O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) elevou mais uma vez a nossa taxa básica de juros (a taxa Selic), para 12,25% ao ano – em mais uma decisão unânime entre os diretores.
Os motivos por trás da elevação da Selic vieram principalmente do cenário doméstico, com economia forte e incertezas fiscais persistentes no Brasil.
Diante do atual cenário, acreditamos que o Banco Central deverá dar sequência ao ciclo de alta de juros, até o segundo trimestre de 2025, quando a taxa básica de juros deverá atingir o patamar de 15,0% ao ano.
Entenda mais sobre como os juros impactam a inflação aqui.
O que disse o Copom?
Após cada reunião, o Copom divulga um comunicado detalhando sua decisão e sinalizando a direção que deve tomar dali em diante em relação à política monetária – ou seja, à taxa de juros.
No documento de hoje, o Comitê destacou que o ambiente internacional segue desafiador. Ao mesmo tempo em que os juros começaram a cair nos Estados Unidos, o que poderia beneficiar emergentes como o Brasil, o contexto segue incerto sobre o ritmo de desaceleração da maior economia do mundo – dinâmica de incerteza que tende, a nosso ver, a ser ampliada pelo recente desfecho eleitoral no país.
Aqui no Brasil, o Comitê seguiu indicando a robustez da economia como fonte de pressão sobre os preços pelo lado da demanda, com destaque para o aquecimento do mercado de trabalho.
Vale lembrar que: um mercado de trabalho aquecido tende a pressionar os salários, dado o maior “poder de barganha” de trabalhadores e a busca por mão de obra. Com maiores salários e grande parte da população empregada, aumenta-se a demanda por bens e serviços na economia – e o movimento de alta de preços ganha força, retroalimentando-se.
O comunicado de hoje também elevou o tom do recado sobre o risco fiscal. Nesse sentido, o Comitê destacou a reação dos investidores ao recente anúncio de um pacote de corte de gastos públicos.
Conforme descrito, o evento afetou o prêmio de risco dos ativos financeiros brasileiros (como títulos de renda fixa e ações), as expectativas sobre os preços no futuro e a taxa de câmbio — variáveis que impactam diretamente a inflação.
Expectativas de inflação: o que são?
As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si. A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo? Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro).
Além disso, chama a atenção o tom do Comitê sobre a materialização dos riscos observados desde sua última reunião, que passaram de “incertos” para “adversos”. Em outras palavras, o que antes era observado com cautela como potencial risco para o controle dos preços se tornou realidade.
Nesse contexto, o Copom optou por elevar a Selic em 1,0 ponto percentual, para 12,25% ao ano, dando continuidade ao ciclo de alta de juros iniciado em setembro.
Para completar o recado duro, o comunicado sinalizou para mais duas elevações da taxa Selic, de mesma magnitude (1 ponto percentual), nas próximas reuniões do Copom. Ou seja, a Selic em 14,25% em março de 2025.
Selic deve atingir 15,00% em 2025
Acreditamos que o Banco Central deverá dar sequência ao ciclo de altas da Selic ao longo dos próximos meses – implementando elevações graduais até o patamar de 15,00% no segundo trimestre de 2025.
Ou seja, nossa política monetária seguirá em nível contracionista. Nesse nível, o objetivo é a desaceleração da economia – tornando o crédito mais caro, desincentivando o consumo, incentivando o investimento e, assim, reduzindo a demanda por bens e serviços e reduzindo a pressão sobre os preços.
Isso porque o cenário para os preços adiante segue mais adverso.
Do lado internacional, embora o Fed já tenha iniciado o ciclo de corte de juros, a inflação tanto nos Estados Unidos quanto em outros países desenvolvidos (especialmente na Europa) segue ligeiramente acima da meta – o que ainda requer atenção.
Mas é o cenário doméstico que hoje abriga os principais riscos. Como destacado pelo Copom, o aquecimento do mercado de trabalho, a robustez da economia, moeda enfraquecida e as expectativas sobre a inflação no futuro demandam uma posição mais cautelosa no controle dos preços adiante. Além disso, a piora da percepção dos riscos fiscais após o anúncio pacote de corte de gastos públicos foi o grande destaque nesta comunicação do Copom.
A volatilidade da nossa taxa de câmbio também representa um risco no controle dos preços. Afinal, boa parte do que produzimos e consumimos internamente tem uma “parcela em dólar” – como produtos importados ou mesmo insumos para a produção dos mais diversos bens, como alimentos, roupas e carros.
E tal volatilidade tem estado bastante presente nos últimos meses, refletindo tanto a piora da percepção de risco fiscal no Brasil, quanto o movimento de alta do dólar globalmente. Para se ter uma ideia, o real saiu de R$ 5,44 no início de outubro, para R$ 6,09 no início de dezembro. No ano, o dólar acumula cerca de 20% de alta frente ao real.
Nesse cenário, uma vez que o objetivo principal do Copom é manter a inflação na meta (no caso atual, 3,0% ao ano), acreditamos que a Selic deverá seguir em alta até que essa realidade se aproxime.
Vale lembrar que a política monetária opera com defasagem, fazendo com que o Banco Central sempre mire o que chamamos de “horizonte relevante de política monetária”. Em outras palavras, como os efeitos da taxa Selic demoram a ser sentidos na economia, o objetivo de trazer a inflação para a meta sempre irá considerar as projeções da inflação no futuro – e não necessariamente a inflação que vemos hoje.
