O Comitê de Política Monetária do Banco Central (o Copom) elevou mais uma vez a nossa taxa básica de juros (a taxa Selic), para 15,00% ao ano.

A alta dos juros é explicada por um cenário de inflação ainda acima da meta (de 3,0%), economia aquecida, riscos fiscais e ambiente global incerto. Acreditamos que essa será a última elevação do atual ciclo de altas da Selic – que elevou a taxa básica de juros de 10,50% em setembro de 2024 aos atuais 15%.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) manteve os juros na faixa de 4,25% a 4,50%, mas também reforçou o discurso de que cortes ainda não estão no horizonte (muito) próximo.

Vale lembrar: Bancos Centrais elevam os juros com o objetivo de manter os preços subindo a um ritmo controlado, ou seja, controlar a inflação.

O que disse o Copom?

Após cada reunião, o Copom divulga um comunicado detalhando sua decisão e sinalizando a direção que deve tomar dali em diante em relação à política monetária – ou seja, à taxa de juros.

No documento de hoje, o Comitê destacou que o ambiente internacional segue desafiador, principalmente diante da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos. Após preocupações de que a incerteza sobre o “vai e vem” de tarifas de importação capitaneadas por Donald Trump poderiam levar a economia americana a uma recessão, o Copom passou a destacar a incerteza como o risco principal.  

Vale destacar: o aumento de tarifas de importação tende a ter efeitos inflacionários no curto e médio prazo – uma vez que produtos importados ficam mais caros, e a regionalização da produção também tende a elevar os preços (por custos mais altos, especialmente de mão de obra).

Por outro lado, o alto nível de incerteza pode impactar decisões como investimentos e consumo, prejudicando o crescimento econômico não somente nos Estados Unidos, mas no mundo todo – o que, por sua vez, reduziria a necessidade de juros mais alto para controlar a inflação em nosso país.

Além disso, o Copom passou a destacar a elevação do risco fiscal na maior economia do mundo. Diante de questionamentos sobre o papel do dólar e ativos americanos no mundo, a gestão das contas públicas e o endividamento nos Estados Unidos entraram no radar de riscos no mundo. Afinal, com investidores “cobrando mais” para financiar a economia americana, juros no mundo todo são pressionados por tabela.   

Por fim, o acirramento de tensões no campo geopolítico – e seus efeitos sobre os preços – também passou a preocupar o Copom. A recente alta dos preços de petróleo no mundo, impulsionada pela piora do conflito no Oriente Médio, ilustra essa preocupação. Lembrando que preços mais altos de combustível tendem a impactar a inflação de inúmeros bens e serviços ao redor do mundo.

Economia doméstica segue aquecida

Aqui no Brasil, o Comitê seguiu indicando a resiliência da economia – com destaque para o mercado de trabalho – como fonte de pressão sobre os preços, apesar de sinais iniciais de moderação no crescimento econômico nos últimos meses.

Vale lembrar que: um mercado de trabalho aquecido tende a pressionar os salários, dado o maior “poder de barganha” de trabalhadores e a busca por mão de obra. Com maiores salários e grande parte da população empregada, aumenta-se a demanda por bens e serviços na economia – e o movimento de alta de preços ganha força, retroalimentando-se. 

Nesse sentido, vale destacar que, apesar da política monetária já estar em patamar contracionista (ou seja, em patamar que tende a desaquecer a economia), a atividade econômica segue aquecida. Além do mercado de trabalho, essa dinâmica é observada em outros indicadores recentes, como:

  • O PIB do primeiro trimestre: que mostrou crescimento robusto de diferentes setores.
  • Concessões de crédito: seguem em tendência de alta e patamar historicamente elevado.
  • Massa de renda: continua em elevação, na esteira justamente de um mercado de trabalho aquecido, crédito ainda abundante e impulsos fiscais (ex: liberação de parte do FGTS).

Assim, como destacado pelo Copom, o aquecimento do mercado de trabalho, a robustez da economia e as expectativas sobre a inflação no futuro ainda desancoradas demandam que a política monetária siga restritiva e, de maneira relevante, por um longo período.

O risco fiscal não foi esquecido

O comunicado que acompanhou a decisão também manteve o tom duro sobre o risco fiscal. O Comitê destacou que o contexto das contas públicas segue prejudicando a percepção de risco de investidores em relação aos ativos financeiros brasileiros — o famoso “risco fiscal”. Esse piora, por sua vez, impacta diretamente ativos brasileiros, como títulos de renda fixa, nossa moeda e ações — além das expectativas sobre a inflação no futuro.Deste modo, apesar da recente valorização do Real, a percepção de risco país segue fator central para o controle de preços adiante. Vale destacar que entendemosque a queda do dólar por aqui nos últimos meses reflete muito mais o enfraquecimento do dólar no mundo e uma visão relativa do Brasil como “vitorioso” no xadrez tarifário global, do que uma melhora no ambiente fiscal doméstico.

