- O esquenta está diferente, né? Hoje, às 18h30, o Copom divulga sua decisão para a Selic
- Desde a última reunião, chamam a atenção a piora na perspectiva de inflação e o balanço de riscos no horizonte
- O que esperamos para a reunião da nossa autoridade monetária que termina hoje?
“Estou levando gin, tônica e limão”
“Eu levo breja! Que horas saímos? Não quero chegar na muvuca!”
“Boa! Mas pede pro Uber parar pra comprar gelo! Sempre falta gelo!”
4 horas depois…
“Falei pra sairmos antes! Devia ter ido sem gelo.”
Saudades de um esquenta, né minha filha?
Mas não se preocupe! Vamos matar suas saudades com um ótimo esquenta econômico para acalentar os corações, e que (olhem a vantagem!) não acaba em ressaca no dia seguinte!
Trata-se de um esquenta para a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil – nosso querido Copom. Ou copão, se quiser seguir no espírito não pandêmico da festinha.
A ideia é contar aqui tudo o que esperamos para a reunião da nossa autoridade monetária que termina hoje, com base no que entendemos que eles irão encontrar nos dados disponíveis sobre a economia no Brasil e no mundo – atividade econômica, preços de commodities, cenário político, situação fiscal, entre outros.
Explicar o que pensamos sobre o que eles pensarão vendo os dados que estamos vendo! Lembra quase aquelas maluquices do filme Inception isso né? Mas calma, como não contaremos com elevado teor alcóolico nesse esquenta, tudo vai ficar mais claro ao longo do texto abaixo.
Comecemos por uma reflexão do que aconteceu desde o último Copom.
O que aconteceu desde o último Copom?
Desde a última reunião do Copom, dois pontos principais nos chamam atenção para uma piora na perspectiva de inflação e no balanço de riscos no horizonte relevante de política monetária. Ou seja, pontos que os diretores do BC devem estar bem de olho que podem fazer a inflação sair da rota que planejam.
O primeiro é a evolução dos preços de insumos ao produtor, refletido nos índices de preços no atacado (os famosos IPAs), que voltaram a acelerar desde abril. Com as commodities em nível elevadíssimo e sem dar sinais de arrefecimento no curto prazo – falamos mais sobre isso em texto brilhante do João Lorenzi – esses preços devem seguir pressionados, mesmo com a valorização recente do real (que ajuda no preço desses insumos negociados em dólar por aqui).
O segundo tem a ver com São Pedro, e com sua ira por não estarmos realizando festas juninas no Brasil. Ou, se você preferir, com a piora do nível dos reservatórios hidrológicos no Brasil, que pressionam o preço de energia. Está ficando claro que a energia elétrica vai seguir alta por todo 2021 (em nosso cenário base consideramos bandeira Vermelha 2 até dezembro), gerando inércia para 2022.
Do outro lado, tivemos também alguns acontecimentos que pesaram para o lado da inflação menos pressionada. A dizer: a apreciação do câmbio (reduzindo o impacto que chamamos de pass through do câmbio nos preços finais domésticos) e a melhora das condições de liquidez global – com as taxas de juros de 10 anos nos EUA voltando ao patamar de 1,5%. Ou seja, o real mais forte e menos stress na gringa. Além disso, vimos também desde a última reunião do Copom uma melhora da percepção de risco fiscal agudo no país. Porém, entendemos que o Comitê não deva dar tanta importância ao último, dado que nossa dívida segue elevada, e nossa estrutura de gastos ainda bastante engessada – ou seja, apesar do alívio de curto prazo, ainda temos importante desafios fiscais de longo prazo.
O líquido disso tudo? A análise dessas variáveis todas de fato parece pender para o lado hawkish. Oi? Leia o quadro abaixo para a estranha relação entre tipos de pássaros (falados em inglês) e política monetária.
Falcões X Pombas
Hawkish – Aparentemente relacionado ao comportamento de soldados na Guerra da Independência dos EUA, a figura de um falcão está associada à coragem, força, rigidez. Em política monetária, faz referência a um comportamento de banqueiros centrais mais preocupados com o controle da inflação, menos lenientes com a alta de preços e o potencialmente distanciamento de sua meta.
Dovish – Já as pombas são relacionadas a… acho que apenas pombas mesmo, na tranquilidade, de boa esperando seu pãozinho no parque! Em política monetária, as pombas então são associados a autoridades monetárias mais lenientes com a inflação. Para os quais “um pouquinho de alta de preços não faz mal a ninguém”, mesmo que se distancie da meta almejada.
Não ficou muito claro como o Copom está vendo tudo o que disse ali em cima? Não se preocupe! Fizemos a tabela abaixo para facilitar a leitura desses e de outros dos principais indicadores que os diretores do BC estão nesse momento analisando para determinar o que fazer com a nossa taxa básica de juros – a Selic.
Como vocês podem ver, ela tem uma coloração diferenciada. E não, não é só pra ficar menos entediante! É um mapa de calor, ou heatmap, para os íntimos. Ele serve para indicar a nossa leitura do que cada um dos indicadores representa no mundo da política monetária. Quanto mais vermelho (azul), mais a variável está atuando para piorar (melhorar) a perspectiva da inflação.
E o que isso nos indica da decisão de hoje?
Primeiro de tudo, vale lembrar que o horizonte relevante de política monetária do Copom hoje já é 2022. Ou seja, os ajustes na taxa de juros dificilmente irão atuar sobre a elevação de preços correntes que observamos, então o que vale mesmo mesmo é o ano que vem! Mas essa elevação agora pode contaminar as expectativas para o ano que vem – caso o pessoal entenda que o BC não agirá para controlar os preços a tempo ou em magnitude necessária. E sabemos que controlar expectativas com inflação corrente quase nos 9% é de fato mais complicadinho!
Desse modo, o aumento de 0,75pp na taxa Selic é o mais esperado, seguindo o que o próprio Copom já indicou em sua última reunião. Porém, mais importante do que isso, será entender o que ele fará depois disso. Se irá manter o ajuste parcial como vinha indicando, levando a Selic para o território neutro (aquele que não estimula nem desestimula a atividade) apenas no ano que vem, ou se irá fazer o ajuste completo até o neutro esse ano – levando a Selic, assim, para 6,5%.
Considerando tudo o que mostramos acima, o Banco Central dificilmente encontrará espaço para interromper o ciclo de aperto antes que a taxa Selic atinja seu nível neutro. Por isso, deverá sinalizar que a Selic irá para 6,5% ao longo das próximas reuniões – sem pausas nas altas.
E ainda mais pra frente, esperamos mais? Muita gente entende que com a inflação onde está hoje, e já com expectativa de ficar acima da meta de 3,5% ano que vem (esperamos 3,8%), o Copom deveria ir além dos 6,5%. Não achamos que seja pra tanto! Boa parte da pressão pro ano que vem é relacionada a questões como a ira de São Pedro, e outros preços administrados que não viram reajuste por causa da pandemia. Por isso, o BC deve aceitar um “pouquinho” de inflação acima da meta, para evitar frear demais a economia nessa retomada. Afinal, nenhum banqueiro central também quer ter a fama de jogar o bebê com a água junto, não é mesmo?
Então até as 18:30 de hoje: façam suas apostas! Quem perder, pára pra comprar o gelo no posto no próximo esquenta! #Euquenão.
Elaborado por:
Betina Roxo, CNPI 1493
Paula Zogbi, CNPI 2545
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