Mas os juros não devem seguir para sempre em alta
Como falamos nesse texto em detalhes, a elevação dos juros pode ser vista como um “remédio amargo, porém necessário, para conter uma doença ainda pior: a inflação”.
Assim, embora projetemos que a Selic siga em elevação nos próximos meses, a nossa taxa básica de juros não deverá seguir em alta de maneira permanente. Acreditamos que o Copom poderá encontrar espaço para um início de corte de juros até o final de 2025, mesmo que gradual. Isso se o “remédio” tiver surtido seu efeito até lá.
Vou sentir a alta dos de juros?
Para o dia a dia do brasileiro, pouca coisa muda com a elevação da Selic para 12,25% – especialmente no curto prazo.
Isso porque, como falamos, mudanças na taxa básica de juros demoram a ser sentidas na economia – chamamos esse efeito de “defasagem da política monetária”. No Brasil, o intervalo para que alterações na Selic sejam refletidas nas taxas para empresas e pessoas física varia de 3 a 12 meses.
Além disso, o impacto também varia de acordo com a modalidade do crédito. Por exemplo, a variação de 1p.p. na taxa Selic leva a uma variação quatro vezes maior nos juros médios do cheque especial ao longo de doze meses (conforme estudo do Banco Central). Já outros tipos de crédito, como o imobiliário e para veículos, são impactados em um período de 6 e 3 meses em média, respectivamente.
Assim, a sensação de aperto das condições financeiras deve voltar a ganhar força gradualmente ao longo de 2025.
Renda fixa segue atrativa
Diante da elevação da taxa de juros no patamar contracionista, a renda fixa brasileira segue atrativa – garantindo retornos elevados para investimentos pós fixados e reserva de emergência.
Além disso, diante de um cenário onde a inflação segue um risco no longo prazo, títulos de renda fixa atrelados à índices de preço seguem uma excelente proteção para seus investimentos – dando espaço para vencimentos mais longos, com prazo médio de seis anos.
Para os pré-fixados, os últimos meses foram marcados pela elevação das taxas observadas. Mas esse tipo de alocação ainda requer atenção! A incerteza sobre os rumos da inflação no Brasil (e no mundo) voltaram a impactar as expectativas sobre os juros de longo prazo, desvalorizando títulos existentes e adicionando risco adiante.
Por isso, mantemos nossa recomendação para pré-fixados reduzida e bastante cautelosa, priorizando vencimentos de curto prazo (2 anos) e oportunidades pontuais em títulos privados. Confira nossas recomendações de renda fixa aqui.
Dito isso, o momento segue propício por um bom equilíbrio entre os diferentes indexadores na carteira do investidor.
Selic em alta pede cautela, mas não o fim da diversificação na bolsa
Independente da taxa Selic em patamar elevado, a diversificação dos investimentos segue a melhor amiga de bons retornos no longo prazo. Além disso, vale destacar que seguimos vendo a bolsa brasileira como barata (comparada ao histórico recente e a pares emergentes), e uma frente de oportunidades para investidores com horizonte de longo prazo.
Dito isso, o cenário de juros altos por mais tempo contribui para um ambiente mais desafiador para empresas – e assim, investimentos na bolsa.
Essa dinâmica é sentida principalmente por ações mais sensíveis aos movimentos dos juros, como as cíclicas (ou seja, de empresas que atuam em setores que refletem de maneira mais clara o “sobe e desce” da economia) e com maior nível de alavancagem – em bom português, com maiores dívidas.
Nesse contexto, seguimos com nossa recomendação de manter um bom “filtro” para a escolha das empresas, buscando companhias com balanços mais sólidos, que possuam maior qualidade em seu negócio, e que possam oferecer resiliência em meio ao cenário doméstico ainda desafiador.
Recomendações completas
Confira todas as nossas recomendações, de acordo com cada perfil de investidor, no Onde Investir da Rico. E abaixo, separamos algumas sugestões de investimentos recomendados nas principais classes de ativos para o cenário atual.
Classe | Opção de investimento | Opção de investimento 2 | Mínimo da opção mais acessível |
Renda fixa pós-fixada | Tesouro Selic 2027 | Selection RF Light FIC Renda Fixa Crédito Privado LP | R$ 100,00 |
Inflação | NTN-B ago-30 IPCA+6,70% | Trend Inflação Geral | R$ 50,00 |
Renda Fixa Prefixada | DEB Aegea 15/05/2029 14,90% | – | R$ 100,00 |
Renda Fixa Global | Trend High Yield Americano FIM | Trend Crédito Global FIM | R$ 100,00 |
Multimercado | Selection Multimercado FIC FIM | Kinea Atlas II | R$ 100,00 |
Renda variável Brasil | Carteira Rico11 | Selection Ações FIC Ações | R$ 100,00 |
Renda variável internacional | Wellington Ventura Dólar Advisory CIC Ações IE RL | – | R$ 500,00 |
Renda variável internacional hedgeada | Trend Bolsas Globais | Trend Bolsas Chinesa | R$ 100,00 |
Alternativos/ Fundos Imobiliários | Carteira de FIIs Rico | Trend Ouro | R$ 100,00 |
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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