(Modo Jackson 5 ligado)
E-S-G, easy as 1-2-3, are simple as do-re-mi, ESG, 1-2-3 baby you and me.
(Música em fade out)
Não sei de que época vocês são, mas, caso não conheçam o hit mais dançante dos Jackson 5, recomendo que cliquem aqui e leiam esse conteúdo com trilha sonora. Toda vez que eu falo sobre ESG (ler em inglês) fico com essa música na cabeça. Então, queria compartilhar esse sentimento com vocês antes do conteúdo em si – assim ficamos mais próximos!
Feito isso, quero deixar claro que o conceito de ESG (Enviromental, Social and Governance, em inglês, ou Ambiental, Social e Governança em português) é, sim, de certa forma, tão simples como o do-ré-mi. Mas também pode ser tão complexo quanto, sei lá, física quântica. Tudo depende do ponto de vista.
Olhando pela ótica do porquê aplicar boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa, a resposta me parece realmente muito simples: não há nada de ruim em se atentar a esses três aspectos. Cuidar do planeta, das pessoas que nele habitam e dos processos internos e reputação das empresas deveria ser unanimemente positivo, certo?
Agora, difícil mesmo é saber como mensurar a qualidade das empresas nesses três aspectos. Basta divulgar uma meta de ser neutra em carbono em 10 anos? Doar uma parte dos lucros uma vez na história? Ter um conselho de administração teoricamente independente? Como ter certeza de que tudo o que essa empresa diz é aplicado da porta para dentro? Quem diz a verdade e quem está fazendo “greenwashing” (ou seja, usar um discurso bonito para tentar “limpar” uma realidade diferente dentro da companhia)?
Vai com calma!
Como eu sempre gosto de fazer, vamos dar um passinho para trás e entender o que é, realmente, o ESG e como ele se aplica ao universo dos investimentos.
Vamos destrinchar a sigla: os fatores ambientais são, entre outros, uso de recursos naturais, emissões de gases de efeito estufa (CO2, gás metano), eficiência energética, poluição, gestão de resíduos e efluentes.
Os sociais passam por políticas e relações de trabalho, inclusão e diversidade, engajamento dos funcionários, treinamento da força de trabalho, direitos humanos, relações com comunidades, privacidade e proteção de dados.
Por fim, governança tem a ver com independência do conselho, política de remuneração da alta administração, diversidade na composição do conselho de administração, estrutura dos comitês de auditoria e fiscal, ética e transparência.
Tudo isso pode (ou não) estar na agenda das empresas em que você investe. E, adivinha? Tem estado cada vez mais – não à toa.
A verdade é que, antes das empresas passarem a incorporar o ESG, os clientes, colaboradores e investidores começaram a demandar isso delas. As minorias (e as pessoas que se preocupam em inserir as minorias) passaram a consumir de empresas que as enxergam – e o mundo inteiro percebeu o valor disso.
Empresas responsáveis
Temperaturas começaram a subir, as espécies começaram a desaparecer, e mesmo quem não foi afetado (ainda) passou a dar mais valor à saúde do planeta. As más práticas empresariais passaram a ser desmascaradas e amplamente divulgadas, expondo pessoas e marcas – e ninguém quer financiar “trambiqueiros”, nem trabalhar em empresas com uma péssima imagem.
Em suma, as empresas responsáveis dentro dos aspectos ambientais, sociais e de governança passaram a ser as favoritas dos clientes, colaboradores e consumidores. Ser a favorita dos clientes e consumidores, em geral, é um aspecto relevante dentre os que levam uma empresa a ser líder no seu segmento. E que investidor não quer colocar seu dinheiro em empresas com potencial para liderar seu segmento?
A Marcella Ungaretti, analista focada em ESG da XP Inc, lembra ainda que estamos num momento especialmente delicado, que exacerbou ainda mais tudo o que já falamos (aliás, recomendo esse relatório dela sobre o tema):
“A pandemia deixou explícita a interdependência que temos como nações, indivíduos e empresas. Se isso for verdade, e nós acreditamos que sim, a empresa do futuro é aquela que cuida de todos, não somente dos seus acionistas. Indo além, a empresa do futuro não é aquela que somente gera lucro, mas sim que é capaz de gerar lucro com propósito – e, na nossa visão, as companhias que não entenderem isso, provavelmente ficarão de fora.”
Foi nesse cenário que o mercado financeiro passou a avaliar empresas também sob essa ótica – uma forma de ajudar os investidores a saber quem financiar.
Gestoras passaram a traçar estratégias ESG, consultorias criaram equipes dedicadas a avaliar a qualidade de companhias nesses aspectos, analistas lentamente passam a inserir tudo isso em seus modelos. Temos hoje fundos, índices, títulos de dívida, financiamento coletivo e muito mais maneiras de investir levando em consideração esses aspectos – para aplicar o seu dinheiro, mas com propósito.