Há poucos dias a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou uma Pandemia Global em decorrência do avanço do coronavírus pelo mundo. 

O Brasil -ainda- não está entre os países mais afetados pela doença, mas tudo indica que nas próximas semanas os casos irão aumentar substancialmente. 

O fato é que uma crise global, independente de que país esteja sendo mais ou menos afetado, afeta drasticamente todos os mercados do mundo. 

Foi o que se viu com a Bolsa de Valores brasileira, que, seguindo o mesmo comportamento das bolsas dos EUA, Europa e Ásia, despencou. 

Escola de Investidores

As últimas “Escola de Investidores” foram sobre os efeitos do coronavírus no mercado. 

Ricos Matinais da semana dos dias 9 a 13 de março

A seguir, compilamos os Ricos Matinais dos últimos dias com as principais informações sobre o coronavírus e o impacto que ele causou nos mercados. Leia: 

“Everybody has a plan until they get punched in the mouth”  A frase acima foi dita por Mike Tyson, um dos maiores lutadores norte-americanos da história, em uma entrevista que deu antes de derrotar um de seus oponentes. Na tradução livre, ele disse que “todo mundo tem um plano até levar um soco na boca”. A primeira vez que me deparei com a frase foi na leitura da carta do 1º semestre de 2018 da gestora Alaska (para quem quiser ler, segue o link da carta aqui).

Para vocês entenderam o contexto da frase, deixarei a seguir o 1 parágrafo da carta:

“Em 1987, na véspera do combate contra Tyrell Biggs, um gigante de 2 metros de altura e medalhista de ouro olímpico nos jogos de 1982, um jornalista comentou com Tyson que Biggs se gabava de ter “formulado um plano para derrotar Mike”. Biggs pretendia usar movimentação lateral e sua maior envergadura para manter o lutador menor à distância, algo que conseguiu realizar com sucesso durante o primeiro assalto e parte do segundo. A resposta de Mike Tyson ficou eternizada: “Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca.” Ao final do segundo assalto, porém, Tyson mostrou que sua resposta ao jornalista tinha um caráter quase que profético, e cortou Biggs nos lábios com um cruzado, mudando todo o quadro do combate. A confiança de Biggs foi por água abaixo, assim como o plano que lhe havia trazido sucesso até então, e Tyson o puniu por 7 assaltos até a intervenção do árbitro. Talvez a vitória estivesse além da capacidade de Biggs, porém a falta de disciplina que ele demonstrou ao abandonar seu plano no primeiro sinal de adversidade fez com que suas chances piorassem muito.”

Nessa semana, não tenho dúvidas que nossas convicções foram extremamente testadas. Todos nós (incluindo os 13 leitores do Rico Matinal) levamos do mercado, um verdadeiro soco na boca. O Ibovespa literalmente implodiu: do fechamento de sexta passada (6) até quinta (12) ele recuou 25,9% sendo que da máxima de 119.528 pontos atingida em 23/jan a queda acumula chega a 40%.

Para vocês terem uma ideia da dimensão e rapidez do pânico que se instalou na bolsa, tivemos quatro Circuit Breakers somente nessa semana sendo que até então havíamos tido apenas 5 “CB” (sigla simpática demais para um evento tão destruidor) em toda a história do Ibovespa.

4 Circuit Breakers em uma única semana

Pra quem não sabe, “circuit breaker” é um mecanismo utilizado pela B3 que trava operações na bolsa de valores em momentos de pânico ou euforia no mercado. O intuito é esfriar os ânimos dos investidores, para que eles coloquem a cabeça no lugar e percebam se o movimento faz sentido ou se eles estão agindo sem pensar, quase que “por instinto”.

Na bolsa brasileira, ele é ativado automaticamente conforme as seguintes regras:

  • nível 1: se o Ibovespa subir ou cair mais de 10% em relação ao fechamento do dia anterior, os negócios são interrompidos por 30 minutos;
  • nível 2: depois disso, se ele continuar no mesmo movimento e acumular alta ou queda de 15%, os negócios são interrompidos por 1 hora;
  • nível 3: novamente, se o sintoma persistir e o acumulado do dia chegar a 20%, os negócios são suspensos e só voltam quando a bolsa decidir.

Na quinta, o Ibovespa caiu 13,96% (pior pregão desde 10 de setembro de 1998), após quase tocar os 20% de queda no intraday – o que acionaria o 3º circuit breaker no mesmo dia, algo que nunca aconteceu antes.

O principal estopim para o caos se instalar nos mercados foi a percepção de que o mundo estaria entrando em recessão após os desdobramentos negativos do coronavírus combinado com a guerra de preços do petróleo capitaneada pela Arabia Saudita (maior produtor mundial) durante o fim de semana.

Olhando em retrospectiva os eventos parecem seguir o caminho que tinham que seguir e as quedas parecem fazer todo o sentido. É abrir o site de notícias, assistir aos telejornais, conversar com os amigos que pregavam o apocalipse há muito tempo, para se sentir ‘burro’ e falar para si mesmo “como eu não me antecipei” ou “era óbvio que isso poderia acontecer”. Sempre será óbvio olhando para trás, não se martirize por isso.

O que vai acontecer daqui pra frente?

Antes de tentar adivinhar o que vai acontecer daqui pra frente, é importante lembrarmos o que nos trouxe até aqui. Estamos no meio de um mar bravo em plena tempestade, mas o que posso te dizer é que mar calmo nunca fez bom marinheiro. Ainda dá tempo de se localizar e tomar o controle do barco (ou navio, dependendo da sua exposição).

Bolsa não é cassino e quem entra no mercado com essa mentalidade vai ser tratado como um “apostador” – e nesses momentos de intensos altos e baixos, esses  caras tendem a sair do jogo. Bolsa é o lugar onde você pode tornar-se sócio das principais empresas do Brasil. E grandes negócios costumam sobreviver às mais severas crises, como as que estamos vivendo aqui (nem entrei aqui no mérito de que alguns negócios sequer são impactados por uma crise no petróleo e mesmo assim estão derretendo na bolsa…).

