• Pra onde vai o dólar? Essa é sempre a pergunta de um milhão de… dólares!!
  • Ao contrário do que muitos pensam, a cotação do dólar não impacta só quem planeja viajar. E sim todos nós, especialmente via inflação.
  • O valor do dólar é fruto de muitos fatores, como taxa de juros, conjuntura externa e cenário político.
  • Confira o texto na íntegra pra entender tudo isso, e por que não indicamos comprar dólares – e sim investir em dólares!

“Pra onde vai o dólar”? Essa é certamente uma das perguntas que economistas e analistas de mercado ouvem com maior frequência. Afinal, sabemos que a variação do valor da nossa moeda (o bom e velho real) em relação à moeda americana impacta a economia e a vida dos brasileiros de diversas formas.

Como o dólar impacta o Brasil?

Antes de qualquer coisa, vale destacar que a essa variação de valor relativo entre moedas, damos o nome de taxa de câmbio.

A taxa de câmbio é a relação entre o valor da nossa moeda (o real) e outras moedas. Quando a taxa de câmbio está valorizada, o real está “comprando mais” moeda estrangeira. Já quando ela está desvalorizada, o real “compra menos” moeda estrangeira.

O dólar impacta a inflação

Apesar do que muitos podem pensar, a taxa de câmbio não impacta somente aquelas pessoas que planejam viajar para fora do país, e terão que converter seus reais para pagaram por bens e serviços consumidos em países como Estados Unidos ou Alemanha.

A taxa de câmbio também tem um grande impacto na economia brasileira, especialmente na inflação. Isso ocorre porque muito do que consumimos por aqui vem de outros países – ou seja, importamos diversos bens e serviços (como financeiros e tecnologia), e essa comercialização é feita, em sua maioria, em dólares.

Por exemplo, quando importamos a farinha para produzir o pãozinho de todo dia, isso é feito em dólares. Assim, quanto mais desvalorizada a nossa moeda, maior será o preço da farinha importada, e maior será o preço final do pãozinho (e do macarrão, dos biscoitos). Quanto mais valorizado o real, menor o impacto dessa compra da farinha no preço.

A mesma dinâmica é vista em diversos outros produtos, como peças de carros, máquinas para fabricação de eletrodomésticos, e bens finais importados, como roupas.

Além disso, produtos básicos como carne, milho e petróleo – as famosas commodities – são negociados no mercado internacional, tendo seu preço determinado pela oferta e demanda global (já que são virtualmente “a mesma coisa” em todo o mundo). Assim, independentemente de serem produzidos no Brasil, esses produtos são negociados em dólar. Afinal, que produtor irá querer vender por menos (em reais)  se pode vender no mercado internacional e ganhar (mais) em dólares?

Por isso, a taxa de câmbio também impacta a inflação de bens como alimentos e gasolina. 

A esse efeito do impacto da taxa de câmbio na inflação, damos o nome de pass through (repasse), em economia.

O que move o dólar?

Dizem que Deus criou a taxa de câmbio para tornar os economistas mais humildes. O motivo dessa piada ser repetida em quase toda discussão sobre o tema é que, de fato, determinar o valor de moedas em relação a outras é realmente uma tarefa para lá de complexa. Isso porque essa dinâmica é influenciada por uma série de fatores.

Abaixo, listamos alguns dos principais fatores que influenciam a cotação do dólar no Brasil.

1. Saldo das contas externas

De maneira simplificada, o valor de uma moeda em relação a outra é uma questão de oferta e demanda: quanto mais dólares aqui dentro, menos reais precisaremos para comprar um dólar. Assim, o resultado das nossas transações comerciais e financeiras com o mundo é um dos principais fatores que explicam para qual direção se move o câmbio.

Isso ocorre pois, quando vendemos mais ao mundo ou quando o preço do que vendemos sobe, o fluxo de moeda estrangeira que entra no país aumenta a oferta de dólares aqui. Esse fluxo ajuda a valorizar nossa moeda.

