Insight Rico: Mais importante que a mensagem é o mensageiro
Essa foi uma das frases que eu mais ouvi o Salomão (para quem não sabe, o criador do Rico Matinal) falar para mim. Na rotina de analisar os mercados, o noticiário vive aberto na sua tela de computador, saindo e entrando em reuniões de cenário com investidores. Talvez esse conselho tenha sido um dos mais úteis para facilitar e otimizar meu dia a dia.
Um exemplo claro é justamente a clássica virada de mês: as gestoras de fundos de investimento costumam publicar suas cartas mensais e realizar teleconferências com os investidores, com o intuito de atualizar a todos sobre suas visões de investimento. Na época, como analista de fundos, eu precisava fazer sozinho o que muita casa de análise tinha um time dedicado para fazer, por isso, não poderia perder tempo lendo toda e qualquer carta, participando de todas as teleconferências – deveria focar naquilo que realmente importa, que saía das mãos e bocas dos mensageiros mais importantes.
Um dos “mensageiros” relevantes é a Verde Asset, não só pela quantia sob gestão, mas por ser a casa de um dos gestores mais vencedor do Brasil: Luis Stuhlberguer. Em sua carta desse mês, a Verde trouxe uma leitura mais otimista para o cenário:
“A eleição americana parece ter se resolvido da maneira mais favorável para o preço dos ativos. Vitória de Joe Biden para a presidência, reduzindo a volatilidade inerente do estilo Trump de governar, ao mesmo tempo que os republicanos mantêm controle do Senado (pendente ainda de duas eleições para as cadeiras representando o estado da Georgia), o que mitiga os temores de uma agenda governamental muito à esquerda, especialmente envolvendo aumentos de impostos. A queda da incerteza é a principal explicação para a alta dos mercados, e vemos espaço para ela continuar, ainda mais combinado com a indicação construtiva da vacina.”
Uma mensagem positiva como essa, vinda de um “mensageiro” que não precisa ser otimista, já que seu carro-chefe é a gestão multimercado, que permite monetizar seus investimentos em qualquer cenário, chama a atenção. Mas não podemos nos animar tão facilmente. Por mais que essa opinião seja de extrema relevância, sempre bom dar ouvidos para mais vozes do mercado.
E já que os multimercados não têm a necessidade de estar construtivos com o cenário, por que não ouvir alguém que geralmente está o contrário disso? A Adam Capital é mais uma das “grandalhonas” da indústria brasileira e tem como líder Márcio Appel, outro grande nome brasileiro. Historicamente, Appel e seu time sempre estiveram mais pessimistas com o Brasil. Inclusive, participar de qualquer ligação com eles no pico da pandemia em março/abril deste ano, era um teste para o estômago.
Porém, os principais fundos da casa estão comprados em bolsa brasileira, ou seja, mais construtivos com o cenário local tupiniquim. E a Adam não está somente gostando mais de Brasil: também está gostando menos dos demais países. Digo isso pois estão com uma posição vendida (quando se ganha na queda) em índices globais de ações.
Mudando um pouco o estilo do mensageiro: as gestoras especializadas em ações são naturalmente mais otimistas, já que, por regulamento, devem permanecer com 67% do patrimônio de seus fundos em ações. Com isso, costumam ter uma visão mais construtiva para o famoso “longo prazo”. Eu não os julgo, realmente se tornar sócio de boas empresas é uma das melhores formas de rentabilizar o capital em janelas mais longas de período.
A Brasil Capital é uma das nossas principais recomendações na modalidade, e, para ser sincero, com exceção das gestoras lendárias como Atmos, Dynamo, e companhia, a BC é uma das minhas gestoras de ações prediletas. Com uma única estratégia “long only” (apenas posições compradas em ações), seu time de investimento com quase 30 profissionais “dorme e acorda” pensando em quais são as melhores empresas para se tornar sócio. Um time muito horizontal, sem um(a) “grande figurão” na tomada de decisão.
“Fizemos algumas alterações pontuais no portfólio, aumentando marginalmente posição nos setores de papel/celulose e utilidade pública e reduzindo em bens industriais e infraestrutura. Procuramos ter um portfólio equilibrado, com maior peso para empresas dos setores classificados como “serviços essenciais”, formado por empresas geradoras de caixa, líderes de mercado, previsíveis, com baixo endividamento, vantagens competitivas estruturais e, em sua maioria, ligadas a setores como infraestrutura, varejo eletrônico, saúde, educação e utilidades públicas.”
Essa foi a última leitura da carteira da Brasil Capital, que nitidamente segue focada no “filet mignon” da bolsa brasileira em termos de qualidade. Essa história de focar em companhias com baixo endividamento, líderes de mercado, com forte geração de caixa e vantagens competitivas estruturais, é o que o professor Damodaran (amigo pessoal da Betina) mais gosta, talvez algo diferente disso num cenário que ainda é composto por incerteza, seja salgado demais.
Dando continuidade as leituras, sempre é bom lembrar que o Brasil é importante, mas não é tudo no mundo. Os gestores de fundos no exterior também expressam suas opiniões – nem sempre em português, é claro, mas é fundamental acompanhar, dada a relevância que o exterior tem tomado em nossas recomendações de carteira.
A Wellington é a gestora “gringa” com o nome mais “brazuca” de todas. Uma das suas especialidades é o investimento em ações globais, fazendo uma análise focada nos fundamentos das empresas, gastando bastante tempo (e dinheiro) na análise profunda dessas companhias.
