Insight Rico: BDRs ou ações no exterior – como escolher

Desde a liberação dos BDRs para o investidor de varejo, a internet está em polvorosa na discussão BDR versus investir diretamente em ações lá fora. Tem gente que não perde uma chance de xingar quem defende algum dos lados. O que é melhor, afinal? Spoiler alert: assim como praticamente tudo nessa vida, não existe uma resposta única.

Pode ser surpreendente ler isso, ainda mais nesse ambiente de ataques aos lados com unhas e dentes, mas cada alternativa tem vantagens e desvantagens. Mais que isso, se uma estratégia é melhor para você, não necessariamente vai ser melhor para o seu tio, sua chefe ou seu cônjuge.

Para começar essa conversa, já vou direto ao ponto de maior atrito e dos comentários mais raivosos (calma, gente): custos.

O que você precisa saber em termos financeiros sobre BDRs:

– O imposto de renda é de 15% sobre os ganhos no caso de venda com lucro, ou 20% para Day Trade. Diferentemente das ações brasileiras, a Receita não isenta vendas de até R$ 20 mil no mês para BDRs – já vi advogado tributário defendendo que isso é passível de questionamento, mas o artigo na instrução normativa da Receita a respeito é o seguinte, ipsis litteris:

Na alienação de Brazilian Depositary Receipts (BDR), em bolsa – Art. 57. Os ganhos líquidos auferidos em alienações ocorridas nos mercados à vista, em operações liquidadas nos mercados de opções e a termo e em ajustes diários apurados nos mercados futuros sujeitam-se ao imposto sobre a renda à alíquota de 15% (quinze por cento).

 Existe um “pedágio” para receber dividendos: a emissora costuma abocanhar 4% do valor pago em dividendos pela empresa gringa antes de mandar para a sua conta. Vale lembrar que os dividendos em si não são tributados no Brasil, mas são em boa parte do mundo (inclusive nos EUA). Essa cobrança já é sobre o valor líquido do imposto do país-sede da empresa. Nos EUA, por exemplo, o imposto é de 30% para dividendos de ações originais (que também vai ser cobrado caso você invista diretamente lá fora). Logo, para BDRs, esse valor seria 30% + tarifa.

 Há um spread, uma diferença entre o valor da ação e o de um lote de BDRs equivalente a uma ação (lembrando que um BDR não necessariamente corresponde a apenas um papel). Para calcular, você deve multiplicar o preço da ação pelo câmbio atual. A diferença entre esse valor e o do BDR (ou lote deles) é o spread.

No Stock Pickers sobre o tema, Gabriel Raoni, gestor do fundo Atlas, esse spread costumava girar em torno de 30 pontos-base (0,3 ponto percentual), mas vem diminuindo consideravelmente e já está próximo de 15 pontos-base – ou até menos para grandes empresas como Apple.

Ele também defende que não faz sentido se preocupar com isso. A conta é a seguinte: aqui, existe um spread de 0,15% e uma taxa sobre o pagamento de dividendos de 4%. Se o Dividend Yield da empresa for de 5% em um ano, o que é muito, você vai sofrer uma cobrança de 4% sobre 5% do dinheiro investido, que seria 0,2%.

Grosseiramente falando, o custo do BDR então é de 0,2% + 0,15% = 0,35% sobre o valor investido – isso na hipótese de um dividendo gordo, que realmente não costuma ser o caso (muitas das empresas americanas preferem recomprar ações a pagar dividendos, por um benefício tributário) e de 15% sobre os lucros, independentemente do valor.

E só para não esquecer, o BDR pode ser “trocado” por ações diretamente, mas atenção à paridade: nem sempre um BDR vale uma ação. Para consultar esse ratio (que pode mudar com splits e inplits), acesse a tabela da B3 neste link

O que você precisa saber em termos financeiros sobre ações no exterior:

– Para comprar ações fora do país, é preciso ter conta em corretora fora do país e fazer remessas de dinheiro daqui para lá. O IOF cobrado nessa transação é de 1,1% sobre todo o valor transferido.

– O spread aqui é outro: a empresa responsável por essa remessa, em geral, lucra com uma diferença no câmbio – não é uma diferença alta quanto a que você vê nas casas de câmbio para turistas (e a competição nesse mercado vem deixando mais fácil encontrar spreads atraentes) mas pode ser salgada para o pequeno investidor.

– Na prestação de contas perante à Receita, o seu lucro só vai ser tributado se ultrapassar R$ 35 mil – é o limite da isenção para liquidações de operações no exterior na hora de declarar seu IR.

– Por fim, o imposto sobre herança nos Estados Unidos é de 40%. Isso é algo com que você deve se importar caso tenha ou pretenda ter herdeiros. No Brasil, essa alíquota varia entre 2% e 8% – em São Paulo, por exemplo, é de 4%.