Se você entrou com os propósitos certos mas nos últimos dias acabou se perdendo em meio ao noticiário caótico, vou aqui tentar te lembrar aonde estamos. Os principais motivos que fizeram nossa bolsa chegar aos quase 120 mil pontos foram:

  • Taxa de juro estruturalmente baixa: menores dispêndios com empréstimos, incentivo ao consumo, efeito aritmético positivo no valuation e migração para investimentos de risco
  • Empresas “survivors”: elas não só sobreviveram à maior crise da história brasileira, como também estão mais enxutas e eficientes que no passado
  • Recuperação da economia + agenda de reformas: mesmo que devagar, estamos entrando em um ciclo de retomada da economia, embalado também por reformas importantíssimas que conseguimos avançar nos últimos anos. Essa inércia tende a continuar, mesmo que ela desacelere no curto prazo.

Esses três efeitos combinados devem permitir com que as empresas entreguem maiores lucros nos próximos anos.

Aos investidores que ainda não tinham ações e têm horizonte de investimento de longo prazo (na prática, isso significa “não pretendo nem precisarei mexer nesse dinheiro pelos próximos 3 anos, pelo menos”), esta é uma excelente hora para comprar um pouco de ações. Aos que já tinham ações e possuíam um caixa destinado para aproveitar oportunidades, o momento também é muito oportuno (desde que, claro, respeite seu percentual de exposição a renda variável).

É neste momento, que encontramos grandes oportunidades de tornar-se sócio de ótimas empresas por um ótimo desconto. Mas essa frase só será “verdadeira” na cabeça de quem olha para empresas com essa visão de sócio, que pretende ficar com a empresa por anos e que não vai aplicar neste negócio um dinheiro que pode precisar no curto prazo.

Não é fácil agir contra a manada. Apenas com muito auto-conhecimento e tranquilidade emocional você fará isso. Por isso, identificar se agora é uma oportunidade ou não depende muito mais do quanto você aguenta tomar posições contrárias e arriscadas. Agora, se você não tem estômago para suportar tanta volatilidade, sugiro esperar o mar tranquilizar antes de você colocar seu barquinho n’água.

Aos novos investidores que nunca tinham visto dias voláteis na bolsa, agora vocês estão apresentados.

Esperamos que tenham tirado grandes lições desses dias e que saiam desses eventos mais fortes: se uma porrada dessas não te tira do jogo, ela certamente vai te deixar mais “cascudo” e preparado para as próximas crises – sim, outras mais virão (Hate the game, not the player).

Rico Matinal do dia 16/03 (segunda-feira)

Novos Circuit Breakers à vista?

A semana já começa carregada de notícias negativas, que estão fazendo os índices  futuros americanos atingirem o limite máximo de queda de 5%, as bolsas europeias caírem 7% e o EWZ (fundo de índice negociado nos EUA que acompanha empresas brasileiras) marcar queda de 15%. Novos “Circuit Breakers” à vista? É bem provável que sim.

A notícia mais importante (e alarmante) deste fim de semana foi a ação coordenada dos Bancos Centrais para conter os impactos do coronavírus. O maior dos BCs, o Federal Reserve, anunciou um corte extraordinário de 100 pontos-base na taxa de juros dos EUA, reduzindo-a de para 0%-0,25% ao ano (por lá eles trabalham com ‘bandas’ de juros), além de também dizer que injetará US$ 700 bilhões adicionais ao plano trilionário de injeção de capital anunciado semana passada.

Se por um lado uma ação enfática do Fed mostra que eles não vão medir esforços para enfrentar os problemas de curto prazo, por outro lado todo esse imediatismo (lembrando que o Fed teria reunião nesta quarta, mas ‘antecipou’ as medidas para domingo – ou seja, nem pode esperar 3 dias para isso) passa para o mercado a sinalização de que o Fed pode “estar vendo algo que os investidores ainda não viram” (inclusive escrevemos sobre isso no Rico Matinal de semanas atrás, quando o Fed também fizera um anúncio inesperado de corte de juros).

Como “incerteza” soa como um palavrão no mercado e com os investidores já sensíveis aos acontecimentos das últimas semanas, vemos o “modo pânico” voltar às bolsas hoje.

O Salomão comentou sobre essa e outras notícias ontem a noite numa live no Instagram. Clique na imagem para assisti-la ou dê um pulo no @_salomoney antes do pregão abrir.

