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(Por Thales Carmo, analista de mineração & siderurgia da XP Investimentos) 

Recentemente, muito vem se falando sobre as altas (e baixas) dos preços de minério de ferro. O nosso objetivo aqui hoje é compartilhar com vocês um pouco sobre a dinâmica desse mercado e sobre as nossas visões para o futuro. Começando pelo começo… vamos entender melhor como funciona esse mercado e qual o papel da China nessa história.

O minério de ferro é o principal componente na criação do aço (cerca de 98% do minério de ferro no mundo é utilizado na indústria siderúrgica). Estamos falando de um mercado altamente concentrado, com poucas empresas no Brasil e na Austrália dominando tanto o comércio quanto a produção da commodity no mundo. Como toda commodity existente, os seus preços são função de oferta, demanda, sentimento de mercado, liquidez, entre outras coisas. Vamos tentar analisar esses aspectos a seguir.

Quando falamos em minério de ferro e produção de aço, não podemos nos esquecer da China. Mesmo tendo a terceira maior produção da commodity, seguida da Austrália e Brasil, os chineses são – de longe – os maiores importadores do minério, responsáveis pela importação de mais da metade do minério produzido!

Não obstante, a China ainda produz mais aço do que todos os outros países somados: 1,05 bilhão de toneladas de aço bruto em 2020. Um fenômeno. Com números desta magnitude, fica fácil de entender por que os chineses controlam o mercado.

Mesmo com a pandemia, vimos o mercado pouco se abalar e, além disso, os preços por minério de ferro explodirem. Do lado da demanda chinesa, atribuímos isso ao controle estrito do coronavírus, ao forte aumento nas vendas de imóveis e à consequente e inabalável demanda por mais minério.

Com relação aos desdobramentos da Covid-19, é importante notar que os números de casos ainda estão em alta no mundo todo (principalmente no Brasil). No entanto, por conta da capacidade do governo chinês em aplicar rígidos lockdowns em diversas províncias, cancelar viagens internas ao redor do país, além de manter as fronteiras internacionais fechadas, os números da China ainda são muito menores.

Já em relação à venda de propriedades, vimos uma forte alta no meio do ano, acima de níveis normais de 2019, aumentando a demanda e o consumo de matérias-primas como o aço (e consequentemente, de minério de ferro), resultado de uma engenharia feita pelo governo chinês para injetar (muito) crédito na economia.

Todas essas medidas contribuíram para a produção recorde de aço no país e à alta de 74% no preço do minério no ano.

Pô! Só coisa boa! China crescendo, muita liquidez no mercado, ainda dá para aproveitar esse rally? Antes de responder à essa pergunta temos que ter em mente que esse mercado é dominado por um país fortemente intervencionista e que as decisões do governo chinês podem impactar diretamente as atividades das suas siderúrgicas.

Na semana passada, acompanhamos algumas notícias de que o Ministério da Industria e da Tecnologia da Informação da China lançou diversas medidas para reduzir a sua produção de aço bruto em 2021, como o banimento de adição de novas capacidades e incentivos à restruturação da indústria para aumentar a competição. Segundo o governo chinês, o objetivo é reduzir a emissão de carbono a fim de migrar a produção para o desenvolvimento verde.

Na nossa visão, não acreditamos que essas medidas deverão impactar a produção de aço no país e, portanto, que a demanda por minério de ferro reduza significativamente. Por isso, ainda esperamos preços fortes da commodity em 2021, devido à forte demanda chinesa por aço, após mais estímulos governamentais, somados a um cenário mais desafiador para a oferta.

Além disso, como regra prática, minérios de baixo teor com frações mais altas de impurezas, exigem maior consumo de coque, o que pode aumentar as emissões de gases. Por isso, também podemos esperar um aumento na demanda por minérios de alto teor, beneficiando ainda mais a Vale, que produz minério de 65% de ferro (contra a média do mercado de 62%).

De todo modo, os investidores ainda poderão se beneficiar desse rally investindo nas ações da Vale ou da Bradespar, com Vale sendo nossa top pick. Nossa recomendação para Vale (VALE3) é de Compra e preço-alvo de R$122/ação para o fim de 2021. Já para Bradespar (BRAP4), nossa recomendação é de Compra e preço-alvo para o fim de 2021 de R$83/ação.

Se quiser acompanhar ainda mais o nosso trabalho:

  • Nesse link, atualizamos nossas estimativas paras as mineradoras que cobrimos na XP, além das nossas expectativas para o preço de minério de ferro
  • Já nesse link, discutimos a importância de acompanhar variáveis não tão comuns, como o fluxo de embarques de minério de ferro ao redor do mundo.

Elaborado por:

Betina Roxo, CNPI 1493

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