Resumo do dia: Reta final de 2020
Parecia que seria eterno, mas 2020 chega hoje ao seu último trimestre. No fechamento de setembro, o real se manteve a pior moeda do mundo, com o dólar valendo R$ 5,61. O Ibovespa, apesar de fechar em alta ontem, teve a maior baixa mensal desde março, com queda de 4,8% (saiba mais sobre nossa visão para o trimestre no relatório De Olho No Mercado, que publicaremos amanhã).
Hoje as bolsas mundiais continuam o movimento positivo em que fecharam ontem. Futuros americanos valorizam entre 0,7% e 1,1%. Na Europa, o Stoxx 600 sobe 0,65%.
Nos EUA, as esperanças de mais estímulos fiscais foram renovadas. Sem grandes detalhes, o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, disse a repórteres que o presidente Donald Trump propôs mais de US$ 1,5 trilhão, mas declarou que valores que superem US$ 2 trilhões podem ser um problema. Os democratas queriam aprovar um pacote de US$ 2,2 trilhões na noite de ontem, mas a votação foi adiada para permitir negociações.
No front de combate ao coronavírus, a farmacêutica Moderna disse que só deve pedir autorização da FDA para uma nova vacina depois das eleições presidenciais, em novembro, segundo o Financial Times.
Sem puxadinho: depois da reação negativa à proposta de limitar o pagamento de precatórios para financiar o Renda Cidadã, o ministro Paulo Guedes disse que o governo “vai pagar tudo” e que o programa precisa de fonte permanente de receita e não de “puxadinho”, sinalizando que é contra o uso dessa fonte. Já a reforma tributária deve ficar para 2021 devido à proximidade das eleições municipais.
Insight Rico: Eu não sou um herói
(por Lucas Collazo)
Esse título pode soar engraçado aos nossos caros 13 leitores, mas é a mais pura verdade. Imagino que, para você que nos acompanha toda manhã, muitas vezes pode parecer que temos alguma “habilidade extra” em relação aos investimentos, ou que dominamos quilômetros de livros em nossas mentes.
Não, nós não portamos nenhuma habilidade sobrenatural em finanças pessoais. Aliás, eu não possuo nenhuma vantagem perante a você que lê esse texto neste exato momento: o mercado financeiro é o mesmo para nós dois, acesso os mesmos produtos em que você pode investir. Na realidade, eu até tenho algumas limitações por compliance que você talvez não tenha (então nessa você saiu na frente).
Sinto as mesmas dores que você: se você tem investimento em ações por exemplo, e a bolsa tem uma queda fazendo o seu bolso “sangrar”, o meu também sangra. Aliás, nesse último mês nós sofremos juntos:
O Ibovespa caiu 4,8% em setembro, e não podemos esquecer que enxugamos lágrimas no mês passado também, quando o índice teve queda de 3,44%.
E já que 2020 não tem sido um ano nada comum para nós, até o Tesouro Selic, que eu utilizo como reserva de emergência (e acredito que você também) resolveu dar o ar de sua graça no campo vermelho do retorno. Depois de um leilão bem grande de títulos promovido pelo Tesouro Nacional, os preços desses papéis tiveram uma pequena queda (que vai passar), colorindo nossa tela da corretora de vermelho.
O balanço com as discussões eleitorais americanas também interfere nas minhas aplicações, o medo de uma segunda onda de contaminação pelo Covid-19 atinge o preço dos ativos que eu tenho em carteira. Inclusive, questões como essa protagonizaram esse último mês e eu vou fechar setembro perdendo dinheiro na média da minha carteira.
Ah, e se você checar a lista de bilionários do mundo, não vai encontrar meu nome. Eu sou apenas um analista de investimentos, assim como pessoas escolhem ser engenheiros, professores, nutricionistas, entre outras vocações.
Eu não sou um herói, mas é justamente esse fato que tem sido diferencial nos meus investimentos e conhecimento sobre esse assunto (pelo qual sou apaixonado e dedico minha vida). Foi esse fator que, em 2019, quando as bolsas globais seguiam um rumo otimista, não me deixou esquecer da importância de diversificar minha carteira e sair “enchendo a mão” de renda variável.
A falta de heroísmo não deixou eu me desesperar durante o pico das quedas do mercado, entre os meses de abril e março, e apertar o botão de vender precipitadamente sem ter mais clareza do horizonte que teríamos, numa tentativa de “acabar com o sofrimento”. Na dúvida e falta de entendimento do vírus, decidimos não mudar nossas recomendações de diversificação de carteira. Foi uma decisão difícil, eu também tive medo, mas foi ela que fez com que a gente não perdesse a recuperação dos mercados até aqui.
