O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) elevou mais uma vez a nossa taxa básica de juros (a taxa Selic), para 10,75% ao ano – em mais uma decisão unânime entre os diretores. 

Os motivos por trás da elevação da Selic vieram principalmente do cenário doméstico, com economia forte e incertezas fiscais persistentes no Brasil. 

Diante do atual cenário, acreditamos que o Banco Central deverá dar sequência ao ciclo de alta de juros, até meados de 2025, em que a taxa básica de juros deverá atingir o patamar de 12% ao ano. 

Entenda mais sobre como os juros impactam a inflação aqui.

O que disse o Copom? 

Após cada reunião, o Copom divulga um comunicado detalhando sua decisão e sinalizando a direção que deve tomar dali em diante em relação à política monetária – ou seja, à taxa de juros. 

No documento de hoje, o Comitê destacou que o ambiente internacional segue desafiador. Ao mesmo tempo em que os juros começaram a cair nos Estados Unidos, o que pode beneficiar emergentes como o Brasil, o contexto segue incerto sobre o ritmo de desaceleração da maior economia do mundo. Além disso, as realidades distintas de política monetária entre países no mundo – com ciclos de elevação de juros em boa parte dos emergentes e ciclos de queda em desenvolvidos – também demanda cautela.  

Aqui no Brasil, o principal destaque ficou para o aquecimento da economia, com a atividade econômica se mostrando mais forte do que o esperado, especialmente diante de um mercado de trabalho bastante aquecido – e pressionando a inflação pelo lado da demanda.  

O baixo nível de desemprego tende a pressionar a inflação principalmente no setor de serviços – que responde por maior parte dos empregos no país.  

Assim, com preços menos impactados por movimentos que chamamos de “oferta” (como eventos climáticos) e mais relacionados ao comportamento de salários, a inflação de serviços é essencial para entender tendências adiante. 

O Copom também manteve o recado forte sobre o risco fiscal e o comportamento das expectativas de inflação. O Comitê destacou a importância da credibilidade da gestão das contas públicas, que tem o objetivo de reduzir o nível de endividamento no longo prazo – para evitar impactos como a desvalorização da nossa moeda e a própria “desancoragem de expectativas”. 

Afinal, se o governo gastar muito além do que arrecada e sinalizar que seguirá impulsionando a economia, muitos entenderão que os preços seguirão pressionados adiante, influenciando efetivamente o nível da inflação no futuro (lembrando que as expectativas sobre os preços no futuro importam). 

Expectativas de inflação: o que são? 

As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si. 

A dinâmica é simples: basta pensar que se você acredita que os preços não irão parar de subir no futuro, e você é um prestador de serviços ou mesmo o locatário de um imóvel, existe uma grande chance de que você já subirá o seu preço, para não “ficar pra trás”, certo? 

Eventualmente, esse movimento de agentes na economia acaba impulsionando os preços em cadeia, e a inflação efetivamente sobe (no futuro). 

Nesse contexto, o Copom optou por elevar a Selic em 0,25 pontos percentuais, para 10,75% ao ano, sinalizando o início de um provável ciclo de alta nos juros.  

Ciclo moderado de altas adiante? 

Acreditamos que o Banco Central deverá dar sequência ao ciclo de altas da Selic ao longo dos próximos meses – implementando elevações graduais até o patamar de 12,0%, em janeiro de 2025.  

Isso significa que os juros básicos não atingirão o patamar neutro (aquele que não estimula nem desestimula a economia) – ao menos por ora.  

Ou seja, que nossa política monetária seguirá em nível contracionista. Nesse nível, o objetivo é a desaceleração da economia – tornando o crédito mais caro, desincentivando o consumo, incentivando o investimento e, assim, reduzindo a demanda por bens e serviços e reduzindo a pressão sobre os preços. 

Isso porque, apesar da inflação corrente seguir relativamente comportada – como contamos aqui em detalhes – o cenário para os preços adiante segue incerto.

Do lado internacional, embora o Fed já tenha iniciado o ciclo de corte de juros, a inflação tanto nos Estados Unidos quanto em outros países desenvolvidos (especialmente na Europa) segue acima da meta – o que ainda requer atenção.  

Mas é o cenário doméstico que hoje abriga os principais riscos. Como destacado pelo Copom, o aquecimento do mercado de trabalho, a robustez da economia e as expectativas sobre a inflação no futuro demandam uma posição mais cautelosa no controle dos preços adiante.

Vale lembrar que: um mercado de trabalho aquecido tende a pressionar os salários, dado o maior “poder de barganha” de trabalhadores e a busca por mão de obra. Com maiores salários e grande parte da população empregada, aumenta-se a demanda por bens e serviços na economia – e o movimento de alta de preços ganha força, retroalimentando-se.  

A volatilidade da nossa taxa de câmbio também representa um risco no controle dos preços. Afinal, boa parte do que produzimos e consumimos internamente tem uma “parcela em dólar” – como produtos importados ou mesmo insumos para a produção dos mais diversos bens, como alimentos, roupas e carros.  

Nesse cenário, uma vez que o objetivo principal do Copom é manter a inflação na meta (no caso atual, 3,0% ao ano), acreditamos que a Selic deverá seguir em alta até que isso se concretize.

Vale lembrar que a política monetária opera com defasagem, fazendo com que o Banco Central sempre mire o que chamamos de “horizonte relevante de política monetária”. Em outras palavras, como os efeitos da taxa Selic demoram a ser sentidos na economia, o objetivo de trazer a inflação para a meta sempre irá considerar expectativas para o futuro – e não necessariamente a inflação que vemos hoje.