Estão aí todas as vírgulas nos números relativos aos custos dos dois tipos de investimentos. Hora de colocar também os pingos nos is: essa decisão não é apenas financeira.

O investidor que quer ter menos trabalho e dor de cabeça provavelmente está melhor investindo via BDRs. O dinheiro cai em reais na sua conta, você não precisa ser cliente em mais de uma corretora, sua declaração anual de imposto de renda vai ser mais simples e sim, em muitos casos, pode sair mais barato. 

Agora, se as mais de 600 empresas estrangeiras que chegaram ao Brasil por meio de BDRs não são suficientes para você, pode fazer mais sentido ter sua conta lá fora e investir diretamente no seu mercado de interesse. Pode ser que, além de ações, você queira investir em bonds (títulos de crédito) de outro país por algum motivo, por exemplo , ou em empresas europeias que ainda não têm BDRs – aí não tem jeito mesmo, por enquanto, porque em breve teremos essas possibilidades direto do Brasil também.

Também se fala muito em risco de fronteira, caso extremo em que a situação do país ficaria tão desregulada e o mercado, tão disfuncional, que o BDR passaria a ter um grande desconto em relação ao valor da ação-lastro. Isso é uma possibilidade realmente remota, e esse lastro não deixaria de existir (ou seja, você seguiria tendo o direito a trocar seu BDR por ações). Mas, se sua desconfiança com o Brasil for tão grande assim, talvez você durma melhor à noite investindo lá fora – ou até morando fora, porque os investimentos não seriam os únicos prejudicados em um cenário tão negativo. 

E só para não esquecer, essas são duas, mas não todas as maneiras de diversificar seus investimentos no exterior. Na Escola de Investidores dessa semana eu falo sobre outras 3 maneiras: ETFs, fundos de investimento com gestão ativa e COE. Se interessar, assista aqui.

Resumo do dia: Pode reclamar, Trump, a onda azul não veio

(por Lucas Collazo)

 Mais um dia de mercados amanhecendo animados, ignorando o risco de judicialização das eleições norte-americanas. Nos EUA, os futuros sobem entre 1% e 2,8%, já na Europa, o Stoxx 600 sobe 0,9%.

Após a conquista de Michigan e Wisconsin, Joe Biden está a um passo de conquistar a presidência dos EUA. Se confirmar sua vantagem em Nevada e Arizona, Biden chega aos 270 votos necessário sem precisar de viradas na Pensilvânia e Geórgia. Projeções da Bloomberg e Financial Times já mostram os 11 votos do Arizona como certos, restando apenas 6 de Nevada para encerrar esta corrida.

E apesar das ameaças do atual presidente Donald Trump, com a possibilidade de um processo de judicialização das eleições e contestar o resultado eleitoral, a volatilidade e estresse do mercado reduziu nos últimos dias:  

Tudo isso recebe muita influencia da “Onda Azul” (Blue Wave) que não veio. Com senado e câmara norte-americanos divididos entre Republicanos e Democratas, as probabilidades de Joe Biden eleito presidente e aprovando aumento de impostos com mais vigor são mais baixas, e o mesmo para Trump e um tratamento mais belicoso com a China.

Porém, os investidores acreditam que, por conta da expansão fiscal e de gastos promovida até aqui, e que receberia continuidade pelo democrata Biden, os juros nos EUA tendem a subir. Por isso, as ações do setor bancário sofrem por lá:

Enquanto isso, diversos bancos estrangeiros melhoram suas recomendações para países emergentes. Com Biden no comando da maior economia do mundo, essas economias chamam a atenção dos estrategistas globais como boas formas de alocar recursos, já que acabaram ficando mais para trás nessa recuperação dos mercados este ano.

Agenda da Semana
Quinta-feira, 05
09h00: Reino Unido – decisão da taxa de juros (exp: 0,1%; ant: 0,1%)
10h00: Brasil – PMI Serviços out (ant:50,4)
10h30: EUA – Novos pedidos seguro-desemprego
16h00: EUA – Decisão Taxa FOMC (exp: 0,0 a 0,3%; ant: 0,0 a 0,3%)
16h30: Powell fala em coletiva de imprensa pós-FOMC
Sexta-feira, 06
04h00: Alemanha – Produção industrial saz set. (exp: 3,9%; ant: -0,2%)
09h00: Brasil – IPCA inflação IBGE a.m. out (exp XP: 0,88%; ant: 0,6%)
09h00: Brasil – IPCA inflação IBGE a.a. out (exp XP: 3,94%; ant: 3,1%)
10h30: EUA – taxa de desemprego out (exp: 7,7%; ant: 7,9%)