*Por Beatriz Vergueiro, Head de Produtos ESG da XP Inc.
- Falar em energia nuclear é complexo. Quando tocamos no tema, muitas pessoas pensam em acidentes ou na possibilidade de fabricar bombas com o enriquecimento de urânio
- Mas também está crescendo a conversa sobre a energia gerada a partir do urânio ser uma das respostas ao aquecimento global
- Neste Insight, você entende o que está por trás dessa forma de geração de energia, seus riscos, vantagens e desvantagens.
Do que você se lembra quando falamos de energia nuclear? Muita gente deve responder que pensa nos acidentes de Chernobyl e Fukushima. Outro grupo de pessoas vai se lembrar de que o urânio, matéria prima dessa geração energética, também pode ser utilizado na fabricação de bombas.
Mas você sabia que muitos especialistas consideram a energia gerada a partir do urânio uma fonte limpa, segura, confiável e barata?
Sim! Inclusive Bill Gates, que além de fundador da Microsoft é também um grande ativista da agenda climática, criou em 2008 a TerraPower, uma empresa de energia nuclear. A tese desse investimento tem embasamento técnico: ao contrário das opções de energia limpa mais comuns que temos hoje — como eólica e solar, que dependem de condições externas para funcionar—, a energia nuclear não tem intermitência: funciona durante 24 horas, 7 dias da semana, faça chuva ou faça sol.
Os reatores nucleares da empresa, que estão sendo construídos na Geórgia (EUA), devem produzir mais eletricidade sem carbono do que a gerada atualmente pelas mais de 7.000 turbinas eólicas no estado da Califórnia e, ao longo de 60 anos vida, buscam evitar a liberação de cerca de 600 milhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera.
Por que energia nuclear?
Com a crise energética que estamos vivenciando, com falta de chuvas no Brasil e o uso de combustíveis fósseis (que são finitos, bom lembrar!) contribuindo muito para a piora da questão ambiental, o mundo não vai conseguir gerar energia suficiente para suprir as nossas crescentes necessidades sem que haja uma fonte limpa e realmente segura por trás. Por isso, a energia nuclear vem ganhando força dentre os chamados “ativos verdes”.
O sentimento político dos EUA em relação à energia nuclear também está mudando. A inovação em energia nuclear foi parte da promessa de campanha do presidente Joe Biden para lidar com a mudança climática. Inclusive, em outubro passado, a TerraPower de Gates ganhou US$ 80 milhões em financiamento do Departamento de Energia dos EUA para seu projeto de construção de usinas nucleares mais eficientes — que vão se somar à fatia de 20% da matriz energética que já é nuclear.
E como isso está repercutindo no resto do mundo?
A China está construindo o equivalente a um reator nuclear a cada sete semanas. A Índia também investe na matriz energética, o Japão já religou 10 de 27 reatores pretendidos e a Coreia do Sul tem mais dois reatores em construção.
Os Emirados Árabes Unidos estão olhando para além de sua história de combustível fóssil e começaram agora mesmo a construir o primeiro de quatro reatores nucleares, que em meados desta década fornecerão 25% de sua eletricidade. Turquia e Bangladesh estão construindo seus primeiros reatores nucleares. E outros países, como Polônia, Iraque, Estônia e Egito, pretendem construir mais usinas nucleares no futuro. Ou seja: o assunto é quente em todos os cantos do mundo.
O presidente Putin, em um discurso em janeiro, disse que quer que a Rússia aumente a participação da energia nuclear no mix de geração no país dos atuais 20,3% para 25%. A mudança, aparentemente pequena, implica a construção de mais 24 reatores nucleares no extenso território russo.
Energia nuclear é segura mesmo? E como lidamos com o lixo radioativo?
O processo de produção da energia nuclear acontece a partir de um processo chamado de fissão nuclear, em que o núcleo de um átomo (quem lembra das aulas de química?) é partido por um bombardeamento de partículas. A fissão nuclear, mesmo acontecendo em nível subatômico, libera uma grande quantidade de energia e gera muito calor. Por sua vez, a água dentro do reator absorve esse calor, e se transforma em vapor, que gira uma turbina para produzir eletricidade.