Por isso, a variação dos preços de commodities no mercado internacional tem grande influência sobre o valor da nossa taxa de câmbio – uma vez que produtos básicos como soja, minério de ferro e petróleo bruto respondem por perto de 70% do total das nossas exportações ao mundo.

2. Diferencial de juros

Outro fator relevante para determinar o câmbio é a diferença entre os juros praticados no Brasil e aqueles observados no restante do mundo, especialmente nos Estados Unidos – afinal, estamos falando do dólar americano.

O chamado “diferencial de juros” é importante, pois é uma comparação de quanto um investidor ganharia investindo aqui no Brasil – considerando a nossa taxa básica de juros como base para retornos – e quanto ganharia dado a taxa básica de juros dos EUA, onde o risco é considerado um dos menores do mundo.

Assim, quanto maior a nossa taxa de juros relativamente ao nível da taxa de juros americana, mais investimentos atraímos, ajudando a valorizar a nossa moeda. Vale destacar que investidores também avaliarão o nível da inflação por aqui nessa conta; afinal, ela poderá corroer parte dos ganhos, a depender do investimento.

Por isso, períodos de elevação ou redução da taxa básica de juros nos Estados Unidos impactam a cotação do dólar. Quando o Banco Central americano (o FED) eleva os juros, esse movimento tende a atrair capital para o país, uma vez que se aumenta a atratividade relativa de ativos americanos, especialmente de renda fixa (maiores juros elevam os retornos de títulos de renda fixa). Assim, o dólar se fortalece em relação a outras moedas, especialmente de países emergentes. 

3. Cenário político e risco fiscal

Como vimos, a taxa de câmbio é uma variável macroeconômica. Ou seja, ela é consequência de uma série de movimentos na economia, como o fluxo comercial entre o Brasil e o resto do mundo, e a entrada de capital estrangeiro em busca de retornos, considerando o patamar dos juros.

Porém, ao mesmo tempo, moedas também são ativos financeiros. Portanto, elas também carregam a precificação de risco de outros ativos negociados no mercado, como ações, títulos de renda fixa e fundos imobiliários.

E é aqui que entra a percepção de risco do país, que refletirá muito o cenário doméstico político, e principalmente o fiscal. Isso porque, como contamos aqui em mais detalhes, o risco fiscal engloba todo o risco que investidores precificam para emprestar dinheiro ao Brasil. Seja por meio de títulos públicos, títulos privados, ações, ou voilá, nossa moeda.

Assim, quanto maior a incerteza em relação ao cenário político e das contas públicas do país, maior será o risco precificado na moeda. Afinal, se o governo gastar além da conta, e isso virar inflação no futuro, a moeda perderá valor, e o investimento inicial perderá grande parte do seu valor. Assim, quanto mais barato for o ativo inicialmente, maior sua atratividade relativa.

Por isso, questões como dívida pública e regras fiscais, assim como incertezas eleitorais, tendem a impactar bastante a cotação do dólar por aqui.

4. Cenário externo e aversão ao risco

Finalmente, a conjuntura global também afeta o movimento da nossa taxa de câmbio, especialmente por meio do sentimento de aversão ou apetite ao risco de investidores.

Quanto maior o sentimento de incerteza no cenário global, mais investidores serão atraídos para investimentos tidos como “portos seguros”, como o próprio dólar e títulos da dívida americana, na direção contrária de investimentos mais arriscados – como em países emergentes.

Por esse motivo, momentos de incerteza generalizada como os causados por crises geopolíticas, pandemias ou tragédias naturais, tendem a prejudicar moedas mais fracas e favorecer moedas fortes, afetando a cotação do dólar por aqui.

Para onde vai o dólar?

Como detalhamos aqui, o real foi um dos grandes destaques entre moedas globais no início deste ano.

A valorização da nossa moeda foi impulsionada por uma série de fatores, incluindo: i) a elevação da nossa taxa básica de juros (em processo que começou antes do que em boa parte do mundo); ii) a procura de investidores por setores menos sensíveis à alta de juros, como financeiro e de commodities – que compõem a maior parte da nossa bolsa; iii) a elevação dos preços de commodities no mundo e ; iv) o desconto de boa parte dos ativos brasileiros, após forte deterioração em 2021.

