- A economia brasileira já não estava na fase mais simples rumo à recuperação após a Covid-19. Mas acontecimentos recentes aumentaram o grau de dificuldade;
- Processo de alta de juros dos títulos de longo prazo das economias desenvolvidas continua, em especial nos Estados Unidos;
- No Brasil, surgem maiores incertezas políticas em meio ao avanço da pandemia;
- O time de economia aumentou as perspectivas para o dólar, Selic e inflação em 2021.
O game que mais joguei na vida foi o Diddy Kong Racing do Nintendo 64. Se você também é da minha época, talvez se lembre da sequência: corrida comum; desafio de um “chefão” guardião daquele “mundo” (uma morsa gigante chamada Bluey, por exemplo); a mesma corrida inicial, mas coletando moedas no caminho e, por fim, um novo encontro com aquele “guardião”, agora ainda mais rápido.
A economia brasileira já não estava na fase mais simples rumo à recuperação após a Covid-19. Mas acontecimentos recentes aumentaram o grau de dificuldade: é como se estivéssemos correndo contra o chefão, os oponentes comuns estivessem jogando junto para atrapalhar e, ao mesmo tempo, precisássemos coletar as moedas prateadas escondidas na pista.
Os chefões: exterior, Covid e política
1. Juros lá fora
Como falamos em alguns Insights recentes, o processo de alta de juros dos títulos de longo prazo das economias desenvolvidas continua, em especial nos Estados Unidos.
Ainda é difícil dizer se é um processo de normalização (frente aos níveis muito baixos adotados na pandemia), ou se reflete o risco de alta mais forte nos preços: a temida inflação. Com essa incerteza, os ventos lá fora não soprarão mais tão favoravelmente como vimos até agora.
2. Pandemia e risco político no Brasil
Também não é novidade que a Covid-19 está longe de ser controlada por aqui. Como temíamos, novas variantes e desafios no avanço da imunização da população trouxeram a necessidade de medidas de isolamento, diminuindo a velocidade da recuperação esperada para a economia.
Na política, a PEC Emergencial aprovada no Senado foi bem recebida pelo mercado, mas a tramitação foi turbulenta. Na Câmara, o Presidente Bolsonaro sinalizou intenção de diluir as contrapartidas. Fora isso, a possibilidade de Lula concorrer em 2022 deixam o cenário em Brasília mais turvo.
Resultado: Selic em 5%; inflação em 4,9% e dólar em R$ 5,30
Prepare o joystick: as mudanças de cenário levaram a uma tendência de aumento nos prêmios de risco brasileiros e motivaram nosso time de macroeconomia a revisar algumas perspectivas para esse e o próximo ano.
Os cálculos do time continuam indicando uma valorização do real ante o dólar, mas com um ritmo mais fraco, chegando a R$ 5,30 no final de 2020 (antes era R$ 4,90).
Com o dólar mais alto em relação ao real, a pressão inflacionária também aumenta: a nova expectativa do time é de um IPCA (nossa inflação oficial) acumulado em 4,9% em 2021 (antes era 3,9%).
Essa expectativa de mais inflação, por sua vez, tende a levar o Banco Central a subir a taxa básica de juros mais rápido. Em janeiro, esperávamos subidas graduais na Selic a partir de maio, chegando a 3,5% no fim desse ano e 4,5% no final do ano que vem. Agora, é mais provável que os juros comecem a subir já na reunião da semana que vem e tenha seis altas consecutivas de 0,5 p.p., chegando a 5% a.a. ainda este ano.
Por fim, inflação pressionada e juros mais altos devem pesar na atividade econômica. A expectativa de crescimento da economia medida pelo PIB (Produto Interno Bruto) no primeiro trimestre passou de -0,1% para -0,5%. Para o segundo e terceiro trimestres, a nova rodada de auxílio emergencial deve ter uma contribuição de 0,09 pontos percentuais ao PIB no segundo trimestre e de 0,14 p.p. no terceiro tri. Com isso, a nova expectativa é de crescimento de 3,2% da economia neste ano e 1,5% no ano que vem.
Para conhecer os detalhes da visão do time de Macroeconomia, leia o relatório mensal neste link. Também confira abaixo as projeções detalhadas:
Projeções Rico/XP Inc. | ||||||
2018 | 2019 | 2020 | 2021 (E) | 2022 (E) | ||
Crescimento do PIB (var. real %) | 1,3 | 1,1 | -4,1 | 3,2 | 1,5 | |
Taxa de desemprego (%, dessaz., fim de período) | 12,2 | 11,5 | 14,7 | 14,6 | 11,8 | |
IPCA (var. 12m %) | 3,8 | 4,3 | 4,5 | 4,8 | 3,5 | |
SELIC (% a.a, fim de período) | 6,5 | 4,5 | 2,0 | 5,0 | 5,0 | |
Câmbio (R$/US$, fim de período) | 3,9 | 4,0 | 5,19 | 5,20 | 5,00 | |
Resultado primário (% PIB) | -1,6 | -0,9 | -9,5 | -3,7 | -2,3 | |
Dívida bruta – DBGG (% PIB) | 76,5 | 75,8 | 89,3 | 90,7 | 92,8 | |
Balança Comercial (US$ Bi) | 59,8 | 48,0 | 50,9 | 74 | 64 | |
Exportações (US$ Bi) | 241,0 | 225,4 | 209,8 | 259 | 267 | |
Importações (US$ Bi) | 181,2 | 177,4 | 158,9 | 184 | 203 | |
Conta Corrente (US$ Bi) | -41,5 | -50,7 | -12,5 | 6,9 | -15,7 | |
Conta Corrente (% PIB) | -2,2 | -2,7 | -0,9 | 0,4 | -0,9 | |
IDP (US$ Bi) | 78,2 | 69,2 | 34,2 | 45,0 | 60,0 | |
IDP (% PIB) | 4,1 | 3,7 | 2,4 | 2,7 | 3,3 |
E eu faço o quê?
Não dá para correr contra os chefões sem ter um bom kart. Como falamos no insight de ontem, a volatilidade deve permanecer alta com a percepção de risco pior, enquanto os juros mais altos tem efeito negativo na bolsa.
De qualquer maneira, nesse cenário de pressão das ações, surgem oportunidades de investimentos em empresas com bons fundamentos que estejam mais baratas ou empresas que possuem resultado dolarizado, com presença global. Veja aqui quais são as empresas queridinhas dos gestores e analistas do mercado: As Estrelas da Bolsa.
Além disso, a melhor maneira de se proteger de situações de volatilidade é construir uma carteira de investimentos balanceada, com investimentos descorrelacionados e, principalmente, coerente com o seu perfil de risco.
Nas nossas recomendações para perfis conservadores (exceto na carteira precavida), moderados e agressivos, temos indicações de investimentos internacionais que podem amenizar ou zerar o impacto de acontecimentos como esse (de abrangência nacional) nos seus investimentos.
Elaborado por:
Betina Roxo, CNPI 1493
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