E qual o grande risco desse fluxo? Se o vapor se acumular, criando pressão dentro de um reator, pode resultar em uma explosão. Portanto, as novas plantas que estão sendo construídas usam um método diferente: sódio líquido como agente de resfriamento, que pode absorver muito mais calor do que a água e pode evitar acidentes como o que aconteceu na usina de Fukushima, no Japão. Fora isso, as reações que usam sódio produzem uma pressão muito mais baixa que permite que as usinas nucleares sejam menores, mais baratas e mais simples de construir.
Menos lixo nuclear
Os resíduos nucleares são armazenados atualmente nas instalações onde foram gerados em contêineres de concreto e aço, e produzem doses de radiação durante curtos períodos de exposição direta. Já os reatores nucleares mais tecnológicos produzem bem menos resíduos, equivalente a ocupação de 2/3 menos volume do que os reatores de hoje produzem para gerar 1 gigawatt-hora de energia.
Parece muito, mas não é: a energia nuclear é a única fonte em que o resíduo é mínimo e está contido em um lugar seguro, uma vantagem de controle de impacto que nenhum outro método tem (hidrelétricas, por exemplo, geram grande impacto ambiental ao alagar grandes áreas para a construção das usinas). Nunca houve nenhum incidente com o resíduo nuclear e alguns países, como França, Rússia e Japão, até o aproveitam para gerar mais energia.
A demanda de Urânio no mundo pode ser uma boa oportunidade de investimento?
Segundo a Bloomberg, nos próximos 3 anos, os ETFs do setor de energia nuclear deverão atingir um tamanho de US$ 3 a 4 bilhões — seria uma valorização de até 5 vezes, já que os valores de mercado atuais não chegam a US$ 800 milhões. Se levarmos em conta todo o mercado ESG, que também segundo a Bloomberg deverá atingir US$53 trilhões em 2025, a tese de investimento em urânio como fonte de energia limpa ganha mais força.
A quantidade de urânio disponível a partir de fontes convencionais há muito tempo é subestimada. A produção de urânio ano passado foi de cerca de 57 milhões de quilogramas, enquanto o consumo ficou na casa dos 82 milhões. Ou seja, o consumo hoje é maior que a produção e o volume de urânio que deixará de ser produzido nos próximos anos é mais que o dobro do que começará a ser produzido. Lembrando que demora anos, normalmente mais de 10, para se desenvolver uma mina de urânio em um país desenvolvido.
Parece que Bill Gates sabia bem o que estava fazendo quando entrou em um mercado com demanda crescente, oferta escassa e grande potencial de valorização, e a tese de investimento em urânio fica mais atrativa a cada dia.
E os riscos?
Ainda que esse tipo de geração de energia não emita gases de efeito estufa, ele ainda apresenta uma série de riscos. Voltando na primeira pergunta que fizemos nesse texto, lembramos imediantamente do uso bélico do urânio, para construção de armas.
Mas também existem riscos na mineração: se a extração for feita de forma incorreta, o deslocamento do material extraído será impactado e, com isso, o armazenamento desse urânio em depósitos pode causar danos socioambientais. Os principais riscos aqui são:
- Poluição atmosférica: a poeira radioativa do uranio após o processo de enriquecimento é muito tóxica quando inalada
- Poluição hídrica: existe a possibilidade de ocorrerem vazamentos de material radioativo da mina para o ambiente, por conta de acidentes ou infiltrações. Se isso acontece, tanto as águas superficiais como as subterrâneas podem ser contaminadas pelo urânio e ficam impróprias para qualquer uso
O que concluímos disso tudo?
Apesar dos riscos no processo de geração de energia nuclear, desde a mineração de urânio até o manejo dos resíduos, outros tipos de geração de energia causam danos muito maiores. As usinas de carvão, por exemplo, liberam partículas de carvão no ar, sem falar nos dutos de gás natural que explodem e emitem quantidades gigantes de gases de efeito estufa. Acidentes com outras fontes de energia também são mais frequentes.
A energia nuclear pode ser uma das melhores opções de geração limpa, sem intermitências, com baixas emissões de gases de efeito estufa, e que tem grande potencial para ajudar o mundo a ter uma matriz energética mais sustentável e a chegar no sonhado Net Zero (quando toda a energia necessária for produzida localmente e por fontes renováveis).
Por outro lado, as apostas são altas e os impactos de inadequações ao longo do processo são grandes. Por isso, a medida que a energia nuclear se populariza, também precisamos discutir amplamente como a sua geração será conduzida, garantindo segurança a cada passo.
Elaborado por:
Bruna Sene, CNPI-T 1847
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