(Por Paula Zogbi e Lucas Collazo) 

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Há seis meses, basicamente “qualquer coisa” no mercado de ações era uma oportunidade de compra. Agora, por outro lado, a bolsa já não está mais tão barata, mas “tirando uma ou outra coisa esquisita” (vide o caso da GameStop nesta semana), não existe sinal de bolha.

Essa é a opinião de João Luiz Braga, que recém-lançou sua gestora, a Encore, e já trouxe dois fundos para a plataforma da Rico: o Encore Ações Advisory (um fundo de ações) e o Encore Long Bias Advisory (um multimercados) — faça login e clique nos links para ver os fundos na plataforma da Rico. 

A opinião tem base na comparação entre bolsa e juros, o conceito “equity x risk premium”, ou seja, quanto de prêmio os investidores pedem, em relação aos ativos de renda fixa com risco de crédito ‘zero’, para estar em bolsa.

“Por esse conceito, nem aqui nem nos Estados Unidos a Bolsa está cara. É claro que isso é afetado pelo juro muito baixo: se o juro subir muito forte, aqui ou lá, isso vai afetar a bolsa”, disse ele a este Rico Matinal.

Para quem não conhece, o Braga tem mais de 15 anos de mercado financeiro e já foi gestor dos fundos de renda variável da XP Asset e do Credit Suisse Hedging-Griffo, trabalhando no time liderado pela lenda Luís Stuhberger, criador do consagrado Fundo Verde.

Hoje, sua estratégia não é carimbada: as carteiras dos fundos não terão apenas ações de “valor” (setores mais consagrados) ou de “crescimento” (empresas mais jovens em fase de expansão). O que ele acredita é na necessidade de escolher boas empresas a dedo, dado que as oportunidades já não são tão óbvias como eram no início da pandemia.

“Se a gente gosta de estatal, vai ser estatal; se a gente gosta de commodity, vai ser commodity; se a gente gosta de tecnologia, vai ser tecnologia”, elencou o gestor no podcast Outliers — um posicionamento diferente de seu maior mentor, Stuhlberger, que foge de estatais. O rótulo mais próximo da estratégia que a Encore quer adotar, segundo ele, é “value com trigger” (ou “valor com gatilho”) — a ação precisa ser de qualidade, mas ter alguma notícia que vá chamar a atenção do mercado.

Ok, mas do que o Braga gosta agora?

Deixando claro que essa visão pode mudar a qualquer momento, ele disse para a gente que a carteira favorita agora é “um mix entre commodities, que estão em uma situação muito boa, e, do outro lado, nomes que foram muito beneficiados pela covid, como saúde e tecnologia”. Sim, ele sabe: “são coisas bem antagônicas, que deveriam ser hedge [proteção] uma da outra” — empresas de commodities são consideradas “valor” e tecnologia, “crescimento”. Mesmo assim, ele vê essas duas categorias indo bem neste momento.

Por que commodities? Com a moeda chinesa forte e o real fraco, as exportadoras de commodities no país estão ganhando muito dinheiro. Além disso, é uma jogada “pró-ciclica”, ou seja, que se beneficia em momentos de melhora da economia (o que tende a ser o caso após o tapa na cara de 2020). Vale lembrar que falamos de commodities em um outro Insight recente. 

E por que tech/saúde? A transformação nos padrões de consumo foi “violenta”, nas palavras dele, a ponto de ter espaço, sim, para essas empresas que já subiram consideravelmente em 2020 continuarem crescendo — a famosa tese dos 5 anos em 5 meses. Já em saúde, ele vê uma demanda reprimida por planos suplementares: as pessoas viram seus parentes precisando de atendimento médico e, se puderem, vão pagar por planos de saúde.

Riscos: vacina e fiscal

O Brasil “mandou muito mal” no planejamento das vacinas contra a covid, mas Braga dá o benefício da dúvida para um país que historicamente tem ótimos índices de vacinação da população.

Já o risco fiscal é “disparado” o maior risco para a bolsa brasileira, na sua visão. Isso tem a ver com o que falamos no início desse texto: juro baixo é bom para a bolsa; juro alto, ruim. Se as dívidas aumentarem muito mais que o orçamento, os juros de longo prazo dos títulos públicos tendem a subir consideravelmente. “Eu acho que não é 3 meses a mais de auxílio emergencial que vai desancorar, mas se a galera achar que a solução para o Brasil é crescer o Estado, realmente acho que seria muito preocupante”.

Elaborado por:

Betina Roxo, CNPI 1493

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