Mas os juros não devem seguir para sempre em alta

Como falamos nesse texto em detalhes, a elevação dos juros pode ser vista como um “remédio amargo, porém necessário, para conter uma doença ainda pior: a inflação”.

Assim, embora projetemos que a Selic siga em elevação nos próximos meses, a nossa taxa básica de juros não deverá seguir em alta de maneira permanente.Acreditamos que o Copom provavelmente encontrará espaço para corte de juros até o final de 2025 ou início de 2026. Afinal, o “remédio” terá tido seu efeito.

Vou sentir a alta dos de juros?

Para o dia a dia do brasileiro, pouca coisa muda com a elevação da Selic para 10,75% – especialmente no curto prazo. 

Isso porque, como falamos, mudanças na taxa básica de juros demoram a ser sentidas na economia – chamamos esse efeito de “defasagem da política monetária”No Brasil, o intervalo para que alterações na Selic sejam refletidas nas taxas para empresas e pessoas física varia de 3 a 12 meses.

Além disso, o impacto também varia de acordo com a modalidade do crédito. Por exemplo, a variação de 1p.p. na taxa Selic leva a uma variação quatro vezes maior nos juros médios do cheque especial ao longo de doze meses (conforme estudo do Banco Central). Já outros tipos de crédito, como o imobiliário e para veículos, são impactados em um período de 6 e 3 meses em média, respectivamente.

Assim, a sensação de aperto das condições financeiras deve voltar a ganhar força gradualmente no início de 2025.

Renda Fixa segue atrativa

Como a elevação da taxa Selic impacta nos investimentos em renda fixa? | Escola de Investidores

Diante da elevação da taxa de juros no patamar contracionista, a renda fixa brasileira segue atrativa – garantindo retornos elevados para investimentos pós fixados e reserva de emergência.

Além disso, diante de um cenário onde a inflação segue um risco no longo prazo, títulos de renda fixa atrelados à índices de preço seguem uma excelente proteção para seus investimentos – dando espaço para vencimentos mais longos, com prazo médio de seis anos.

Para os pré-fixados, os últimos meses foram marcados pela elevação das taxas observadasMas esse tipo de alocação ainda requer atenção! A incerteza sobre os rumos da inflação no Brasil (e no mundo) voltaram a impactar as expectativas sobre os juros de longo prazo, desvalorizando títulos existentes e adicionando risco adiante.

Por isso, mantemos nossa recomendação para pré-fixados reduzida e bastante cautelosa, priorizando vencimentos de curto prazo (2 anos) e oportunidades pontuais em títulos privados. Confira nossas recomendações de renda fixa aqui.

Dito isso, o momento segue propício por um bom equilíbrio entre os diferentes indexadores na carteira do investidor.

Selic em alta pede cautela, mas não o fim da diversificação na bolsa

Selic em alta x ações – Entenda os impactos | Escola de Investidores

Independente da taxa Selic em patamar elevado, a diversificação dos investimentos segue a melhor amiga de bons retornos no longo prazo. Além disso, vale destacar que seguimos vendo a bolsa brasileira como barata (comparada ao histórico recente e a pares emergentes), e uma frente de oportunidades para investidores com horizonte de longo prazo.

Dito isso, o cenário de juros altos por mais tempo contribui para um ambiente mais desafiador para empresas – e assim, investimentos na bolsa.

Essa dinâmica é sentida principalmente por ações mais sensíveis aos movimentos dos juros, como as cíclicas (ou seja, de empresas que atuam em setores que refletem de maneira mais clara o “sobe e desce” da economia) e com maior nível de alavancagem – em bom português, com maiores dívidas.

Nesse contexto, seguimos com nossa recomendação de manter um bom “filtro” para a escolha das empresas, buscando companhias com balanços mais sólidos, que possuam maior qualidade em seu negócio, e que possam oferecer resiliência em meio ao cenário doméstico ainda desafiador

Recomendações completas

Confira todas as nossas recomendações, de acordo com cada perfil de investidor, no Onde Investir da Rico. E abaixo, separamos algumas sugestões de investimentos recomendados nas principais classes de ativos para o cenário atual.

ClasseOpção de investimentoOpção de investimento 2Mínimo da opção mais acessível
Renda fixa pós-fixadaCRI Cyrela -04/2028 – 101% CDI* isentoSelection RF Light FIC Renda Fixa Crédito Privado LPR$ 100,00
InflaçãoNTN-B – ago/28 – 5,85%CRA BRF mai/2034 6,1% *isentoR$ 50,00
Renda Fixa PrefixadaTesouro Prefixado jan/2026 – 11,15%R$ 100,00
Renda Fixa GlobalTrend High Yield Americano FIMTrend Crédito Global FIMR$ 100,00
MultimercadoSelection Multimercado FIC FIMKinea Atlas IIR$ 100,00
Renda variável BrasilCarteira Rico11Selection Ações FIC AçõesR$ 100,00
Renda variável internacionalWellington Us BDR Advisory Dólar FIC Ações BDR Nível 1M Global BDR Advisory Dólar FIC FIA BDR Nível IR$ 500,00
Renda variável internacional hedgeadaTrend Bolsas GlobaisTrend Bolsas EmergentesR$ 100,00
Alternativos/ Fundos ImobiliáriosCarteira de FIIs RicoTrend Ouro Dólar FIMR$ 100,00

Elaborado por:

Bruna Sene, CNPI-T 1847

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