Porém, esse movimento foi perdendo força nos últimos meses, especialmente por conta da elevação da taxa de juros dos Estados Unidos, além da sinalização de outros Bancos Centrais que seguirão na mesma direção. Assim, conforme vimos acima, a perspectiva de juros mais altos na maior economia do mundo ajudou a impulsionar o dólar frente a outras moedas – de desenvolvidos e emergentes.

Além disso, a política de “zero covid” implementada na China, com lockdowns restritos ao redor do país, impactou rapidamente a economia  local, levando a perda de fôlego de algumas commodities exportadas pelo Brasil – como o minério de ferro. Ainda, sendo nosso principal parceiro comercial, a redução do crescimento chinês tende a prejudicar nossas exportações. Novamente, como vimos, isso impacta a cotação do dólar.

Finalmente, o sentimento de aversão ao risco que tomou conta dos mercados com a alta de juros, lockdowns na China e guerra ainda vigente no leste europeu acabaram por colocar mais lenha na fogueira cambial recentemente. Afinal, vimos que maior risco significa maior fuga para “portos seguros”.

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Olhando para frente, apesar de ainda vermos os preços de commodities em patamares elevados (com alguma perda de fôlego para alguns insumos minerais), o sentimento de cautela global deve continuar – pelo menos no curto prazo. Além disso, a proximidade das eleições e aquecimento do debate eleitoral certamente elevarão a incerteza e percepção de risco por aqui.

Assim, esperamos que o dólar encerre o ano na cotação de R$ 5,00. Ou seja, não muito longe do seu valor estrutural estimado por modelos econômicos – aquele “onde deveria estar”, se não fossem questões além da macroeconomia, como riscos políticos, fiscais e guerras.

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Essa projeção não significa que não haverá volatilidade – ou seja, que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo dos próximos meses. Pelo contrário, esperamos que a volatilidade siga presente, especialmente diante dos cenários global e doméstico.

Comprar ou vender dólares?

Se você chegou até aqui, deve ter notado que a cotação da moeda americana depende de uma série de fatores, todos além do nosso controle (infelizmente).

Por isso, se você pretende viajar para o exterior, fazer um intercâmbio ou precisa mandar dinheiro para um familiar que mora fora, o melhor é ir comprando a moeda americana aos poucos, de modo que você faça um preço médio do dólar até chegar a data do seu objetivo.

Porém, se você não possui nenhum objetivo em dólar, a resposta para a pergunta do título é: nenhum dos dois. 

Não compre dólar, invista em dólar

Quando se trata dos seus investimentos, se torna essencial diferenciar entre comprar dólar e investir em dólar.

Quando falamos do primeiro, a volatilidade e falta de previsibilidade não tendem a combinar com uma carteira equilibrada e de longo prazo. Já quando falamos de investir em dólar, estamos nos referindo ao investimento internacional, em ativos dolarizados – como ações de empresas estrangeiras e fundos internacionais.

Aí sim, esse investimento terá um papel importantíssimo na composição da carteira de quase todos os tipos de investidor. Ter parte de seu patrimônio em ativos dolarizados (ou outra moeda estrangeira forte) te ajuda a:

  • Proteger sua carteira em momentos de incerteza elevada – como eventos geopolíticos – em que investidores tendem a fugir para ativos mais seguros, como o próprio dólar e títulos da dívida americana, os valorizando;
  • Investir em setores que muitas vezes não existem ou ainda são muito incipientes em nossa economia e em nossa bolsa, como é o caso das empresas de tecnologia;
  • Proteger sua carteira de eventos e incertezas puramente domésticas, como eleições e movimentos políticos.

Assim, apesar de esperarmos um mercado bastante agitado no mundo nos próximos meses, boas oportunidades podem surgir para investidores, tanto para aqueles que querem começar a investir globalmente, quanto para aqueles que já olham para esse tipo de investimento.

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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