Expectativas de inflação: o que são?

As expectativas de inflação são muito importantes para o controle da inflação em si.

A lógica é simples: se empresas e consumidores acreditam que os preços continuarão subindo, eles antecipam aumentos agora, o que acelera o processo inflacionário. Esse comportamento afeta salários, contratos e decisões de investimento — e pode tornar a inflação mais difícil de combater no futuro.

A decisão e o que esperar

Diante de todos esses fatores, o Copom optou por retomar o ciclo de alta de juros, elevando a Selic para 15,00% ao ano.

Acreditamos que o Banco Central deverá manter a taxa Selic em 15,00% até o segundo trimestre do ano que vem. Ou seja, os juros seguirão em patamar contracionista por um longo período. Nesse nível, o objetivo é a desaceleração da economia – tornando o crédito mais caro, desincentivando o consumo, incentivando o investimento e, assim, reduzindo a demanda por bens e serviços e a pressão sobre os preços.

Vou sentir a alta dos juros?

Para o dia a dia do brasileiro, pouca coisa muda com a elevação da Selic para 15,00%, especialmente no curto prazo. 

Isso porque mudanças na taxa básica de juros demoram a ser sentidas na economia – chamamos esse efeito de “defasagem da política monetária”. No Brasil, o intervalo para que alterações na Selic sejam refletidas nas taxas para empresas e pessoas física varia de 3 a 12 meses.

Vale lembrar: a política monetária opera com defasagem, fazendo com que o Banco Central sempre mire o que chamamos de “horizonte relevante de política monetária”. Em outras palavras, como os efeitos da taxa Selic demoram a ser sentidos na economia, o objetivo de trazer a inflação para a meta sempre irá considerar as projeções da inflação no futuro – e não necessariamente a inflação que vemos hoje.

Além disso, o impacto também varia de acordo com a modalidade do crédito. Por exemplo, a variação de 1p.p. na taxa Selic leva a uma variação quatro vezes maior nos juros médios do cheque especial ao longo de doze meses (conforme estudo do Banco Central). Já outros tipos de crédito, como o imobiliário e para veículos, são impactados em um período de 6 e 3 meses em média, respectivamente.

Assim, a sensação de aperto das condições financeiras deve ganhar força gradualmente, especialmente na segunda metade desse ano. A partir de então, a manutenção dos juros altos deve seguir presente na vida dos brasileiros por certo tempo.

Renda fixa segue atrativa

Com a Selic em 15%, o cenário continua atrativo para a renda fixa:

  • Pós-fixados oferecem retorno elevado com segurança.
  • Títulos IPCA+ combinam proteção contra inflação e rendimento real.
  • Prefixados devem ser tratados com cautela: o cenário ainda é de instabilidade, então recomendamos prazos curtos e emissores sólidos.

Selic em alta pede cautela, mas não o fim da diversificação na bolsa

Embora o patamar elevado da taxa de juros seja um sinal importante para que os investidores mantenham cautela com ativos de risco, a sinalização de que o ciclo de altas pode ter terminado tende a ser um fator positivo para a renda variável. Isso porque investidores costumam antecipar movimentos, incluindo cortes de juros – o que pode impulsionar o mercado acionário.

Além disso, outros fatores — como o ambiente externo, o histórico do mercado, os preços atuais e a seletividade na escolha dos ativos — continuam sendo determinantes para o investimento em ações.

Assim, nossa recomendação para a renda variável brasileira é manter um portfólio equilibrado, destacando:

  • Ações de empresas resilientes, com boa geração de caixa e baixo endividamento;
  • Empresas cíclicas de alta qualidade, para se beneficiar de um potencial ciclo de quedas dos juros adiante; e, ao mesmo tempo,
  • Setores menos sensíveis ao ciclo de juros (como energia, saneamento e financeiro), de modo a equilibrar as incertezas ainda existentes sobre os juros adiante.

Recomendações completas

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Abaixo, os destaques para o momento:

  • Pós-fixados: ótima remuneração com liquidez
  • IPCA+: proteção contra a persistência inflacionária
  • Prefixados curtos: apenas com seletividade
  • Ações: resiliência, qualidade e visão de longo prazo
  • Internacional: diversificação e proteção em tempos de incerteza no Brasil e no mundo.
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