E no segundo trimestre desse ano, com os indicadores econômicos globais melhorando e tentativas de reabertura econômica dando bons sinais de funcionamento, não saímos afobados aumentando as recomendações de renda variável, fizemos isso de forma gradual, com muita cautela.
Na virada do semestre, entendemos que o principal fator que estava dando suporte aos mercados iria cessar: os estímulos ficais promovidos pelos governos e bancos centrais. Além disso, estamos chegando perto da corrida eleitoral americana, o que vai mexer bastante com o oceano dos ativos financeiros, e, como não praticantes do heroísmo, decidimos manter as recomendações de carteira estáveis mais uma vez e não dar sequência no aumento da renda variável que estávamos fazendo gradualmente.
Ou seja, no otimismo, não “estufamos o peito” e exageramos nas posições de risco, e no pessimismo não tentamos nenhum ato de bravura para recuperar as perdas provocadas pelas quedas no mercado de curto prazo.
Já que não temos habilidades sobre-humanas, também podemos ter teses de investimento em cima de fundamentos e estarmos errados. Dito isso, não quero ter uma posição muito grande que tire o poder da humildade de dizer “eu errei, vou corrigir enquanto o prejuízo é pequeno”.
Também não tenho o poder de prever o futuro, eu e você dividimos as mesmas informações atualmente, e a mesma ignorância sobre o amanhã. Logo, eu não diversifico meu patrimônio em ativos de risco mais baixo para aquilo que estou vendo, mas sim para aquilo que não vejo, mas que mesmo assim pode acontecer (a pandemia desse ano fica como exemplo claro disso).
Além de nós, outros nomes expoentes não são heróis, como: Warren Buffett, que fez bilhões investindo em empresas, ou mesmo David Swensen, que multiplicou o patrimônio do fundo de pensão da Universidade de Yale alocando os recursos com todas as limitações que a gestão desse tipo de fundo traz.
Todos tinham algo em comum…
A diversificação. No fim, o resultado de um dia, um mês, um ano, até pode importar, porém, perante a “maratona” que você terá durante o resto da sua vida como investidor, é irrisório, e a diversificação é a única forma de ganhar “dinheiro de verdade” no longo prazo.
Ela é a única solução que promove ganhos equilibrados, consistentes, ao longo da vida. Porque, assim como você, também quero que minhas aplicações tenham resultados muito interessantes e que isso melhore minha vida lá na frente, afinal, ambos estamos construindo patrimônio.
Mas depois de estudar muito sobre esse assunto, e escutar as histórias contadas por todos os convidados que já foram no programa Stock Pickers do Salomão e do Renatão, as reflexões do meu ex-colega de time Matheus Soares, ou mesmo as discussões que tenho em equipe atualmente com a nossa estrategista-chefe (está mais para amiga) Betina Roxo, Paula Zogbi (Zogbuy para os íntimos) e Júlia Aquino (que ainda não tem Instagram, mas prometo que terá), entendi que os “heróis do mercado” não existem, já que em algum momento da história eles caíram por terra.
Caros 13 leitores, essa conclusão pode até soar pessimista, mas está mais para realista. Na vida, nada é fácil, tudo deve ser conquistado com muita humildade, e nos investimentos isso não poderia ser diferente. O importante é aproveitar a jornada, que inclusive pretendemos dividir com cada um de vocês.
Hoje, nós publicaremos o nosso relatório “De Olho no Mercado”, onde compilamos visões sobre cenário, bem como nossas recomendações de investimento, na expectativa que te ajude em mais um capítulo desta jornada. No Rico Matinal de amanhã traremos em primeira mão para nossos leitores.
Agenda da Semana |
Quinta-feira, 01 09h30: EUA – Pedidos de Seguro-desemprego (ant: 12.580.000) 15h00: Brasil – Balança comercial mensal setembro |
Sexta-feira, 02 02h00: Japão – confiança do consumidor setembro (exp: 31; ant: 29,30) 06h00: Índice de preços ao consumidor setembro (exp: 0,3%; ant: -0,4%) 19h00: Brasil – produção industrial agosto (exp XP: 3,7%; ant: 8,0%) 09h30: EUA – taxa de desemprego setembro (exp: 8,2%; ant: 8,4%) 11h00: EUA – confiança do consumidor setembro (exp: 79; ant:79) |