De acordo com dados oficiais, o PIB dos Estados Unidos – que se refere ao fluxo de tudo o que o país produz em termos de bens e serviços em determinado período – registrou alta de 0,26% no segundo trimestre de 2023 em relação ao último trimestre de 2022.

Em termos anualizados (como é normalmente calculado o PIB nos EUA), o resultado foi de alta de 1,1% no período.

Isso significa que a economia americana cresceu levemente no período entre janeiro e março desse ano, em comparação com o período entre outubro e dezembro de 2022. 

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Por que o PIB americano cresceu?

Apesar da alta, o resultado do PIB veio pior do que o esperado pela maioria dos analistas de mercado, com detalhes sinalizando que a maior economia do mundo perde força gradualmente desde o início do ano.

Se, por um lado, o crescimento no trimestre foi puxado especialmente consumo, tanto do governo quanto das famílias, e pelo resultado positivo do setor externo (com crescimento das exportações), a forte queda de 12,5% dos investimentos privados no período indica menor crescimento adiante.

Para se ter uma ideia, os investimentos em estoques por parte de empresas privadas colapsaram no início desse ano, indo de US$ 168 bilhões no último trimestre de 2022 para zero entre janeiro e março de 2023.

Na tabela abaixo, podemos ver o desempenho dos principais componentes do PIB americano, ficando clara a desaceleração entre os resultados vistos na segunda metade de 2022 e nos primeiros meses desse ano.

A economia americana vai entrar em recessão?

O enfraquecimento da economia dos Estados Unidos é reflexo principalmente do aperto monetário (ou seja, elevação da taxa básica de juros) conduzido pelo Banco Central americano (o Fed) desde março do ano passado. Assim, podemos dizer que essa desaceleração não era apenas esperada, como também desejada – a menos para o controle da inflação.

Afinal, a elevação dos juros tem como objetivo principal o controle da alta de preços na economia por meio do encarecimento do crédito, do incentivo à poupança e do efetivo desaquecimento econômico. Com a economia menos aquecida, reduz-se a demanda por bens e serviços, e assim, a pressão sobre os preços.

Para ilustrar, o gráfico abaixo mostra como as taxas de juros de hipotecas no país subiram substancialmente conforme o Fed foi elevando a taxa básica de juros na maior economia do mundo. Em bom português: o sonho da casa própria americana ficou muito mais caro no último ano.

Para se ter uma ideia, o custo médio mensal pago por uma família americana em um imóvel subiu 132% nos últimos três anos, adicional ao aumento médio de U$S 40 mil no pagamento dado na entrada.

Para os próximos meses, esperamos que a economia americana continue desacelerando, e entre efetivamente em recessão na segunda metade do ano – com queda do PIB no segundo e no terceiro trimestres.

Isso porque os juros devem seguir altos ao longo desse ano, mesmo que o Fed encerre o ciclo de altas em breve. Vale destacar também que o efeito da elevação de juros demora a ser sentido na economia. Ou seja, as famílias e empresas americanas só começaram a efetivamente sentir os impactos do crédito mais caro há alguns meses, com isso se refletindo aos poucos na economia como um todo.

No gráfico abaixo podemos ver esse movimento com mais clareza: mesmo com a alta de juros tendo começado em março de 2022, só vemos as condições monetárias no país entrarem em território de contração no final do ano passado.

Dito isso, vale destacar que não esperamos que a economia americana entre um período de forte contração e crise – como o vivido, por exemplo, nos anos que seguiram a quebra do banco de investimento Lehman Brothers em 2008 e da eclosão da bolha financeiro-imobiliária no país.

E esse pode ser o melhor cenário nas atuais circunstâncias para o Brasil, como falaremos a seguir. 

Como uma recessão nos Estados Unidos afeta o Brasil?

Independente de “acertarmos em cheio” a performance do PIB dos Estados Unidos nos próximos meses, sabemos que qualquer desaceleração na economia americana tende a impactar grande parte do mundo, inclusive o Brasil. Afinal, trata-se da maior economia do mundo, e segundo principal parceiro comercial do Brasil (em importações e exportações).

Assim, um cenário de recessão aguda nos EUA poderia ter impactos bastante negativos para os mercados e a economia brasileira. Isso poderia incluir o aumento da aversão ao risco entre investidores, o fortalecimento do dólar (como porto seguro em momentos de incerteza), a própria desaceleração global causada pela crise, e uma provável queda no preço de commodities – diante da menor demanda por insumos básicos.

Entretanto, no outro extremo, um cenário de não desaceleração da economia americana tampouco seria benéfico para o Brasil no momento atual. Isso porque o movimento provavelmente se traduziria em juros ainda mais altos nos EUA, o que seguiria pressionando nossos juros por aqui, além de também fortalecer o dólar (atraídos por juros altos) e elevar a incerteza sobre a performance de ativos financeiros como ações e sobre a própria economia no futuro – por conta do aperto monetário ainda mais forte.

Deste modo, o cenário de desaceleração relativamente branda da economia americana tende a ser positivo para o Brasil. No caso, um cenário em que o Fed encerra o ciclo de alta de juros, o dólar tende a enfraquecer, o preço de commodities mantém-se relativamente estável em patamares ainda historicamente altos, e não vemos picos de aversão ao risco entre investidores.

Não obstante, há riscos a esse cenário relativamente mais benigno. Afinal, ainda existe a possibilidade de a economia americana enfrentar uma crise mais grave conforme o aperto monetário é sentido na economia, ou mesmo de que a inflação volte a subir e não permita que o Fed pare de subir juros. Porém, esses riscos hoje parecem de menor probabilidade.

Como investir com os Estados Unidos em crise?

Como falamos, o processo de desaceleração de crescimento e de alta de juros nos EUA tem impactado mercados não somente por lá, mas também ao redor do mundo. Afinal, estamos falando da maior economia do mundo e do centro financeiro global.

Além disso, apesar da visão relativamente mais positiva para os impactos de um “landing neutro” (ou seja, entre o “soft landing” e o “hard landing”) da economia americana no Brasil, o cenário segue bastante incerto.

Assim, mantemos nossa recomendação cautelosa para investimentos com exposição aos Estados Unidos, principalmente no mercado de ações. Isso porque, além da desaceleração econômica em curso, entendemos que os preços de ativos americanos seguem altos, com espaço para contração de lucros de empresas e mais quedas no mercado acionário adiante.

Nesse cenário, estratégias como manter um caixa fortalecido para boas oportunidades de investimentos e imprevistos, sua carteira diversificada e protegida contra a inflação e o foco em retornos de longo prazo serão seus maiores aliados.

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Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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