Infelizmente, não foi apenas o “efeito reverso” das ações do Fed que panicou o mercado de ontem pra hoje: – Arábia Saudita pretende vender petróleo a US$ 25/barril para os clientes da Rússia, em mais uma ação no meio da “guerra de preços” que estamos vendo nesse mercado e já chacoalhou bastante as bolsas semanas atrás (caso você esteja perdido neste assunto, deixo aqui o “Stock Pills” que fizemos com o Ricardo Kazan, da Novus Capital, que em 7 minutos explicou tudo que está acontecendo neste mercado) – No Brasil, enquanto todo mundo se mobiliza para conter os avanços do coronavírus, Jair Bolsonaro foi às ruas para saldar manifestantes de ato pró-governo. Foi duramente criticado por Rodrigo Maia, Alcolumbre e outros políticos. Péssimo momento para nova instabilidade política, já que a agenda econômica de Guedes pode ficar ainda mais em segundo plano diante de tudo isso. – Ainda sobre Brasil, especula-se que o Copom vai ‘copiar’ o Fed e também não vai esperar por 4ª feira para anunciar um corte na Selic. Além disso, ele pode trazer medidas para estimular a economia e controlar o câmbio. Sobre Copom: é consenso que teremos um corte de pelo menos 50 pontos-base, mas não será surpresa se nosso BC acelerar o passo para seguir o ritmo dos BCs globais.
Insight Rico: Água + sabão é melhor que álcool gel
(por Thiago Salomão) Meu fim de semana consistiu em consumir obcecadamente tudo que foi produzido no mercado financeiro (e fora dele também) sobre coronavírus. Serei muito sucinto pois o Resumo do Dia já foi bem completo e o dia de hoje exige gastarmos bem nossos minutos. Terminei o fim de semana com uma ideia fixa: lavar as mãos com água e sabão é mais eficaz do que usar álcool gelE essa frase vale tanto para saúde quanto para os investimentos. Apesar da ‘modernidade’ do álcool gel, infectologistas alertam que o que de fato nos protege é a tradicional lavagem das mãos e pulsos com água e sabão (recomenda-se que lave por 20 segundos para ter proteção completa). Trazendo esse paralelo ao mercado financeiro: sou super adepto às novidades oferecidas para os investidores e quanto mais “álcool gel” (que seriam os ‘novos produtos’ oferecidos) eles tiverem, melhor. Mas a diversificação seria para mim o “lavar as mãos”, que é aquele hábito bem antigo mas que sempre funcionou – e deve funcionar para sempre. [fique a vontade de pausar a leitura e ir lavar as mãos] Agora olhando para o mercado: a leitura mais legal que fiz nesse fim de semana foi um relatório publicado pela equipe de análise da XP chamado “A crise  mais rápida da história”. Os 13 minutos de leitura valem a pena, mas para os imediatistas eu deixo aqui os pontos que achei mais interessantes: – Nossa crise atual demorou 16 dias para atingir quedas superiores a 20% (limiar que caracteriza um “bear market”, ou mercado de baixa na tradução livre). Como comparação, a crise mais grave da história dos mercados, em 1929, demorou 35 dias, e a crise do subprime de 2008 (nossa última grande crise) atingiu esses patamares em 4 meses. – Comparando o comportamento do Ibovespa em outras crises, podemos dizer que as coisas podem piorar antes de melhorarPegando as palavras de Fernando Ferreira (estrategista-chefe da XP, que assina o relatório): “Com base nas quedas históricas passadas geradas por recessões globais, acreditamos que a Bolsa brasileira poderia cair pelo menos mais 10-15%, chegando a 62.000-65.000 pontos, caso padrões similares à crises passadas ocorra novamente.” – fazendo uma análise de múltiplo do Ibovespa, comparando os valores atuais de P/L (Preço/Lucro) e P/VP (Preço/Valor Patrimonial) com os patamares que esses múltiplos bateram nas últimas crises, a queda do Ibovespa pode ser ainda pior, podendo chegar a algo entre 50 mil e 46 mil pontos (isto se o múltiplo atual convergir para os níveis alcançados nas crises). É hora de pânico ou hora de ir às compras? O recado final do deixou do relatório é bem parecido com o que temos dito desde semana passada: para quem tem horizonte de longo prazo, muitas ações podem ter aberto oportunidades interessantes de compra (se você tiver em mente que essas empresas vão ‘sobreviver’ a essas crises). No entanto, o momento atual ainda é bem negativo e até irracional – e em tempos de irracionalidade, é nítido que os investidores perderam a percepção entre “preço de uma ação” e “valor de uma empresa”. Para refletir: preparei uma “thread” no meu twitter com as frases mais marcantes que ouvi ao longo da semana passada. Deixo o link aqui para quem não viu, espero que traga conforto aos investidores.

Rico Matinal do dia 17/03 (terça-feira)

Comprar ou vender ações agora?

Resumo do dia: O alívio durou pouco

(por Thiago Salomão)

Como adiantamos ontem, as más notícias de domingo trouxeram mais um dia de pânico nos mercados e o Ibovespa fechou com queda de 13,9%, a 71.168 pontos, tendo acionado mais uma vez o “Circuit Breaker” durante o pregão (é o 5º desde a semana passada). Lá fora, S&P 500, Dow Jones e Nasdaq tiveram seu pior pregão da história ao caírem mais de 12%. O dólar disparou 5% e já é cotado a R$ 5,05 (no mercado futuro, ele chegou a R$ 5,10).

Nesta terça, os mercados bem que tentaram uma reação positiva, com os índices de ações americanos batendo o limite de alta de 5% no comecinho do dia, mas neste momento que escrevo as altas já eram na faixa de 1%. Governos do mundo todo se mobilizam para conter os estragos do coronavírus na economia (Trump promete ajudar companhias aéreas, países da Europa estão proibindo a venda a descoberto) e algumas notícias (ainda não confirmadas) de avanços para vacina do coronavírus começam a pipocar. Mas o grande temor de uma recessão global chegar mais rápido do que era esperado é o que está ditando o rumo dos investidores.

Como disse André Jakurski ontem“Tudo é muito difícil de prever agora, Todo mundo que fez previsão queimou a língua. Dois meses atrás, todos os analistas garantiam que não haveria recessão nos EUA”.

No Brasil, o governo anunciou ontem o primeiro pacote oficial de estímulos econômicos para fazer frente aos efeitos negativos do coronavírus, mas a medida não parece ter animado os economistas que conversamos. O pacote totaliza R$147,3 bilhões em estímulos diretos, mas nem todas as medidas anunciadas são fontes novas de recursos, o que acaba reduzindo o alcance real do pacote. Tal frustração joga agora a responsabilidade para o Banco Central, que nesta quarta-feira deve cortar a taxa de juros em no mínimo 50 pontos-base, mas além do corte o BC deve trazer novas medidas.

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Insight Rico: Comprar ou não comprar ações agora?

Qual o risco de comprar agora?

Desde semana passada, eu e meu time temos entrado ao vivo pelo menos uma vez por dia no Instagram da Rico. E seja nos dias de pânico total ou nos dias que a bolsa se recuperou e subiu forte, a pergunta que mais recebemos é: “e aí, é hora de comprar ações?’

Serei bem direto ao ponto, então qualquer dúvida, me tragam na live que faremos hoje.

Por mais que pareçam irracionais os preços atuais de mercado, o fato é que o mercado perdeu completamente as referências para o futuro da economia: afinal, qual será o PIB global de 2020? Qual será o prejuízo nas empresas? Quais sobreviverão? Esse corte de juros provocará uma alta inflacionária nos preços? Todas essas incertezas tiraram a noção de preço sobre os ativos.

