Sexta-feira: mínima 2ºC, máxima 15ºC. Sábado: mínima 30ºC, máxima: 40ºC. Domingo: mínima “quente pra dedéuº”, máxima “infinitoºC”. Segunda-feira: boa sorte.

Juro de pés juntos que foram essas as indicações de previsão do tempo para São Paulo nos últimos meses. Ou ao menos o que eu venho sentindo desde setembro, e estou certa de que muitos de vocês, leitores da Riconnect, também tem sentido.

De onde vem tanto calor?

A verdade é que não é de hoje que falamos sobre a rápida aceleração do desequilíbrio climático no mundo. Após muitos anos de estudo e observação empírica, é sabido que esse fenômeno é resultado de uma série de fatores relacionados à produção econômica e ao estilo de vida moderno, como a emissão de gases estufa, a poluição de rios e oceanos e o desmatamento de florestas.

Nesse cenário, como é de se esperar, o calor extremo é uma das faces desse desequilíbrio, assim como o frio extremo e outros eventos climáticos cada vez mais frequentes nos quatro cantos do mundo, a exemplo de furacões, vendavais, temporais, secas e grandes incêndios.

Para se ter uma ideia, os últimos seis anos foram os mais quentes registrados desde 1880, sendo 2016, 2019 e 2020 os três primeiros, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial. Mas, espere, que a cereja do bolo ainda está para chegar: o ano de 2023 caminha para registrar outro recorde, com 2024 na fila para ser ainda pior – de acordo com especialistas do governo dos Estados Unidos.

Um agravante ao calor esperado para esse ano e o próximo é o famoso El Niño. Trata-se de um fenômeno climático que altera a distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, causando grandes alterações no clima, como calor excessivo.

Em resumo: está calor, vai seguir calor, e os causadores de todo essa “quentura” se retroalimentam.

Mas e a economia, qual o impacto que isso tudo pode ter quando consideramos efeitos diretos e indiretos dessa “onda quente”?

O calor no campo, no mato, na conta de luz e nas ações

Assim como outros eventos decorrentes do desequilíbrio climático, períodos de temperaturas muito elevadas podem trazer impactos diretos e indiretos na economia. Na maioria das vezes, a gravidade desses efeitos irá variar de acordo com a duração de tais evento.

Trazendo para a situação atual, em bom português, quanto mais tempo ficar “quente pra xuxu”, maiores podem ser os impactos econômicos.

Seu almoço pode ficar mais caro

Um dos principais prejudicados por períodos de temperaturas atípicas é o setor agrícola. Isso ocorre pois, como podemos imaginar, a cultura de diferentes grãos, frutas e outros alimentos depende significativamente do clima e do solo onde é cultivada. Assim, o excesso de “qualquer coisa” pode prejudicar a lavoura – como chuvas, frio ou calor.

Como exemplo, anos que contaram com a atuação do El Niño foram marcados por perdas importantes nas principais safras do país, como soja e milho – prejudicando a produção agropecuária do país e pressionando o preço de alimentos. Assim, a memória de anos ruins de El Niño e o momento atual de baixa umidade e calor intenso certamente elevam a percepção de risco para a produção agropecuária de 2024.

Cuidado com a conta de luz

Um outro impacto direto das altas temperaturas é no consumo de energia. A conexão entre os dois é óbvia: diante da onda de calor, vemos uma alta exponencial do uso de aparelhos de ar-condicionado – verdadeiros “beberrões” de energia – e mesmo ventiladores.

Para se ter uma ideia, vendas de ar-condicionado na varejista Americanas subiram 81% entre 11 e 18 de setembro desse ano, quando boa parte do país passou por uma onda de calor parecida com a atual. Já o consumo de energia saltou para o maior nível desde 2021 no mês, com alta de 6,2% em relação ao mesmo mês do ano passado.

Essa elevação súbita na demanda e no consumo de energia pode levar a eventuais eventos de sobrecarga na infraestrutura do país, e efetivos “apagões”. De fato, vimos acontecer na região da Faria Lima, em São Paulo, no dia 13 de novembro.

Seguro residencial mais caro?

Finalmente, quando olhamos para efeitos mais indiretos de desequilíbrios climáticos, outros impactos menos “óbvios” podem também entrar para a lista. Um exemplo é o crescente desequilíbrio de um ramo da indústria de seguros que vemos hoje em certas partes dos Estados Unidos.

Por conta da maior incidência de incêndios (cada vez mais frequentes nas épocas de seca) e outros eventos climáticos como enchentes e furacões, moradores da região da Califórnia passaram a enfrentar dificuldades crescentes em segurar suas casas. Afinal, com o risco cada vez maior, o preço de proteger tais imóveis contra eventuais perdas fica (também) cada vez maior – ao ponto de esbarrar na regulação do setor, criando uma série de outros desafios relacionados.

Tem algum lado…bom?

Mas como nem tudo é notícia ruim, podemos encontrar uma luz no fim do túnel em forma de oportunidade no mundo dos investimentos em meio ao cenário desafiador – e bastante quente!

Com mais demanda por energia elétrica, empresas distribuidoras de energia tendem a se beneficiar devido ao impacto positivo do consumo mais alto na receita.

Já vimos um movimento similar no terceiro trimestre de 2023 — quando as temperaturas mais altas levaram a um aumento significativo do volume de energia distribuído pelas empresas. Daqui para a frente, esperamos continuar vendo efeitos positivos do aumento da demanda no balanço das distribuidoras.

Por isso, se quiser aproveitar o copo meio cheio (mesmo que meio quentinho…) e buscar oportunidades na bolsa, confira as recomendações da Rico aqui!

*Texto originalmente publicado em: https://glamour.globo.com/lifestyle/carreira-dinheiro/coluna/2023/11/jesus-apaga-a-luz-solar-os-impactos-da-onda-de-calor-na-economia.ghtml

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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