Parece que foi ontem que eu escrevi sobre a temporada de resultados do segundo trimestre (no dia do meu aniversário). De repente, já estamos na temporada do terceiro trimestre, que pelo menos deve ser melhor do que o período mais desafiador de 2020 – abril a junho, quando tivemos a queda histórica do PIB de -9,7%.

Economicamente falando, os indicadores referentes ao terceiro trimestre desse ano têm apontado para uma retomada significativa. Os índices de confiança e indicadores de atividade (vendas no varejo e produção industrial), além do mercado de trabalho formal ficaram acima das expectativas nos últimos meses, sustentados principalmente pelos estímulos implementados durante a pandemia (como o auxílio emergencial).

Com isso, a sinalização é de que o Brasil deve fechar o ano de 2020 com um PIB menos negativo do que o previsto inicialmente (prevemos queda de 4,6%). Porém, vale destacar os importantes riscos que não podem ser desconsiderados, como a trajetória fiscal brasileira, que traremos em mais detalhes no Rico Matinal de amanhã com uma convidada suuuuper especial.

O nosso cenário base não prevê uma deterioração além do esperado das contas públicas. Ou seja, consideramos que o teto de gastos será mantido, sem nenhum “furo”, ou “goteira”, pelo menos até o ano que vem! Com isso, estimamos uma expansão do PIB em 7,8% trimestre conta trimestre no terceiro trimestre desse ano e de 3,4% em 2021.

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Voltando para as empresas da bolsa (clique aqui para baixar o calendário de divulgações dos resultados)…

Para o período de julho a setembro, o mercado espera uma melhora em relação ao 2º trimestre, mas ainda assim com resultados mais fracos em relação a 2019.

A expectativa é de queda de -15% no lucro operacional (EBITDA) para as empresas do índice Ibovespa no 3º tri 2020 em relação ao mesmo período de 2019, e uma queda de -60% no Lucro Líquido.

Lembrando que, no 2º trimestre de 2020, o mais impactado pela pandemia, o mercado esperava uma queda de -73% no Lucro Operacional (EBITDA), e os resultados vieram melhores que o esperado, com uma queda de “apenas” -26,5%.

Bom, que o ano de 2020 está longe de ser um ano normal, já sabemos. Por isso, os investidores devem estar mais atentos à comparação dos resultados vs. as expectativas do consenso de mercado do que à comparação dos números com o mesmo período do ano passado.

Além disso, muito importante observarmos os níveis de endividamento e liquidez das empresas, assim como as expectativas e estratégias de cada uma delas para os meses à frente, a fim de termos mais visibilidade sobre a velocidade de recuperação.

Destaques positivos

Na ponta positiva, a expectativa é de resultados fortes para os setores de mineração, com destaque para à alta do preço de minério de ferro (+30% trimestre contra trimestre) e a retomada gradual da demanda de aço, bem como para os frigoríficos, principalmente os expostos às carnes bovina e suína.

Os bancos também devem reportar bons resultados, com lucros ainda inferiores ao mesmo período do ano passado, mas apresentando aumento sequencial (trimestre contra trimestre).

No caso do setor de petróleo (vulgo Petrobras), os resultados devem ser significativamente melhores em relação ao trimestre passado, refletindo o aumento da produção de petróleo (+6,6% vs. 2º trimestre) e os preços 30% mais altos de petróleo Brent (US$43,3/barril no 3º trimestre vs. US$33,3/barril no 2º trimestre).

No varejo, o trimestre deve ser marcado pela transição para a normalização de resultados, com gradual recuperação de vendas do varejo físico dada a reabertura das lojas ao longo do 3º trimestre, ao mesmo tempo em que as empresas de e-commerce devem continuar apresentando resultados fortes, apesar de ter alguma acomodação no crescimento frente à retomada do varejo físico.

No setor de construção civil, os resultados devem ser sólidos para as incorporadoras como um todo, com destaque para o segmento de baixa renda, cuja recuperação vem acontecendo em ritmo mais rápido que o de alta.

Por fim, os resultados do setor elétrico e de distribuição de combustíveis devem refletir, ainda que de maneira mais branda, os impactos da crise da COVID-19, enquanto os das empresas de saneamento devem ser um pouco mais fracos.