Já disse John Maynard Keynes: “mercados podem permanecer irracionais por mais tempo do que eu ou você podemos ficar solventes.

Nossa opinião sobre o mercado de ações continua a mesma.

Temos neste momento uma excelente oportunidade para o investidor que: i) tem horizonte de investimento de loooongo prazo (3 a 5 anos, no mínimo); ii) possui reserva de oportunidade disponível para alocar em um investimento de prazo tão longo; iii) possui uma carteira diversificada em outros ativos mais defensivos (renda fixa, ouro, dólar, ativos internacionais….), pois isso lhe dará tranquilidade e flexibilidade de “correr o risco” em ativos mais voláteis.

Não se esqueçam do novo mantra do Rico Matinal: as coisas podem piorar antes de melhorarCom base no “tamanho” das quedas em crises passadas, não será surpresa se o Ibovespa cair para até 60 mil, 50 mil ou até 40 mil pontos! Contudo, como não existe a menor garantia de que ele possa cair até lá, não vale esperar bater o “fundo do poço” para ir às compras. Se você quer comprar ações, que compre de pouco em pouco, usando gradualmente a partir de agora sua reserva de oportunidade. 

Assim, se o Ibovespa cair mais, você conseguirá fazer um preço médio para baixo; e se o Ibovespa não cair mais e só subir, você já começou comprando num patamar interessante e não ficou “fora do jogo”.

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Eu sei que falar é muito mais fácil do que fazer…. Por isso eu valorizo muito as 17 horas diárias que a Bovespa está fechada para refletir, ler, conversar, estudar e traçar o “plano de ação”. Fica muito mais fácil pensar quando estamos distante do olho do furacão. Duvido que comissários de bordo teriam a mesma sincronia e plenitude na hora de passar as instruções de voo se deixassem para apresentá-las na hora que o avião entrasse em turbulência

(Aliás, deixo todo meu apoio aos profissionais de companhias aéreas: se já está sendo difícil para nós, nem consigo imaginar como será para vocês daqui pra frente. O mercado muitas vezes tira nossa sensibilidade, mas não podemos esquecer que, por trás de todos os impactos financeiros e econômicos que essa crise nos trará, temos muitas pessoas que sofrerão na pele todos esses efeitos).

A conclusão que eu deixo aqui é: o mercado pode ficar louco, histérico e irracional, mas isso não significa que você tem que ficar do mesmo jeito. Sem querer entrar muito no “tecniquês”, mas lembre-se que o preço de uma ação nada mais é do que a expectativa do fluxo de caixa de uma empresa para os próximos anos trazida a valor presente por uma taxa de desconto. Neste momento, como ninguém sabe como será o futuro, é difícil prever tanto os fluxos de caixa quanto as taxas de desconto – por isso essa volatilidade enorme nos preços. Mas será que aquelas empresas “excelentes”, tanto em resultados quanto em gestão, perderão esse status quando a “Corona Crise” passar?

Rico Matinal do dia 18/03 (quarta-feira)

