Esse ano teríamos mais uma Olimpíada. Só de pensar nisso já me vem a imagem daquele pênalti do Neymar que garantiu o primeiro ouro olímpico do futebol masculino brasileiro e das “corridas contra o relógio” do jamaicano Usain Bolt.
Infelizmente, em 2020 não serão distribuídas as mundialmente famosas medalhas de Ouro, Prata e Bronze… porém, os metais que as fazem estão chamando atenção de uma outra forma: no mercado financeiro.
Neste ano, estamos vendo um verdadeiro rali de preços do ouro e da prata, e uma alta – ainda que mais tímida, fazendo jus a fama de 3° lugar – do cobre. Metais preciosos estão sendo muito procurados pelos investidores ao redor do mundo.
Ontem, no Rico Matinal, o Matheusinho falou sobre os motivos:
“Juros baixos e busca por ativos reais: com a elevada liquidez, o Fed (Banco Central americano) tem a necessidade de manter os juros baixos por mais tempo até para não estressar novamente o mercado de dívidas(…).
Dada as incertezas quanto às implicações para o dólar, e a possibilidade dessa forte liquidez gerar inflação posteriormente, o investidor tem migrado para ativos que ‘teoricamente’ seriam mais atrativos que juros reais negativos: é o caso da bolsa, metais preciosos (ouro e prata)(…)”
Os preços não mentem – o gráfico abaixo vale mais do que mil palavras:
Mas qual dessas “medalhas” eu devo ter em minha carteira?
Caros 13 leitores, aqui na Rico nós gostamos do estilo “do it yourself” de investir: em vez de dar o peixe, vamos ensinar a pescar.
Antes de nos perguntamos “qual devo comprar?”, devemos entender o que são essas commodities e quais são as diferenças entre elas:
Ouro
Reserva de valor durável, de fácil manejo e transporte, não sujeito às mesmas flutuações inflacionárias do papel-moeda, e nem a catástrofes do mercado de ações.
(II) Ativo financeiro aceito internacionalmente e com facilidade para compra e venda.
(III) Em 5.000 anos de história, nada jamais pôde mudar o valor universal do ouro.
(IV) Possui valor real e tangível; é dinheiro real (como também a prata).
(V) A proporção entre a procura por ouro (demanda) e a produção de ouro (que influencia a oferta) está em ascensão à favor do ouro. A demanda é crescente, tende a continuar a ser, o que só poderá causar a valorização do metal.
(VI) O ouro era a principal moeda de quase toda a Europa, Ásia e Américas, até 1971 (também a prata, todavia em menores proporções). Ele tem passado como meio de troca (dinheiro) e reserva de valor (enriquecimento) através dos anos e das civilizações por algumas razões básicas: é raro, belíssimo, difícil de ser encontrado e os custos de mineração são elevados. É praticamente indestrutível, compacto, porém, maleável e divisível.
Prata
(I) Diferentemente do ouro, que é basicamente uma reserva de valor global, mais de 50% da demanda por prata nos últimos 5 anos foi gerada pela indústria, enquanto este número é de apenas 10% a 15% para o metal dourado. Destes 50%, 45% são para eletrônicos,20% de fotovoltaico, 9% para solda, 6% para esterilizantes e 20% para outras razões.
(II) Energia Fotovoltaica: utilizada como condutor, teve seu uso acelerado na geração de energia limpa e a demanda do setor por prata cresceu 80% nos últimos 5 anos, já representando 10% do total consumido.
(III) Equipamentos Eletrônicos: a prata é encontrada em praticamente todos os aparelhos eletrônicos existentes, e mais de 60% do consumo industrial é gerado pelos produtos eletrônicos.
(IV) Medicina: devido à sua ação antibiótica e baixa toxicidade para células animais, o metal é utilizado em loções antibacterianas, bem como para confeccionar tubos de respiradores com menor possibilidade de causar infecções nos pacientes quando estão em ventilação, além de utilização em equipamentos de raio-x e outros.
