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Imagine que eu e você saímos para almoçar e eu esqueci a carteira. Você paga para mim e me livra de passar vergonha, ainda brinca que eu dei um “golpe”. No dia seguinte, eu pago a dívida e acrescento um chocolate como forma de agradecimento. Essa é, basicamente, a dinâmica por trás de qualquer investimento em renda fixa.
Sim, é tão simples quanto isso. Um investimento em renda fixa é emprestar dinheiro e receber de volta, com juros, dentro do período estipulado. É tipo quando você contrata uma linha de crédito no banco e paga juros (que crescem a cada dia que passa formando uma bola de neve financeira), mas você é o banco e vice-versa.
Pensar em renda fixa, então, passa por pensar na chance de tomar um calote. No cenário da carteira esquecida no almoço, você provavelmente pagaria a refeição de algum amigo sem pensar muito na primeira vez, mas no quinto esquecimento seguido, se esse amigo não pagasse de volta, provavelmente você já começaria a dar algumas indiretas, não é?
O nome disso é risco de crédito. No Brasil, os títulos públicos, no famoso Tesouro Direto, têm o menor risco de crédito possível. Isso porque o Tesouro Nacional só deixaria de remunerar os investidores caso o país inteiro quebrasse — e, mesmo assim, em último caso, dá para imprimir mais dinheiro.
Já nos títulos de emissão privada, tipo os de bancos (CDB, LCIs, LCAs…) e os de empresas não financeiras (debêntures, CRIs, CRAs…) esse risco de crédito varia de acordo com a capacidade de pagamento da empresa em questão. Quanto mais arriscada, maior a chance de o investidor tomar calote, mas mais juros a empresa vai pagar — é como se o amigo que sempre esquece a carteira oferecesse dois chocolates (ou uma caixa de chocolate suíço, dependendo de quão envergonhado estivesse) em vez de um.
Agora, se me permite mudar um pouco a analogia, imagine que você precisa de um sapato para ir a um casamento chique no semestre que vem e tem duas opções: ou pega desde já um sapato com seu irmão/irmã que cai bem com a sua roupa, mas não é perfeito, ou espera um/a primo/a que mora em outra cidade trazer o sapato ideal uma semana antes da festa.
Essa é a remuneração pelo risco de liquidez. Explico, em duas partes.
- Não faz sentido se contentar com uma alternativa ‘pior’ se você pode esperar e ter uma melhor, certo? Na renda fixa, quanto maior o tempo que você se dispõe a esperar para ganhar uma remuneração, maior ela vai ser (aliás, entenda neste vídeo os juros compostos). Por isso, é essencial aliar os investimentos aos seus objetivos e os prazos em que eles serão cumpridos.
- Por outro lado, se existe a chance desse/a primo/a não visitar sua cidade antes do casamento, o melhor é se contentar com o empréstimo que já foi oferecido. Como diz o ditado (em livre adaptação): mais vale um sapato no pé do que dois voando.
E, sem nem perceber, também falamos agora sobre o risco de mercado na renda fixa, que significa que você pode perder dinheiro caso precise antecipadamente do dinheiro investido em um título de prazo mais longo — no caso do sapato do casório, se o empréstimo não rolar, capaz de você precisar ir a uma loja e comprar um par novo. Neste vídeo, explicamos melhor como funciona essa dinâmica nos títulos do Tesouro Direto.
Elaborado por:
Betina Roxo, CNPI 1493
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