Quer comprar ações? Siga estes 7 passos

Insight Rico: Os 7 passos para quem quer comprar ações (por Thiago Salomão) Ontem, os 13 fiéis leitores deste Rico Matinal (espero que todos vocês tenham sobrevivido aos dark days que vieram – e que ainda virão) leram sobre o dilema de “comprar ou não comprar ações agora”. Hoje, trago uma recomendação de como comprar neste momento, fazendo um paralelo com a última grande crise que tivemos, em 2008. Mas antes, queria compartilhar uma história muito curiosa, mostrando um personagem inusitado que pode aparecer (torço por isso, pelo menos) como um dos salvadores da pandemia do coronavírus: a Fujifilm (isso mesmo, aquela mesma, das câmeras fotográficas). A holding da empresa viu suas ações subirem 8,8% na bolsa de Tóquio, após o governo japonês recomendar o remédio Avigan para pacientes diagnosticados com coronavírus. Como uma fabricante de câmeras chegou na indústria de remédios? A empresa, fundada em 1934 e que trouxe ao mundo as primeiras câmeras digitais portáteis no final dos anos 1980, teve que diversificar seus negócios com o declínio desse mercado hoje quase inexistente. Foi quando em 2008 ela comprou, dentre várias empresas de biotecnologia, a Toyoma Chemical (que mudou de nome para Fujifilm Toyoma Chemical). Essa farmacêutica que desenvolveu o Avigan, que está sendo usada agora como testes para possível tratamento de pacientes com coronavírus. Matéria completa da Fortune está aqui. Voltando ao tema principal deste insight: como comprar ações agora? A imagem abaixo, extraída de um estudo da área de alocação da XP, diz mais que 1.000 palavras. Ela mostra o comportamento de dois investidores após a derrocada do Ibovespa de mais de 50% em 2008. O Investidor A (linha cinza) comprou tudo de uma vez em ações no meio da crise; o Investidor B (linha vermelha) comprou em pequenas partes iguais, alocando a cada 6 meses até o final de 2009. Os dois ‘bateram’ o Ibovespa no período, mas o Investidor B, mais prudente, se deu melhor:
Um importante “disclaimer” (que no jargão bocó do mercado quer dizer “avisando isso pra não vir dizer que não avisei”): usamos a crise de 2008 aqui apenas como exemplo, não significa que a reação dos mercados agora em 2020 será igual o que vimos 12 anos atrás. E aos que não estavam no mercado em 2008: de maio até outubro de 2008 o Ibovespa derreteu de 73 mil para 29 mil pontos; a partir desse fundo até o final de 2009, o índice subiu de volta aos 65/70 mil pontos. Caímos quase 60% mas logo depois subimos mais de 100% – ou seja, quem comprou no final de 2008 foi uma “puxa” compra (não é bem ”puxa” que eu digo, mas deu pra entender). {{cta(‘fea6c7d3-251d-45d3-92f0-266be40dca22’)}} A conclusão não podia ser mais óbvia e vai em linha com o que temos dito nos últimos Ricos Matinais. Pra facilitar a mensagem, dividi em 7 passos simples para o investidor seguir neste momento: 1. Agora não é hora de ir às vendas; grandes oportunidades surgem nestes momentos… 2. … Mas essas oportunidades só valem para quem tem essa cabeça de loooongo prazo e de saber que as coisas podem piorar antes de melhorar. Já disse um tal de Warren Buffett: “se você não tem a mentalidade de comprar uma ação para ficar com ela com 10 anos, não deveria perder nem 10 minutos na bolsa”. 3. Dito isso, é muito melhor você ir comprando aos poucos, sem pressa, do que tentar acertar o “olho da mosca” (ou a parte do corpo do inseto que você preferir). 4. Já citei essa frase do Marcelo Cavalheiro, gestor da Safari Capital, e torno a repetir: “hoje pode não ser ‘o dia’ para comprar ações, mas certamente é ‘um dos dias’ para comprar. Indo de pouco em pouco, uma hora você acerta o fundo”  5. Ir de pouco em pouco é sem pressa mesmo: veja que no exemplo anterior o Investidor B demorou 6 meses para fazer a segunda compra e ainda sim ganhou mais dinheiro do que o apressado Investidor A. Podemos ter muita volatilidade no meio do caminho, mas no longo prazo as coisas tendem a se normalizar e as boas empresas e bons gestores sobreviverão a isso. 6. Reserva de Emergência não é “dinheiro para comprar ações”. Deixe esse dinheiro paradinho lá, mais do que nunca ela tem chances de ser usada para emergência. Use reserva de oportunidades ou ‘caixa’ para isso. 7. Não podia faltar o principal: evite contatos sociais, lave as mãos com água e sabão por 20 segundos (álcool gel não limpa totalmente as mãos) e coloque a mão na frente do rosto ao tossir e espirrar (e lave-as depois). “Ok, me convenceu. Mas quais ações ou fundos de ações comprar?” Temos nossas recomendações na área logada da Rico, mas responderei com prazer estas duas perguntas na nossa “dupla live” hoje no Instagram da Rico às 17h e a partir das 18h. Bom pregão. Rico Matinal do dia 19/03 (quinta-feira) O que fazer em um mercado “disfuncional”?  Resumo do dia: Ibovespa -40% em 2020 (por Thiago Salomão) Ibovespa caiu 10,35% ontem e fechou a 66.895 pontos, enquanto o dólar comercial disparou para R$ 5,19 (+3,92%). A queda foi bem mais forte do que nas bolsas americanas, que caíram entre 4% e 6% ontem. A explicação pode estar na falta de sintonia entre governo e congresso (governo começou chamando a crise do coronavírus de histeria e menos de 24 horas depois anunciou calamidade pública) e na preocupação com os impactos oriundos das medidas emergenciais anunciadas – em São Paulo, por exemplo, o governador João Doria decretou o fechamento de shopping centers até 30 de abril. Com isso, a queda do Ibovespa já supera 40% em 2020. Praticamente nenhuma ação está se salvando, conforme levantamento abaixo feito pela XP. Obs: o levantamento não traz as companhias aéreas Gol e Azul, que caem cerca de 80%. Ontem o governo anunciou três medidas para ajudar as aéreas: (i) o adiamento do recolhimento de tarifas de navegação aérea, (ii) adiamento da cobrança de outorga das concessionárias de aeroportos sem incorrer em multa e (iii) a extensão do prazo para reembolso de passageiros. Embora as medidas (i) e (ii) não sejam tão representativas nos custos totais, a medida (iii) pode ser uma fonte de alívio. 
