As eleições na maior economia do mundo estão chegando e são muito importantes, já que as decisões tomadas na Casa Branca afetam os mercados internacionais e, consequentemente, o mercado brasileiro.

Vale ter em mente que, no curto-prazo, as tensões elevadas na política doméstica americana e incertezas devem manter a volatilidade dos mercados alta.

Além disso, considerando que diferentes partidos assumem posturas variadas na política externa, é relevante monitorar os riscos que eles apresentam. Por exemplo, o aumento das tensões globais tende a gerar uma aversão a risco, o que não é positivo para mercados emergentes. Portanto, se um candidato é propenso a este tipo de linha, existe um risco a ser contemplado.

Tensões com a China

Realmente, as tensões entre Washington e Pequim têm abalado os mercados nos últimos meses. Por outro lado, vale ressaltar que pesquisas mostram que o eleitorado americano tem uma visão cada vez mais negativa da China, o que aumenta a disposição dos candidatos de adotar um discurso firme contra Pequim.

Então, a primeira pergunta que não quer calar: como a dinâmica EUA-China poderia mudar dependendo do resultado das eleições?

Na verdade, essa visão cada vez mais negativa da China não é apenas observada entre eleitores republicanos, mas também democratas. Portanto, caso eleito, Biden teria pouco incentivo para relaxar totalmente as tensões com a China ou remover tarifas.

No entanto, o candidato afirma que procuraria atuar de forma coordenada com aliados. E, dado seu histórico, é provável que siga uma abordagem mais institucional, o que geraria menos ruídos.

Quatro perguntas sobre Eleições Americanas

Apesar de todas as análises para diferentes cenários, viveremos essa incerteza e expectativa até meados-final de novembro. Por isso, selecionamos abaixo as “quatro grandes perguntas” sobre Eleições Americanas, para a Sol Azcune, analista de política internacional da XP Investimentos responder!

Ah, e acompanhe neste link o mercado de apostas eleitorais, que é uma das variáveis observadas por analistas por registrar oscilações na opinião pública de forma mais rápida que as pesquisas.

1. Quem é o candidato preferido do mercado?

Os candidatos à presidência dos Estados Unidos dos principais partidos do país são Donald Trump (Republicano) e Joe Biden (Democrata). No entanto, até o começo do ano ainda não era claro quem seria o candidato democrata, já que outros líderes, como os senadores Elizabeth Warren e Bernie Sanders, da ala progressista do partido, tiveram bom desempenho nas primárias.

O risco representado por esses líderes para o mercado era significativo, já que suas propostas eram consideras radicais e tinham custos muito elevados.

Joe Biden, que foi vice-presidente de Barack Obama, é considerado um candidato de centro e moderado. Para alguns investidores americanos, Biden seria a melhor escolha para presidente, já que sua abordagem mais institucional da política geraria menos ruídos que a linha adotada pelo atual líder do país.

Porém, outros preferem a continuação do governo Trump, já que Biden propõe o aumento de impostos corporativos cortados pelo atual presidente, o que afetaria diversas empresas listadas na bolsa americana.

2. Como funciona o sistema eleitoral americano? E por que isso importa?

Ao contrário do Brasil, onde a totalidade dos votos dos cidadãos é somada e o candidato com maior número de votos vence a eleição, nos Estados Unidos o voto da população não é creditado diretamente a um candidato, mas para representantes estaduais. Cada ente federativo tem um peso diferente no colégio eleitoral.

No total, são 538 votos – são precisos 270 para vencer a eleição. Sendo assim, o candidato pode perder a votação popular, mas vencer a eleição, como foi o caso para Donald Trump em 2016.

Vale destacar também que as votações nos estados não funcionam de forma proporcional, mas absoluta. Ou seja, se na Califórnia 30% do eleitorado votar por Trump, e 70% por Biden, 100% dos votos do estado (55) irão para Biden. Maine e Nebraska são a exceção a essa regra.

Ainda, vale ressaltar que a maioria dos estados são fiéis a um partido, por exemplo o Alaska vota consistentemente pelo partido Republicano, enquanto Califórnia vota consistentemente pelo Democrata.

Entretanto, há um grupo de estados, conhecidos como “swing states”, que tendem a mudar de preferência política com maior frequência. A definição desses estados é uma questão que gera debate e varia de uma eleição para outra, porém, de forma ampla, podemos afirmar que Arizona, Florida, Iowa, Michigan, Carolina do Norte, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin são considerados “swing” nesta eleição. Eles são a chave da eleição e o “campo de batalha” para as campanhas presidenciais até novembro.

3. Como está o cenário político hoje?

Atualmente, Joe Biden lidera as pesquisas nacionais por aproximadamente 8 pontos percentuais e lidera também as pesquisas nos estados ‘swing’ mencionados anteriormente. No início do ano, Donald Trump era o favorito, mas a dinâmica eleitoral foi alterada por três fatores: a evolução do coronavírus no país, seus efeitos econômicos e os protestos contra o racismo e abusos praticados por policiais.

Em todos esses aspectos, espera-se que haja estabilidade ou melhora até a eleição. Também, Trump deve mobilizar recursos e sua base de apoio nas redes para reconquistar espaço; portanto, o cenário em novembro deve ser mais acirrado que o atual. No entanto, 80 dias parece pouco tempo para que a reação do presidente americano seja capaz de tirar Biden da posição de favorito.

4. Quais são os principais riscos a serem monitorados?

Além da disputa presidencial, é relevante para o mercado acompanhar a disputa pelo Congresso. Hoje as pesquisas apontam a um cenário em que os democratas obteriam controle tanto do Senado, quanto da Câmara dos Representantes, o que facilitaria a implementação das políticas democratas mais arrojadas.

No entanto, acreditamos que, com o acirramento da disputa até novembro, um arrebatamento democrata do Senado parece menos crível do que uma vitória de Biden. Com a disputa presidencial se acirrando, a posição dos republicanos pode melhorar no congresso.