Para a equipe da gestora, o mundo seguirá com um crescimento econômico moderado, e o grau de incerteza continua considerável. Porém, não pode-se ignorar que os Bancos Centrais e governos ao redor do mundo têm feito esforços fiscais gigantescos e pretendem continuar conforme necessidade, e isso tem dado uma base importante para o mercado de ações globais.
Dito isso, eles seguem otimistas, mas com uma carteira bem mais balanceada para atravessar por esse período de maior volatilidade.
É claro que não são apenas estas quatro gestoras as “mensageiras” mais importantes para se ler, existem muitas outras que são fundamentais de se acompanhar. Contudo, caros 13 leitores, acho que já deu para sentir um “gostinho” de maior otimismo entre os grandes investidores.
Não podemos levar as opiniões dos gestores como algo que está “cravado na pedra”, afinal de contas, como dizia o gestor de renda variável João Braga, “sou pago para mudar de ideia” – e todos os gestores são no fim do dia -, mas sempre entendi a leitura de cartas como uma boa forma de “sentimentalizar” o que os principais participantes do mercado estão pensando sobre o atual cenário.
É como dizia o Salomão: “mais importante que a mensagem é o mensageiro” e, se permite Saloma, adiciono a esta frase: “e onde ele está investindo o dinheiro”.
Resumo do dia: Eleições municipais no Brasil e seus impactos
(por Júlia Aquino)
Mercados globais começam a semana em alta, com Stoxx 600 subindo 0,7% e futuros nos EUA subindo entre 1% e 1,4% com a divulgação de bons resultados de empresas, otimismo global sobre a vacina na última semana e investidores se abrindo mais ao risco.
Na Europa, o VP do Banco Central Europeu pediu hoje aos bancos da Zona do Euro que continuem absorvendo as perdas em suas reservas de capital sem prejudicar a concessão de crédito para as indústrias de bens e serviços, que ele afirma precisarem de mais tempo para se recuperarem dos efeitos do coronavírus. Enquanto isso, os líderes dos maiores países do continente adotam medidas cada vez mais restritivas para conter a escalada de casos.
Nos EUA, o presidente eleito Joe Biden continua sua preparação para 2021 e deve começar a focar hoje em planos para auxiliar a economia americana, enquanto o presidente Donald Trump confirmou que vai continuar contestando o resultado das eleições nos tribunais.
O Congresso brasileiro volta ao trabalho (ainda em ritmo reduzido, diga-se) com decisões importantes à frente, depois de um primeiro turno de eleição municipal que vinha sendo tratado como uma espécie de marco a partir do qual a discussão sobre teto e Renda Brasil poderia caminhar para um desfecho.
Segundo o time de análise política da XP Investimentos, dois pontos merecem lembrança: o primeiro é que, entre os articuladores do governo, o intervalo entre os turnos não é visto como uma boa oportunidade para essa discussão. A tendência é de semanas de “readaptação”, segundo um líder da Câmara com quem falamos ontem, com a tentativa de algum avanço na pauta apresentada por Ricardo Barros, que deve ser discutida em reuniões no início da semana. Ela inclui, ainda sem definição, o programa de recuperação dos estados, liberação de estoque de fundos, MP da Casa Verde e Amarela, autonomia do BC e marco da Cabotagem.
O segundo é o impacto que os resultados que saem deste primeiro turno podem ter na discussão da agenda fiscal. Jair Bolsonaro, apesar de não ter feito campanha propriamente dita, vê impacto da derrota de aliados (a principal delas em São Paulo) e da escolha do eleitorado por candidatos mais tradicionais e menos extremos.
Antes da disputa, Bolsonaro hesitava em tomar uma decisão sobre o caminho que seguiria na bifurcação da discussão do Renda Brasil e do teto de gastos que aparece agora à frente. Se, para decidir, Bolsonaro esperava capital político vindo das urnas neste domingo, ele não veio — o que tende a reforçar sua hesitação. A pressão no Congresso será, como sempre foi, por gastos. Para se manter no rumo, a agenda fiscal se torna ainda mais dependente da equipe econômica e da liderança de Maia.
A preocupação com uma segunda onda de casos de coronavírus reacende no país, principalmente em São Paulo, onde o Hospital Sírio-Libanês, afirma que voltou a atingir o pico de internações do início da pandemia, em abril, de 120 novos pacientes por dia. O número vinha oscilando entre 80 e 110 nos últimos dois meses.
Agenda da Semana |
Segunda-feira, 16 08h25: Brasil – Boletim Focus BCB |
Terça-feira, 17 11h15: EUA – Produção industrial de outubro (exp: 1,0%; ant: -0,6%) 20h30: Japão – Balança comercial |
Quarta-feira, 18 04h00: Reino Unido – IPC mensal (ep: -0,1%; ant: 0,4%) 07h00: Europa – IPC mensal (ep: 0,2%; ant: 0,2%) 09h00: Brasil – 2a prévia inflação IGP-M (ant: 2,9%) |
Quinta-feira, 19 07h00: Europa – Produção de construção (ant: 2,6%) 10h30: EUA – Novos pedidos de seguro-desemprego 12h00: EUA – Índice antecedente (exp: 0,7%; ant: 0,7%) 22h30: China – Taxa básica de juros de crédito 5 anos (exp: 4,7%; ant: 4,7%) |
Sexta-feira, 20 07h00: Europa – Confiança do consumidor (exp: -18; ant: -15,5%) |