Nesta quinta, mercados operam bem voláteis, tendo começado o dia com quedas tímidas de 1% mas agora já acelerando as perdas (por aqui, o Ibovespa Futuro já recua 5%). De novidade, o BCE (Banco Central Europeu) anunciou um programa de compra de ativos de 750 bilhões de euros, acima do limite preestabelecido para afrouxamento monetário na Zona do Euro, e a presidente do BCE afirma que banco fará o que for necessário. O petróleo Brent sobe 5% hoje, após ter caído 15% e atingir US$25/barril, seu menor patamar em 17 anos, refletindo a guerra de preços anunciada no final de semana retrasado pela Arábia Saudita (sim, a crise não se trata apenas aos efeitos do coronavírus). No Brasil, o governo anunciou o segundo conjunto de medidas para combater os efeitos do coronavírus, que melhorou em relação ao primeiro conjunto anunciado, mas ainda parece aquém do tamanho da urgência na área da saúde e da desaceleração econômica em curso. Ao que tudo indica, o governo ainda parece reticente em avançar no gasto fiscal, apesar da flexibilização do primário decorrente da oficialização do estado de calamidade pública. Insight Rico: O que fazer em um mercado “disfuncional”? (por Thiago Salomão) Se um dos 13 leitores daqui acompanhou o Macro Pickers (episódio do Stock Pickers com gestores multimercados) com os gestores da XP Asset e da Ibiuna pode ver que as duas tinham alguns pontos de vistas diferentes sobre o mercado. Ontem, estivemos em contato com gestores de cada uma dessas casas e foi curioso notar que ambos usaram a mesma palavra para definir o estado atual do mercado: disfuncional.  Ontem, pelo instagram da Rico, o gestor do XP Macro, Bruno Marques, disse: “mercado está disfuncional, ele não está ‘se achando’, não tem conseguido encontrar preços pra diversas coisas. Estamos vendo um problema de liquidez muito grande”. Já o gestor da Ibiuna, Mario Torós, que esteve em call com assessores da XP Investimentos, fez uma comparação da crise atual com a de 2008 para explicar o status atual do mercado: “Em 2008 o capital que parou, mas agora o foi o trabalho que parou. Obviamente com o trabalho parando, o capital também para, por isso que os mercados estão disfuncionais.” Esse “ineditismo” que tem sido a grande questão levantada por muitos gestores para explicar por que há uma incerteza tão grande sobre o que virá daqui para frente. A crise atual, antes de ser econômica, é uma crise humanitária. Os mesmos antídotos usados em 2008 (cortes de juros + injeção de liquidez), quando a crise foi originada pelo próprio mercado, surtirão efeito agora que a crise tem como consequência o confinamento das pessoas em casa?  No longo prazo, as coisas tendem a se normalizar. A normalização gradual das coisas na China (onde tivemos ontem “zero novos casos” do coronavírus) e outros países da Ásia mostra que sim, nós venceremos isso. O problema é que, mesmo sabendo do final, teremos que assistir a todo este filme. Na China, foram cerca de 2 meses entre as primeiras medidas do governo e o controle da situação. Não podemos simplesmente replicar essa janela de tempo para o Ocidente pelas diversas diferenças culturais e de amostragem populacional, mas já nos traz uma noção de quanto tempo as coisas podem piorar antes de melhorar (pra não deixar de usar a frase mais ouvida hoje em dia no mercado financeiro). “Salomão, faltou responder a pergunta do título da newsletter!” Eu sigo com o mesmo discurso: tenha uma carteira diversificada em ativos de diferentes classes e deixe uma reserva de oportunidade disponível para fazer aportes graduais em ações – como recomendamos no Rico Matinal de ontem. Agora, só pra mudar um pouco o discurso, colocarei aqui também o que o Mario Toros disse ontem no call, quando perguntaram pra ele qual o melhor ‘hedge’ (proteção) que uma pessoa física pode ter agora: “hoje só existe um hedge para pessoa físicacaixaQualquer hedge pode ir para um lado, o mercado está disfuncional.”  [Quando falamos de ‘caixa’, nos referimos a investimentos extremamente seguros e com altíssima liquidez. Na Rico, nossa recomendação são os fundos Trend Pós-Fixado FIRF Simples.] Rico Matinal do dia 20/03 (sexta-feira) Comprando ações no “dia em que a Terra parou” Resumo do dia: Lave bem as mãos antes de se empolgar (por Thiago Salomão) Mercados sobem forte pelo segundo dia consecutivo, sequência que não acontece desde a semana pré-Carnaval. Bolsas da Europa sobem mais de 5% e futuros americanos avançam entre 2,5% e 3% enquanto escrevo e o Ibovespa Futuro abriu com alta de mais de 8%. Esse otimismo dos mercados é motivado por uma série de notícias que não sinalizam que o pior já passou, mas que dão esperanças de que venceremos essa crise: Estudos publicados em revistas acadêmicas dos EUA, China e França apontam que as drogas cloroquina e hidroxicloroquina, atualmente usadas no tratamento da malária e de doenças reumatológicas, apresentaram resultados promissores na inibição do novo coronavírus. No entanto, foram feitos testes em apenas 20 humanos e, por isso, existe um logo caminho de experimentos até que ela seja liberada para o novo uso. Mesmo assim, já há pacientes brasileiros que testaram positivo e que tiveram a droga prescrita. Segundo dia seguido sem novos casos de coronavírus na China Novos estímulos de Bancos Centrais: ontem, o BC da Inglaterra cortou os juros para 0,1% ao ano e elevou sua compra de títulos da dívida britânica para 645 bilhões de libras. Os preços do petróleo Brent sobem 4% nessa manhã, após terem avançado mais de 20% ontem, após comentários de Donald Trump sobre intervir na negociação entre Arábia Saudita e Rússia caso não cheguem a um acordo para acabar com a guerra de preços em curso. No Brasil, o Ministério da Economia anunciou ontem a antecipação de 25% do benefício do seguro-desemprego às pessoas que recebem até 2 salários mínimos e tiverem redução salarial e de jornada de trabalho – expectativa é de que R$ 10 bilhões sejam gastos com a medida. Também foi anunciado o reforço do atendimento virtual do INSS e comunicado que as agências manterão plantão reduzido apenas para orientações e esclarecimentos. Além disso, o Senado deve aprovar hoje, por meio de votação eletrônica, o decreto reconhecendo a calamidade pública que permite ao governo colocar em prática as medidas de enfrentamento à crise provocada pelo coronavírus e no Congresso, já há movimentação para ampliar os efeitos de parte das medidas anunciadas pelo Ministério da Economia até aqui, como a ampliação do valor do voucher para trabalhadores informais. Mas, os problemas ainda são grandes. Ontem, em teleconferência com a XP, o secretário do tesouro, Mansueto de Almeida, foi muito claro quanto aos impactos fiscais que o Brasil deverá sofrer neste ano: “resultado fiscal desse ano será pior do que o que estava estimado na meta. (…) Claramente vamos ter uma nova perda de receita. O que está acontecendo esse ano vai impactar o fiscal de todos os países do mundo, o importante é que esse impacto fique restrito a esse ano. Vai ter um boletim para o mercado poder