, verem a taxa Selic um pouco mais alta nos próximos anos do que viam anteriormente.

Esse movimento – que chamamos de abertura na curva de juros – tende a desvalorizar títulos pré-fixados e híbridos (IPCA +) já existentes (com vencimento entre 2024 e 2026), enquanto eleva as taxas de novos títulos emitidos.

Para o dia a dia do brasileiro, pouca coisa muda, especialmente no curto prazo. Isso porque mudanças na taxa básica de juros demoram a ser sentidas na economia – chamamos esse efeito de “defasagem da política monetária”. No Brasil, o intervalo para que alterações na Selic sejam refletidas nas taxas para empresas e pessoas física varia de 3 a 12 meses.

Além disso, o impacto também varia de acordo com a modalidade do crédito. Por exemplo, a variação de 1p.p. na taxa Selic leva a uma variação quatro vezes maior nos juros médios do cheque especial ao longo de doze meses (conforme estudo recente do Banco Central). Já outros tipos de crédito, como o imobiliário e para veículos, são impactados em um período de 6 e 3 meses em média, respectivamente.

Dito isso, já podemos observar os primeiros sinais de queda da Selic (iniciada ano passado) na economia. Como podemos ver no gráfico abaixo, taxas de juros e inadimplência já começam a mostrar o início do que esperamos que se concretize em uma tendência de queda ao longo do ano.

Assim,o cenário de crédito mais caro e “dinheiro mais escasso” sentido no dia a dia dos brasileiros deve enfraquecer ao longo dos próximos meses (embora gradualmente), ajudando a impulsionar a economia.

A Selic deve seguir caindo, e isso é positivo para a bolsa

Independente de acertarmos “em cheio” os próximos passos do Copom, a tendência é o fator mais relevante no atual contexto – em outras palavras, estamos em um processo de redução de juros. Esse movimento tende a abrir a porta para investimentos que apresentem maior nível de risco, como ações e fundos de investimento multimercado – considerando sempre o perfil de risco de cada cliente.

Olhando para a bolsa, juros menores ajudam a reduzir o custo de capital para as empresas nos modelos de analistas (aumentando o preço justo de ações), elevam os seus lucros por conta da queda nas despesas financeiras, e melhoram a saúde financeira das empresas que têm dívida alta e precisam de novos financiamentos.

Em bom português: ciclos de queda de juros tendem a ser positivos para investimentos em bolsa.

O gráfico abaixo ajuda a ilustrar essa dinâmica. Como podemos ver, momentos de redução da taxa Selic foram, em sua média histórica, acompanhados por bons retornos do nosso principal índice acionário, o Ibovespa.

Para investir na bolsa, destacamos a RICO11, a carteira recomendada da RicoEla é composta por BDRs (ações de empresas estrangeiras no Brasil) e ações listados na bolsa brasileira, a partir da análise do cenário econômico, reunindo as principais estratégias de ações publicadas pelo time de análise da Rico — todas quantitativas, ou seja, baseadas em dados e modelos estatísticos e com processo de decisão automatizado.

E como o momento também tende a ser oportuno para outros tipos de ativos também relativamente mais arriscados, destacamos aqui nossa carteira recomendada de Fundos Imobiliários.

Renda Fixa segue atrativa

Mas não é porque crescem as oportunidades na bolsa que a renda fixa perde sua atratividade. Pelo contrário.

Primeiro porque os juros devem continuar em patamares altos, acima dos níveis de inflação no curto prazo – garantindo retornos elevados para investimentos de prazos mais curtos (até três anos) e reserva de emergência.

Além disso, diante de um cenário onde a inflação segue um risco no longo prazo, títulos de renda fixa atrelados à índices de preço seguem uma excelente proteção para seus investimentos – dando espaço para vencimentos mais longos, com prazo médio de cinco anos.

Mas atenção: o cenário fica um pouco mais incerto quando falamos de títulos pré-fixados. Primeiro, porque não esperamos grandes movimentos de queda sobre as expectativas de juros no futuro no futuro próximo (dinâmica que valoriza esses títulos, vista em parte de 2023). Segundo, porque a incerteza sobre os rumos da inflação no mundo e do cenário fiscal doméstico voltaram a impactar as expectativas sobre os juros de longo prazo, desvalorizando títulos existentes e adicionando risco adiante.

Por isso, mantemos nossa recomendação para pré-fixados reduzida e cautelosa, priorizando vencimentos de curto prazo e oportunidades pontuais em títulos privados.  Confira nossas recomendações de renda fixa aqui.

Recomendações completas

Confira todas as nossas recomendações, de acordo com cada perfil de investir, no Onde Investir da Rico. E abaixo, separamos algumas sugestões de investimentos recomendados nas principais classes de ativos para o cenário atual.

Classe Opção de investimento Opção de investimento2 Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixada Tesouro Selic 2029 CRA Unidas Dez/2028 CDI+2,9%** R$ 100,00
Inflação Tesouro IPCA+ mai/2029 CRA Atacadão jan/2029IPCA+7,5** R$ 50,00
Renda Fixa Prefixada Tesouro Prefixado 2026 NTN-F jan/29 R$ 100,00
Renda Fixa Global Trend High Yield Americano FIM Trend Crédito Global FIM R$ 100,00
Multimercado Selection Multimercado FIC FIM Kinea Atlas II R$ 100,00
Renda variável Brasil Carteira Rico11 Selection Ações FIC Ações R$ 100,00
Renda variável internacional Wellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1 M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível I R$ 500,00
Renda variável internacional hedgeada Trend Bolsas Globais Trend Bolsas Emergentes R$ 100,00
Alternativos LVBI11 PVBI11 *restrito R$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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