Cobre
(I) Junto com o ouro e a prata, era a base das moedas de circulação no mundo antigo. Obviamente, ele era o menos valioso destes três. Atualmente, ainda é usado na fabricação de moedas, mas geralmente na forma de liga monetária (liga metálica formada por 75% de cobre e 25% de níquel).
(II) o cobre na forma dessas ligas é muito usado em objetos de decoração, em joias, amálgamas dentários, peças para automóveis, aviões etc. Isoladamente, a sua principal aplicação é em equipamentos e sistemas elétricos, como os fios que conduzem eletricidade.
(III) Assim como a prata, o cobre tem características antivirais, propriedades que rompem o envoltório do vírus, inativando seu RNA e DNA. Por isso, pode ser utilizado em tecnologias de vestimenta, pinturas, revestimentos, componentes de construções com muita circulação de pessoas (aeroportos, metrôs, estações de trem, etc), tudo isso para combate deste e de demais vírus que podem surgir.
O que devemos concluir?
Eles são muito diferentes entre si. O ouro é uma reserva de valor, ou seja, é uma forma de você como investidor, proteger seu dinheiro do mercado.
Se você está preocupado com as eleições americanas, conflito entre EUA e China, ou mesmo acredita que teremos um ambiente de muita corrosão por conta da inflação, pode querer ter ouro na carteira. Ou mesmo por ser um metal precioso escasso no mundo: estamos falando de uma quantidade no mundo capaz de encher apenas 2,5 piscinas olímpicas. Não precisa ser o Michael Phelps para saber que isso é pouco em proporções globais. Neste caso, um pouco de ouro na carteira pode fazer sentido.
Já a prata e o cobre são diferentes: metais de uso industrial. Uma volta econômica, principalmente chinesa, pode aceleras bastante a demanda deles. Ambos estão presentes no desenvolvimento de produtos eletrônicos e possuem finalidades medicinais, o que é um tema muito em voga neste momento.
A prata ainda tem um a mais: utilização no segmento de energia renovável. Já falamos aqui no RM que o tema ESG está muito em alta: em português, ASG (Ambiental, Social e Governança corporativa).
Cada vez mais a empresas e os consumidores vão se preocupar com o “quão ESG” é aquele produto consumido, ou gerado. Pode ser um forma interessante de se expor ao tema.
Atenção na hora de vender
Mas deixo um aviso: tão importante quanto saber comprar, é saber vender.
Você estará tomando uma decisão de investimento, e terá que assumir as responsabilidades disso. Diferentemente da renda fixa, que paga juros, ou das Ações, que pagam dividendos, metais não remuneram o investidor.
Ou seja, não há outra forma de ganhar dinheiro que não a arbitragem nos preços. Isso significa que não adianta apenas “colocar o dinheiro lá e esquecer”, você terá que acompanhar e tomar a decisão de deixar de ter ou não a commodity.
E nunca se esqueça: diversificação é o último almoço grátis do mercado.
Por mais “brilhante” que seja o investimento, não concentre demais. No mercado financeiro, tomamos decisões com base nos fundamentos dos investimentos, mas não sabemos ao certo o dia de amanhã, o cenário pode mudar.
Quando você concentra demais seu dinheiro em um único investimento, se ele é afetado, você sofre ainda mais. Além de prejuízos (que não necessariamente são reversíveis), isso pode “te tirar do jogo”.
Nós estamos falando de um campeonato de pontos corridos aqui, ou seja, a cadência é a chave. Não ser eufórico demais quando o mercado estiver, ou mesmo pessimista demais quando o mercado achar que tudo vai dar errado.
Errar no tamanho de suas posições pode deixar sua carteira muito exposta a risco, que eventualmente vai te cobrar noites de sono. E pode ter certeza, o Neymar não acertou aquele pênalti sem ter dormido muito bem.