acompanhar o acompanhamento de despesas, mas não me preocupa o tamanho do deficit esse ano. Um dos erros do combate a crise de 2008/09 foi transformar uma ação temporária que virou uma concessão de benefícios permanentes, por isso está muito vigilante e vai deixar muito claro no relatório do tesouro nacional o acompanhamento. Conclusão: vamos vencer essa guerra, mas não é pra se empolgar, é muito cedo para achar que as coisas serão resolvidas rapidamente. Deixo abaixo o estudo que o JP Morgan fez sobre como a epidemia se espalhou na Europa e indicando que o pico de casos de coronavírus no Brasil deve vir ainda entre 6 e 20 de abril. Para quem tem uma visão de longo prazo, algumas coisas já estavam aparecendo como boas oportunidades e essas reações no curto prazo mostram que já tem gente enxergando isso e comprando. Estando empolgado, não se esqueça de lavar suas mãos antes de ir às compras. Insight Rico: Comprando ações no “dia em que a Terra parou” (por Matheus Soares) [Já adianto que esse Rico Matinal ficou MUITO longo (estou imaginando o Salomão me xingando mentalmente por isso), mas quero trazer uma análise bem profunda sobre o impacto em cada setor da bolsa] No auge da década de 70, o cantor e compositor baiano Raul Seixas, um dos precursores do Rock Nacional, perseguido político na Ditadura Militar e um dos grandes ‘gênios’ que o país já teve, lançou a música “O dia em que a terra parou”. Não é tão difícil viajar nas músicas dele, mas essa, em especial, é no mínimo curiosa diante dos tempos difíceis que estamos vivendo. Observe como os versos rimam com os dias atuais: Sendo ele profeta ou não, a verdade é que no mundo todo, empregado, patrão, pobre, rico, branco, preto ou amarelo, todos estão sofrendo com a situação. Algumas cidades do Brasil, felizmente, ainda não foram atingidas pela ‘peste invisível’, mas a observarmos por São Paulo, coração financeiro do Brasil, o fluxo de pessoas nas ruas diminuiu consideravelmente diante da exponencial capacidade de transmissão do vírus. A Europa passa por uma crise sem precedentes após o surto pegar em cheio vários de seus países e, principalmente, a Itália. Nos EUA, à medida que o vírus se alastra, Nova York parou. Diferentemente do que Raul Seixas ‘profetizou’, não é que as pessoas combinaram de não sair de casa, elas simplesmente são obrigadas a não saírem. Essa crise já está sendo considerada uma das piores senão a pior que o mundo já enfrentou, uma vez que não envolve somente riscos financeiros, mas sim riscos relacionados à saúde das pessoas, o que deixa muita gente preocupada e com medo. Em entrevista à CNBC, Ray Dalio, gestor da Bridgewater Associates, o maior Hedge Fund do mundo, soltou: “o que está acontecendo nunca aconteceu em nossa vida antes. O que aconteceu foi que [a crise] não veio dos lugares habituais, ela não veio da maneira convencional que as viradas costumar vir”. Nem Dalio, muitas vezes citado em nossos Ricos Matinais, se salvou nessa crise: seus fundos chegaram a perder 20% neste ano. No Brasil, o rápido aumento no número de casos de coronavírus já tem provocado o ‘efeito shutdown’, com fechamento de escolas, eventos, shoppings e comércios. Diante dessa difícil realidade e visto que ao longo da semana falamos com vocês sobre os motivos para comprar bolsa ‘aos poucos’, traremos a seguir uma análise detalhada sobre o que olhar em uma empresa e as peculiaridades de cada setor nesse momento. A análise foi extraída do relatório setorial completo feito pela XP Investimentos nessa semana Ok, quero comprar uma ação, qual eu escolho? Você não está comprando só um pedaço de papel, atrás de uma ação existe uma empresa. Muitas ações caíram entre 60 e 80%, mas saiba o que essa empresa faz e como ela pode ser impactada pelo coronavírus. Veja a seguir como os impactos econômicos gerados pela paralisação de muitas atividades e restrições na circulação de pessoas e mercadorias, afetam os principais setores da bolsa: (i) companhias aéreas: seja a turismo ou a trabalho, a verdade é que as pessoas estão sendo obrigadas a não viajarem. Como a maior parte dos custos dessas companhias é fixo, ou seja, dívidas foram tomadas, aviões comprados e os funcionários contratados, a não ocorrência de viagens continuará corroendo o caixa da empresa. Para piorar, a forte alta do dólar, que nessa semana furou a barreira dos R$ 5,10 prejudica o setor visto que 35% do custo das aéreas é dolarizado. Sem ganhar dinheiro e tendo em vista que elas têm conta para pagar, o cenário pode ficar caótico. Calibre o risco que o setor trará com o tamanho da participação que você destinará a ele dentro da sua carteira. (ii) varejo: em momentos como esse as pessoas priorizam o consumo básico em detrimento de gastos que podem ser postergados (compra de geladeiras, celulares, móveis, roupas por exemplo), além do que a própria redução do tráfego nas lojas diminui o número de vendas. Com o mundo fechando as fronteiras e restringindo viagens, podemos ter eventuais problemas no abastecimento das lojas, em função de possíveis rupturas na cadeia de suprimento de algumas indústrias (especialmente eletrônicos). Por outro lado, o varejo farmacêutico ganha relevância, principalmente pela busca por itens básicos de saúde (remédios e produtos de higiene pessoal). Empresas mais expostas ao e-commerce podem passar com menores sustos pelo caminho. (iii) bancos: a solidez do setor bancário, que está capitalizado, faz dele defensivo em cenários de estresse. Contudo, são eles que fornecem crédito às empresas pequenas, médias e grandes. Se o Brasil para, as empresas postergam investimentos impactando assim a expansão da carteira dos bancos com o risco de muitas empresas não honrarem seus pagamentos. Além disso o menor consumo também leva a uma desaceleração nas receitas de serviços tais como conta corrente, anuidade de cartões, transferências e adquirência. (iv) energia elétrica e saneamento básico: o impacto do coronavírus nesses segmentos é marginal, uma vez que são bens que todos continuarão consumindo mesmo em quarentena. É claro que se as grandes fábricas, shoppings e aeroportos fecharem, o setor será impactado, mas enxergamos eles entre os que menos serão impactados em suas operações pela pandemia do coronavírus, tendo em vista que suas receitas são reguladas. No caso dos setores de geração e transmissão de energia, as receitas praticamente não estão ligadas à atividade econômica. Já no caso da distribuição, poderia haver algum impacto caso houvesse interrupção das atividades dos setores comercial e industrial, embora