(por Larissa Pérez, analista de alimentos e bebidas na XP Investimentos)

  • Setor com exposição ao exterior, que pode ser uma boa ferramenta em períodos mais turbulentos dentro do Brasil;
  • Avanço do monitoramento da cadeia produtiva para conter o desmatamento é vista com bons olhos no processo ESG;
  • Marfrig como preferência do setor.

Caros(as) 13 leitores(as), hoje vou carinhosamente invadir o Rico Matinal para falar sobre o “setor do churrasco” (apelido que a Bê deu quando cobria esse setor aqui com a gente).

Mas antes de mergulharmos nesse insight, preciso fazer uma confissão — afinal, confiança é a base de qualquer relacionamento, e não poderia deixar de criar esse vínculo com vocês — apesar de cobrir o segmento de frigoríficos, eu como pouquíssima carne vermelha, e já tentei ser vegetariana mais de uma vez. Mesmo assim, admiro profundamente essa indústria tão complexa e tão interessante, que tem lá suas polêmicas, é verdade, mas que também vem mudando muito ao longo dos anos, tem muita coisa boa para mostrar, e hoje vou contar isso melhor…

De maneira geral, como funciona uma planta frigorífica de bovinos? Muito simples: a empresa compra bois vivos de pecuaristas locais, busca os animais na fazenda e realiza o transporte até a fábrica, onde eles são abatidos e repartidos nos diversos cortes de carne que encontramos no supermercado.

 A mensagem mais importante aqui é a seguinte: o preço do boi vivo representa um custo para os frigoríficos, enquanto o preço da carne é um indicador de receita para essas empresas.

Basicamente, empresas como JBS, Marfrig e Minerva vivem de operar essa margem entre o preço dos animais e o preço da carne. Vale lembrar que, no caso dessas grandes empresas, grande parte da produção de carne é exportada — ou seja, além de precisarmos monitorar os preços domésticos da carne, precisamos entender também quanto os americanos/chineses/europeus/etc estão pagando pelas carnes dos seus respectivos churrascos.

Outro ponto importante é que essas empresas gigantes são verdadeiras multinacionais. A Marfrig, por exemplo, tem apenas cerca de 30% de suas receitas vindo da América do Sul. Os outros 70% vem dos Estados Unidos, por meio da National Beef. Como mais da metade da carne latino-americana é exportada, a Marfrig acaba tendo mais de 90% de suas receitas em dólares, e isso é muito importante na hora de fazer a análise financeira da empresa.

Falando em Marfrig, a empresa anunciou recentemente uma parceria com o Salt Bae. O chef turco, cujo nome real é Nusret Gokçe, ascendeu à fama em 2017, quando se tornou meme pelo seu jeito de salgar carnes. Desde então, sua rede de mais de quinze churrascarias ao redor do globo deslanchou e, no ano passado, Salt Bae se tornou embaixador global da Marfrig, com direito a visita ao Brasil e cerimônia de homenagem para selar a parceria. Pela reação ao evento, estamos crentes que ele gostou do churrasco brasileiro.

Não poderíamos finalizar este texto sem falar de ESG: acho que todos vocês já devem estar carecas de saber que não basta olhar o resultado estritamente contábil de uma empresa, é preciso levar em consideração critérios Ambientais, Sociais e de Governança. Nesse sentido, entendemos que o grande desafio que o setor de frigoríficos enfrenta hoje é monitorar sua cadeia de produção — diante das dificuldades de combater o desmatamento em um país continental, vemos com bons olhos iniciativas de rastreamento por parte das grandes empresas.

Antes que você comece a sentir fome de carne tão cedo pela manhã, vamos finalmente à conclusão: hoje, nosso papel predileto do setor de frigoríficos é a Marfrig.

Juntando as peças do quebra-cabeça:
  • continuamos otimistas quanto à performance da empresa na sua operação da América do Norte e, quando traduzimos aqueles 70% de receita que vem dos EUA considerando o câmbio desvalorizado que temos hoje, ficamos ainda mais construtivos com o papel;
  • apesar da alta no preço do boi gordo aqui no Brasil (lembre-se, o animal vivo representa um custo para os frigoríficos) entendemos que os preços de exportação seguem em patamares atrativos, parcialmente compensando o efeito dos custos altos;
  • tanto do lado de marketing, com o Salt Bae, quando do lado de ESG, com sua meta de 100% da cadeia de fornecimento livre de desmatamento até 2030, dentre outras tantas iniciativas, acreditamos que a Marfrig tem se destacado diante de seus concorrentes.

Ficou com fome de mais conteúdo? Acesse nossa tese de investimento para a Marfrig e fique de olho no nosso relatório semanal sobre o setor, o Expresso Alimentos & Bebidas, onde apresentamos todos os dados que você precisa saber para ficar ainda mais ligado nas empresas de proteínas! Para receber todos os nossos relatórios por email, basta clicar aqui.

Bons investimentos e até a próxima!

Elaborado por:

Betina Roxo, CNPI 1493

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