não acreditemos que esse ainda seja o caso. (v) commodities: é o setor que mais sofre com a perspectiva de queda do crescimento econômico global, justamente porque são as empresas que fornecem os insumos para o crescimento. Podemos separá-lo em diferentes segmentos: petrolífero, mineração, frigoríficos, celulose. Como o preço da commodity independe da sua análise (vide o que aconteceu com o petróleo após a Arábia Saudita oferecer desconto e dizer que elevará a sua produção) o peso dela dentro da sua carteira deve estar ajustada ao risco que você quer correr. Agora que você sabe como os setores serão impactados, é fundamental que você escolha empresas que vão conseguir superar a crise. Para aumentar as suas chances de acerto, é importante se atentar ao endividamento e necessidade de pagamento (ou liquidez) de cada empresa separadamente. Vamos aos três principais indicadores de sustentabilidade financeira: 1) Níveis de alavancagem O nível de rentabilidade e resultado operacional das empresas melhorou bastante nos últimos anos: no relatório, a XP traz que “desde 2015, as empresas do Ibovespa tiveram uma redução de endividamento superior a 7,0 dívida liquida/EBITDA (baixos preços de commodities pressionaram esse índice) para 2,5x atualmente. Mais precisamente, a partir de 2016 com a queda dos juros e a melhora gradual econômica e a recuperação das commodities, as margens operacionais (EBITDA) das empresas do Ibovespa melhoraram de 12% em 2015 para 22% em 2019”. Contudo, em um cenário de queda abrupta no consumo e forte recuo dos preços de algumas commodities que deverão impactar a geração de caixa das empresas e consequentemente o pagamento de suas dívidas, acreditamos que os níveis de endividamento devem aumentar nos próximos meses. Veja como exemplo Suzano e Klabin, que são empresas de endividamento elevado. Nos próximos dois anos Suzano tem R$ 9 bilhões em vencimentos de dívida (com caixa de R$12,5 bilhões) e Klabin tem R$3 bilhões em vencimentos (com caixa de R$9,7 bilhões); {{cta(‘fea6c7d3-251d-45d3-92f0-266be40dca22’)}} 2) Liquidez Corrente O segundo risco é de uma menor capacidade de honrar pagamentos de dívidas com vencimento para 2020 e 2021. “Neste ponto, vale observar individualmente as empresas que apresentam caixa menor do que o montante a ser pago da dívida no curto prazo, dado que a capacidade de geração de caixa e flexibilidade de pagamentos são pontos positivos nesse cenário e variam para cada uma. Isso pode levar a condições piores de refinanciamento (rolagem) dessas dívidas, dado as condições mais difíceis no mercado de crédito.”, diz o relatório Vamos lembrar que as grandes empresas listadas em bolsa dificilmente devem vir a ter problemas de liquidez e refinanciamento das suas dívidas. Esse risco potencialmente será maior para companhias privadas e menores, que têm acesso mais restrito ao mercado de crédito. Isso até poderia fazer as empresas listadas ganharem participação de mercado num cenário mais complexo de crédito. A seguir, seguem dois exemplos dentro do setor de varejo: Magazine Luiza, com exposição relevante no segmento online (50% das vendas totais), e Via Varejo, com maior exposição ao varejo físico (mais impactado). Magazine Luiza: com índices de alavancagem (Dívida Líquida/Ebitda) negativo de -3,0x, ou seja a Magalu tem 3x o seu Ebitda em caixa (Magazine Luiza), é a empresa o balanço mais sólido do setor, com uma posição de caixa líquido de R$ 3,9 bilhões. Via Varejo: apesar do índice de alavancagem relativamente baixo (0,7x), a empresa possui cerca de R$ 1,7 bilhão em dívidas bancárias vencendo no curto prazo e uma posição de caixa de R$ 1,4 bilhão. Porém, no 3T19 ela tinha uma posição de recebíveis de cartão de crédito no valor de R$ 1,4 bilhão, que podem ser descontados e gerar liquidez imediata para a companhia, sendo superior as dívidas de curto prazo. Além disso, ressaltamos que a companhia apresenta outros passivos no montante de R$ 4,4 bilhões, dos quais R$1 bilhão é referente a fornecedores convênio e R$3,4 bilhões a passivos de carnê. Existem também contrapartidas equivalentes no ativo via estoque e contas a receber, mas veja que a situação é mais delicada do que a de Magazine Luiza. 3) Dívidas em dólares O dólar em forte alta pressiona ainda mais empresas com endividamento ou custos atrelados à moeda. Mesmo as companhias que são exportadoras tendem a sofrer no curto prazo já que o balanço é ajustado com o câmbio de fechamento de trimestre, enquanto o fluxo de receitas demora até se ajustar ao novo patamar cambial. Por exemplo, o setor aéreo, conforme dissemos na parte setorial: Parte relevante das obrigações de companhias aéreas consiste em contratos de arrendamento de aviões, que por sua vez possuem um prazo atrelado à vida dos jatos e pagamentos de periodicidade anual. Essas obrigações são denominadas em dólar. Sem considerar o efeito do hedge (proteção), praticamente a totalidade da dívida das companhias, entre arrendamento e empréstimos, é atrelada ao dólar. Elas podem ‘quebrar’? Sim, não à toa ambos Azul e Gol caem quase 80% no ano, embora a alavancagem de ambas esteja controlada (Azul 3,3x e Gol 2,4x) quando comparadas a 2015 (Gol bateu 11x), caso a demanda cesse por completo, os custos fixos e as dívidas podem tornar a operação de ambas inviáveis. Será que as autoridades deixariam isso acontecer um ano após a quebra da Avianca, outra cia do setor? Acho difícil, mas vamos aos números. No final de 2019, a Azul possuía uma dívida bruta de R$ 15,6 bi, caixa e aplicações de R$ 1,7 bi ou R$ 4,3 bi se somarmos contas a receber e aplicações de longo prazo. Entre 2020 e 21, o montante a pagar entre arrendamentos e amortizações somava ~37% da dívida total. Já a Gol possuía uma dívida bruta de R$ 15,0 bi, caixa e aplicações de R$ 2,9 bi ou R$ 4,3 bi se somarmos contas a receber e aplicações de longo prazo. Entre 2020 e 21, o montante a pagar entre arrendamentos e amortizações somava ~42% da dívida total. Uma frase (meio trágica, mas real) que ouvi de um gestor e se encaixa no caso das aéreas: “Você não precisa correr mais rápido do que o leão, você precisa correr mais rápido que a pessoa que está correndo do leão”.  O Rico Matinal ficou longo, mas o recado final que eu gostaria de falar é: se você souber o que está comprando e os riscos embutidos, a chance de sua carteira de ações passar imune a essa situação apocalíptica é grande. Lembrando de uma frase muito dita pelo Florian Bartunek, da Constellation: “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”. Bom pregão a todos.